“Dói Viver Sem um Homem”, Disse a Gigante Apache ao Fazendeiro Tímido

Caleb Rowan estava inspecionando o trecho da cerca que o vento noturno havia derrubado quando, de repente, ouviu um violento bater de água. O som de algo debatendo-se freneticamente o fez correr para a margem do rio.

No meio da água gélida, um corpo enorme se debatia, lutando para se manter à tona. Cada movimento era pesado e lento, minado pela exaustão. Caleb mal teve tempo de reconhecer a figura: era uma mulher Apache, de estatura incomum. Seu corpo inteiro estava coberto de hematomas e cortes, como se tivesse sido brutalmente espancada antes de ser atirada ao rio.

Ele não parou para pensar ou calcular o perigo. Mergulhou na água gelada que cortava sua pele como lâminas. O corpo dela era pesado como uma pedra, quase o arrastando para o fundo. Caleb cerrou os dentes, lutando para manter a cabeça dela acima da superfície enquanto avançava contra a corrente. Cada passo era uma batalha, sentindo como se a lama o puxasse para baixo. Seu velho joelho queimava com uma dor aguda, como se estivesse prestes a estalar. Mas ele não parou.

Finalmente, ele conseguiu arrastá-la para a margem. O corpo maciço dela jazia imóvel no chão úmido, a respiração superficial e entrecortada. Caleb olhou para as marcas roxas e inchadas nos seus pulsos, feitas por amarras, e uma raiva lenta e fervente subiu-lhe à garganta.

Ele se inclinou, a voz áspera. “O que fizeram com você?”

Ela não respondeu. Seu corpo tremia incontrolavelmente, os lábios azuis, e então ela desmaiou em seus braços.

Caleb a carregou, pesada como um tronco caído, para dentro da cabana. Lá dentro, a lareira guardava apenas algumas brasas incandescentes. Ele se ajoelhou e reacendeu o fogo, depois cobriu-a com o cobertor mais grosso que possuía. O frio em sua pele ainda era intenso, como se tivesse acabado de ser tirada das profundezas de uma geleira.

Só depois que o fogo ardeu quente e constante, Caleb começou a limpar suas feridas. As marcas se estendiam dos ombros até os quadris. Contusões roxas profundas, como chicotadas de couro cru. Alguns cortes eram tão profundos que ele precisou cerrar o maxilar só para olhá-los. Aquilo não havia sido um acidente. Era uma tentativa de assassinato.

Ela ofegou quando a água morna tocou suas feridas, mas não acordou. Caleb agiu com a maior gentileza que pôde. Ao desenrolar o pano rasgado em torno de seus pulsos, viu claramente os sulcos ensanguentados onde a corda fora atada com força excessiva.


Muito tempo se passou antes que a mulher gigante se agitasse. Suas pálpebras tremeram e então se abriram. Seus olhos pretos profundos estavam cheios de pânico. O reflexo de guerreira se manifestou. Ela se levantou de um salto, mas a dor a atirou de volta no colchão.

Caleb estendeu a mão, mas a conteve no meio do caminho, não querendo que ela se sentisse ameaçada. “Você está segura agora”, disse ele suavemente. Sua voz era grave e firme como um carvalho.

Ela ofegava, examinando a cabana simples, a lareira, o cheiro de antisséptico. Então, seus olhos encontraram os dele. Apesar da exaustão, eles mantinham a vigilância de alguém que passou a vida lutando para sobreviver.

Quando Caleb lhe ofereceu uma tigela de água, ela finalmente encontrou sua voz. Saiu rouca e trêmula.

“Eles me amarraram e me espancaram, me jogaram no rio e me deixaram para morrer… apenas porque recusei me casar com o homem que minha tribo escolheu.”

As palavras caíram como uma pedra no silêncio. Caleb sentou-se ao lado da cama, os punhos cerrados, a raiva a arder nele como as brasas no lar. “Que tipo de lei é essa?”, perguntou ele em voz baixa.

Ela fechou os olhos, uma rara lágrima deslizando. “Porque sou muito grande, muito forte. Queriam que eu gerasse filhos para o homem que eles escolheram. Eu recusei. Então me puniram.”

Caleb olhou para ela por um longo momento, não com pena, mas com o respeito que se dedica a alguém que suportou a crueldade e ainda sobreviveu. Então ele falou, lenta e firmemente, como um voto esculpido na madeira.

“Aqui, ninguém vai fazer você fazer nada que você não queira. Não mais.”

