Ele acreditava ter comprado uma fazenda abandonada e sonhava com um novo começo em paz — mas ao chegar encontrou três mulheres deslumbrantes vivendo lá e escondendo segredos sombrios que poderiam destruir tudo.

Wade Langston olhou para a escritura nas mãos calejadas e depois para a casa de fazenda que, segundo o banco, estava desocupada. Fumaça saía da chaminé. Três cavalos amarrados ao mourão. Roupas secando num varal estendido entre dois carvalhos. Ele havia pago bom dinheiro por uma propriedade abandonada; a Frontier Bank jurara que não havia mais ninguém ali. Esporeou o cavalo, e a confusão cedeu lugar à irritação. Quanto mais se aproximava, mais sinais de vida via: horta bem-cuidada, galinhas ciscando num cercado de arame, marcas recentes de rodas na trilha até a varanda.

A porta abriu antes que ele desmontasse. Uma mulher de cabelo escuro, preso para trás, desceu dois degraus com a mão na cintura. Era bonita, porém nada acolhedora. Atrás dela surgiram mais duas, igualmente firmes no olhar.

— Você está em propriedade privada — disse a primeira, a voz atravessando o pátio com autoridade.

Wade ergueu a escritura.
— Acho que houve engano, senhora. Comprei este lugar do Frontier Bank há três dias. Está tudo aqui.

Os olhos dela se estreitaram.
— É mesmo? Sou Ruby Callahan. Esta é a terra da minha família. Há vinte anos.

— Vinte…? — a voz de Wade falhou. — O banco me disse que estava abandonada há mais de uma década.

Ruby avançou até ficar a três passos do cavalo. De perto, Wade percebeu o fogo nos olhos verdes dela.
— O banco lhe disse muita coisa. Mas não disse isso: nós nunca fomos embora, nunca vendemos, e jamais abandonamos nossa casa.

A irmã do meio, ruiva, manteve a mão perto de algo no cinto. A mais nova, loira, observava inquieta. Wade respirou fundo. Investira cada dólar que possuía naquele pedaço de terra. Conferira a papelada duas vezes no cartório. Mas aquelas mulheres não pareciam invasoras. Aquilo tudo tinha dono — e dono que trabalhava.

— Não quero confusão — tentou ele. — Tenho um documento legal me passando a fazenda. Podemos resolver isso em paz.

Ruby soltou uma risada sem humor.
— Paz? Você entra no nosso quintal com um papel e espera que a gente faça as malas? Olhe o telhado, o curral novo, a horta. A gente manteve isto vivo enquanto o escritório do banco engordava em silêncio.

Ela então tirou do bolso um papel dobrado, amarelado, com selo em relevo.
— Escritura original. Thomas Callahan, 1851. Tem vinte e quatro anos. E a sua, de quando é, senhor…?

O estômago de Wade despencou. A dele era “de três dias atrás”. Não fazia sentido vender o que já tinha dono. Lembrou do gerente apressado, das exigências por pagamento em espécie.
— É impossível. O Frontier não venderia terra roubada.

A ruiva adiantou-se.
— Legítimo? Eu sou Sadi Quinn. Três meses atrás, um homem do banco veio cobrar “imposto atrasado”. Mostramos esta escritura e ele deu meia-volta. Mas minha irmã viu o resto.

A loira, Clarabel, respirou fundo.
— Segui o sujeito até o armazém do Miller. Encontrou outro homem. Riam. Ouvi o do banco dizer: “Dá três meses e teremos compradores alinhados praquela propriedade.”

Wade sentiu o chão ceder.
— Vocês querem dizer que o banco planejou vender… com vocês vivas aqui?

Ruby assentiu.
— E você não é o primeiro. Nem o segundo.

Sadi espalhou cópias de outras escrituras sobre o corrimão da varanda.
— Mesmo calígrafo, mesmas cláusulas. Venderam a Fazenda Morrison a três famílias na mesma semana. O Henderson Place, cinco vezes só nesta primavera. Sempre à vista. Sempre “tome posse já”.

