Eu pedi uma dama, não uma mulher construída como um homem!” Humilhada pelo noivo, a Apache foi abandonada. Então, um rancheiro viúvo e silencioso disse: “Venha comigo.

A estação de Dry Hollow estava envolta em poeira vermelha quando o trem parou com um rangido. Tina, uma imponente mulher Apache, desceu à plataforma, segurando uma mala velha. Em seu coração, uma frágil esperança ainda tremeluzia: que, após esta longa jornada, um lar e um marido a estivessem esperando.

Mas o homem que veio encontrá-la, Caleb Morton, um jovem comerciante, não demonstrou nenhum calor. Ele percorreu com os olhos a figura de Tina: alta, de ombros largos, músculos sólidos pressionando o tecido de seu vestido simples.

Caleb soltou uma risada amarga, sua voz cortando a multidão. “Pensei que estava me casando com uma dama refinada. Acontece que recebi uma mulher construída como um homem. Ninguém jamais poderia chamar isso de esposa.”

Suas palavras rasgaram o sonho de Tina como uma faca. Os habitantes da cidade murmuraram. Alguns riram alto. Uma criança apontou, gritando: “A mulher gigante!”

Tina ficou congelada, as mãos tremendo ao apertar a alça da mala. Lágrimas brotaram, mas ela se forçou a erguer o queixo, mesmo com o coração partido. Caleb deu-lhe as costas e foi embora, deixando Tina caída no banco de madeira da estação.

Cercada por risos zombeteiros e estrelas desdenhosas, ela se encolheu, abandonada como alguém expulsa pelo mundo inteiro. Apenas o vento do deserto uivava, girando em torno da mulher Apache deixada para trás, agarrada à sua mala em silêncio, sem nada além de humilhação.

O sol do fim da tarde lançava longas sombras sobre a estação, enquanto o som das risadas ainda pairava no ar. Tina estava sentada em silêncio, seus ombros largos tremendo de vez em quando.

Em meio à multidão barulhenta, um homem observava em silêncio. Elias Ward, um rancheiro de meia-idade, usava um casaco de couro surrado, seus olhos cinzentos eram frios e seu rosto marcado por uma vida dura. Ele havia perdido a esposa há muitos anos e vivia sozinho desde então.

Elias não era de se intrometer nos assuntos alheios, mas algo na visão daquela mulher abandonada, seus olhos orgulhosos tentando mascarar a vergonha, o impediu de ir embora.

Sem dizer muito, Elias deu um passo à frente. A multidão se calou imediatamente. Todos reconheciam o rancheiro recluso, respeitado por sua determinação silenciosa e pela mão firme sempre perto da arma.

Ele parou na frente de Tina. Ela ergueu os olhos, negros e marejados, mas afiados de suspeita, como um animal encurralado pronto para atacar. Elias não ofereceu conforto. Não fez perguntas. Sua voz era rouca e baixa. Apenas três palavras:

“Venha comigo.”

Tina congelou. Uma tempestade de perguntas surgiu em sua mente. Mas quando encontrou o olhar de Elias, tudo o que viu foi a quietude da pedra. Sem zombaria, sem pena.

Ele se abaixou, ergueu a mala pesada dela com uma mão, depois se virou e começou a andar. Lento, mas certo. Após alguns segundos, Tina se levantou e o seguiu. Ela não tinha para onde ir.

Ao cair da noite, eles chegaram a uma pequena casa de fazenda aninhada na pradaria. A cabana de madeira era humilde, sua cerca inclinada. Elias abriu a porta e gesticulou. “Há espaço para você aqui. Se quiser ir embora, vá de manhã. Mas se ficar, viva como um ser humano.”

Tina parou no limiar. Naquela noite, quando ela entrou no primeiro quarto em anos que tinha um teto próprio, ela soube que sua vida havia acabado de tomar um rumo diferente.

Na sua primeira manhã no rancho, Tina acordou com o som do galo cantando. Ela dormira em uma cama de madeira dura, sob um cobertor de retalhos gasto, mas limpo, com cheiro de sol. Pela primeira vez em muito tempo, seu sono não fora assombrado pelo frio ou pelo medo.

Na cozinha, Elias estava de pé há horas. Sem uma palavra de saudação, ele empurrou uma tigela simples de sopa de feijão em direção a ela e voltou a cortar carne curada. Tina sentou-se e comeu em silêncio, seus olhos negros lançando olhares furtivos para aquele homem solitário. Ele era rude e calado, mas em todos os seus movimentos não havia vestígio de desprezo.