A mulher imponente o encarou, os olhos ainda cheios de confusão. Mas, pela primeira vez, a luz do fogo refletiu algo além do medo. Havia o mais leve vislumbre de esperança.


Myella dormiu profundamente até o meio-dia seguinte. Quando Caleb voltou à cabana após cuidar do gado, ouviu um ruído suave lá dentro. Não era o barulho de pânico, mas o ritmo constante de alguém arrumando as coisas.

Ele abriu a porta e parou. A imponente mulher Apache estava ajoelhada em frente à lareira, seus ombros largos projetando sombras na parede. Ela estava juntando lascas de lenha, organizando-as ordenadamente. Uma das camisas velhas de Caleb pendia em seu corpo, parecendo quase cômica. Os botões repuxavam ligeiramente em seu peito, as mangas alcançando apenas a metade de seus antebraços fortes.

Caleb pigarreou para sinalizar seu retorno. Myella estremeceu um pouco, mas não recuou como na noite anterior. Ela apenas se virou e olhou para ele com olhos mais calmos, um tipo de quietude raramente encontrada em quem sobreviveu a tanto.

“Eu queria fazer alguma coisa,” disse ela, a voz ainda rouca, mas mais firme agora.

Caleb assentiu. “Você não precisa fazer nada.”

Myella se abaixou e pegou uma frigideira velha. “Mas eu quero.”

Sua presença na pequena cabana parecia mudar o ar. Não parecia mais vazia. Parecia habitada, quente. Quando Caleb entrou na cozinha, viu-a mexendo um simples tacho de mingau. Seu braço grande movia-se com força, mas suas mãos agitavam com surpreendente delicadeza.

“Você não deveria ficar de pé por muito tempo. Seus ferimentos…”

“Já tive piores,” respondeu ela com um leve sorriso. “Eu não caio fácil.”

Caleb sorriu de volta, algo que raramente fazia.


Após o almoço, ela saiu para a varanda, olhando para o campo vasto. O vento soprava em seu cabelo preto e espesso, jogando-o para um lado e revelando as marcas em seu pescoço onde a corda a havia machucado.

“Você vive sozinho aqui?” perguntou Myella.

“Sim.”

“Sem esposa? Sem filhos?”

Caleb balançou a cabeça, sem oferecer explicações. Ele não desejava tocar nas memórias que havia enterrado.

Myella olhou para ele por mais um momento, depois disse: “Na minha tribo, não sobrou ninguém em quem confiar. Mas este lugar…” Ela tocou suavemente o batente de madeira da porta. “… Este lugar não é tão assustador quanto eu pensava.”

Caleb permaneceu imóvel, sem saber como responder. Para ele, a solidão havia se tornado um modo de vida. Mas para ela, mesmo um dia de segurança poderia ter parecido um milagre.

Finalmente, Myella respirou fundo e falou mais claramente, sem hesitação. “Se você não me mandar embora, eu gostaria de ficar.”

Caleb olhou em seus olhos pretos profundos, não mais cheios de medo. Apenas a determinação de alguém que perdeu tudo e ainda escolheu manter-se forte. Ele simplesmente disse: “Então fique.”

E daquela maneira tranquila e natural, a primeira mudança em sua vida começou.


Naquela noite, o vento uivava através das tábuas de madeira podres da cabana. Caleb adicionou mais lenha ao fogo, e as chamas projetavam luz bruxuleante sobre seus traços marcados e os ombros maciços de Myella. Ela sentava-se perto da parede. Suas pernas esticadas ocupavam quase metade do pequeno cômodo.

O silêncio entre eles não era constrangedor. Parecia a quietude compartilhada por duas pessoas que viveram em solidão por tanto tempo que a presença do outro fazia o vazio parecer um pouco menos oco.

Myella estava costurando a bainha rasgada da camisa de Caleb. Suas mãos grandes e cicatrizadas moviam-se com cuidado, cada ponto firme e preciso. De vez em quando, ela olhava para cima para verificar o alinhamento, depois voltava ao seu trabalho, o cabelo comprido caindo para um lado e lançando uma sombra sobre suas costas largas. Caleb a observou algumas vezes, não por curiosidade, mas porque nunca havia visto alguém tão forte e, ainda assim, tão gentil.

Quando ele se levantou para fechar a janela que o vento havia aberto, Myella o seguiu com o olhar. A camisa repuxava em suas costas a cada movimento. E naquele breve momento, ela percebeu algo que nunca ousara admitir para si mesma. Ela se sentia segura.

