Ele ouviu um som fraco vindo do quarto trancado. Reed parou. Seus instintos lhe diziam para bater, mas ninguém respondeu. Ele pressionou o ouvido contra a porta. Houve um farfalhar lá dentro, seguido por uma voz rouca e trêmula.
“Por favor… abra a porta. Eu te imploro.”
Reed chutou o trinco de madeira. A porta se escancarou, e o fedor de mofo e suor atingiu seu rosto. No meio do quarto escuro, uma mulher Apache, alta e musculosa, estava amarrada a um poste, suas roupas em farrapos. Seus olhos negros queimaram quando encontraram os dele.
“Por favor, me leve com você,” ela engasgou. “Eu gero seu filho. Apenas me salve.”
Reed ficou parado por um momento. Imagens de sua esposa e filho perdidos passaram por sua mente, como eles um dia imploraram por ajuda, e ele fora impotente para salvá-los. Ele puxou sua faca e cortou as cordas. “Vamos!”
Gritos ecoaram do corredor. Reed a puxou em direção à porta dos fundos, correndo pelo pátio de poeira vermelha. Eles pularam na carroça enquanto tiros soavam atrás deles. Reed estalou o chicote; as rodas rangeram sobre a estrada de terra. A pequena cidade desapareceu, mas os gritos ainda eram carregados pelo vento.
Na carroça, a mulher jazia ofegante, as mãos ainda tremendo. No entanto, seus olhos não continham mais desespero. Agora, eles ardiam como brasas.

O sol do deserto tornou-se vermelho quando Reed parou a carroça em um cânion estreito. Ele sabia que os homens que os perseguiam não arriscariam cavalgar no escuro.
“Desça,” disse Reed.
Takina, como ele viria a saber que ela se chamava, olhou para ele brevemente e desceu. Ela ainda agarrava a faca enferrujada que ele lhe dera, os músculos de seus braços tensos.
Reed amarrou o cavalo e fez uma pequena fogueira. Ele silenciosamente entregou seu cantil a ela. Ela bebeu em pequenos goles, os olhos ainda o observando com cautela, como uma loba jovem, insegura se podia confiar no humano à sua frente.
“Não preciso que você me pague,” disse Reed, olhando-a através da luz do fogo. “E não vou devolvê-la a eles.”
Ela ficou em silêncio, depois sentou-se perto do fogo, mantendo distância. As marcas vermelhas das cordas ainda eram visíveis em seus pulsos. Reed tirou um pano limpo do bolso e o estendeu. Ela hesitou, mas estendeu o braço. Reed enfaixou a ferida lentamente. Takina prendeu a respiração, olhando para as mãos ásperas dele. Quando ele terminou, ela deu um leve aceno de cabeça.
A noite caiu. De repente, o som de cascos de cavalo ecoou ao longe. Reed fez sinal de silêncio e usou a bota para abafar o fogo. Ambos se jogaram no chão. A respiração quente de Takina atingiu seu braço. Os cascos passaram pela trilha acima e depois desapareceram.
“Durma um pouco,” disse Reed, jogando-lhe um casaco grosso. Ela se deitou de costas para ele, a faca ainda na mão. Reed olhou para suas costas largas e fortes, depois encostou-se na roda da carroça, de olhos abertos. Pela primeira vez em anos, a noite do deserto não parecia tão vazia.
Na terceira noite, o céu se abriu com chuva. Reed estava cobrindo o cavalo quando ouviu uma tosse sufocada. Ele se virou e viu Takina encolhida perto do fogo moribundo, suor escorrendo pelo rosto apesar do frio. Ela tremia violentamente; as marcas da corda estavam inchadas e inflamadas.
Ele colocou a mão na testa dela. Estava queimando.
Sem dizer uma palavra, ele atiçou o fogo, ferveu água e aqueceu sua faca até brilhar. “Fique parada,” disse Reed, pegando a mão dela.
