Ele continuava roubando meu almoço, então transformei a copa num armadilha que ele nunca esqueceria.

Meu nome é Cali Monroe. Tenho 33 anos, moro em Chicago e trabalho como coordenadora de operações numa empresa de logística de porte médio. Nunca fui de confrontos. Sou do tipo que prefere evitar confusões, manter a paz, seguir com o dia. Mas nada te prepara para a fúria silenciosa de ver sua marmita desaparecer repetidamente da geladeira do escritório.

No começo, era só um snack aqui, uma água com gás ali. Achei que fosse engano. Mas na segunda semana de fevereiro, minha refeição inteira havia sumido. Frango ao limão com cenouras assadas e uma fatia de sourdough que preparei com carinho. O problema não era o dinheiro. Era o tempo, o cuidado. Minha tentativa de trazer um pouco de conforto para um ambiente que suga a alma.

Coloquei etiquetas na comida. “Cali. NÃO COMER.” Mesmo assim, sumia. Na terceira semana, eu já esperava abrir a porta da geladeira e ver o vazio. Às vezes, achava o pote no lixo. Um deboche.

Comecei a observar. Quem levava comida? Quem não? Gavin, do marketing, sempre aparecia na cozinha sem nada e saía mastigando. Cheirava a desodorante forte e privilégio. Um dia, vi meu pote azul nas mãos dele. Ria. “Legal sua lancheira, Cal.” Foi a gota.

Voltei pra casa e, em vez de chorar, planejei. Sabia que não podia acusar sem provas. Então, decidi jogar o mesmo jogo. Lembrei de uma conversa com minha irmã Natalie sobre balas de feijão com gosto de ovo podre. Encomendei um pacote de sabores nojentos online. Preparei dois sanduíches de salada de frango: um real pra mim, e outro com patê de gato, maionese, laxante e mostarda com jelly beans derretidas.

Coloquei o sanduíche “especial” com um bilhete: “NÃO TOCAR. Alérgenos.”

Na segunda-feira, esperei perto do corredor. Vi Gavin pegar o lanche, abrir e dar uma mordida. Voltei pra minha mesa, fingindo normalidade. Minutos depois, ele passou pálido. “Vocês já sentiram um gosto estranho na maionese?” Pouco depois, correu ao banheiro. Três vezes. O vi quase vomitando no corredor. Sorri.

O melhor? Tudo gravado numa microcâmera escondida no saco da marmita. Gavin sumiu dois dias. Quando voltou, ainda tinha aquele ar de superioridade, mas algo havia mudado. Mesmo assim, tentou zombar: “Vocês já comeram algo tão ruim que parece que suas papilas pediram o divórcio?” Olhou pra mim. Sorriso de canto. Achei que podia se safar.

Na segunda-feira seguinte, fui até a cozinha. Ele já estava lá. Tirei um envelope da bolsa e deslizei sobre o balcão. “O que é isso?”, ele perguntou. “O vídeo de você roubando minha comida. Todos os dias. Inclusive o dia da comida de gato e laxante.”

Silêncio. “Você tá brincando.” Sorri. “Quer ouvir o áudio? Tenho backup. Um clique pro RH ou… pro Google Drive do escritório.”

Ele engoliu seco. “Isso é chantagem.”

“Não. Isso é gentileza. Tudo que quero é que pare. Nunca mais toque na minha comida. Nunca mais olhe pro meu prato.”

Ele riu, sem graça. “Você parece vilã de filme.”

“Você me fez ficar com fome.”

Naquela noite, recebi uma mensagem no Slack: “Você venceu.”

E venceu mesmo. Nunca mais tocaram no meu lanche.

Mas não parou por aí. Duas semanas depois, um email da diretoria: “Violação de política interna.” Gavin havia sido denunciado por outra pessoa. Roubava snacks, inclusive gomas de CBD. Fizeram busca na mesa dele. Encontraram objetos pessoais, fones de ouvido, até um pendrive perdido. Foi rebaixado. Tiraram as contas de cliente dele. Mudaram sua mesa.

Nunca abri o envelope. Está na minha gaveta. Mas sempre que esquento meu almoço e vejo Gavin desviar o olhar, eu sorrio. Não por vingança. Por respeito.

Meses depois, uma analista júnior, Laura, entrou na cozinha cabisbaixa. “Você já teve sua comida roubada?” Eu disse que sim. Ela contou que ainda acontecia com ela e com Kesha.

Naquela semana, comprei mais duas câmeras. Em três dias, pegamos três pessoas: Kenneth, Darla e Sandra — esta última escondendo um sanduíche na bolsa. Mostramos o vídeo à Jess, da Compliance. Em 48h, memo da empresa: “Nova política da cozinha. Itens não identificados serão removidos. Frigorífico monitorado.”

Post-its apareceram na geladeira: “Isso é uma cozinha, não um buffet.” Aos poucos, formou-se uma solidariedade silenciosa. A cozinha virou espaço seguro de novo.

E Gavin? Nunca pediu desculpas. Não precisava. Já não tinha mais o poder.

Era só um lanche. Mas a vitória foi minha. E de todos que um dia abriram aquela geladeira com medo de encontrar o nada. Agora, sabem que importam.

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News