Caleb se virou e a viu olhando para ele. “Vento frio. Vai cair abaixo de zero esta noite”, disse ele.

Myella assentiu. “Já fui obrigada a dormir na neve antes. Mas aqui é mais quente.” Ela fez uma pausa, seus dedos traçando a linha da costura, e então acrescentou, em uma voz suave, mas dolorosamente sincera: “Dói não ter tido um homem como você na minha vida. Você é um bom homem.”

Caleb hesitou. Ele não estava acostumado a elogios, especialmente de alguém que conhecera tamanha traição. Ele se sentou. Não muito perto, mas perto o suficiente para que ela soubesse que ele estava ouvindo.

“Eu estou apenas fazendo o que precisa ser feito”, respondeu ele. “Você merece ser tratada melhor do que isso.”

Myella olhou fixamente para o fogo, seus olhos profundos como um poço da meia-noite. “Não consigo me lembrar da última vez que alguém me disse isso.”

O silêncio se instalou novamente, mas desta vez não havia distância entre eles.

Perto da meia-noite, enquanto o vento ficava mais forte, Myella se aproximou mais do fogo. Caleb entregou-lhe um segundo cobertor. Ela olhou para ele, inclinando a cabeça ligeiramente, como se tentasse entender por que ele estava sendo tão gentil.

“Você não tem medo de mim? Eu não sou como as outras mulheres.”

Caleb olhou diretamente em seus olhos escuros e respondeu lentamente. “Você é alguém que me deu a chance de recomeçar. Você não me assusta.”

Com essas palavras, os ombros largos de Myella caíram. Como se um fardo que ela carregava há anos tivesse sido tirado em um único momento. Naquela noite, seus corpos se uniram em uma tempestade de calor. Não por mero desejo, mas porque duas almas quebradas encontraram calor uma na outra.


O tempo passou em uma paz que Caleb nunca soubera que ansiava tão profundamente. A neve derreteu lentamente do telhado da cabana, revelando as primeiras manchas quentes de terra marrom no final do inverno.

Toda manhã, ao acordar, ele via Myella cuidando do fogo, sua sombra maciça projetada contra a parede de madeira, como se sempre tivesse feito parte do lar. Embora suas feridas ainda doessem, ela podia andar novamente, e até ajudar Caleb com algumas das tarefas mais pesadas. Ele frequentemente dizia para ela descansar. Mas Myella apenas sorria e dizia: “Este corpo foi feito para resistir, não para render-se.”

Mas o que mais surpreendia Caleb não era a sua força. Era a ternura silenciosa que ela carregava. Myella frequentemente adicionava lenha extra ao fogão antes que ele voltasse para casa, lavava suas canecas, embora suas mãos fossem tão grandes que mal cabiam nas alças, e às vezes deixava um pequeno pedaço de pão de milho esperando na mesa.

E Caleb, ele começou a notar coisas que nunca havia notado antes. O ritmo constante e pesado de seus passos no quintal. O jeito que ela prendia o cabelo comprido com uma tira de couro gasta. O modo como seus olhos pretos profundos olhavam para ele quando ela pensava que ele não estava olhando.


Uma noite, enquanto o sol se punha vermelho atrás das montanhas, eles estavam juntos na varanda. Myella olhava para o campo interminável, seus dedos inconscientemente roçando as velhas marcas de corda em seu pulso.

“Caleb,” disse ela de repente, a voz baixa e firme. “Se um dia eles me encontrarem… você me entregaria a eles?”

Caleb não precisou pensar. “Não.” Uma palavra simples, mas proferida com uma certeza que nada poderia abalar.

Myella se virou para olhá-lo, seus olhos profundos como um lago escuro. Não havia mais medo neles, apenas espanto, como se ela nunca tivesse ousado esperar que alguém dissesse aquilo.

“Por quê?” perguntou ela suavemente.

“Porque você não está mais sozinha”, respondeu Caleb, sua voz profunda e verdadeira. “E eu também não estou.”

O último vento do inverno soprou, jogando seu cabelo para um lado. Naquele momento, Myella parecia uma estátua de guerreira ancestral, forte, orgulhosa. Mas com olhos tão suaves que podiam esmagar seu coração. Ela respirou fundo, engolindo todas as palavras que não conseguia dizer.

“Obrigada”, disse ela simplesmente. Mas Caleb podia sentir o peso por trás daquelas duas palavras.

