O tribunal zumbia com murmúrios inquietos. No centro, estava uma menina negra, não mais que 8 anos de idade. Seus cabelos em tranças soltas emolduravam um rosto manchado de sujeira. Sua jaqueta azul pairava frouxa sobre os ombros frágeis, as mangas desfiadas nas bordas. Seus pés descalços não faziam barulho enquanto ela se aproximava da figura imponente do Juiz Randall.
O juiz pigarreou, agarrando seu martelo. “Quem trouxe esta criança aqui?”
“Ela perguntou pelo senhor,” disse o oficial de justiça, nervoso. “Senhor, ela não quis falar com mais ninguém.”
Randall ergueu uma sobrancelha. “E por que isso?”
A menina ergueu o queixo e fixou seus grandes olhos castanhos nele. “Porque eu posso ler sua mente,” disse ela suavemente.

O tribunal ficou em silêncio. Então, risadas ecoaram das fileiras de espectadores. O juiz soltou uma risada curta e recostou-se em sua cadeira de couro.
“Você pode ler minha mente. Que bonitinho, pequena, mas este não é um palco para jogos infantis.”
Mas a menina não se moveu, não vacilou. “O senhor não acredita em mim,” ela sussurrou. “Assim como os outros. Até que eu lhe conte o que o senhor vem escondendo todos esses anos.”
As risadas pararam.
Dois dias antes, Amara fora encontrada vagando pelas ruas, descalça e sozinha, murmurando coisas que faziam homens adultos fugirem.
“Sua esposa sabe o que você fez no verão passado,” ela disse a um homem de terno. “Você roubou dinheiro da carteira do seu melhor amigo,” ela murmurou para um lojista. “Você está planejando fugir com a irmã dela,” ela disse a outro, sua voz assustadoramente calma.
A cada vez, seus rostos ficavam pálidos. Um homem gritou: “Como você sabe disso?” antes de empurrá-la e sair correndo.
A polícia foi chamada.
“Onde está sua família?” um oficial perguntou gentilmente.
A voz de Amara era quase um sussurro. “Eles se foram.”
“E como você sabe todas essas coisas?” Os grandes olhos da menina piscaram lentamente. “Eu posso vê-las na mente das pessoas. Eu sinto seus segredos.”
“Ela é delirante,” murmurou um policial.
Mas quando Amara se virou para ele e disse: “Você ainda está usando o perfume dela, não é? A mulher que você vê toda quinta-feira.” O rosto do policial ficou pálido.
“Essa criança não é natural,” disse seu parceiro. “O que fazemos com ela?”
“Ela continua perguntando pelo Juiz Randall,” disse outro. “Vamos levá-la ao tribunal. Talvez ele saiba o que fazer.”
Agora, parada no centro do tribunal, Amara deu outro passo à frente. “O senhor escondeu isso por anos,” ela disse suavemente, sua voz firme. “Aquilo que o senhor fez. Aquilo que ainda o faz acordar à noite, suando.”
O sorriso de Randall vacilou por um segundo. “Você está mentindo,” disse ele bruscamente. “Você é apenas uma garotinha assustada tentando chamar a atenção.”
Amara ergueu sua mão pequena e gentilmente a colocou sobre a cabeça dele. [Imagem de uma mão pequena tocando a cabeça de um homem mais velho]
Sons de espanto percorreram o tribunal. “Não toque no juiz!” um advogado sibilou, mas Amara não moveu a mão. Seus olhos se fecharam como se ela estivesse ouvindo algo profundo dentro dele.
“O senhor não queria fazer aquilo, queria?” ela sussurrou.
O coração do juiz começou a disparar.
“O senhor a empurrou. O senhor não achou que a queda a mataria. Mas matou.”
O rosto de Randall ficou pálido. A sala ficou estranhamente silenciosa.
“O senhor a enterrou perto do rio,” Amara murmurou. “O senhor achou que ninguém jamais descobriria. O senhor se tornou um advogado, depois um juiz, e disse a si mesmo que tinha sido perdoado.”
Randall saltou da cadeira. “CHEGA!” ele rugiu, batendo o martelo com tanta força que ele rachou. “Isso é um absurdo! Ela está inventando!”
Mas a menina não se encolheu. “Então por que o senhor está tremendo?” ela perguntou suavemente, a mão ainda em sua cabeça.
A multidão explodiu em sussurros. “É verdade?” “Do que ela está falando?”
A respiração de Randall ficou mais rápida. Seus olhos dispararam para o oficial de justiça. “Leve-a daqui agora!”
Mas Amara falou novamente, sua voz mais alta desta vez. “O senhor a vê toda noite em seus sonhos. A mulher que o senhor enterrou. Aquela que está gritando em sua mente mesmo agora.”