Takina cerrou a mandíbula. Quando a lâmina cortou a carne inchada, liberando pus e sangue, ela soltou apenas um leve gemido. Reed limpou a ferida e a envolveu com um pano seco, as mãos firmes, mas estranhamente gentis.
“Sente-se aqui. Aqueça-se.”
Um longo momento se passou antes que ela falasse, a voz rouca. “Fui tirada da minha aldeia quando menina. Eles me venderam de um acampamento para outro. Cada vez que eu lutava, eles me batiam até eu desmaiar.” Reed permaneceu em silêncio. “Eu tinha uma irmã mais nova,” Takina continuou, seus olhos escurecendo. “Eles a mataram na minha frente. Naquela noite, jurei que nunca mais me deixaria ser amarrada.”
O silêncio foi quebrado pelo tamborilar da chuva.
“Eu também perdi tudo,” disse Reed, a voz áspera. “Minha esposa morreu de febre. Meu filho se foi logo depois. Fiquei no rancho e vivi sozinho por anos.”
Os dois sentaram-se frente a frente, a luz do fogo formando uma ponte entre duas almas atormentadas. Nenhuma promessa foi feita, mas uma confiança silenciosa começou a criar raízes.
Ao amanhecer, Reed viu pegadas frescas na areia úmida. Não eram de seus cavalos. Eram de pelo menos três outros, seguindo na mesma direção.
“Eles estão nos rastreando,” disse Reed.
Takina agarrou sua lança improvisada. “Eles voltarão.”
Reed a olhou. Ele podia ir embora, deixá-la. Mas ele viu algo nos olhos dela, algo inquebrável. O mesmo olhar que ele teve no túmulo de sua esposa e filho.
“Se você quer continuar correndo, eu ajudo,” disse Reed.
Ela se levantou. “Eu já corri o suficiente. Se eles vierem, estarei esperando.”
“Então, vamos nos preparar.”
Naquela tarde, Reed levou Takina ao seu rancho, uma casa de toras aninhada nas pastagens. Assim que chegaram, Reed começou a reforçar tudo. Ele adicionou trancas extras, barricou as janelas. Takina ajudou a limpar o feno seco de perto da casa para evitar incêndios.
Naquela noite, eles se sentaram na varanda. Reed limpava seu rifle Winchester. Takina afiava sua lança. O silêncio entre eles não era mais um muro; era um pacto.
Semanas se passaram. A cerca norte havia sido derrubada pelos ventos. Reed esticava o arame farpado. Takina se aproximou, carregando um poste de madeira em seu ombro como se não pesasse nada. Os músculos flexionavam em seus braços escurecidos pelo sol.
“Cuidado com as mãos,” ele avisou. Mas foi Reed quem escorregou. O arame torcido estalou, chicoteando seu pulso. O sangue jorrou.
Takina largou o que estava fazendo e segurou a mão dele. Sua pele era áspera, quente, mas seu toque era preciso. Ela o fez sentar, rasgou uma tira de sua saia de couro e enfaixou a ferida.
“Você não pode fazer isso sozinho,” disse Takina, a voz profunda e quente.
Naquela noite, o fogo na lareira estalava. Takina estava sentada em frente a ele, seus longos cabelos negros soltos. Seus olhos encontraram os dele. Sem mais suspeitas. O beijo veio naturalmente, sem pressa, como se todos os dias anteriores tivessem levado àquele único momento. O cheiro de fumaça, suor e terra se misturou entre eles.
A manhã pacífica foi interrompida pelo som de cascos. Cinco cavaleiros se aproximavam. Takina apareceu na varanda, lança na mão.
O cavaleiro líder, um homem barbudo, zombou. “Ouvimos que você está escondendo uma garota Apache. Entregue-a e as coisas ficam em paz.”
Reed permaneceu firme, a Winchester na mão. “Ninguém aqui é propriedade que você possa exigir.”
“Não seja estúpido, amigo. Pagamos um bom dinheiro por ela. Se você não a entregar, este rancho inteiro vira cinzas.”
Reed ergueu o rifle. “Você atravessa esse portão e nenhum de vocês sai inteiro.”
