A tempestade não se formou; ela explodiu.
Num momento, o oceano era um espelho de óleo sob um céu indiferente. No seguinte, a agulha da minha bússola girava loucamente, como se algo nas profundezas abissais tivesse engolido o próprio campo magnético da Terra. O céu se partiu com um relâmpago que não era branco, mas violeta, rasgando as nuvens como uma ferida aberta no firmamento.
Lembro-me do grito agudo do metal se retorcendo, o mastro do meu barco partindo-se como um graveto seco e o rugido ensurdecedor da água invadindo o convés. A última coisa que vi, antes que a escuridão salgada me tomasse, foi o reflexo do meu próprio rosto aterrorizado na superfície de uma onda gigante prestes a desabar.
Quando acordei, a morte não havia me reivindicado. Ainda não.
Eu estava deitado em uma praia de areia negra. Não era apenas escura; era obsidiana pura, brilhando fracamente sob uma luz difusa, como se misturada com pó de vidro ou estrelas moídas. Minha garganta ardia com o sal, e minhas roupas pesavam como chumbo frio contra a pele. O ar cheirava diferente ali — doce, quase floral, mas com um fundo metálico, como sangue misturado com néctar. Não se parecia com nada que eu já tivesse catalogado em minhas expedições biológicas.
Então, ouvi o som. Cascos.

A princípio, pensei que fosse o sangue pulsando em meus ouvidos ou o eco das ondas quebrando. Mas o ritmo era distinto, pesado, terrestre. Ergui a cabeça, a visão turva pelo sal, e as vi.
Figuras moviam-se através da névoa que orlava a floresta. Eram silhuetas altas, graciosas, simultaneamente familiares e impossíveis. Elas galopavam em minha direção — metade mulheres, metade cavalos. Seus corpos eram poderosos, os flancos reluzentes, e seus cabelos chicoteavam ao vento como estandartes de fogo e prata.
Recuei, arrastando-me pela areia negra, o coração martelando contra as costelas. — Fiquem longe! — gritei, minha voz saindo como um grasnado rouco.
Uma delas parou a poucos metros de distância. Ela era a criatura mais magnífica e aterrorizante que eu já vira. Seus olhos eram profundos e dourados, como âmbar derretido, e seus músculos ondulavam sob uma pelagem que oscilava entre o bronze e o creme. A parte superior de seu corpo era humana, esculpida e forte, adornada com o que pareciam ser armaduras feitas de ossos e vinhas.
Sua expressão não era selvagem. Era cautelosa. Curiosa.
— Você não é um de nós — disse ela. Sua voz não era um relincho ou um grito, mas melódica, ressoando como vento passando por uma caverna de pedra. — Como você chegou aqui?
— Eu… eu não sei — gaguejei, tentando fazer minha mente científica processar a impossibilidade diante de mim. — A tempestade. Meu barco. Eu deveria estar morto.
As outras nos cercaram, falando em uma língua líquida e antiga que eu não conseguia compreender. A líder, cujo nome eu aprenderia mais tarde ser Elara, aproximou-se. Sem medo, ela tocou a palma da mão na minha testa, como se estivesse lendo algo escrito sob minha pele, algo invisível a olho nu.
Então, de repente, o chão tremeu.
Não foi um terremoto comum. Foi um som gutural, profundo, que rolou através da ilha, sacudindo as árvores negras que bordejavam a praia. As mulheres-cavalo viraram-se imediatamente em direção às montanhas do interior, suas expressões endurecendo com um medo primitivo.
— Ele desperta novamente — sussurrou Elara.
Ela agarrou meu pulso com uma força surpreendente. — Você não deveria ter vindo aqui, forasteiro. Agora, você nunca mais partirá.
Antes que eu pudesse perguntar o que ela queria dizer, ela e as outras começaram a galopar em direção à selva, arrastando-me com elas. Olhei para trás uma última vez. O mar espumava violentamente, brilhando com um vermelho fraco e doentio. E em algum lugar no coração daquela ilha impossível, algo enorme se movia.
