O ano era 1876, e as chuvas chegaram cedo à fronteira. Não caíam suavemente, mas com o peso da tristeza, como se os céus mesmos lamentassem o que foi perdido. À beira de uma estação ferroviária esquecida, onde os trilhos de ferro se estendiam até um horizonte cinza, uma mulher se agachava sob o telhado inclinado, com cinco filhos apertados ao seu redor. Seu nome era Sophia Grace Callahan. E, embora já tivesse sido chamada de esposa, nora, irmã e vizinha, naquela noite, não era chamada de nada.
Seu xale, gasto e encharcado, grudava em seus ombros como uma segunda pele. A água da chuva caía continuamente das bordas, salpicando em suas bochechas pálidas, escorrendo para o colarinho do vestido desbotado. Nos braços, ela segurava seu recém-nascido, envolto em um pedaço de linho já úmido, enquanto quatro outras meninas se agarravam às suas saias, famintas, tremendo, com os lábios levemente azuis devido ao frio. A velha estação oferecia nenhum conforto, apenas abrigo suficiente para impedi-las de se afogarem na tempestade.
O Oeste nunca fora bondoso, mas Sophia já acreditara que era possível sobreviver até que o coração de seu marido falhasse quatro meses antes, deixando-a viúva, com bocas para alimentar e uma casa que já não a queria mais. Ela lembrava do dia de seu enterro. Os sogros de preto, com olhos duros como pedras, suas palavras afiadas mesmo durante o luto. “Uma mulher que só traz filhas não é uma bênção para a família. Você nos amaldiçoou tempo suficiente. Vá embora antes que nos drene a todos.” Ela havia saído com nada mais do que um feixe de roupas e sua dignidade apertada contra o peito. Mas dignidade não alimentava crianças. Dignidade não as aquecia à noite.
Durante quatro dias, haviam enfrentado a tempestade. Sophia pressionara seu corpo contra a madeira fria para proteger as mais novas, acalmando seus choros com sussurros de esperança em que já não acreditava. Clara, a mais velha, com 12 anos, tentava ser corajosa, tirando a água da chuva dos cabelos de suas irmãs e pressionando suas pequenas mãos nos pés do bebê para mantê-los aquecidos. Ruth, com apenas 10, perguntava a cada manhã se, naquele dia, encontrariam pão, sua voz mais fina a cada hora que passava. Elsie e Martha, com 8 e 6 anos, se agarravam como sombras, com os olhos arregalados e em silêncio, com a barriga vazia. A pequena Hope conhecia apenas o ritmo da tempestade e da fome desde o momento de seu nascimento.
Sophia sentia o sofrimento de cada filha como se fosse seu. E nos momentos mais cruéis, quando a chuva batia mais forte e seus braços doíam de tanto balançar o bebê, um pensamento a atingiu. Talvez seus sogros tivessem razão. Talvez ela fosse realmente amaldiçoada.
Um vendaval atravessou a plataforma aberta, fazendo as tábuas soltas rangerem. Sophia apertou os braços ao redor do bebê e inclinou a cabeça, sussurrando: “Silêncio agora, pequenina. A tempestade não pode durar para sempre.” Mas até sua própria voz tremia, inconvincente. Através do véu da chuva, ouviu o som distante dos cascos contra o barro. A princípio, pensou que fosse trovão, mas o ritmo era constante, deliberado demais.
Ela levantou a cabeça, os olhos forçando através da borrasca de água, e viu um cavalo se aproximando, um alto garanhão baio, músculos ondulando sob o aguaceiro, seu cavaleiro uma silhueta escura. Sua filha se mexeu, o medo piscando em seus olhos. Os viajantes raramente paravam para os miseráveis. A maioria virava o rosto. Alguns cuspiram. Alguns jogavam moedas, como se a caridade fosse uma ofensa suficiente. O coração de Sophia apertou. Melhor ser invisível do que ser zombada.
O cavaleiro se aproximou, o hálito do cavalo se condensando no frio. Quando ele freou na borda da plataforma, o relâmpago cortou o céu, e por um instante seu rosto foi revelado. Jonathan McGra, conhecido no condado como um fazendeiro rico, viúvo há três anos, era um homem falado em sussurros nas reuniões da igreja, admirado por suas terras e temido por sua solidão.
Ele desmontou lentamente, suas botas afundando no barro. A chuva escorria de seu chapéu de abas largas para o couro gasto de seu casaco. Seus olhos, cinzentos como a própria tempestade, ficaram sobre Sophia e suas crianças. Ela se esticou, a vergonha queimando mais forte do que o frio nos ossos. Ser vista assim, encurralada como um animal errante, era pior do que a fome. Ela virou o rosto, apertando o bebê mais perto de seu peito, sussurrando para as filhas não olharem.
