A porta da cabana rangeu, quebrando o silêncio da noite. A mão de James Malone congelou no revólver Colt .45, pronto para disparar. Mas a silhueta que apareceu na escuridão não era a de um caçador de recompensas vindo cobrar sua cabeça. Era ela.
Elena Vasquez.
Ela entrou na luz âmbar da lâmpada a óleo, e o tempo pareceu parar. Seis meses se passaram desde aquele dia em que, na estrada poeirenta, três homens tentaram tirar o que não era deles. Seis meses desde que ele a salvou, usando um nome falso. Seis meses fugindo de um passado que o perseguia como um lobo faminto. Agora, ela estava diante dele, suas curvas delineadas pela luz da lua que filtrava pela janela, respirando rapidamente.
Ela era a filha do xerife. A única mulher em todo o Condado de Lincoln que poderia destruí-lo com uma única palavra para o pai.
“Eu sei quem você realmente é”, ela sussurrou, sua voz carregada de segredos perigosos. “James Malone… e sei que meu pai planeja te enforcar ao amanhecer.”
O que poderia levar a filha do xerife a arriscar tudo por um fora da lei? Se essa história já te colocou à beira do assento, continue lendo. Estamos apenas começando.
As palavras de Elena pairaram no ar como fumaça de pólvora. James estudou o rosto dela à luz da lâmpada, procurando por sinais de engano, por uma armadilha que ele sabia que estava prestes a cair. Mas o que ele viu foi a mesma mulher que assombrava seus sonhos há meio ano.
“Tom Rivers,” ela disse suavemente, usando o nome falso que ele lhe dera naquele dia. “Foi assim que você se apresentou quando me salvou.”
A memória invadiu a mente de James, como uma enxurrada de emoções. Três vagabundos haviam cercado Elena na estrada para Santa Fé, com as mãos já estendidas para lugares onde não tinham o direito de tocar. Ele disparou dois tiros perto das botas deles, o suficiente para fazê-los correr sem derramar sangue. Quando a ajudou a se levantar, o vestido dela estava rasgado, revelando a curva suave de seu ombro.
Mesmo naquele momento de violência e medo, ele sentiu a atração por ela.
“Você enfaixou minhas feridas,” Elena continuou, aproximando-se mais. “Suas mãos eram tão gentis… Eu ficava pensando, as mãos de um assassino não deveriam ser tão gentis.”
James se afastou, encostando-se na parede da cabana, sentindo o peso da verdade.
“Isso foi diferente. Você estava machucada e eu…” Ele engoliu seco. “E você sumiu antes que eu pudesse te agradecer direito.”
Ela estava agora perto o suficiente para que ele pudesse sentir o cheiro da sálvia do deserto em seu cabelo. Ele podia ver os lábios dela se abrindo ligeiramente enquanto ela falava, quase como uma tentação à flor da pele.
“Eu te procurei em todos os lugares. Perguntei a todos os trabalhadores rurais, a todos os andarilhos que passaram pela cidade. Ninguém tinha visto Tom Rivers.”
“Porque Tom Rivers não existe,” ele respondeu, a voz firme. “Mas James Malone sim.”
Ela tocou o fio de madeira da mesa entre eles, como se fosse um delicado lembrete da linha que separava ambos. “James Malone, o homem que lutou na Guerra do Condado de Lincoln, que viu seu chefe morrer, que matou Bob Ollinger em um duelo justo, mas que meu pai chama de assassinato.”
O nome de Bob Ollinger foi como um soco no estômago de James. Esse bastardo, o vice-xerife, estava ameaçando um garoto mexicano de 16 anos, cuja única culpa era estar no bar errado na hora errada. James o desafiou, deu-lhe uma chance justa. Mais do que Ollinger jamais dera a qualquer outro.
“Seu pai está errado sobre muitas coisas,” James disse, a voz áspera. “Mas ele está certo sobre uma. Eu sou perigoso de se andar por perto.”
Ela se moveu ao redor da mesa, o passo calculado e quase predatório, com os quadris balançando sob a saia, fazendo a boca de James secar. Ela repetiu a palavra “perigoso”, como se degustando-a.
“É por isso que meu coração não para de acelerar desde aquele dia na estrada?” Elena disse, sua voz baixa. “É por isso que passei noites em claro pensando no homem que não existe?”
James se sentiu como se estivesse sendo consumido por um incêndio interno, mas ele sabia que não poderia se permitir ser descontrolado. “Você não sabe o que está fazendo, Elena. Não sabe que tipo de homem eu realmente sou.”
Ela ficou diante dele, a única barreira agora era o pequeno espaço entre seus corpos. Com a respiração descompassada, seus olhos fixos nos dele, ela respondeu: “Então me mostre, James Malone. Me mostre quem você realmente é.”
Ouvindo o uivo distante de um coiote, James ficou ali parado, a guerra interna entre a honra e o desejo tomando conta dele. Ele sabia que esse desejo poderia ser sua ruína. Mas tudo que podia sentir era o calor dela, o perfume do seu cabelo, a suavidade de sua pele.
Quando ela se aproximou ainda mais, a distância entre seus corpos desapareceu. Era uma luta para não ceder. Mas a tentação era forte demais.
Na manhã seguinte, a chuva começou a cair sobre o telhado de zinco da cabana. O som da água batendo na superfície foi uma melodia tranquila, mas o pânico em seus corações era palpável. Elena olhou pela janela e viu os cavaleiros do xerife chegando, liderados por Miguel Vasquez, o homem que a amava e que agora queria matar James.
Ela olhou para James com os olhos cheios de lágrimas. “Eu preciso ir embora.”
James pegou sua mão e apertou-a. “Não. Você vai ficar aqui. Eu vou me entregar.”
Mas Elena estava decidida. “Se você correr, nunca mais terá paz. Se ficar, ambos vamos morrer.”
Ela correu para a porta, encarando o pai. O confronto entre eles foi intenso. Mas, quando as palavras e a ameaça pairaram no ar, Elena deu a última cartada.
“Deixe-o provar a si mesmo. Dê-lhe uma chance, papai.”
O xerife ficou em silêncio por um momento e, então, o olhou com mais clareza. Ele acenou lentamente com a cabeça. “Prove o que vale, Malone. Se conseguir lidar com os bandidos que têm dado problemas, então eu pensarei no que fazer.”
James e Elena caminharam juntos. A escolha de se render ou lutar pela redenção foi feita.
Meses depois, o sol se punha sobre o Condado de Lincoln, tingindo o céu de ouro e vermelho. James Malone, agora um vice-xerife, entrou na cidade com os últimos bandidos amarrados atrás dele. Mas não foi a estrela brilhando em seu peito que o fez se sentir completo, e sim Elena, esperando por ele na porta da delegacia.
O sorriso dela o fez sentir-se mais vivo do que nunca.
Agora, ele tinha tudo. Um futuro, um propósito e uma mulher que acreditava nele, apesar de seus erros. Ele, que antes era apenas um homem fugindo de seu passado, agora tinha uma chance de viver para o futuro.
E no Oeste Selvagem, às vezes, a verdadeira redenção vem de um lugar inesperado – o amor de uma mulher disposta a arriscar tudo para dar ao homem errado, a chance de se tornar o certo.