Dakota, Verão de 1885
O carro de bois seguiu em frente sem ela. A poeira se ergueu na luz suave da manhã seca, girando ao redor das rodas como um véu. Maggie Belle Hart, de oito anos, permaneceu parada na estrada, segurando um pequeno embrulho envolto em um tecido grosso. Seus olhos seguiram a silhueta do carro de bois que diminuía ao longe, até que, mesmo seus rangidos e estalos foram engolidos pelo vento.
Atrás dela, o silêncio se instalou como cinzas. Nenhum pássaro, nenhuma brisa, apenas o suave respirar de uma criança tentando não chorar. Sua madrasta, Eliza, não tinha dito uma palavra, apenas pediu para esperar enquanto amarrava alguma coisa. Então as rédeas estalaram e o carro de bois seguiu seu caminho, deliberado e silencioso como um julgamento. Maggie olhou para seus pés. Uma bota estava arranhada, o salto desgastado. Seus joelhos tremiam, mas ela não se sentou.
Dentro do embrulho, uma boneca de pano com um olho de botão espiava de fora. Clara, costurada por sua verdadeira mãe, há muito tempo. O sol subia, as sombras diminuíam, mas ela ainda esperava. Contou até 100 duas vezes, e depois novamente.
Um urubu circulava acima.
Foi então que ouviu o som. Cascos de cavalo. Um cavalo, trote firme. Ela virou lentamente. Um homem se aproximava do morro acima, ombros largos, casaco da cor da poeira, barba grisalha. Ele não apressou os passos, nem gritou quando parou a dez passos dela. Seus olhos encontraram os dela, fixos, sem piscar.
Perdeu-se? – perguntou ele, a voz seca como casca de mesquite.
Ela balançou a cabeça. – Foi deixada para trás?
Dessa vez, ela não respondeu.
O homem desmontou, devagar e cuidadoso, como quem se aproxima de um potro selvagem.
Eu sou Gideon Reid. Qual é o seu nome?
Ela hesitou.
Maggie.
Ele se agachou ao lado dela, olhando em seu rosto.
É um nome forte. E o dela? – Ele fez um gesto com a cabeça para o embrulho em seus braços.
Ela é Clara. – Maggie sussurrou.
É um bom nome. – disse ele.
Há quanto tempo está esperando, Maggie?
Ela piscou. – Não sei.
Ele assentiu e se levantou.
Vamos lá, vou te dar algo quente para comer e algo para beber.
Ela hesitou. Gideon não pressionou. Ele apenas ficou ali esperando, como se tivesse todo o tempo do mundo. Então, ela pegou sua mão.
Gideon a levantou na sela, subiu atrás dela e juntos seguiram pela estrada longa, onde a poeira começava a se acomodar. O sol se escondia atrás de um morro, lançando longas sombras sobre a pradaria. Eles se moviam a um ritmo tranquilo, Gideon em seu cavalo e Maggie na sela à frente dele, Clara, a boneca, guardada com segurança nos braços dela.
Ela não disse muito desde que deixaram a trilha, mas também não tentou fugir. A voz do homem era calma quando falava, nunca alta, nunca apressada. Ele apontava marcos distantes, dizia os nomes dos riachos e das colinas, como se fossem vizinhos de confiança.
Aquela elevação ali, – disse ele, – chamamos de “Falésia da Viúva”. As tempestades dão uma pausa antes de atravessá-la.
Maggie ouvia sem falar, mas seus ombros relaxaram um pouco.
Quando o crepúsculo chegou, eles chegaram a um riacho baixo, onde a água corria fria e limpa sobre pedras lisas. Gideon desmontou e levantou Maggie com cuidado, como se ela fosse frágil. Ele fez uma pequena fogueira, cuja luz dançava contra o rosto dela.
De sua sela, tirou uma lata de feijão e um pedaço de pão de milho, enrolado em um pano. Ela o observava enquanto ele despejava água em uma caneca de metal e a aquecia pela chama. Quando ele lhe entregou a comida, suas mãos tremiam.
Vá com calma, – ele disse. – Agora você está segura.
Ela deu uma mordida, depois outra, comendo até a lata ficar limpa.
Por que ela me deixou? – perguntou, a voz quase inaudível.
Ele olhou para o fogo.
Algumas pessoas se quebram quietas, outras quebram alto. Mas, na maioria das vezes, não se trata da criança.
Maggie encarava as chamas. Gideon não preencheu o silêncio.
Quando as estrelas surgiram, ele estendeu um cobertor perto do fogo e a deixou se aninhar ao lado. Ela segurava Clara contra o peito e sussurrava para a boneca, como se ela pudesse responder. Gideon se sentou ao lado da fogueira, com o chapéu no colo, os olhos fixos na escuridão além.
E embora ela nunca tenha dito, Maggie dormiu naquela noite com a mão repousando perto da dele.
Eles chegaram pouco depois do meio-dia, no Willow Creek Ranch. O local se estendia como uma pintura, suas cercas serpenteando ao redor dos campos dourados e celeiros inclinados, todos protegidos sob o abrigo das árvores de algodão. A casa ficava em uma elevação, simples, de ossos fortes, com fumaça saindo da chaminé e a porta da frente aberta, como se sempre esperasse alguém.
Gideon levantou Maggie da sela. Ela piscou para a casa, apertando os olhos contra a luz do sol. Seus sapatos faziam barulho na terra seca. Ela não se moveu até Gideon fazer isso.
Uma mulher saiu para a varanda, enxugando as mãos em um avental coberto de farinha.
Gideon Reid, o que é isso? – perguntou ela, os olhos fixos na criança que se agarrava à boneca.
Isso, – ele disse, – é Maggie Belle.
A voz da mulher suavizou.
Olá, Maggie.
Eu sou Isabella. – Maggie apertou Clara com mais força, mas não recuou.
Isabella assentiu uma vez, depois virou-se e entrou.
Então vamos, – disse ela. – Acho que ela está com fome.
A cozinha cheirava a ensopado e pão. Os olhos de Maggie se arregalaram diante da mesa, com pratos reais, cadeiras reais, luz do sol cortando o piso de madeira. Isabella entregou-lhe uma tigela e uma colher. Ninguém fez perguntas enquanto ela comia.
Gideon ficou encostado na porta, os braços cruzados, observando-a como um homem que se lembra de algo que não disse em voz alta.
Depois do almoço, Isabella a levou até o banheiro.
Você pode deixar suas coisas aqui. – disse ela. – Tem uma cama lá em cima, macia e quente. Não se preocupe em limpar a boneca. Ela já ganhou a sujeira dela.
Maggie olhou para a toalha e o sabão. Isabella não pressionou, apenas sorriu e a deixou em paz.
Naquela noite, Maggie deitou-se sob um cobertor costurado com estrelas. Sussurrou para Clara sob os cobertores. Ninguém gritou, ninguém bateu a porta. Só o som do vento nas beiradas da casa e o ranger de uma casa aprendendo um novo ritmo.
Ela não sabia ainda, mas algo havia mudado. Este lugar, esta casa na elevação, fez espaço para ela, e nunca mais ficaria vazia.