A selva nos engoliu por inteiro.
Não era uma floresta tropical como as que eu conhecia. Árvores maciças retorciam-se em formas impossíveis, suas raízes brilhando fracamente como se pulsassem com veias de luz azulada. O ar tremeluzia com calor e névoa, denso com o cheiro de terra úmida e flores estranhas que pareciam virar suas cabeças para nos observar passar.
Minha respiração vinha em farrapos enquanto Elara me puxava. Seus cascos mal faziam som no chão coberto de musgo. Atrás de nós, o som das montanhas veio novamente. Um rosnado profundo e ressonante que não pertencia a nenhum animal da zoologia conhecida. Era antigo, ferido e furioso.
Finalmente, paramos perto de uma clareira ampla onde outras de sua espécie estavam reunidas em silêncio. Havia dezenas delas, de diferentes tonalidades — algumas com pelagem escura como a noite sem lua, outras pálidas como a luz das estrelas, mas todas carregavam a mesma tristeza profunda nos olhos.
— Este é o último do nosso rebanho — disse Elara suavemente, soltando meu braço. — Outrora, enchíamos as planícies desta ilha. Agora, nos escondemos nas sombras.
Eu ainda estava tentando processar a realidade diante de mim. — Vocês… vocês são reais. Biologicamente, vocês não deveriam existir. A massa muscular, o sistema circulatório… é impossível.
Elara virou-se para mim, os olhos faiscando. — E ainda assim, existimos. Porque a ilha nos mantém. Porque ela não consegue deixar ir o que cria.
Ela gesticulou em direção ao centro da clareira, onde uma estranha pedra monolítica se erguia, alta e esculpida com espirais que brilhavam em um azul etéreo. Ao redor dela, jaziam pilhas de ossos. Alguns de animais. Outros, inconfundivelmente humanos.
— Aquela coisa nas montanhas — eu disse, baixando a voz. — Está caçando vocês, não está?
Ela assentiu, o peso de séculos em seus ombros. — O Mareborn. O Nascido do Pesadelo. Outrora, ele foi um guardião. Eu o protegia. Mas quando o equilíbrio se quebrou, quando o céu ficou vermelho, ele se tornou outra coisa. Ele se alimenta de vida para preservar o que resta desta terra amaldiçoada.
Enquanto ela falava, comecei a juntar as peças. A tempestade magnética, a sensação de deslocamento, a flora bioluminescente. De alguma forma, eu havia tropeçado em um bolsão ecológico isolado, ou talvez em um lugar que existia entre as dobras da realidade.
— Você disse que o equilíbrio se quebrou — insisti. — Como?
Ela desviou o olhar, envergonhada. — Fomos criadas a partir da humanidade, muito tempo atrás, quando o coração da ilha ainda pulsava puro. Uma união entre o homem e o espírito selvagem. Mas a ganância veio. Um de sua espécie tentou controlar a energia da ilha, comandá-la como se fosse uma ferramenta. O Mareborn nasceu desse pecado. Agora, morremos uma a uma, e nenhum novo potro nasce. A maldição se espalha.
Dei um passo à frente. — Talvez eu possa ajudar. Sou biólogo. Estudo extinção genética, colapso populacional. Se eu puder entender o que está acontecendo aqui, talvez…
A mão de Elara disparou, tapando minha boca. — Você não entende. Isso não é ciência, forasteiro. Isso é Vontade. A ilha escolhe quem vive e quem desaparece.
Antes que eu pudesse responder, uma trombeta soou. Um som profundo e lúgubre que fez meu sangue gelar. As mulheres-cavalo se dispersaram, galopando em direção à orla da floresta, armas primitivas em mãos.
Os olhos de Elara se arregalaram de medo. — Ele nos encontrou.
Então eu o vi.
Entre as árvores, maciço e sombreado, seu corpo parecia feito de fumaça e tendões, uma distorção grotesca da forma equina. Seus olhos queimavam como sóis moribundos. O Mareborn. Ele soltou um rugido que estilhaçou o ar. E, naquele instante, percebi que eu não era apenas um náufrago. Eu era o único humano vivo testemunhando o fim de uma espécie inteira.