— É um golpe — disse Wade, a raiva subindo. — Tomam o dinheiro de uns enquanto empurram os outros para fora de suas terras.

Uma nuvem de poeira no horizonte cortou a conversa. Um cavaleiro vinha a galope. Ruby reconheceu:
— Jed Collins. Peão do banco. Só aparece quando querem apertar o laço.

Jed parou à frente da casa.
— Srta. Callahan! O gerente quer falar com a senhora. Hoje. Assunto de imposto.

— Não devemos nada — retrucou Ruby.

Jed sorriu de canto.
— O banco diz que sim. Até o pôr do sol, ou perdem a terra.

Wade avançou meio passo, instintivo.
— Engraçado. Comprei esta propriedade do seu banco há três dias. Como cobram imposto do que “não é” mais deles?

A segurança de Jed vacilou.
— Deve haver erro…

— Então explique — Wade mostrou sua escritura. — Assinada pelo seu gerente.

Jed empalideceu. Ruby ergueu a escritura antiga.
— Pergunte também como venderam o que já era nosso há vinte e quatro anos.

O cavalo de Jed bateu os cascos. Ele endureceu a voz:
— Ordens são ordens. Se não houver dinheiro até o pôr do sol, o xerife vem com papel pra despejar todos vocês.

Quando disparou de volta à cidade, só deixou poeira e ameaça. Ruby resmungou:
— Duzentos dólares. Hoje.

Wade assobiou baixo.
— Metade do que paguei. E pagar legitima a mentira. E amanhã pedem mais.

Ele pensou rápido.
— Como é a cidade com vocês?

— O banco segura a hipoteca de meia Main Street — disse Ruby. — Gente com medo. O xerife Morrison deve o cargo a eles.

Wade apertou os lábios.
— Jed ficou nervoso quando viu meu papel. Talvez possamos usar isso. Vou ao banco falar com Harrison.

— Sozinho, não — Ruby segurou o freio do cavalo. — É isca.

— Então vão comigo. Que expliquem o cartório. Na frente de todo mundo.

Cinco minutos depois, os quatro cavalgavam. No topo da lomba, Wade parou. Havia seis cavalos amarrados diante do banco. Janelas fechadas em meia rua. O xerife saiu à varanda com três pistoleiros. Atrás dele, um homem de terno caro — não era Harrison.

— Eu o vi — sussurrou Clarabel. — O mesmo que ria com o do banco.

Os pistoleiros os apontaram no alto da colina. O homem de terno falou baixo, mandando espalhar: fecharam saídas, postes fazendo cobertura. Um par de cavaleiros surgiu por trás, cortando o retorno.

— Só há o beco do moinho, atrás da igreja — disse Ruby. — Leva ao cânion.

— Vamos — decidiu Wade.

Eles desceram em disparada. O primeiro tiro cantou perto da orelha de Wade. Ele baixou sobre o pescoço do animal. O rifle de Ruby latiu; um pistoleiro girou nos calcanhares, atingido no ombro. A rua virou estilhaço e poeira. À esquerda, vidro do salão explodiu; à direita, a tabuleta do ferreiro rodopiou no ar. Wade puxou à direita, engolindo o corredor estreito entre a igreja e o velho moinho. O chumbo beliscou a manga de Sadi; Clarabel quase perdeu a sela, mas se firmou. A trilha se embrenhou na serra, um fio de terra entre rochas.

No abrigo de pinheiros, pararam o suficiente para respirar.
— Eles conhecem as trilhas — disse Ruby.

— Fugir só empurra a corda — Wade respondeu.

Clarabel puxou do alforje um envelope selado com cera vermelha.
— Antes de sairmos, peguei isto.

