Era uma noite fria e silenciosa no deserto, e Clyde Baxter, um homem endurecido pelas dificuldades da vida, estava à beira de um fogo crepitante, sem saber que o destino o aguardava em forma de uma mulher misteriosa. O calor das chamas contrastava com o gelo que corria nas veias dele, alimentado por uma mistura de raiva e confusão. Havia semanas que sua vida estava mergulhada em caos após o incêndio em sua fazenda, um incêndio que ele sabia, com toda a certeza, que não foi acidental.
Ele estava sozinho, apenas com sua Winchester e um olhar atento ao vasto deserto, quando, de repente, uma figura apareceu das sombras. Uma mulher, com um hábito de freira, caminhava em direção ao fogo. Ela estava sozinha, e isso era algo que nenhum homem em sã consciência faria. Nuns lugares como aquele, onde o calor do deserto pode ser mortal e o perigo ronda a cada esquina, era preciso mais do que coragem para se aventurar.
Clyde a observou em silêncio, intrigado. Ela se aproximou sem pressa, como se tivesse toda a eternidade diante de si. Seus olhos, por trás da aba do chapéu de Clyde, a seguiam com uma mistura de ceticismo e algo mais, algo que ele não conseguia identificar. Ela parou perto do fogo, o calor iluminando seu rosto calmo e distante, mas com uma intensidade que ele não pôde ignorar.
Ela falou então, suavemente, mas suas palavras cortaram o silêncio da noite como uma lâmina afiada. “Cowboy, você me tem medo ou me deseja?”
As palavras dela pairaram no ar, reverberando em sua mente. Clyde não sabia o que responder. Ele se sentiu vulnerável diante dela, algo que não acontecia há muito tempo. Quem era aquela mulher que tinha tanta confiança para falar assim com ele, um homem acostumado a ser o caçador, não a presa?
Ela sorriu ligeiramente ao ver a surpresa em seus olhos e, com um movimento fluido, se abaixou ao lado do fogo, sem se afastar de sua vigilância. A mulher, cujos olhos pareciam esconder algo muito mais profundo do que um simples encontro no deserto, não parecia com uma freira comum. Sua presença carregava uma aura de mistério e de algo proibido.
“Eu não sou o que parece,” ela disse, quebrando o silêncio novamente. “Mas você já sabe disso, não é?”
Clyde a observou mais de perto. Algo no modo como ela se movia, com tanta precisão e graça, algo na suavidade de sua voz e nos pequenos detalhes do seu olhar, fez seu estômago apertar. Ele já tinha encontrado mulheres perigosas antes, mas nada como ela. Nada tão… enigmático.
Ela puxou algo debaixo de seu hábito, um pedaço de madeira que ele reconheceu imediatamente. O pedaço de madeira queimado, com as iniciais de seu pai gravadas nele, a mesma madeira que ele havia encontrado em meio às cinzas da sua fazenda destruída. Clyde engoliu em seco, sua mente explodindo de perguntas sem respostas.
“De onde você tirou isso?” ele perguntou, sua voz rouca e tremendo com a revelação.
Ela olhou para ele com um sorriso que poderia ser tanto um convite quanto uma ameaça. “A verdade é algo que se esconde no deserto, Cowboy. Mas você, agora, está mais perto de encontrá-la do que nunca.”
Antes que ele pudesse responder, ela se aproximou dele, o som de seus passos abafados pela areia quente do deserto. O aroma de jasmim invadiu suas narinas, um cheiro tão inesperado em meio ao calor e à poeira. Ela estava mais perto agora, tão perto que ele podia sentir o calor do seu corpo, o peso da presença dela.
“Eu sei quem queimou sua fazenda, Clyde,” ela disse, suas palavras suaves, mas penetrantes como uma faca afiada. “E sei que você quer vingança. Mas, o que você não sabe é que a resposta está em suas próprias mãos.”
Ele sentiu sua mandíbula apertar, os músculos tensos. Como ela sabia disso? Como ela sabia sobre os homens que ele procurava, os nomes que ele buscava com tanta determinação? Como ela sabia sobre os planos que ele estava traçando?
Ela o olhou diretamente, seus olhos sombrios e desafiadores, como se estivesse olhando diretamente para sua alma. “Você não é o único que perdeu algo, Clyde. Eu também perdi. Mas, às vezes, a vingança não é o suficiente.”
Clyde não sabia o que fazer. Cada palavra dela parecia acertar um ponto sensível, algo que ele não queria admitir, nem para si mesmo. Mas, ao mesmo tempo, havia algo ali, algo em seus olhos, que o atraía de maneira impossível de ignorar. Ela era perigosa, ele sabia disso. Mas, ao mesmo tempo, ela parecia ser exatamente o que ele precisava.
“O que você está pedindo?” ele perguntou finalmente, a tensão na voz.
Ela sorriu novamente, e essa expressão enigmática parecia carregar uma promessa de coisas que ele não conseguia sequer imaginar. “Eu estou pedindo que você confie em mim. Juntos, podemos destruir aqueles que destruíram você. Podemos dar um fim a isso, de uma vez por todas.”
A mulher se levantou, sua figura se afastando dele, e a areia sob seus pés parecia ressoar com o peso do destino. Clyde a observou, ainda absorvendo o que ela dissera. Ele sabia que estava em um ponto de inflexão. Um passo para a frente e não haveria mais volta.
E quando ela falou novamente, suas palavras ecoaram como um desafio: “Agora, a verdadeira questão é: você está pronto para arriscar tudo, Clyde Baxter?”
Clyde se levantou, sua respiração profunda e controlada, e finalmente se aproximou dela. “Sim,” ele respondeu com firmeza. “Eu estou pronto.”
A mulher sorriu, e a luz da lua parecia brilhar com um fogo novo, enquanto juntos, eles cavalgavam para um destino que não poderia mais ser evitado.