“Faz Tempo Demais Sem Um Homem”: A Escolha de Haven e o Solitário Rancho Apache

“Faz Tempo Demais Sem Um Homem”: A Escolha de Haven e o Solitário Rancho Apache

Caleb Rowan conduzia o cavalo por uma trilha estreita na montanha, a caminho de verificar suas armadilhas. Ele se movia com a cautela de quem vive isolado.

Ao passar por um leito de riacho seco, seus olhos capturaram algo imóvel na margem. Caleb diminuiu o passo, a mão repousando instintivamente no punho da arma, um hábito forjado por anos de solidão.

Era um velho Apache. Seu corpo, embora magro, era fibroso. Os olhos estavam fechados, a respiração superficial e irregular. Sua pele estava castigada pelo sol, os lábios rachados e o peito contundido, como se tivesse sofrido uma queda grave.

Caleb ajoelhou-se e tocou suavemente o ombro do homem.

O ancião abriu os olhos minimamente, a voz um mero sussurro: “Água, só um gole.”

Sem hesitar, Caleb tirou o cantil e ergueu a cabeça do homem. O ancião bebeu em goles lentos e cuidadosos. Uma luz fraca começou a retornar aos seus olhos.

Caleb examinou os ferimentos. Não era um ataque animal; ele provavelmente havia caído dos desfiladeiros acima.

Dominado por um instinto de ajuda, Caleb, sem pensar duas vezes, içou o homem às costas e começou a longa jornada de volta para a sua cabana. O corpo velho pesava mais do que esperava, mas Caleb não parou.

Naquela noite, ele acendeu uma fogueira, ferveu água e envolveu o ancião em cobertores. O Apache olhou para ele, a respiração tênue.

“Você é gentil,” ele disse.

Caleb respondeu suavemente: “Apenas descanse. Você se sentirá melhor pela manhã.”

Mas ao nascer do sol, o Apache tinha partido. Deixou para trás alguns símbolos estranhos desenhados na terra seca – talvez uma mensagem de agradecimento. O que Caleb não sabia era que aquela noite havia aberto um caminho do qual não haveria mais volta.


Naquela tarde, o céu estava coberto por nuvens cinzas e espessas. Caleb estava cuidando da lenha dentro da cabana quando, de repente, ouviu passos pesados e deliberados lá fora.

Parada na porta estava uma mulher Apache. Era tão alta e de ombros largos que teve que se curvar ligeiramente para passar pela moldura de madeira.

Sua constituição era poderosa. Músculos se destacavam claramente em seus braços escurecidos pelo sol. O rosto era uma mistura de força e tristeza. Ela ficou ali em silêncio.

Caleb se endireitou, a voz baixa: “Quem você está procurando?”

A mulher não respondeu de imediato. Seus olhos percorreram a cabana e retornaram a Caleb com um olhar escuro e profundo.

Finalmente, ela falou, suavemente, mas com cada palavra cristalina: “Meu nome é Meera. A tribo me enviou para pagar a dívida por Ko.”

Os dedos de Caleb apertaram-se ligeiramente. “Eu não fiz isso por recompensa.”

Meera inclinou a cabeça, a luz da fogueira revelando fracas cicatrizes ao redor de seus pulsos.

“Eu sou viúva,” ela disse, a voz baixa e terrena. “A tribo envia mulheres como eu para pagar dívidas. Se eu recusar, eles me matarão por desobediência.”

Caleb a encarou. Uma mulher tão forte, mas tratada como algo a ser negociado.

Meera deu um passo à frente. “Não tenho mais para onde ir,” ela disse. “Se você me afastar, eu morrerei. A tribo me chamará de traidora, e os homens brancos também me caçarão.”

Caleb expirou com força pelo nariz e largou a arma. Ele não a via como um fardo, mas como alguém cansado demais para encontrar abrigo.

“Você pode ficar,” ele disse, a voz firme e estável. “Mas não para me servir.”

Meera piscou. Então ela sussurrou: “Então, para sobreviver.”

Caleb assentiu. “Para sobreviver.”

Meera entrou completamente na cabana. Enquanto a porta se fechava, Caleb sentiu: o deserto lhe enviara um vento estranho, que certamente mudaria o caminho tranquilo de sua vida.