O dia passou devagar. Elias saiu para o campo. Tina, sem que lhe pedissem, pegou uma vassoura e começou a varrer o chão, a consertar a cortina. Suas mãos ásperas eram desajeitadas, mas cada movimento era cheio de determinação.

À noite, sentaram-se frente a frente à mesa de jantar. O silêncio era pesado. Por fim, foi Tina quem o quebrou. “Você me trouxe aqui por pena?”

Elias ergueu os olhos, seu cinza de aço capturando o brilho da lamparina. Sua voz era calma. “Não. Eu apenas não quis vê-los tratar você daquele jeito.”

A resposta a atordoou. Depois de tantos anos sendo vista como um fardo, ninguém jamais havia falado com ela como se ela fosse simplesmente um ser humano.

Enquanto isso, os rumores se espalharam rápido em Dry Hollow. A mulher Apache “grande demais” havia sido acolhida por Elias Ward. No canto sombrio do saloon, Caleb Morton (o homem que a rejeitara) rangia os dentes. Publicamente humilhado, ele não suportava a ideia de Tina, sua noiva no papel, encontrar paz na casa de outro homem.

Uma semana depois, Caleb voltou à cidade com um capanga chamado Jeb Mullen, um bruto com mãos como marretas. Onde quer que Jeb fosse, o derramamento de sangue o seguia. Caleb sabia que não podia enfrentar Elias sozinho.

Naquela tarde, Elias e Tina foram à cidade comprar sal e sementes. O ar na rua principal ficou tenso no momento em que apareceram. Os dedos apontavam.

De repente, Jeb bloqueou o caminho deles. Sua voz era como cascalho. “Esta mulher pertence ao meu chefe. Entregue-a e vá embora.”

Elias parou, colocando gentilmente o saco de sementes no chão. Sua voz era calma, mas ressoou clara pela rua silenciosa. “Ela não pertence a ninguém. E ela escolheu ficar comigo.”

A multidão prendeu a respiração. A mão maciça de Jeb repousava sobre o cabo do revólver. Tina estava atrás de Elias, o coração batendo forte. Mas algo novo brilhou em seus olhos. Pela primeira vez, um homem estava parado na frente dela, não para envergonhá-la, mas para protegê-la.

O ar estava pesado com pólvora imaginária. Elias deu meio passo à frente, sua mão direita pairando perto do coldre.

Por fim, foi Caleb quem piscou. O medo venceu. Ele puxou Jeb para trás e murmurou: “Aqui não. Agora não.”

Eles recuaram, mas os olhos de Caleb queimavam de ódio.

Naquela noite, de volta ao rancho, Tina sentou-se perto do fogo. Sua voz não tremeu; era firme e profunda como a batida de um tambor. “Se você me aceitar, eu ficarei. Não vou a lugar nenhum.”

Depois daquela tarde tensa, o rancho de Elias tornou-se um refúgio. As mãos fortes de Tina se familiarizaram com a reparação de cercas e o corte de lenha. Elias era um homem de poucas palavras, mas todas as manhãs, quando via a mulher alta andando firmemente ao seu lado, o vazio que há muito corroía sua alma parecia um pouco mais leve.

Enquanto isso, no saloon, Caleb afogava sua frustração em uísque. “Ele roubou aquela mulher de mim na frente de toda a cidade!”

Jeb zombou. “Então vamos acabar com ele. Um rancheiro velho e uma mulher gigante. Eu e alguns rapazes damos conta disso.” O plano tomou forma ali mesmo.

No rancho, Elias e Tina não sabiam da tempestade que se formava. Passavam seus dias silenciosos construindo um novo telhado para o depósito de grãos. Quando Elias lhe entregou um martelo, Tina soltou uma risada suave, um som tão desconhecido que assustou até a ela mesma.

Mas no vale, as rodas da carroça de Jeb haviam começado a girar, carregando uísque, pólvora e ódio.

Uma lua crescente pairava baixa no céu, lançando um brilho prateado sobre a pradaria. Elias estava na varanda, sua Winchester encostada no batente. O cachorro velho latiu baixo, rosnando. Elias sabia que algo estava vindo.

Lá dentro, Tina alimentava o fogão. Sua mão congelou. Ela ouvira o cachorro.

Então veio o baque pesado de cascos. Elias agarrou o rifle. “Eles estão aqui.”

Antes que pudesse dizer mais, a janela se estilhaçou. Uma bala atingiu a viga do teto. Tina mergulhou e agarrou a carabina que Elias sempre mantinha perto do fogão. Sombras se moviam pelo quintal. Jeb Mullen e três outros, armas brilhando ao luar.

“Entregue a mulher ou os dois morrem esta noite!” Jeb rugiu.

