Caí num planeta de deusas gigantes e sensuais! Elas me capturaram, e as mais loucas exigiram que eu… antes que decidissem me devorar.

Eu não deveria ter sobrevivido à queda.

O impacto rasgou minha nave como se fosse papel, o fogo lambendo o casco enquanto as cápsulas de emergência me lançavam nos espessos céus âmbar de um planeta desconhecido. Quando acordei, meu visor estava trincado, meu oxigênio baixo, e meu coração ecoava em meu capacete como um tambor de pânico.

Então, o chão tremeu. Eu congelei. Outro tremor.

Não era um terremoto. Eram passos. Pesados, deliberados, impossivelmente altos. A poeira ao meu redor ondulava a cada impacto. Eu forcei a vista através da fumaça, os sensores do meu traje falhando com estática, e foi quando eu a vi.

Uma sombra movendo-se pelo chão do vale, massiva, humanoide.

Ela saiu da névoa. Uma mulher, não, uma giganta. Sua pele brilhava como bronze sob os sóis gêmeos, o cabelo caindo como um rio de fogo, os olhos tão grandes e luminosos que pareciam engolir o próprio céu. Ela olhou para mim, sua expressão mudando entre curiosidade e fome.

Eu tropecei para trás, minha bota afundando no solo alienígena.

“Olá”, consegui dizer, minha voz tremendo pelos comunicadores.

Seus lábios se curvaram. Um sorriso irônico. Ela se agachou, e a terra rachou sob seus joelhos. Sua voz rolou pelo ar como um trovão.

“Um homem. Um de verdade. Não víamos sua espécie há eras.”

Antes que eu pudesse me mover, sua mão, grande o suficiente para esmagar um veículo, desceu e me pegou. Fui erguido do chão, encarando um rosto que poderia ter sido esculpido por deuses. Se os deuses fossem cruéis o suficiente para fazer algo tão belo e tão aterrorizante.

Mais sombras apareceram atrás dela. Três, quatro, cinco mulheres enormes, cada uma com traços, cores e expressões diferentes. Algumas riam, outras sussurravam. A língua delas ecoava pelo meu capacete, um zumbido hipnótico que eu quase conseguia entender.

A mais alta delas se inclinou, seus olhos prateados refletindo meu rosto aterrorizado. “Você tem sorte, pequeno viajante,” ela disse. “Algumas de nós comem homens. O resto de nós… brinca com eles primeiro.”

Meu estômago gelou. A risada delas rolou pelo vale como uma tempestade. Eu não sabia o que era pior. A beleza delas ou a loucura brilhando por trás de seus sorrisos.

Lutei contra seu aperto, mas seus dedos se fecharam suavemente, possessivamente, ao meu redor. O alarme do meu traje gritou enquanto o oxigênio vazava. Eu podia sentir o calor de sua pele através do metal.

“Não tenha medo,” a primeira sussurrou. “Podemos te ensinar a sobreviver aqui… se você nos agradar.”

E assim que o mundo começou a escurecer, sua voz ecoou dentro da minha mente, diretamente na minha mente.

Você nos pertence agora, pequeno homem das estrelas.

Minha visão turvou. A última coisa que vi foi seu rosto colossal descendo, seus lábios formando uma palavra que sacudiu o próprio ar: meu nome.

Acordei em um campo que parecia ter sido pintado por um deus alienígena. Flores imensas, mais altas que arranha-céus, suas pétalas brilhando suavemente com luz interna. O ar cintilava com poeira dourada e o cheiro… era intoxicante. Doce e estranho, como uma mistura de mel e eletricidade.

Tentei me sentar, mas meu corpo parecia leve. Leve demais.

Meu capacete tinha sumido. Meu traje estava aberto. Alguém o havia removido. O pânico me invadiu. Mas antes que eu pudesse me mover, uma voz falou.

“Não se esforce, pequeno. Seu corpo precisa se ajustar à nossa atmosfera.”

Eu me virei. Lá estava ela, a giganta ruiva que me capturou. Ela estava reclinada entre as flores enormes, seus ombros nus brilhando com gotas de orvalho do tamanho dos meus punhos. Seus olhos, dourados e calmos agora, me estudavam com a curiosidade de um cientista examinando um inseto.

“Onde estou?”, perguntei. Minha voz saiu pequena, trêmula.

Ela sorriu. “Você está em Varela. O jardim das titãs.”

Olhei ao redor, tentando entender a escala. O que eu pensei serem árvores eram, na verdade, videiras enormes envolvendo torres de cristal. Rios de luz azul fluíam pelo vale. Tudo pulsava como se estivesse vivo, conectado por algum ritmo invisível.

Então eu vi as outras. Elas caminhavam entre lagos brilhantes, rindo, seus corpos semicobertos por tecidos estranhos que cintilavam como vidro líquido. Uma tinha a pele prateada e cabelos translúcidos. Outra tinha marcas no rosto que pareciam vivas, mudando levemente quando ela se movia. Cada uma delas era enorme, mas o que mais me assustava não era o tamanho.