Randall cambaleou para trás, o rosto pálido como giz. “Como… como você pode saber disso?” ele sussurrou com a voz rouca.
Amara abriu os olhos e olhou diretamente para os dele. “Porque ela ainda está gritando,” disse a menina. “E eu posso ouvi-la.”
O tribunal explodiu em caos. Repórteres correram para suas câmeras. Advogados gritavam uns sobre os outros. O martelo do juiz batia repetidamente, mas o som mal cortava a crescente tempestade de vozes.
“ORDEM!” Randall berrou, sua voz falhando. “ORDEM NESTE TRIBUNAL!” Mas suas mãos tremiam.
Amara permaneceu parada, sua pequena mão ainda pressionada levemente contra a cabeça dele. “O senhor também a ouve, não é?” ela sussurrou, a voz assustadoramente calma. “A voz dela, seus gritos, o jeito que ela implorou para o senhor parar…”
“MENTIRAS!” Randall rugiu, o rosto vermelho enquanto o suor escorria por sua têmpora. “Esta criança está manipulando todos vocês! Eu nunca ouvi ninguém…”
Amara inclinou a cabeça, suas tranças roçando seus ombros. “Então por que eu posso vê-la?”
O juiz congelou.
“O senhor a enterrou perto da margem do rio,” Amara continuou, seus olhos se estreitando. “O senhor achou que a correnteza levaria o corpo dela, mas o solo era espesso. O senhor a cobriu com pedras.”
As pernas de Randall bambearam. Ele agarrou a borda de sua bancada, os nós dos dedos brancos. “Pare,” ele sibilou.
“O senhor guardou o bracelete dela,” Amara disse, mais alto agora, sua voz se sobressaindo aos suspiros da multidão. “O senhor o colocou em uma caixa. Ainda está sob as tábuas do assoalho em seu escritório, não está?”
A cabeça de Randall se ergueu bruscamente. Ninguém poderia saber sobre o bracelete. Ninguém.
A sala caiu em um silêncio mortal. Uma mulher na fileira de trás se levantou. “Do que ela está falando? Que bracelete?”
A voz de Amara ficou mais afiada. “Aquele que ele arrancou do pulso dela quando ela arranhou o rosto dele.”
A multidão explodiu em murmúrios frenéticos. “Eu quero que ela seja removida agora!” Randall gritou, sua voz quebrando. “Isso é calúnia! Isso é…”
“Ela me disse o nome dela,” Amara disse, cortando a fala dele como uma lâmina. “O nome dela era Clare. Ela tinha 24 anos e o senhor prometeu levá-la para casa naquela noite.”
A boca de Randall se abriu.
“Ela confiou no senhor,” Amara disse suavemente. “Mas quando ela disse ‘não’, o senhor perdeu o controle. O senhor a empurrou. E quando ela parou de respirar, o senhor entrou em pânico. O senhor achou que ninguém jamais descobriria.”
De repente, Amara engasgou e cambaleou para trás, agarrando a cabeça. “Ela está gritando de novo,” a menina chorou. “A voz dela. Está mais alta agora. Ela diz que não vai parar até que a verdade venha à tona.”
O juiz recuou em sua cadeira, as mãos tremendo violentamente. “Eu… eu não queria,” ele engasgou. “Eu não queria machucá-la. Foi um acidente!”
A sala ficou em silêncio. Todos os olhos no tribunal se voltaram para Randall enquanto ele caía de joelhos.
“Clare era minha irmã!” um jovem na plateia gritou, lágrimas escorrendo pelo rosto. “Você nos disse que ela fugiu! Seu… seu monstro!”
Repórteres avançaram com microfones. Advogados correram para contê-los.
Amara lentamente baixou a mão. “A voz dela se foi agora,” ela disse baixinho. “Ela diz que pode descansar.”
Em minutos, policiais cercaram o juiz. “O senhor está preso pelo assassinato de Clare Donovan,” um deles anunciou.
O rosto de Randall se contraiu. “Eu não queria,” ele chorou enquanto o arrastavam da bancada. “Era para ser um segredo. Ninguém deveria saber!”
Os olhos de Amara o seguiram friamente enquanto ele passava. “Ela sempre soube,” a menina sussurrou. “Ela só precisava que alguém ouvisse.”
Enquanto o martelo batia pela última vez, Amara desceu do depoimento. Um repórter se aproximou com cautela. “Como… como você sabia de tudo isso?”
Os lábios de Amara se curvaram levemente. “Eu não ouço apenas pensamentos,” ela disse suavemente. “Eu ouço as vozes daqueles que vocês tentaram silenciar.”
E com isso, ela saiu descalça do tribunal, deixando um silêncio atordoado em seu rastro.
 
								 
								 
								 
								 
								