Os homens se entreolharam, mas recuaram. “Nós voltaremos,” gritou o barbudo. “E da próxima vez não serão apenas cinco.”
“Eles trarão mais,” disse Takina. “Então,” Reed respondeu, os olhos frios, “transformaremos este lugar em uma fortaleza.”
Eles trabalharam o dia todo, cavando armadilhas, empilhando sacos de areia. “Você pode ir se quiser,” disse Reed. “Quando eles voltarem, será sangue e fogo.”
Takina ergueu os olhos, chamas neles. “Eu já corri o suficiente. Esta é a primeira vez que alguém fica ao meu lado. Eu não vou embora de novo.”
A noite estava negra. O cachorro velho começou a latir, um som estranho, quase de luto. Reed saiu e viu Takina, descalça, com sua bolsa nas costas, caminhando silenciosamente em direção ao portão dos fundos.
“Pare!” A voz de Reed soou como um comando.
Takina congelou e se virou, lágrimas brilhando em seus olhos. “Se eu ficar, você perderá tudo. O rancho, a terra… sua vida.”
“Você acha que eu deixaria você voltar para aqueles cães de caça?” Reed gritou, a voz crua de fúria e dor. “Para quê? Para sentar nesta casa sozinho? Vazio? Prefiro perder tudo… do que perder você de novo.”
A chuva desabou dos céus, súbita e furiosa. Takina ficou imóvel, seus olhos ferozes suavizando. “Por quê? Por que me escolheu? Eu sou marcada pela vergonha.”
Reed deu um passo à frente, segurando seus ombros. “Porque pela primeira vez em anos, quando olhei para você, não me senti mais sozinho.”
Sem outra palavra, Reed a puxou para seus braços. O abraço foi feroz, como se ambos tivessem medo de que o outro pudesse desaparecer. Na escuridão e na tempestade, a promessa foi feita. Eles enfrentariam o amanhecer juntos.
Ao amanhecer, o céu queimava em vermelho. Não cinco, mas mais de uma dúzia de cavaleiros emergiram da poeira.
“Entregue-a,” gritou o barbudo, “ou ambos morrerão aqui.”
Reed desceu os degraus da varanda. “Você só a levará quando eu cair.”
O tiroteio explodiu. O vidro da janela estilhaçou. Reed se abaixou e respondeu ao fogo. Takina não recuou. Ela avançou, girando sua lança, derrubando um homem que tentava escalar a cerca. Ela arrancou o rifle das mãos dele e disparou.
A fumaça da pólvora turvou o ar. Gritos, caos. Uma bala roçou o ombro de Reed. Ele não vacilou.
Quando os invasores finalmente entraram em pânico e recuaram, o barbudo disparou um último tiro desesperado. Mas Takina já estava lá. Ela arremessou sua lança. A ponta de ferro atingiu a arma dele, enviando-a pelos ares. Ele gritou e fugiu.
A fumaça começou a se dissipar. “Eles se foram,” ela disse.
“Nós ainda estamos aqui,” Reed deu um leve sorriso, o sangue escorrendo, mas seus olhos continham paz. “Nós mantivemos nosso território.”
Naquela noite, Reed estava na varanda, o ombro enfaixado. Takina descansava ao seu lado. O rancho não era mais apenas de Reed. Era a fortaleza deles, um lugar que haviam escolhido defender, viver e amar.
Meus amigos, balas e armas podem ganhar terras, mas apenas o amor e a bondade podem manter um lar unido. Quando um homem decide ficar e uma mulher decide lutar ao lado dele, eles não estão apenas lutando contra as tempestades lá fora. Eles estão silenciando a tempestade da solidão interior. Essa é a maior vitória de todas.
No final, desejo a cada um de vocês paz e felicidade onde quer que estejam. Eu amo vocês, meu querido público de contos do Velho Oeste. Deixe-me saber o que sentiu sobre esta história. Digite “um” se você gostou e não se esqueça de se inscrever no canal.