Grace Miller nunca imaginou que, aos 26 anos, sua vida tomaria um rumo tão inesperado. Ela era uma mulher simples, sem família, sem passado, apenas com fragmentos de lembranças e uma pequena estrela de prata que usava como uma espécie de armadura. Mas, naquela noite, enquanto limpava o escritório no 45º andar da Walker Tech, tudo o que ela acreditava saber sobre si mesma desabou em um único momento.
Era um dia comum, ou pelo menos deveria ser. A neve caía suavemente sobre Boston, e Grace, mais uma vez, estava sozinha nas longas horas da noite, cuidando da limpeza dos pisos de mármore dos andares altos de um dos prédios mais imponentes da cidade. No entanto, algo naquele dia parecia diferente. Seu supervisor, com pressa, entregou-lhe um cartão de acesso para o andar mais alto, o 45º, dizendo que um problema elétrico precisava ser resolvido lá. A ordem era simples: “Limpe e não toque em nada.”
Ao chegar no 45º andar, Grace se deparou com um ambiente estranho e silencioso, iluminado apenas pelas luzes de emergência, que davam ao local uma tonalidade vermelha e inquietante. Ela empurrou seu carrinho de limpeza, tentando ignorar o fato de que estava em um território onde jamais tivera permissão para estar. O escritório de David Walker, o CEO da empresa, estava no final do corredor, e, para sua surpresa, a porta estava entreaberta.
Curiosa, mas cautelosa, Grace empurrou a porta lentamente, e foi então que algo em sua mente começou a fazer sentido. Na parede do escritório, entre prêmios e certificados, ela viu uma foto emoldurada que a fez parar no lugar. A imagem era de uma garotinha de cinco anos, com olhos verdes, cabelo bagunçado, e um sorriso tímido. Ela usava um vestido que Grace reconheceu imediatamente, e, mais importante, estava com um colar de prata – o mesmo colar que Grace usava desde a infância. O mesmo colar que ela havia guardado, como uma lembrança, durante todos os anos passados em orfanatos e abrigos.
A respiração de Grace ficou pesada, e, com mãos trêmulas, ela retirou o colar de prata debaixo de seu uniforme e o segurou. Era idêntico, com a mesma marca no ponto de uma das estrelas. O choque foi tanto que ela mal conseguiu se mover. Suas mãos tremiam enquanto retirava sua carteira do bolso, retirando uma foto amarelada, a mesma imagem que carregava por toda a sua vida, mas com o tempo ela nunca questionara por que a guardava. Era sua única lembrança, algo que sempre lhe deu uma sensação de pertencimento, mas agora… agora tudo parecia errado.
“Como isso?” Ela sussurrou, seus olhos marejados de confusão. “Isso é… eu?”
Foi quando uma voz masculina cortou o silêncio, fazendo seu coração quase parar de bater.
“Quem é você realmente?”
Grace virou-se rapidamente. Diante dela, estava David Walker, o homem cuja imagem ela conhecia apenas das reportagens. Ele era maior do que ela imaginava, com uma expressão difícil de ler, um misto de surpresa e confusão.
Desesperada, Grace tentou se explicar. “Eu… eu fui avisada sobre o problema elétrico, e estava só limpando… Não sabia que você estava aqui.”
Mas, ao olhar para a foto na parede, algo mudou no olhar de David. Ele se aproximou lentamente, ainda olhando para Grace com intensidade. “Você tem os olhos dela”, murmurou, sua voz baixa e trêmula.
Grace franziu a testa. “Laura? Quem é Laura?”
“Minha esposa”, disse David, com um tom sombrio. “Ela morreu no incêndio há 21 anos, com nossa filha. E eu… eu perdi as duas.”
As palavras dele a atingiram como um soco no estômago. O que ele estava dizendo? Aquelas imagens… aquela foto… e agora ele falava de uma mulher chamada Laura e uma filha que ele perdeu no passado. Grace, com as pernas fracas, sentou-se na cadeira próxima, incapaz de processar o que estava acontecendo.
“Eu cresci em um abrigo”, ela disse, sua voz baixa, tentando entender. “Disseram que fui encontrada após um acidente. Não tenho registros… Não sei de onde vim, apenas tenho essa foto e o colar.”
David ficou em silêncio por um momento. Ele então se dirigiu ao seu escritório e puxou uma pasta manila cheia de documentos. Quando a abriu, fotos começaram a cair sobre a mesa – uma mulher com cabelo escuro, olhos verdes, segurando uma garotinha sorridente. “Essa é Laura”, disse ele, sua voz quebrando. “E essa… é Emily, nossa filha.”
O nome fez Grace tremer. Ela olhou as fotos, atônita. “Eu não lembro disso”, ela sussurrou.
David explicou com tristeza: “Você tinha cinco anos quando tudo aconteceu. O incêndio… destruiu tudo. Disseram que seu corpo foi encontrado, e o colar estava ao seu lado.”
Grace tocou seu colar. Ele nunca havia saído de seu pescoço. “Então, que corpo eles encontraram?” ela perguntou, sua mente em frangalhos.
“E a foto?”, ela insistiu. “Como isso é possível?”
David olhou para ela com um olhar profundo. “Devo estar perguntando isso a você”, ele disse suavemente. “Mas, Emily… você tem o mesmo sorriso, os mesmos olhos…”
O silêncio se estendeu entre eles, denso e cheio de possibilidades. Tudo o que Grace acreditava ser verdade estava se desmoronando diante dela. Ela se perguntava se era realmente possível ser filha de alguém que acabara de conhecer. A dor e a confusão se misturavam, e ela não sabia mais o que acreditar.