Ele cortou a corda da forca… e acordou com milhares de guerreiros cercando sua casa.

As pessoas de Silver Creek rugiam diante da forca, acreditando que a justiça finalmente havia sido feita. O que não sabiam era que o homem sob o laço não era um criminoso comum. Ele era o chefe dos Apaches Chiricahua. E se ele caísse, milhares de guerreiros desceriam das colinas para nivelar a cidade até o chão.

A praça da cidade estava lotada ombro a ombro. A poeira vermelha rodopiava no calor sufocante do meio-dia. Em um cadafalso de madeira construído às pressas, estava um homem apache de cabelos longos e grisalhos, pele escurecida pelo sol e ambos os braços amarrados firmemente nas costas. Uma corda grossa e áspera estava apertada em seu pescoço. Seus olhos negros profundos mantinham uma calma assustadora, quase sobrenatural.

A multidão gritava em fúria. Alguém arremessou uma garrafa quebrada perto dos degraus de madeira. — Matem-no! — gritou uma viúva, o rosto contorcido de ódio. — Ele assassinou a garota Whitmore! Sangue deve ser pago com sangue!

O rugido da multidão surgiu como uma onda quebrando. Ninguém questionou por que a faca ensanguentada encontrada na cena do crime estava misteriosamente limpa em lugares impossíveis. Ninguém se perguntou por que penas apaches foram encontradas exatamente onde o corpo jazia, como se tivessem sido colocadas ali para decoração. Eles apenas precisavam de alguém para culpar, e tinham seu “selvagem” ali mesmo, pronto para balançar.

Jonas Clay observava em silêncio. Encostado casualmente em um poste de madeira, seus olhos cinzentos e frios varriam a cena. O povo o chamava de “o caubói louco”, um homem solitário de quem ninguém ousava se aproximar. Dez anos atrás, Jonas fora um soldado da fronteira. Ele conhecera muitos chefes apaches, incluindo aquele homem na forca: Naiche.

Ele sabia que o líder de cabelos prateados diante dele não era um selvagem sedento de sangue. Naiche era conhecido por sua sabedoria calma. Ele sempre tentara evitar conflitos, enviando mensagens pedindo conversas de paz, esperando preservar as terras do vale para seus filhos.

Mas dizer isso em voz alta agora seria o mesmo que colocar o próprio pescoço no laço.

Na varanda sombreada do edifício do Tesouro, Bentley, o barão do cobre e homem mais rico da região, estava de braços cruzados. Seu terno cinza estava impecável, suas botas polidas. Um sorriso frio curvava os cantos de sua boca. Para a cidade, ele era um salvador. Mas Jonas sabia a verdade: Bentley era um lobo vestido de empresário.

Jonas vira mapas antigos. Veios ricos de cobre jaziam diretamente sob terras apaches. Bentley precisava de uma guerra para expulsá-los. E a morte da jovem Whitmore fora a faísca perfeita.

O tambor da execução começou a bater, ecoando como golpes de martelo em um caixão. O carrasco colocou as mãos grossas na alavanca. A multidão pressionou mais forte. — Chute o banco! Justiça para a garota!

O ar estava febril. Naquele mar de ódio, Jonas travou o olhar com Naiche. O velho chefe não implorava. Seus lábios estavam pressionados em uma linha firme. No momento em que seus olhos se encontraram, Jonas viu uma mensagem silenciosa. Você sabe que sou inocente.

Uma voz interna gritou em Jonas: Se você ficar em silêncio agora, este vale se afogará em sangue.

De repente, Bentley deu um passo à frente na varanda. — Povo de Silver Creek! Hoje testemunhamos a justiça. A garota Whitmore foi vingada! A partir de agora, os Peles-Vermelhas saberão que esta terra nos pertence!

A multidão explodiu, batendo os pés como trovão. O carrasco preparou-se para puxar a alavanca.

Jonas segurou o cabo de seu revólver Colt. Ele hesitou por um batimento cardíaco, mas então veio a memória: uma casa em chamas, anos atrás. Sua esposa e filho mortos em um ato de vingança sem sentido. Ele sabia que, se a corda apertasse, a história se repetiria.