A resposta de Elias foi um tiro ensurdecedor. O tiroteio explodiu. Tina não vacilou. Ela caiu sobre um joelho, a coronha da carabina firme em seu ombro, e disparou duas vezes. Um homem gritou, caindo da sela com um baque.

Jeb avançou, machado em punho. Tina arremessou sua faca. A lâmina cravou-se no poste da cerca, a centímetros do rosto dele. Aço brilhou à luz do fogo. Elias puxou Tina para dentro e empurrou uma mesa pesada contra a porta.

“Eles não vão passar por este limiar,” disse Elias, a voz como pedra.

Tina olhou para ele, seus olhos ferozes e quentes. Pela primeira vez na vida, ela não estava lutando sozinha.

Lá fora, Jeb e seus homens uivaram, atirando tochas no telhado de palha. As chamas explodiram na noite. Mas dentro da pequena casa, um rancheiro grisalho e uma guerreira exilada estavam lado a lado, armas prontas, corações batendo como um só.

As chamas devoraram o telhado. Cinzas giravam ao vento. Elias recuou para um canto, recarregando. Lá fora, Jeb circulava, mirando o celeiro. “Eles estão tentando queimar tudo,” Elias murmurou.

Tina estava ao lado dele, fuligem e suor marcando seu rosto cor de bronze. Ela largou a carabina e puxou a longa faca Apache presa ao quadril. “Eu o seguro.”

Antes que Elias pudesse impedi-la, Tina irrompeu pela porta lateral. Sua figura imponente apareceu à luz do fogo, fazendo os homens pararem. Jeb rosnou, largando o machado e sacando um revólver, mas Tina já estava sobre ele. Uma mão como um grampo de ferro desviou o cano da arma; a faca na outra mão cortou perto de sua garganta.

Os dois corpos colidiram e caíram no chão em uma luta brutal. Os outros ergueram as armas, mas Elias disparou da janela. Um caiu. Os outros se esconderam.

Na terra seca, Tina e Jeb lutavam como feras selvagens. Ele era forte, mas ela era mais forte. Seus braços grossos travaram em volta do pescoço dele. Ele a jogou longe, mas ela rolou e agarrou o machado dele. Um instante depois, a lâmina cortou o braço de Jeb. Sangue espirrou na noite.

Ele gritou, cambaleando. Tina se ergueu, seu corpo poderoso arqueado como uma estátua de bronze, e o jogou no chão, pressionando a lâmina em sua garganta. “Você nunca mais vai pôr as mãos em mim,” ela rosnou.

Quando Elias chegou, viu Tina, alta e imóvel no meio do fogo e das cinzas. Ele colocou uma mão firme em seu ombro. “Já chega. Esta noite, ainda estamos vivos. Isso é vitória.”

O vale de Dry Hollow ficou em silêncio. Caleb Morton desapareceu, incapaz de mostrar o rosto após a derrota humilhante. Jeb, ensanguentado e quebrado, também fugiu. O fantasma que assombrava Tina e Elias finalmente se dissipou.

O rancho, embora queimado, ainda estava de pé. E dentro daqueles escombros, um novo lar estava sendo construído.

Tina limpou as cinzas, seus braços fortes erguendo vigas pesadas. Elias cortava madeira. Ela erguia a cerca. Eles trabalhavam não apenas como parceiros, mas como companheiros.

Naquela noite, Tina sentou-se na varanda. Em seu rosto escurecido pelo sol, seus olhos negros tinham uma estranha luz de paz. Ela colocou uma mão larga sobre a barriga e sussurrou: “Eu nunca pensei que viveria para chamar algum lugar de lar.”

Elias ficou ao lado dela, em silêncio por um longo tempo, então passou um braço em volta de seus ombros. Não foi um gesto de impulso; foi uma decisão de vida.

Os habitantes da cidade ainda fofocavam. Ainda a chamavam por nomes cruéis. Mas Elias não lhes dava atenção. Ele andava com ela pelo mercado, segurava sua mão no meio da rua. A maneira como ele ficava ao lado dela silenciava todas as risadas de escárnio.

Um mês depois, o médico de Prescott veio verificar os ferimentos de Tina e sorriu ao dar a notícia: ela estava grávida.

As palavras acenderam um fogo de alegria dentro da pequena casa de madeira. Elias sentou-se quieto nos degraus, a dor de ter perdido sua primeira esposa e filho lentamente se dissipando, substituída pela imagem de uma criança que ainda estava por nascer.

Na última noite de verão, Tina descansou a cabeça no ombro de Elias. Juntos, eles observaram o céu estrelado em silêncio. Lá fora, na pradaria, eles não eram mais sobreviventes solitários. Eles eram uma família.

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News