E naqueles dias, ambos perceberam lentamente. A solidão não tinha mais lugar para onde retornar.


Naquela tarde, o vento mudou de repente. Caleb estava apertando as cordas no cercado do gado quando ouviu o som de cascos ao longe, rápidos e pesados. Ele se endireitou, os olhos apertados em direção à trilha leste. Sete cavaleiros Apache emergiram de uma nuvem de poeira, indo direto para seu rancho. Usavam equipamento de batalha de couro, os rostos pintados com linhas vermelhas e pretas. Nenhum deles parecia ter vindo para conversar em paz.

Caleb voltou-se imediatamente para a casa. Myella já estava de pé, respirando pesadamente, os olhos arregalados de alarme. Suas feridas haviam cicatrizado, mas as memórias não.

“Eles estão aqui por minha causa”, disse ela suavemente. “Eu sabia que viriam.”

“Fique atrás de mim”, respondeu Caleb, sua voz baixa e firme, tão constante que até Myella parou.

Quando os sete cavaleiros pararam à soleira da porta, Caleb saiu, desarmado, mas de pé. O da frente, um guerreiro com uma tatuagem de raio no rosto, falou em inglês ríspido.

“Homem branco, você está escondendo uma criminosa de nossa tribo.”

Caleb não se moveu. “Ela não cometeu crime algum.”

“Ela recusou um casamento. Desafiou o escolhido. Pela lei da tribo, ela deve retornar para o julgamento.” O guerreiro apontou sua lança para a porta. “Entregue-a.”

Myella saiu, parando atrás de Caleb. Embora fosse quase uma cabeça mais alta, seus olhos estavam vermelhos de medo e vergonha. “Caleb, não faça isso. Eles vão matar você.”

Mas Caleb não se moveu. Ele falou claramente, cada palavra sólida como postes de madeira cravados fundo na terra. “Ela não vai a lugar nenhum.”

Os guerreiros pararam por um momento. Até o vento cessou.

Caleb continuou, mais alto agora, mais forte. “Ela é minha esposa. Ninguém tem o direito de levá-la.”

Myella engasgou, sua mão grande cobrindo a boca. Lágrimas escorreram, não de medo, mas do choque de ser reivindicada. Defendida pela primeira vez em sua vida.

O guerreiro líder rosnou. “Você ousa reivindicar uma exilada por sua própria tribo?”

Caleb respondeu sem hesitar. “Eu ouso. Eu a protejo, e ela fica aqui.”

Houve um longo silêncio.


Então, por trás dos cavaleiros, um homem mais velho se adiantou. O Chefe Kokis. Seus olhos em Myella não continham raiva, apenas finalidade. Ele falou lentamente.

“Myella, a partir de hoje, você está exilada da tribo. Não temos mais direito sobre você.”

Myella caiu de joelhos, seus ombros largos tremendo.

Kokis se virou e levantou a mão. Os sete cavaleiros puxaram as rédeas e partiram como uma tempestade que começa a se dissipar.

Quando a poeira finalmente baixou, Caleb se virou e colocou a mão no ombro de Myella. Ela o abraçou e desabou em soluços. E naquele momento, no meio do campo vasto, eles pertenciam um ao outro de uma forma que nenhuma tribo jamais poderia definir.


O inverno final passou, deixando para trás rastros de neve persistente no telhado e a terra amolecida pela água. A brisa da primavera carregava o cheiro de solo fresco, úmido e cru, como um sinal silencioso de que algo estava começando a mudar naquela planície aberta.

E em uma manhã calma, Myella colocou a mão sobre a barriga. Um gesto simples, mas suficiente para fazer Caleb parar de rachar lenha. Ela olhou para ele, aqueles olhos pretos profundos brilhando com algo diferente, uma certeza tranquila, rara para ela.

“Caleb,” chamou ela, a voz rouca, mas quente de uma maneira nova.

Ele se aproximou. Myella pegou sua mão calejada e a colocou suavemente sobre sua barriga. Naquele momento, Caleb entendeu. Ele ficou parado, o coração batendo como cascos em solo duro, uma vida minúscula começando a se formar dentro desta gigante mulher Apache.

Myella olhou para ele. “Se for um menino, você o ensinará a cultivar, certo?”

Caleb soltou uma risada suave, um som que quase havia desaparecido de sua vida anos atrás. “Sim. E se for uma menina, ela cavalgará melhor do que nós dois.”