Wade quebrou o lacre. De dentro, escorregaram livros-caixa, cartas, cópias de escrituras verdadeiras e falsas, e — o mais grave — um livro de pagamentos: “Xerife Morrison — mensalidade”; “Juiz Stevens — decisão favorável”; “Lista de alvos: Henderson, Murphy, Terras da Igreja…”.

— É tudo — murmurou Wade. — Nomes. Datas. Quantias. Dois anos de roubo.

— E prova de coação — apontou Josephine mentalmente… não, Ruby, de fato, lendo a nota com ameaças assinadas. (A cena não precisava de Josephine; a prova bastava.)

O trote de perseguidores ecoou no vale. Wade meteu os papéis de volta.
— Três trilhas saem daqui. Só uma vai à capital territorial. A um dia de cavalo. Lá está o marechal Davidson. É homem direito.

— Você quer dividir? — Ruby adivinhou.

— Você leva o dossiê e cavalga ao norte. Sadi e Clarabel, espalhem trilhas falsas. Eu volto à cidade. Alguém precisa olhar o homem de terno nos olhos.

O plano era ousado demais para dar certo — e, por isso mesmo, funcionou. Enquanto dois grupos de capangas se perdiam no labirinto de gargantas, Wade escorregou pela retaguarda do cemitério e entrou no banco pela porta de carga. Encontrou o homem de terno — depois saberia o nome: Jonathan Kesler, especulador de Chicago — varrendo gavetas para dentro de uma pasta.

— Indo aonde? — perguntou Wade, arma baixa, mas firme.

Kesler viu, empalideceu e tentou o tom superior:
— Você não entende as forças…

— Entendia. Agora eu entendo melhor — cortou Wade. — Neste instante, o marechal territorial lê todas as suas cartas e registra todos os seus depósitos “extras”. Xerife, juiz, gerentes. Fim da linha.

Kesler murchou. E, como em corda cortada, todo o esquema desabou. Ao cair da tarde, Davidson apareceu com agentes federais e mandados. O xerife Morrison saiu algemado. Harrison, idem. Seis comparsas. Cofres apreendidos, contas bloqueadas. As vendas múltiplas foram anuladas; as vítimas, ressarcidas com o que se recuperou. Wade recebeu seus quinhentos de volta — com danos. Mais importante: o governo territorial confirmou em registro a posse das Callahan, com todas as descrições de marcos e águas.

Três meses depois, Wade encostou na balaustrada da mesma varanda. O pôr do sol dourava o telhado novo que ele ajudara a erguer. Não morava ali como “proprietário”, e sim como parte da família que escolheu. Investira o dinheiro no aumento do plantel e na cerca do fundo; Ruby coordenava a horta e as contas; Sadi treinava potros no curral; Clarabel, mãos firmes, cuidava do viveiro e dos livros, com uma habilidade de silêncio que salvara a todos.

Ruby saiu da cozinha, farinha nos dedos.
— A janta tá na mesa.

Wade sorriu.
— Vou buscar água. Depois, quero ver a sela nova do alazão.

Ela encostou o ombro no dele por um segundo — gesto pequeno, sólido como promessa. À distância, o moinho chiava devagar; o mesmo beco por onde haviam fugido agora servia de atalho para levar leite à igreja. A cidade tornara a respirar. Alguns que se calaram por medo foram os primeiros a aparecer com desculpas e tortas. Justiça não apaga cicatrizes, ele sabia, mas dá às pessoas um motivo pra olhar de novo nos olhos.

Naquela noite, quando o vento trouxe cheiro de chuva e a luz das lamparinas tremeluziu nos vidros, Wade pensou no dia em que subiu o morro com um papel falso no bolso e nada além de vontade de recomeçar. Voltou a descer com a verdade nas mãos — e, sem perceber, encontrou casa.

A terra estava segura. Os ladrões, presos. E, pela primeira vez em muito tempo, o silêncio do campo não pesava. Era paz. Era vida. Era o som de quatro pares de botas no assoalho, de risadas na varanda, de cavalos respirando no escuro. Era, enfim, estar de volta.

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