A selva explodiu em caos.
Árvores estilhaçavam como palitos de dente enquanto o Mareborn rasgava a clareira. Sua forma oscilava, às vezes sólida como rocha, às vezes translúcida como vapor, como se a própria realidade não conseguisse decidir o que ele era.
Elara me empurrou para trás de um tronco caído. — Fique abaixado! — ela gritou, sua voz uma mistura de comando e desespero.
Eu mal conseguia respirar. O ar estalava com uma energia estática que fazia cada pelo do meu corpo se arrepiar. O hálito do Mareborn era vapor quente, seu corpo costurado de sombras e ossos que se deslocavam sob a pele espectral.
As centauras reagiram. Não com armas de fogo, mas com algo mais profundo. Seus cascos golpeavam a terra em uníssono, criando um ritmo trovejante que fazia o chão tremer. Luz surgiu do pilar de pedra no centro da clareira, envolvendo-as como fitas de fogo.
Elara avançou. Assisti-a mover-se como uma tempestade encarnada. Poderosa, selvagem, divina. Ela saltou, golpeando o peito do Mareborn com um cajado que emitia uma luz cegante. A criatura gritou, recuando. Por um momento, pareceu desaparecer, mas então voltou mais forte, agarrando Elara no ar com um membro maciço e cheio de garras.
— Não! — gritei, sem pensar.
Corri em direção a eles. Meu corpo movia-se por instinto, embora minha mente gritasse para eu parar. Agarrei uma lança que havia caído perto, uma de suas armas cerimonias, e a enterrei no flanco da criatura.
A lança atingiu algo sólido. O Mareborn rugiu e me arremessou para o lado como se eu não pesasse nada. Bati no chão com força, a dor explodindo em minhas costelas. Elara libertou-se, caindo ao meu lado. Ela olhou para mim, atordoada.
— Você o feriu. Ele sangra — engasguei, cuspindo areia e sangue.
Ela hesitou, olhando para o icor negro que escorria da besta. — Isso significa que ele pode morrer. — Ela assentiu, uma nova determinação em seu rosto. — Então você está ligado a nós agora, forasteiro. Você compartilhou a caçada.
O Mareborn investiu novamente. Elara gritou em sua língua antiga, e as outras o cercaram, seus olhos brilhando como estrelas. Senti o chão pulsar sob mim, um ritmo vivo e responsivo, como um batimento cardíaco.
Foi quando notei. A areia negra sob nós estava se movendo, não… respirando. Pulsava no tempo da luz da pedra. E então eu ouvi. Um sussurro. Não de Elara, não das outras. Mas da própria ilha.
Você acordou o que estava dormindo. Você carrega a mesma marca do Primeiro.
— O quê? — sussurrei em voz alta, tremendo.
Elara virou-se bruscamente para mim. — O que você disse?
Apontei para o meu antebraço. Um brilho fraco começara a se espalhar sob a pele, exatamente na mesma forma espiral esculpida na pedra monolítica.
Os olhos dela se arregalaram em horror e reconhecimento. — A ilha escolheu você.
O Mareborn soltou outro grito ensurdecedor, e a espiral no meu braço se acendeu, queimando como ferro em brasa. Naquele momento, vi tudo. Visões inundaram minha mente: rituais antigos, a fusão de homem e besta, a criação das mulheres-cavalo a partir de um pacto entre um explorador humano moribundo e o espírito da ilha. A ilha não apenas criava vida. Ela a fundia. E agora estava se fundindo comigo.
Caí de joelhos, segurando meu braço enquanto a espiral queimava mais forte. Fogo, gelo e luz fundindo-se em algo antigo.
Elara ajoelhou-se ao meu lado. — Você carrega a marca do Primeiro — ela sussurrou. — Aquele que nos criou. Aquele que nos traiu.
Encarei-a através da névoa de agonia. — O que isso significa? Eu nem sei como vim parar aqui.
