Era o ano de 1885, e Jake Cartwright, com suas mãos calejadas pela vida e pela experiência, segurava sua Winchester tremendo, enquanto olhava fixamente para a mulher que dividira sua cama por oito noites.
Elena Morales estava ajoelhada na neve, do lado de fora de sua cabana, os longos cabelos negros caindo sobre os ombros nus, a pele de âmbar brilhando com flocos de neve derretendo. Em suas mãos delicadas, ela segurava uma fotografia do homem que Jake matara três anos atrás.
“Eu vim aqui para te matar, Jake Cartwright”, ela sussurrou, a voz quebrando como o gelo de inverno. Mas, naquele momento, o vento cortante das Montanhas Medicine Bow trazia o cheiro de fumaça e arrependimento.
Jake olhou para ela, a mulher que o fizera sentir-se vivo novamente após tantos anos de solidão, e que, agora, parecia tão longe de tudo o que ele conhecia. Ela estava armada com sua dor e, talvez, com seu amor, mas também com sua vingança. Se, de um lado, ele sentia o peso do amor e do desejo, do outro, os fantasmas do passado estavam prestes a cobrar o preço.
A história de Jake Cartwright não era simples. Aos 58 anos, ele já tinha vivido o suficiente para conhecer as cicatrizes que a vida deixa, mas ainda não tinha se livrado das memórias das batalhas, das mortes e das escolhas que tomara como xerife e caçador de bandidos. A cabana onde ele morava, isolada a 50 milhas de Laramie, era um refúgio, o único lugar onde a paz ainda parecia possível, longe das lembranças que o perseguiam noite após noite.
Foi durante uma tempestade de neve que Elena apareceu, caída de exaustão e congelando quase até a morte. Ele hesitou em ajudá-la, mas o instinto de caçador e a solidão de anos pesaram sobre ele. Ela, uma mulher misteriosa, com uma história que ele não sabia, mas que logo começaria a entender.
Após três dias de tempestade, quando o vento finalmente deu uma trégua, Elena se recuperou, e o jogo de olhares entre eles se tornou inevitável. Durante os dias em que estiveram confinados juntos, Elena provou ser mais do que uma simples mulher em busca de abrigo. Ela cozinhava, ajudava a cuidar do pouco gado que Jake possuía, e ele, por sua vez, se viu observando-a. Ela era jovem, bonita, com uma elegância que contrastava com a dureza da vida no Oeste selvagem.
Elena, por sua vez, percebeu que Jake não era apenas o homem solitário que ele queria ser. Ela sabia que ele estava escondendo algo, e suas palavras, como uma lâmina afiada, cortaram mais fundo do que qualquer confronto físico. “Você já matou homens”, ela disse uma noite, após observar as cicatrizes de guerra em seu rosto.
Jake nunca negou. Ele contou sobre a quantidade de mortes que havia causado. A dor estava ali, cravada como as balas que ele disparara, mas o que mais o tocou foi a reação dela. “Você se arrepende?”, ela perguntou. E, pela primeira vez, Jake admitiu: “Cada um deles.”
O desejo entre eles crescia a cada noite, mas também o medo. Ele, com quase 60 anos, nunca se imaginara novamente caindo nas garras de uma mulher tão jovem, e ela, por sua vez, estava dividida entre o ódio de sua vingança e a atração que sentia por esse homem que, apesar de sua dureza, mostrava uma humanidade que a tocava profundamente.
Na noite em que finalmente cederam, quando os corpos se encontraram com a paixão de uma tempestade, Jake se sentiu vivo de uma forma que não sabia mais ser possível. Mas quando o sol apareceu, a realidade voltou com força.
Elena deixou suas malas pela porta, e Jake, como se fosse inevitável, vasculhou-as. Dentro delas, ele encontrou uma foto de um jovem mexicano, Luis Morales, o homem que ele matara. Ela era irmã de Luis, e o motivo de sua vingança agora estava claro. Elena viera até ele para matá-lo, mas, ao invés disso, se apaixonara por ele.
Quando ela voltou para a cabana, vendo a fotografia em suas mãos, a expressão de Jake era de uma dor profunda, mas ela não hesitou. Ela estava pronta para dizer a verdade. “Eu vim para te matar na primeira noite”, ela confessou. Mas o que parou sua mão foi a maneira como ele a tratou, como ela não era apenas uma inimiga, mas uma mulher que merecia mais do que a morte.
Aquele momento foi o ponto de virada. Mas, enquanto a neve caía ao redor deles, a vingança de Elena não era mais uma promessa. Ela, em seu coração, sabia que matar Jake não apagaria o vazio deixado pela morte de seu irmão. Quando os seis homens de Miguel Sanchez chegaram até a cabana, rodeando-a como lobos famintos, Jake estava pronto para enfrentar a morte, mas não sozinho.
Elena, ao lado dele, estava decidida. Juntos, enfrentaram os homens de Miguel, e mesmo quando a bala de Miguel encontrou o peito de Jake, ela não o abandonou. O combate foi feroz, e no fim, foi ela quem destruiu Miguel com sua própria vingança. Mas a vitória teve um custo.
Jake, ferido gravemente, estava morrendo, e Elena, com lágrimas nos olhos, jurou a ele que o perdoava. Ela sabia que, na guerra entre eles, ambos haviam perdido, mas havia algo mais importante: o amor que crescera entre eles.
Durante semanas, Elena cuidou dele, ajudando-o a voltar à vida. Mas quando ele finalmente se recuperou, soube que tinha que tomar a decisão mais difícil de sua vida. Ele não era mais o homem para ela. Ele estava quebrado, envelhecido e marcado pelo passado. Ela merecia algo mais.
Jake, com o coração partido, disse a Elena que ela precisava ir embora, encontrar um futuro que ele não poderia dar. Ela, em lágrimas, se despediu dele, e, naquela manhã de neve, partiu.
Dez anos se passaram, e Jake, agora morando em uma fazenda, tentava reconstruir sua vida. Mas quando ouviu o som dos cascos de um cavalo se aproximando, seu coração parou por um momento. Era Elena, agora mais velha, mais sábia, mas ainda com os olhos que ele lembrava tão bem.
“Você ainda se lembra de mim?”, ela perguntou.
Jake, com os olhos marejados, sorriu. “Como poderia esquecer?”
E, naquele momento, os dois sabiam que, apesar do tempo, a história deles não estava acabada. Eles haviam sobrevivido à dor, à vingança e à morte. Agora, o que restava era um amor que nunca se extinguiu.