No território de Wyoming, em julho de 1883, o vento cortava o plano aberto como uma lâmina. O som do estalo da roda do diligente foi seguido por um grito de pânico dos cavalos, que começaram a se agitar enquanto o veículo se inclinava para uma vala rasa. A poeira se levantou, e uma das passageiras, Tessa Bellamy, foi arremessada para fora, caindo de joelhos, xingando baixinho.
Tessa levantou-se, limpando a saia manchada de poeira, com o peito arfando. Ela tinha 23 anos, era alta para uma mulher, com um queixo firme e cabelos castanhos presos de forma apertada. Suas botas estavam arranhadas e suas palmas, arranhadas, mas ela não chorava. Nunca mais fez isso.
O cocheiro gritava, tentando acalmar os cavalos, e os outros passageiros, duas mulheres idosas e um homem que não havia falado uma palavra desde que saíram de Cheyenne, se encolhiam dentro do veículo. Tessa olhou ao redor, desesperada. Não havia nada ao seu redor além de colinas baixas e grama seca.
Seu peito apertou. Ela havia deixado tudo para trás por aquilo, e agora estava presa, a meio dia de distância da cidade de Red Bluff.
“Você está bem?” A voz veio de trás, profunda e calma. Ela se virou rapidamente, seus dedos se mexendo em direção à faca escondida na bota, mas o homem que estava ali não parecia ser uma ameaça. Ele tinha um rifle pendurado no ombro e um chapéu gasto que sombreava sua pele escurecida pelo sol. Seus olhos eram firmes, da cor da fumaça. Ele parecia ter uns 30 anos, talvez um pouco mais. A poeira grudava na camisa e no colete dele, e a forma como ele se mantinha quieto e sólido fez Tessa se sentir estranhamente segura.
“Estou bem”, disse ela, escovando sua saia mais uma vez. “Você é de Red Bluff?” O homem acenou com a cabeça. “Meu nome é Roads Barrett. Estava voltando de uma viagem de gado e vi sua roda quebrada. Ele olhou para o diligente tombado. “O cocheiro não vai consertar isso sem ferramentas.”
“Eu já percebi isso”, respondeu Tessa, cruzando os braços.
Os lábios de Roads se curvaram, mas não chegou a sorrir. “Você está indo para algum lugar?”
“Eu deveria começar um trabalho na pensão”, disse Tessa. “Mas agora, parece que vou ter que andar.”
“Você não vai conseguir chegar em Red Bluff antes do anoitecer”, disse ele. “E não é seguro ficar por aqui depois que escurecer.”
“Eu já dormi em lugares piores”, respondeu Tessa.
Roads inclinou a cabeça. “Ainda assim, é melhor ir montada. Meu cavalo aguenta dois.”
Tessa hesitou. Ela tinha aprendido a não confiar facilmente, mas algo nele, na sua voz calma, na forma como ele esperou em vez de pressionar, fez ela concordar.
“Tudo bem, mas eu carrego uma faca.”
Ele deu espaço para ela passar. “Boa, quer dizer que você é esperta.”
No início, a viagem foi silenciosa. Os cascos do cavalo martelavam o solo duro, e o sol começava a se pôr atrás das colinas. Tessa se sentou rígida atrás dele, uma mão segurando a cela e a outra apertando sua bolsa.
“Você tem família em Red Bluff?” Perguntou Roads.
“Não, não tenho mais ninguém.”
Ele olhou um pouco para trás, mas não perguntou mais nada. Ela ficou grata por isso. Depois de um tempo, Tessa disse: “Eu não estou procurando ser salva, se é isso que você está pensando.”
“Não estou pensando nada”, ele respondeu. “Você precisava de uma carona. Só isso.”
Tessa olhou para o pescoço dele, como a camisa se ajustava aos ombros dele. “Você vive sozinho?”
“Sim, tenho uma propriedade fora da cidade. Alguns bois, nada demais.”
“Eu tinha uma propriedade”, ela disse. “Com um homem. Ele me deixou. Levou meu dinheiro e me deixou com nada.”
Roads não virou o rosto. “Isso aconteceu lá no leste.”
Ele assentiu como se entendesse mais do que dizia. Quando o céu escureceu, uma tempestade se aproximou rapidamente. Relâmpagos cortaram o horizonte, e Roads xingou baixinho.
“Não vamos chegar à cidade secos”, disse ele. “Minha casa é mais próxima.”
Tessa hesitou, mas as primeiras gotas de chuva começaram a cair em seu rosto. Ela assentiu.
Eles chegaram à casa dele logo antes da chuva cair forte. Era uma cabana simples, de madeira rústica, com fumaça saindo da chaminé. Roads desceu primeiro, amarrou o cavalo e ajudou Tessa a descer. Ela entrou e olhou ao redor. Era simples, mas limpa. Uma mesa, um fogão a lenha, uma cama.
“Eu durmo no chão”, disse ele, lendo os pensamentos dela.
Ela nada disse, apenas caminhou até o fogão e estendeu as mãos para o calor.
Roads pendurou a arma e foi até um armário. Carne seca, feijão, café, não muito mais. “Já comi pior”, ele disse.
Ela olhou para ele enquanto ele preparava uma refeição rápida. Quando se sentaram para comer, a tempestade rugia do lado de fora.
“Já foi casado?” Ela perguntou.
Ele balançou a cabeça. “Não era o momento.”
“Então parei de procurar”, ele disse.
Ela o observou por um momento. Seu rosto estava calmo, impenetrável.
“Eu não sou mais virgem”, ela disse de repente, com a voz fria.
Roads olhou lentamente para ela, colocou o prato na mesa. “Eu nunca pedi para você ser.”
Ela o encarou, esperando um julgamento.
“Não houve julgamento”, ele disse calmamente.
Ela respirou fundo. “Eu só achei que você deveria saber.”
Ele assentiu. “Você não me deve isso, mas obrigada.”
O silêncio se alongou entre eles.
“Você não fala muito, né?” Perguntou ela.
“Só quando é importante.”
Ela se levantou, caminhando até a janela, a chuva batendo suavemente contra o vidro. Seus ombros relaxaram um pouco.
“Eu não espero nada”, disse ela. “Só estou tentando recomeçar.”
Ele se levantou lentamente.
“Então comece aqui”, disse ele. “Você está segura.”
Tessa se virou para ele. Seus olhos estavam molhados, mas ela piscou rápido.
“Eu não quero ser salva.”
“Eu não estou oferecendo isso”, disse ele.
Ela o olhou por um longo momento, então assentiu. “Tudo bem.”
Eles ficaram ali em silêncio, dois estranhos com nada a perder, mas uma sensação de segurança crescia entre eles.
A tempestade passou, a terra ficou úmida e o ar pesado com o cheiro de sálvia molhada. Tessa, agora segura, sabia que não estava mais sozinha, e que recomeçar não significava apagar o passado, mas aprender a viver com ele, ao lado de alguém que a via como ela realmente era.