— PAREM! — Jonas rugiu. Sua voz, rouca e cortante como um chicote, silenciou a praça inteira.

Centenas de olhos viraram-se para ele. O caubói louco saiu das sombras, caminhando direto para a forca, a mão descansando na arma.

— Ele não matou a garota Whitmore — disse Jonas firmemente. — Vocês todos foram enganados. A faca, os rastros… foram plantados.

A multidão explodiu em vaias. Alguns homens começaram a avançar, mas Jonas sacou seu revólver como um raio e disparou um único tiro para o ar. O estalo explodiu pela praça, e o silêncio caiu como um martelo.

— Qualquer um que der mais um passo, eu estouro a cabeça! — rosnou ele.

Naiche ergueu a cabeça. Pela primeira vez, um brilho de esperança surgiu nos olhos do velho. Lá em cima, na varanda, o sorriso de Bentley desapareceu. O jogo acabara de mudar.

— Derrubem-no! — ladrou o vice-xerife.

Mas Jonas já havia subido no cadafalso. Com um movimento rápido de sua faca de caça, ele cortou a corda. Naiche caiu duro na plataforma de madeira, tossindo violentamente, o ar voltando aos seus pulmões em espasmos.

— Traidor! — alguém gritou. — Atirem nos dois!

Cliques de armas sendo engatilhadas soaram de todas as direções. Jonas puxou Naiche para seus pés, usando seu próprio corpo como escudo, e disparou de volta para a multidão para criar confusão. Balas atingiram a madeira ao redor deles. Jonas saltou da forca, arrastando o chefe atrás dele.

Seu cavalo preto estava amarrado perto do saloon. Em meio a uma chuva de pedras e chumbo, eles montaram. O cavalo empinou e galopou pela rua principal poeirenta, fugindo para a escuridão que se aproximava.

Na segurança de um cânion estreito, horas depois, Jonas parou. Naiche deslizou do cavalo, colapsando no chão. Suas mãos trêmulas agarravam as marcas vermelhas da corda em seu pescoço.

— Foi uma armadilha — disse Naiche, a voz rouca e quebrada. — Eu vim para conversas de paz. Eles querem que meu povo seja apagado desta terra.

Jonas cerrou os punhos. — Bentley. Ele quer o cobre sob suas terras. Ele planejou tudo.

Naiche olhou para o horizonte, onde fumaça de sinalização já subia. — Meu povo acredita que estou morto. Se atacarem, não será apenas Silver Creek que sofrerá. Mulheres e crianças apaches cairão também. É exatamente o que os gananciosos querem. O governo intervirá e tomará a terra.

Jonas respirou fundo. — Não vou deixar isso acontecer. Não desta vez.


As más notícias viajam mais rápido que o vento do deserto. Antes do amanhecer, os tambores de guerra apaches trovejavam pelo vale. Milhares de guerreiros pintaram seus rostos de vermelho. Para eles, a morte de seu chefe era a morte de sua própria alma.

Em Silver Creek, o medo substituiu a fúria. Barricadas foram erguidas. Sinos de igreja tocavam incessantemente. O vice-xerife gritava sobre defender a terra com sangue. Mas nos olhos de cada cidadão, o terror era claro. Eles sabiam que o massacre estava chegando.

Na escuridão daquela noite, Jonas e Naiche não fugiram. Eles rastejaram em direção à mina de cobre de Bentley.

Luzes ainda estavam acesas no escritório principal. Através de uma janela, Jonas viu Bentley conversando com dois oficiais do governo, um mapa estendido sobre a mesa. Linhas vermelhas marcavam o território apache.

— Quando a guerra começar — a voz de Bentley ecoou —, o governo confiscará a terra, declarando-a zona de conflito. Eu comprarei os direitos de mineração por centavos.

Jonas sentiu o sangue ferver. Ele viu os documentos sobre a mesa: contratos ilegais, planos detalhados.

Um guarda os avistou. Um tiro rasgou a noite, atingindo Jonas de raspão no ombro. Ele caiu, mas disparou de volta, derrubando o homem. O alarme soou.