Os dias que se seguiram transcorreram em uma quietude estranha. Caleb não estava acostumado a ter alguém na cabana, mas a presença de Meera era silenciosa e firme.

Ela acordava antes dele, o fogo já aceso. Meera estaria na varanda, apertando tábuas soltas do telhado com mãos fortes. Ela fazia tudo sem barulho, trabalhando como alguém nascida para sobreviver.

Certa tarde, Caleb a viu consertando as rédeas de seu cavalo. Ele colocou um pedaço de tecido cuidadosamente dobrado na mesa à frente dela.

“Isso pertencia à minha mãe,” ele disse suavemente. “Um vestido de algodão velho. Se você precisar…”

Meera olhou para o tecido por um longo tempo, e algo em seus olhos agudos se suavizou. Ela o pegou, os dedos grandes roçando o tecido fino. Ela não disse nada, mas deu um pequeno aceno.

Naquela noite, Meera vestiu o vestido. Embora fosse um pouco curto, ela parecia mais à vontade nele. Perto da lareira, o brilho das chamas realçava sua beleza discreta.

Meera sentou-se ao lado de Caleb, mais perto do que nunca. Com os olhos fixos no fogo, ela falou em voz baixa: “Eu quero um nome novo.”

“Um nome novo?”

Ela assentiu lentamente. “Não um dado pela tribo. Não um nome para uma viúva. Um nome para viver uma vida diferente.”

Caleb entendeu: ela estava pedindo uma chance de deixar o passado para trás.

Ele respondeu devagar, a voz grave e firme: “Haven (Refúgio). Porque este lugar é onde você escolheu ficar.”

Meera sorriu – o primeiro sorriso de verdade que ele tinha visto. Ela encostou a testa no dorso da mão de Caleb, um gesto Apache de aceitação.

Haven,” ela sussurrou. “Eu o guardarei.”


No final daquela tarde, o vento mudou, trazendo o cheiro de poeira e ferro enferrujado – o cheiro de problemas. Caleb sentiu antes de ouvir os cascos.

Três cavaleiros apareceram além das árvores. Caleb saiu para a varanda.

O líder cuspiu no chão: “Correu a notícia de que há uma mulher Apache, com corpo de homem, escondida por estas bandas.”

Caleb encarou-o. “Ninguém aqui pertence a vocês.”

O homem espiou, vislumbrando Haven atrás da cortina. “Juro que acabei de ver alguém lá dentro.”

Caleb deu meio passo à frente, bloqueando a vista. “Vão embora.”

Um dos homens tentou espiar para dentro. “Isso é sangue Apache. Pode render um bom dinheiro de volta com a tribo.”

Nesse momento, Haven saiu, sem medo, e ficou ao lado de Caleb, imponente.

O líder começou a desmontar, mas Caleb sacou primeiro. Os três congelaram. O líder saltou do cavalo – seu erro.

Haven avançou. Ela agarrou o colarinho dele e o atirou no chão como um saco de palha.

Os outros dois estenderam a mão para as armas, mas Caleb já havia levantado a dele. Sua voz estava baixa e fria: “Vão embora, a menos que queiram ser enterrados aqui.”

Eles entenderam. Viraram os cavalos, arrastando seu líder.

Enquanto os cascos desapareciam, Haven respirava pesadamente. “Eu trouxe problemas à sua porta. Você deveria me deixar ir.”

Caleb virou-se para ela. “Haven, eu escolhi mantê-la aqui. Ninguém mais decide isso.”

Haven fechou os olhos, em gratidão.


Após o encontro, a distância invisível entre eles se tornou mais tênue. Eles trabalhavam juntos, consertando a cerca. Quando seus olhos se encontravam por acaso, um silêncio carregado pairava.

A noite caiu. Caleb estava sentado perto do fogo quando Haven entrou, vestindo o xale de lã de sua mãe. Ela sentou-se ao lado dele, perto o suficiente para que ele sentisse o calor de seu ombro.

“Por que você está olhando para mim assim?” Sua voz estava rouca, tremendo.

Caleb não desviou o olhar. “Faz muito tempo que esta casa não guarda a voz de mais ninguém.”