Era o jeito que me olhavam. Como se eu fosse algo sagrado, ou algo pelo qual esperavam.

A ruiva, Lessa, estendeu a mão para mim, seu dedo roçando meu braço. Um arrepio percorreu meu corpo. Não foi apenas um toque. Foi energia. Eu podia sentir suas emoções – curiosidade, desejo, controle – inundando minha mente.

“Você não pertence aqui,” ela disse suavemente. “E ainda assim, você chegou. Isso significa que a profecia era verdadeira.”

Eu pisquei. “Profecia?”

Ela se inclinou, seu hálito quente contra mim, cheirando a algo selvagem e elétrico. “Que um homem cairia das estrelas. Que seu sangue despertaria os Adormecidos e mudaria tudo.”

Engoli em seco. “Eu sou só um piloto. Minha nave caiu. Eu não sou…”

“Não,” ela interrompeu. “Você é algo mais. Eu posso sentir.”

Antes que eu pudesse responder, outra voz cortou o jardim, mais afiada, mais fria.

“Lessa.”

Uma figura alta se aproximou, com a pele da cor do luar e olhos que queimavam em violeta. Sua expressão não era acolhedora. “Você quebrou a lei,” ela sibilou. “Nenhum homem deve ser mantido vivo.”

Lessa se ergueu em toda a sua altura, bloqueando o caminho da recém-chegada. O ar vibrou com tensão. “Ele é meu,” Lessa disse. “E não vou deixar o conselho tocá-lo.”

A giganta prateada ergueu a mão, e o mundo ao meu redor escureceu. Eu podia sentir seus poderes colidindo, ondas invisíveis sacudindo o ar. Meu corpo formigou.

Então, silêncio.

Fui erguido novamente, mas desta vez não por mãos. Por luz. Flutuando, sem peso, entre duas deusas prestes a guerrear por mim.

Luz. Isso é tudo que eu via. Ondas de luz ofuscante e viva. Meu corpo parecia suspenso entre mundos, pego na tempestade invisível. Quando terminou, eu caí. Não muito, apenas alguns metros, pousando em uma superfície macia, parecida com musgo, que brilhava sob mim.

O ar zumbia. Minhas veias queimavam com um calor estranho. Olhei para baixo e vi linhas azuis fracas traçando sob minha pele, pulsando no ritmo das videiras luminosas ao meu redor.

Lessa correu até mim, seu rosto tenso. “Você está mudando,” ela sussurrou. “A luz do mundo está respondendo ao seu sangue.”

“O que está acontecendo comigo?”

A executora prateada baixou sua lança e me estudou com um olhar que não era mais ódio. Era medo. “Ele carrega a centelha. O mesmo poder que construiu este planeta antes que ele adormecesse.”

O chão tremeu. De algum lugar profundo, ouvi um som. Não mecânico, não natural. Era como um coração batendo através da pedra. Torres distantes de cristal começaram a se iluminar, uma por uma.

“Você os despertou,” disse Lessa. “Os Adormecidos.”

Silhuetas massivas de máquinas antigas, meio vivas, meio mecânicas, ergueram-se à distância. Seus olhos se acenderam com a mesma luz azul que corria em minhas veias. Eu podia senti-los, seus pensamentos, fragmentos de uma civilização antiga que havia criado as próprias Titãs.

E eles estavam me chamando.

Agarrei meu peito quando a visão me atingiu. Cidades de luz, oceanos de vidro, seres de energia ensinando às Titãs a arte da criação. E então a queda, uma guerra catastrófica.

“Elas não nasceram aqui,” eu disse, ofegante. “Elas foram feitas.”

Lessa assentiu. “Nós deveríamos guardar a chama. Mas ela escureceu… até você chegar.”

A executora prateada se virou para ela, sua voz pesada de espanto. “Se a profecia é verdadeira, então a vinda dele significa o segundo amanhecer das Titãs… ou nossa extinção final.”

O vento começou a uivar. Além das colinas, uma forma escura se moveu, mais alta que todas elas, envolta em névoa negra.

“Os outros virão por você agora,” Lessa disse, endurecendo. “Aqueles que nunca perdoaram os deuses antigos.” Ela me ergueu, colocando-me dentro de uma câmara de cristal que se formou em sua palma. “Confie em mim, pequeno. Você deve sobreviver o tempo suficiente para terminar o que sua espécie começou.”

A tempestade não caiu do céu. Ela se ergueu do chão. Nuvens negras giravam ao contrário, atraídas para um vórtice de relâmpagos negros.

“Eles despertaram mais rápido do que eu temia,” Lessa murmurou. “Os Renegados estão vindo.”

A executora prateada estendeu sua lança, a ponta zumbindo. “Então devemos alcançar o núcleo antes deles.”

Elas se moveram. As gigantas atravessaram o vale, seus passos incendiando o solo. Eu podia sentir o puxão magnético lá no fundo. Algo enterrado estava me chamando.

O chão se abriu. Abaixo da fissura, vi um brilho vasto, circular, mecânico. Um portão.

Elas pularam.

