Na noite de novembro de 1887, o vento do deserto carregava a morte. Margaret Hayes estava na varanda de sua casa, observando os redemoinhos de poeira dançando pela planície sob a luz suave da lua. De repente, ouviu o som distante dos cascos, cortando a escuridão. Sua mão foi instintivamente até o Colt que ela mantinha na cintura, um reflexo aprendido em anos sozinha no rancho Double H, onde sabia que visitantes após a meia-noite sempre traziam problemas.
Um homem apareceu das sombras, como uma visão de um pesadelo febril. Alto, com ombros largos, o chapéu puxado para baixo, escondendo os olhos, que refletiam a luz das estrelas como aço polido. O cavalo dele estava ofegante, suado, e o braço esquerdo manchado de sangue, onde uma bala havia feito seu trabalho.
“Senhora”, ele disse, sua voz áspera como papel de lixa. “Me chamo Jake Morrison. Meu cavalo não aguenta mais, e eu também não estou muito longe disso.”
Margaret sentiu uma leve sensação de choque. Aos 58 anos, ela havia enterrado o desejo junto com seu marido, Tom. Convencia a si mesma que paixão era um luxo para as mulheres mais jovens. Mas algo na voz do estranho — desesperada, perigosa, viva — despertou brasas que ela achava que estavam frias há muito tempo.
Jake desceu do cavalo, vacilou um pouco e se apoiou na grade da varanda. “Só uma noite de abrigo”, ele pediu, a voz carregada de cansaço. “Uma noite só.”
Margaret deveria tê-lo mandado embora, direcionado até a cidade, até o saloon onde os andarilhos pertencem. Mas, em vez disso, se viu abrindo a porta, assistindo o corpo magro de Jake Morrison preencher o espaço como se tivesse esperado por três anos para passar por ali.
“Você está sangrando”, ela disse, a mulher prática que havia se tornado tomando o controle da situação.
“Já foi pior”, ele respondeu, começando a tirar a camisa com movimentos cuidadosos, como se estivesse desarmando uma bomba.
Margaret pegou uma toalha, aqueceu água e começou a limpar o ferimento com mãos firmes, tentando ignorar o tremor que sentia por dentro. Quando ela tocou o braço machucado dele, quando seus dedos roçaram o ombro quente, sentiu-se novamente como uma mulher de 17 anos, e duas vezes mais tola.
“O que te trouxe até Cochise County?” ela perguntou, tentando manter a calma enquanto limpava a ferida.
“Same as everyone else por aqui”, Jake respondeu, com um sorriso amargo. “Trouble. Aquele tipo de problema que segue um homem rápido com a arma e lento para sair de uma briga.”
Margaret terminou de curá-lo em silêncio. Três anos de solidão a ensinaram a ler o perigo, e Jake Morrison parecia carregá-lo como um perfume. Mas quando ele a olhou, de verdade, olhou como se ela fosse algo que valesse a pena ver, as paredes cuidadosamente construídas em seu coração começaram a rachar.
“Você pode dormir no quarto de hóspedes”, ela disse, antes de se dar conta do que estava oferecendo.
Ele ficou de pé, a camisa nas mãos, perto o suficiente para que ela pudesse sentir o cheiro de couro, pólvora e algo puramente masculino que a fez engolir em seco.
“Faz tempo que ninguém me trata com bondade sem querer algo em troca”, ele murmurou, a voz rouca.
Após ele subir, Margaret se sentou na cozinha, encarando o pano ensanguentado, perguntando-se o que ela havia convidado para sua vida. Lá fora, os coiotes cantavam para as estrelas do deserto, e, em algum lugar na escuridão, ela ouviu o som suave do cavalo de Jake se acomodando no celeiro, como se fosse seu.
A manhã chegou cedo demais, mas ao mesmo tempo, tarde o suficiente. Margaret acordou com o som de madeira sendo cortada, e encontrou Jake, sem camisa, cortando lenha no quintal com uma facilidade impressionante. O suor brilhava em seus ombros enquanto ele trabalhava. Margaret observava da janela da cozinha, o café esfriando em suas mãos.
Quando foi que ela deixou de se ver como mulher? Quando o desejo se tornou apenas mais um luxo que ela não podia se dar?