— A ilha chamou você. Ela sempre chama a linhagem de seu criador quando o equilíbrio pende para a morte. Você é descendente dele.
Suas palavras me atingiram como um soco. — Impossível. Minha família… — Parei. O diário. As histórias de ninar. Meu bisavô fora um explorador. Seu navio, o Perseus, desapareceu em 1894 em algum lugar no Pacífico Sul. Seu último diário, encontrado à deriva anos depois, falava de uma ilha de bestas divinas, mas todos assumiram que era a loucura do escorbuto.
— Meu Deus — murmurei.
Elara assentiu sombriamente. — Ele foi quem abriu o portão entre a carne e o espírito. Ele fez o pacto que nos deu à luz, mas sua ganância envenenou o vínculo. O Mareborn nasceu dessa corrupção. É a manifestação da culpa dele.
O chão tremeu novamente. A besta ainda estava lá fora, ferida, enfurecida, caçando. Eu podia sentir seu pulso sincronizando com o meu, como dois corações amarrados por veias invisíveis.
Elara colocou a mão no meu ombro. — Se a marca escolheu você, então você pode acabar com isso. A ilha responde apenas ao sangue dele.
Olhei ao redor para os rostos aterrorizados das centauras restantes. Criaturas presas entre dois mundos, metade mito, metade milagre. E pela primeira vez, entendi o peso do que estava vendo.
— O que eu tenho que fazer? — perguntei.
Ela olhou em direção ao vulcano fumegante ao longe. — Devemos ir ao Santuário da Origem. É onde o coração da ilha bate. O lugar onde seu ancestral selou a maldição.
Viajamos durante a noite, guiados por luzes fantasmagóricas que flutuavam pela selva como almas perdidas. Eu sentia a ilha mudando ao nosso redor, as árvores sussurrando, o chão suspirando como se estivesse ciente de nossos passos.
Quando a aurora chegou, tingindo o céu de violeta e ouro, alcançamos a base do vulcão. Vapor sibilava de fendas na terra, carregando o cheiro de ferro e enxofre. A entrada para o santuário era uma fissura estreita esculpida com símbolos que pulsavam fracamente à medida que eu me aproximava. A espiral no meu braço brilhou em resposta. A porta se abriu como uma ferida cicatrizada sendo rompida.
Lá dentro, a caverna era vasta, brilhando com vinhas bioluminescentes e veios cristalinos que latejavam como artérias. No centro, erguia-se um coração maciço de pedra, meio enterrado no chão, pulsando lentamente. Estava vivo.
E acorrentado a ele, debatendo-se, contorcendo-se, estava o Mareborn.
Seu corpo estava fundido com raízes e ossos, como se a própria ilha estivesse tentando contê-lo ou digeri-lo. Ele virou a cabeça disforme em minha direção, seus olhos queimando com reconhecimento.
Sangue do traidor, sibilou a voz dentro da minha cabeça. Você não vai me acabar. Você vai se tornar eu.
Dor atravessou meu crânio. Visões inundaram meus pensamentos. Meu ancestral, de pé aqui séculos atrás, fundindo sua alma com a ilha para criar vida, e depois perdendo o controle enquanto sua criação o consumia. O Mareborn não era apenas um monstro. Era ele. Meu bisavô, distorcido por séculos de isolamento e poder.
— Elara! — gritei, caindo de joelhos. — É ele! A criatura é ele!
— Você deve escolher, forasteiro! — A voz de Elara rompeu a tempestade na minha cabeça. — Salve-nos selando o coração, ou liberte-o e destrua a ilha para sempre!
A câmara tremeu violentamente. As correntes ao redor do Mareborn começaram a estalar. O ar encheu-se de gritos — alguns da besta, alguns da própria ilha. E naquele momento, enquanto tudo tremia entre a criação e a extinção, a escolha caiu sobre mim.
— Se eu o libertar, tudo queimará — gritei. — A ilha vai afundar e vocês vão desaparecer com ela!