— Peguem eles! — gritou Bentley. — Tragam-me aqueles papéis de volta!

Jonas e Naiche correram, sumindo na floresta com os documentos roubados — a prova inegável da conspiração.


A manhã seguinte nasceu com o som do fim do mundo.

De um lado do vale, o exército apache: milhares de guerreiros a cavalo. Do outro, os cidadãos de Silver Creek, entrincheirados atrás de sacos de areia. Duas ondas de fúria prestes a colidir.

Na varanda, Bentley sorria. Ele vencera. O massacre limparia a terra para ele.

Mas então, um cavaleiro solitário galopou para o espaço vazio entre os dois exércitos.

Era Jonas, com o ombro enfaixado e o casaco manchado de sangue. Ao lado dele, em um corcel cinza, cavalgava Naiche. As marcas da corda ainda eram visíveis em seu pescoço.

Um suspiro coletivo varreu as fileiras apaches. Seu chefe estava vivo. A cidade engasgou. O homem que eles viram pendurado estava de volta dos mortos.

Jonas ergueu os papéis roubados bem alto. — Vocês foram enganados! — sua voz trovejou. — Bentley matou a garota Whitmore! Ele quer esta guerra para roubar a terra e o cobre! Estes papéis provam que ele pagou o governo para tomar tudo assim que o primeiro tiro fosse disparado!

Bentley, pálido na varanda, gritou: — Matem-nos! São mentirosos!

Seus guardas particulares levantaram os rifles. Mas Naiche ergueu-se em sua sela e rasgou a própria camisa, revelando a marca brutal da corda em seu pescoço.

— Vocês chamam isso de justiça? — a voz do chefe era uma tempestade. — Estas marcas são a prova de que fui enforcado por uma mentira! Se meu sangue for derramado hoje, não será por uma garota inocente, mas pela ganância de um homem que quer devorar este vale inteiro!

A verdade atingiu Silver Creek como um raio. Eles viram a marca. Eles viram o medo nos olhos de Bentley.

— Atirem neles! — guinchou Bentley.

Mas seus guardas hesitaram. E então, o povo da cidade virou suas armas. Não contra os apaches, mas contra a varanda.

Um tiroteio explodiu, mas desta vez, foi Bentley e seus mercenários contra uma cidade que acordara. Jonas subiu os degraus do edifício do Tesouro, disparando. Bentley tentou fugir, mas foi encurralado. Jonas o agarrou pelo colarinho e o arrastou para fora, jogando-o aos pés da multidão e dos guerreiros apaches.

— Você queria sangue — disse Jonas, com a voz fria. — Aqui está o homem que o derramou.

A batalha acabou antes de começar. Os guerreiros apaches baixaram suas lanças. O povo de Silver Creek baixou seus rifles. O silêncio que se seguiu foi pesado com a vergonha de uma cidade que quase cometeu genocídio por causa da mentira de um homem.

Bentley foi levado acorrentado. Naiche olhou para seus guerreiros e levantou a mão. — A paz não é um presente — disse ele. — É uma escolha. E hoje, escolhemos manter esta terra com a verdade, não com sangue.

Naquela tarde, as barricadas foram desmontadas. Jonas montou em seu cavalo ao pôr do sol. Ele não disse adeus. Ele não olhou para trás. Mas, de longe, Naiche o observou partir, seus velhos olhos de guerreiro cheios de gratidão silenciosa.

No Oeste, dizem que a justiça pende do cano de uma arma ou do nó de uma corda. Mas a verdade é mais cruel. A justiça é facilmente dobrada pela ganância. E quando a verdade é enterrada, uma morte injusta pode transformar uma cidade inteira em um banho de sangue.

Naiche não morreu sob aquele laço. Mas a cicatriz vermelha em seu pescoço permaneceu para sempre. Um lembrete de que o que verdadeiramente destrói um homem não é a bala, mas a cegueira de deixar que outros pensem por você. E, às vezes, para proteger a paz, você não precisa de um exército. Você só precisa de uma alma corajosa o suficiente para cortar a corda.

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