“Eu pensei que fosse ganhar meu sustento”, disse Jake, ao receber o café. Seus olhos se encontraram com os dela por cima da xícara, e Margaret sentiu uma chama que nada tinha a ver com o calor do sol do Arizona.
Eles trabalharam juntos o dia inteiro no rancho. Jake domou sua égua arisca com mãos que sabiam lidar com cavalos. Consertaram cercas com a eficiência de um homem que fora cowboy desde que aprendeu a montar. Margaret se pegou admirando o jeito com que seus jeans se ajustavam ao corpo dele, como se fosse a primeira vez que notava o homem à sua frente.
“Você é bom nisso”, ela disse, enquanto observavam o sol tingir a planície de vermelho.
“Tive prática. Perdi minha família há cinco anos”, Jake respondeu, com uma dor antiga na voz. “A seca levou a grama, o banco levou o resto.”
“Desculpe”, disse Margaret.
“Não precisa se desculpar. O homem tem que jogar as cartas que recebe.”
Naquela noite, ela cozinhou para dois pela primeira vez desde o funeral de Tom. Eles comeram à luz de uma lamparina, falando sobre tudo e nada. O preço do gado, o clima, a maneira como o deserto floresce depois da chuva. Quando Jake riu de algo que ela disse, o som preencheu os cantos da casa que haviam permanecido em silêncio por muito tempo.
“Eu devo ir embora amanhã”, disse Jake enquanto ela despejava whisky para os dois.
“Deve?” Margaret respondeu antes que se desse conta do que estava dizendo.
Jake colocou a mão sobre a dela, impedindo que ela continuasse a servir. “Margaret…”
O nome dela, na boca dele, era uma prece, uma promessa e uma ameaça, tudo ao mesmo tempo. Ela era uma mulher de 58 anos, prática, muito além da idade para tolices. Mas quando Jake Morrison disse o nome dela assim, ela se sentiu bonita novamente, viva novamente.
A terceira noite trouxe chuva para o deserto. Violenta, repentina, a tempestade que transforma os arroios em rios, que leva embora tudo o que não está bem enraizado. Margaret e Jake estavam na varanda, assistindo os relâmpagos rasgarem o céu, sentindo o ar carregado de ozônio e possibilidades.
“Nunca vi nada assim”, murmurou Jake, tão perto que ela podia sentir o calor do corpo dele.
“Chuva do deserto”, Margaret disse. “Violenta, linda e vai embora antes que você perceba. Como algumas mulheres.”
Ela se virou e encontrou os olhos dele em cima dela, escuros com desejo, tão intensos quanto a tempestade acima.
“Eu não sou mais esse tipo de mulher”, ela disse.
“Você é perfeita”, a voz de Jake cortou suas objeções como trovão na quietude.
“Christ, Margaret, você não vê o que faz comigo?”
O beijo que se seguiu foi inevitável, como a chuva que caía. Os lábios dele eram suaves no começo, questionadores, depois famintos, quando ela respondeu com uma paixão que os surpreendeu.
Ela havia esquecido como era ser desejada, como era ser preciosa, como era se entregar a braços fortes que a tratavam como algo valioso. Quando Jake se moveu dentro dela, quando ele sussurrou seu nome como uma benção, Margaret entendeu que algumas carências só se aprofundam com a idade.
Depois, enquanto o trovão ainda rugia sobre a planície, Margaret traçou as cicatrizes no peito de Jake, cada uma contando uma história, cada uma sobrevivida. Ela sentiu o ritmo constante de seu coração e soube que, depois de todas as tempestades, havia encontrado a paz.
O que acontece agora? Ela perguntou.
Não sei, Jake respondeu. Nunca fiquei em algum lugar tempo o suficiente para descobrir.
Mas eu gostaria de tentar, se você me deixar.
Margaret fechou os olhos, ouvindo a chuva bater no telhado, sentindo o coração de Jake bater suavemente sob sua bochecha. Três anos. Ela vinha se dizendo que estava velha demais para o amor. Mas, deitada ali, saciada e viva, ela se perguntou, talvez, só talvez, estivesse exatamente na idade certa para reconhecer o verdadeiro amor quando ele a encontrasse.