— Mas se você selá-lo novamente — disse Elara, segurando meu ombro, seus olhos dourados ferozes e suplicantes —, ele continuará sofrendo. E nós continuaremos morrendo lentamente. O Mareborn é a âncora.
— Vocês todas desaparecerão se eu quebrar a maldição — eu disse, tremendo.
A expressão dela suavizou-se. Havia uma tristeza infinita ali, mas também uma paz antiga. — Então deixe-nos desaparecer com honra. Nunca fomos feitas para existir para sempre. Somos um sonho que durou tempo demais.
Olhei para a criatura, os restos torcidos do meu ancestral. Através da névoa de fúria e sombra, vi algo que não tinha notado antes. Um rosto humano, cansado, atormentado, enterrado na carne da besta.
Acabe com isso, a voz sussurrou na minha mente. Acabe comigo.
A espiral no meu braço brilhou novamente, mais forte do que nunca, conectando-me às veias de luz da ilha. Meu corpo tremia violentamente enquanto a energia surgia. Eu era o último de sua linhagem, e a ilha reconhecia minha autoridade.
Elara recuou, seus cascos tirando faíscas do chão da caverna. — Faça, humano. Salve o que resta da alma dele.
Ergui minhas mãos em direção ao coração de pedra. O brilho intensificou-se, envolvendo-me como vidro derretido. O Mareborn gritou enquanto as correntes de luz se reformavam, não para prender, mas para dissolver.
Eu senti a dor dele. Sua tristeza. Seu desejo de libertação. Gritei com ele.
— Eu te liberto! — rugi, canalizando cada grama de vontade para o coração.
Um silêncio absoluto caiu. Então, o coração de pedra partiu-se ao meio.
Uma luz cegante consumiu tudo. Senti meu corpo dissolver, não em morte, mas em conexão. Por um momento, eu estava em toda parte — no mar, na selva, no vento através da areia negra. Senti o batimento cardíaco de Elara, seu medo, sua coragem. E senti a ilha suspirar de alívio.
Quando a luz desapareceu, encontrei-me na praia novamente.
A tempestade havia sumido. O ar estava calmo. O mar, azul e tranquilo. A ilha estava quieta, mas de uma maneira diferente. A tensão estática, o cheiro de sangue e ozônio, tudo havia desaparecido.
Elara estava a alguns metros de distância, olhando para o horizonte. Mas algo estava diferente. Suas pernas cintilavam, dissolvendo-se em tênues partículas de poeira dourada.
— Você nos salvou — sussurrou ela, sorrindo fracamente. — Você nos deu a paz.
Estendi a mão, correndo em direção a ela, mas meus dedos passaram através de seu braço. — Não, espere! O que está acontecendo?
— Não sofra — disse ela suavemente, sua forma tornando-se cada vez mais translúcida. — O Mareborn dorme. O equilíbrio foi restaurado. A magia que nos mantinha presas a esta forma foi devolvida à terra.
— Você vai morrer?
— Não morrer. Retornar. Parte de você sempre permanecerá aqui, forasteiro. Você é parte da lenda agora.
O vento pegou o cabelo dela enquanto seu corpo desaparecia completamente, sua essência espalhando-se na brisa do mar como pólen de ouro.
Caí de joelhos na areia negra, que agora esfriava sob minhas mãos. A marca em espiral no meu braço havia sumido. Apenas uma cicatriz fraca permanecia, uma memória esculpida na carne. Ao longe, o coração do vulcão brilhou uma última vez antes de escurecer para sempre.
Semanas depois, quando fui resgatado por um cargueiro que passava fora de rota, disse a eles que havia naufragado em uma ilha não mapeada. Eles riram, disseram que eu tive sorte de sobreviver à desidratação e ao delírio. Ninguém acreditou em mim. O diário do meu bisavô permanece perdido, e a ilha não aparece em nenhum satélite.
Mas às vezes, quando a maré sobe à noite e o mundo está quieto, juro que ainda posso ouvir o ritmo de cascos ecoando sobre a água e o sussurro de uma voz melódica carregada pelo vento. A ilha se lembra. E eu também.