A descida pareceu interminável. Aterrissamos em uma câmara colossal, maior que cidades, cheia de estátuas que pareciam quase humanas, mas com olhos como estrelas. O ar cintilava.

Saí do casulo de cristal. Pela primeira vez, a gravidade parecia normal. O chão pulsava. Coloquei minha mão sobre ele, e a câmara inteira respondeu. As estátuas viraram suas cabeças em minha direção. Seus olhos se acenderam.

“Ele está ligado ao núcleo,” sussurrou Lessa.

A voz da prateada tremeu. “Não. Ele é o herdeiro do núcleo.”

Uma voz profunda e ressonante encheu a câmara. “Identidade confirmada. Genoma estelar reconhecido. Iniciando protocolo Aurora.”

Luz explodiu. As paredes se desdobraram, revelando um céu cheio de estrelas. Não o céu real, mas uma simulação, a memória de seu universo perdido. Eu vi planetas, cidades, batalhas, e então a verdade.

A humanidade esteve aqui antes.

“Nós criamos vocês,” minha voz tremeu.

Lessa olhou para mim, sua expressão indecifrável. “Então, por que nos abandonaram?”

Antes que eu pudesse responder, uma onda de choque atingiu a câmara. A simulação do céu se estilhaçou. Das fissuras acima, sombras jorraram. Formas colossais envoltas em névoa, seus olhos queimando em vermelho. Os Renegados haviam chegado.

A voz de seu líder trovejou: “A luz deve permanecer morta. O Nascido das Estrelas não se erguerá novamente.”

Lessa me colocou de volta na câmara protetora e se virou, seus olhos brilhando ferozmente. “Fique aí dentro. Não deixe o núcleo assumir o controle.”

Mas era tarde demais. Eu podia senti-lo despertando dentro de mim, reescrevendo meu pulso, minha respiração, meus pensamentos. O brilho azul em minhas veias incendiou-se até que toda a câmara pulsou com ele.

E então ouvi mil vozes sussurrando meu nome. O núcleo não estava apenas despertando. Estava se tornando eu.

A câmara se abriu como um ovo de luz. Tudo – som, cor, gravidade – dobrou-se em um único momento de quietude absoluta. As Titãs congelaram, os Renegados pararam, e eu fiquei no centro de tudo, suspenso entre o que eu era e o que estava me tornando.

Dentro de mim, a voz do núcleo não era mais mecânica. Soava humana. Você é a ponte entre os perdidos e os vivos. Escolha qual mundo renascerá das cinzas.

Eu vi os dois exércitos esperando. Lessa, ferida, mas inflexível. A executora prateada, sangrando luz. Os Renegados, sombras titânicas queimando com a memória de uma traição milenar.

A verdade se desenrolou em minha mente. Os Criadores, humanos, construíram este mundo como um experimento. Quando desapareceram, as Titãs herdaram seu poder sem orientação. Os Renegados haviam sido seus protetores, tornados monstruosos por séculos de raiva.

Ambos queriam que eu decidisse quem merecia sobreviver.

Respirei fundo, sentindo o pulso do núcleo se alinhar com meu coração. As paredes da câmara ficaram transparentes, mostrando Varela acima. O planeta estava morrendo.

“Eu posso acabar com isso,” eu disse suavemente. “Mas não vou escolher a destruição.”

Lessa se aproximou, ajoelhando-se para que seu olhar encontrasse o meu. “Então o que você fará, pequeno homem das estrelas?”

Estendi minha mão, deixando o brilho azul se expandir. A energia se conectou a tudo – as videiras, as estátuas, as Titãs, até mesmo os Renegados. Por um instante, todos em Varela compartilharam o mesmo pulso, a mesma memória.

“Vocês nunca foram feitos para governar ou servir,” eu disse. “Vocês foram feitos para lembrar.”

O núcleo respondeu. Um feixe de luz irrompeu do centro do planeta, perfurando as nuvens. A tempestade negra se dissolveu. Os corpos dos Renegados se desfizeram em partículas de luz, sua raiva se dissipando em paz. As Titãs caíram de joelhos, não em adoração, mas em compreensão.

O mundo começou a se curar.

Lessa sorriu, um sorriso cansado e lindo. “Você fez o que nenhum dos Criadores conseguiu. Você nos deu equilíbrio.”

Eu senti meu corpo desaparecendo, tornando-me a mesma energia azul. “Talvez fosse para isso que servíamos. Não deuses, não governantes. Apenas uma centelha.”

“Nós o veremos de novo?”, ela perguntou, sua voz suave.

Eu sorri, enquanto a luz consumia tudo. “A cada amanhecer, cada batida do coração. Sou eu agora.”

Quando o silêncio retornou, o mundo estava inteiro. As Titãs ergueram-se sob sóis gêmeos, seus olhos refletindo o brilho de uma estrela renascida. Um mundo não mais à espera de deuses, mas vivo com sua própria luz.

E em algum lugar no coração daquela luz, minha voz sussurrou ao vento: “Lembre-se de mim, Lessa. Eu nunca fui seu prisioneiro. Eu fui o seu começo.”

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