Myella encostou a testa no peito dele, sua respiração quente contra a pele dele. “Eu nunca pensei que teria essa chance”, sussurrou ela. “A tribo queria que eu tivesse filhos para alguém que eles escolheram, mas ninguém jamais me deixou escolher o que eu queria.”

Caleb a abraçou, sentindo sua imensa força derreter em seu abraço. “Agora você pode escolher”, disse ele. “E esta criança… ela vem dessa escolha.”

Nos dias que se seguiram, a pequena cabana parecia mais iluminada. Myella movia-se mais devagar, com mais cuidado, mas não estava mais fraca. Na verdade, ela parecia mais forte de uma forma que era difícil de explicar, como uma árvore antiga após a tempestade. Suas raízes afundaram mais fundo na terra.

Caleb construiu-lhe uma cadeira maior, resistente o suficiente para suportar o peso da mulher imponente, agora carregando um novo futuro. Myella o observava serrar a lenha com um sorriso apertado, cheio de orgulho.


Uma noite, enquanto estavam sentados na varanda, observando o céu primaveril desvanecer em um roxo suave, Myella colocou a mão na barriga mais uma vez. “Caleb, esta criança não terá uma tribo, exceto nós.”

Caleb pegou a mão dela na sua e apertou-a gentilmente. “Então nós seremos a tribo dela.”

O vento da primavera passou, carregando o cheiro de terra, grama jovem e o calor de uma família que estava apenas começando a tomar forma.


No final da primavera, toda a neve havia derretido, revelando sulcos de terra de cor profunda que se estendiam como velhas cicatrizes pela fronteira. Mas, aos olhos de Caleb, aquela terra nunca pareceu tão viva. Talvez fosse porque, pela primeira vez em sua vida. Ele não estava mais caminhando sozinho.

Myella sentou-se na varanda, o vento puxando seu cabelo preto e espesso. Sua barriga havia arredondado visivelmente, mas ela se sentava tão forte e firme quanto a própria montanha. Mesmo grávida, ela permanecia a mulher imponente e poderosa, cuja sombra podia se estender por metade da varanda.

Caleb saiu e cobriu seus ombros com um xale leve. Ela sorriu abertamente. Ele sentou-se ao lado dela, seu ombro encostado ao dela. Menor, mas não menos presente.

Após um longo momento, Myella finalmente falou. “Caleb, a tribo me expulsou. Não tenho nome entre eles. Sem terra, sem lar.”

Caleb olhou para ela, sua voz profunda e calma. “Você me tem e tem esta terra. Para mim, isso é o suficiente.”

Myella baixou o olhar, seus longos cílios escondendo a onda de emoção que subia dentro dela. “Eu costumava acreditar que não passava de uma ferramenta para a tribo. Escolhida para gerar filhos, não para escolher como viver.” Ela se virou para ele, colocando a mão sobre o peito dele, onde seu coração batia firmemente. “Mas aqui, eu escolhi. Não por causa da lei, não por causa do dever, mas porque eu quis.”

Caleb apertou suavemente a mão dela. “E eu… eu vivi metade da minha vida com nada além de terra e silêncio. Você trouxe algo que eu nunca ousei sonhar.”

O vento da primavera aumentou, carregando o cheiro de grama fresca e o som de riachos descongelados fluindo novamente. Myella olhou em seus olhos, sua voz clara e certa como um voto proferido em completa liberdade.

“Eu não quero pertencer a lei nenhuma mais. Eu escolho você.”

Caleb respondeu sem hesitar, como se a resposta sempre tivesse vivido dentro dele. “E eu escolho você.”

Nenhuma cerimônia foi necessária. Nenhuma bênção tribal, nenhuma testemunha, nenhuma aprovação, apenas duas almas que haviam sido deixadas para trás. Agora estavam juntas sob o céu azul suave do final da primavera, encontrando liberdade uma na outra.

Myella encostou a cabeça no ombro de Caleb, a voz leve como a brisa. “Esta criança crescerá sabendo que seus pais escolheram um ao outro não porque precisavam, mas porque queriam.”

Caleb colocou a mão sobre a barriga dela, onde um batimento cardíaco silencioso pulsava com vida. “E saberá que nasceu de duas pessoas fortes e foi amada livremente.”

O sol mergulhou atrás das colinas, lançando luz dourada sobre duas silhuetas, uma grande, uma pequena, mas com corações batendo como um só. Na fronteira varrida pelo vento. Eles não precisavam pertencer a nenhum outro lugar. Eles só precisavam pertencer um ao outro.

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