Haven inclinou a cabeça. “Quanto a mim,” ela disse lentamente. “Faz muito tempo que não fico perto de um homem.”

Caleb paralisou. “Faz muito tempo para mim também.”

Ela estendeu a mão, forte, e a colocou em seu peito. “Você me deseja,” ela disse. “Ou você apenas tem pena de mim?”

Caleb colocou a mão sobre a dela. “Eu a desejo, Haven. Não por causa da sua tribo. Mas por causa de quem você é.”

À luz do fogo, os olhos de Haven suavizaram. Ela se inclinou mais perto. Nenhuma palavra a mais foi necessária. Naquela noite, eles se deram calor, porque haviam escolhido um ao outro.


Na manhã seguinte, a inquietação de Caleb permaneceu. O cavalo relinchou. Haven olhou para a trilha. “A tribo,” ela disse.

Sete cavaleiros Apaches se aproximavam. Na frente, Yatuk.

“Ko está morto,” disse Yatuk. “A viúva Meera deve retornar à tribo imediatamente.”

Haven se manteve alta. “Eu não vou retornar. Esta é a minha casa.”

Caleb deu um passo à frente. “Ela fica comigo.”

Yatuk riu. “Uma mulher rejeitada. Por que você a manteria?”

Haven não o deixou responder. Ela se colocou ao lado de Caleb, a voz calma e fria: “Meu nome é Haven. Eu sou livre desde o dia em que conheci este homem. Eu não pertenço mais à tribo.”

As palavras silenciaram os cavaleiros. Yatuk deu a Caleb um último olhar e virou o cavalo. Os outros seguiram.

Quando desapareceram, Haven estava imóvel. Caleb gentilmente tocou seu braço. “Você está bem?”

“De agora em diante, ninguém me possui. Ninguém,” ela disse. Então ela se virou para ele: “Só livre para ficar.”

Caleb assentiu lentamente.


O deserto parecia mudar de cor. Haven ajudou Caleb a construir uma cerca mais forte. O silêncio entre eles não era mais pesado, mas confortável.

Numa tarde, Haven parou enquanto carregava água. Ela colocou o balde no chão, a mão repousando sobre a parte inferior do ventre. Caleb se aproximou.

“O que foi?”

Haven olhou para ele, os olhos mais claros e fortes do que ele jamais vira. “Caleb,” ela disse, a voz baixa e suave. “Eu acho que estou grávida.”

Caleb paralisou. “É verdade?” ele sussurrou, com medo de quebrar o momento.

Haven deu um pequeno aceno. Ela pegou a mão dele e a colocou em sua barriga. “Este filho,” ela disse, “é minha escolha. Não uma ordem tribal, não uma dívida a ser paga. Eu quero isto porque é nosso.”

Caleb sentiu uma emoção há muito esquecida. Ele curvou a cabeça, a testa tocando a dela. “Haven,” ele respirou. “Família. Pensei que nunca mais teria isso.”

Haven sorriu, o sorriso firme de uma guerreira Apache que encontrara a paz.


Aquele verão foi a estação mais gentil da vida de Caleb. Haven começou a acordar mais tarde. Caleb construía um pequeno cômodo na cabana.

Haven pendurou o manto de pele de veado de Ko na parede com reverência silenciosa, preservando o passado em seus próprios termos.

Naquela noite, Haven sentou-se ao lado de Caleb, encostando-se nele.

“O primeiro dia que eu vim para cá,” ela disse. “Eu era apenas uma coisa que a tribo mandou embora. Mas você… você olhou para mim como se eu fosse uma pessoa.”

Caleb colocou a mão sobre a dela, traçando a cicatriz desbotada em seu pulso. “Porque você se tornou Haven,” ele disse. “Não uma dívida a ser paga, mas alguém que me escolheu. Mesmo antes de eu ousar escolher você.”

Haven encostou a testa na têmpora dele, um gesto Apache de vínculo vitalício. O fogo crepitou suavemente.

Lá fora, o deserto ainda se estendia. Mas dentro daquela pequena cabana, dois abandonados se sentavam lado a lado. Eles haviam escolhido um ao outro e ficariam para sempre.

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