Mas a voz de Jonathan, baixa e firme, cortou a chuva. “Há quanto tempo estão aqui?” Ela não respondeu. O orgulho segurou sua língua. Ele deu um passo mais próximo, se agachando, de modo que seu olhar encontrou o de Clara. A menina, com os lábios trêmulos, sussurrou: “Há dias, senhor.” O olhar de Sophia se dirigiu rapidamente à filha, seus olhos faiscando. Mas Clara não se encolheu. Estava cansada do silêncio, cansada de fingir força.
Jonathan assentiu lentamente. Seu olhar percorreu as meninas, as bochechas magras, os sapatos encharcados, os corpos trêmulos, e então voltou para Sophia. Sem uma palavra, ele abriu sua bolsa de sela e retirou um pão embrulhado, uma garrafa de água e um cobertor de lã. Ele os colocou gentilmente nas tábuas de madeira diante dela, como se estivesse colocando ofertas em um altar.
A garganta de Sophia apertou. Seu orgulho gritou para recusar, para provar que ela poderia aguentar. Mas quando a mão pequena de Ruth se esticou em direção ao pão, ela não pôde detê-la. A criança rasgou um pedaço e o passou para suas irmãs, que devoraram em silêncio, com os olhos grandes de alívio. Sophia abaixou a cabeça, as lágrimas se misturando com a chuva em suas bochechas.
“Eu não posso te retribuir,” ela sussurrou.
A voz de Jonathan estava mais suave agora. “Eu não pedi pagamento.” Ele a observou por um longo momento. Então, como se a decisão já tivesse sido tomada em algum lugar silencioso dentro dele, ele estendeu a mão. “Por favor, venha comigo.”
As palavras pairaram no ar, frágeis e pesadas ao mesmo tempo. Sophia olhou para sua mão, depois para suas filhas, cujos olhos, implorantes, esperançosos, desesperados, a cortaram mais fundo que qualquer lâmina. Ela balançou a cabeça levemente.
“As pessoas vão falar.” Jonathan deu um meio sorriso, cansado e compreensivo. “Deixe que falem.” Ela queria acreditar nele, mas o medo se enrolava apertado dentro dela. Ela já havia sido rejeitada uma vez. Andar para dentro da casa de outro homem, especialmente um tão poderoso, seria convidar o julgamento dez vezes mais.
E, no entanto, que escolha ela tinha?
Um grito cortou o ar. O bebê Hope chorando de fome e frio. O som quebrou a determinação de Sophia como vidro sob os pés. Com os dedos trêmulos, ela moveu o bebê para um braço e estendeu a outra mão em direção à mão de Jonathan. Seu aperto era quente, firme, inabalável. Nesse momento, algo dentro dela se quebrou. Não derrota, mas rendição. A rendição frágil de uma alma afundando que finalmente encontra uma corda jogada na tempestade.
Jonathan a ergueu suavemente, depois ajudou as crianças a subirem na carroça. Ele guiou o cavalo para frente, a chuva açoitando todos eles, o caminho à frente uma fita de barro e neblina. Sophia segurou o bebê perto de seu peito, olhando para os ombros largos do homem que apareceu da tempestade como uma resposta à oração que ela estava cansada demais para fazer.
Os trilhos de ferro desapareceram atrás deles, engolidos pela chuva. À frente estavam campos, vales e o desconhecido. Sophia fechou os olhos contra o vento cortante. Pela primeira vez em meses, seu coração não doía de desespero, mas de algo mais perigoso, algo que se sentia quase como esperança. E ainda assim, quando o relâmpago iluminou o horizonte, ela se perguntou qual preço secreto viria com tal misericórdia.
A chuva não havia cessado quando a carroça de Jonathan os levou até suas terras. Mas sua canção suavizou como se a própria tempestade se curvasse à sua presença. Sophia sentou em silêncio, abraçando seu recém-nascido enquanto as rodas da carroça giravam na lama. Suas filhas se aconchegaram, suas pequenas mãos entrelaçadas como raízes agarrando o solo, roubando calor umas das outras.
A grande silhueta da fazenda McGra se ergueu à frente, uma casa espaçosa de madeira e pedra, lanternas brilhando suavemente através das janelas. Para os olhos cansados de Sophia, parecia menos uma fazenda e mais uma fortaleza erguida da solidão.
Jonathan guiou o cavalo até o celeiro, desmontou e ofereceu uma mão firme. Seu aperto era forte, inabalável, enquanto ele levantava cada menina da carroça com o cuidado de um pai que conhecia o peso dos pequenos ossos. Quando os pés de Sophia afundaram na palha do chão do celeiro, seus joelhos quase cederam. Ela não pisava em solo firme sem tremer há dias.
Dentro da casa, elas foram recebidas por um calor que quase havia esquecido que existia. O cheiro de fumaça de madeira e milho assado pairava no ar, as paredes vivas com o rangido das madeiras e o sussurro da chuva nas janelas. Jonathan acendeu a lareira com força total.
E pela primeira vez, desde sua rejeição, as crianças de Sophia retiraram suas camadas encharcadas e riram, risos curtos, hesitantes, que soaram como música saindo de instrumentos rachados.
Sophia ficou afastada, seu xale gotejando sobre os pisos polidos. Ela se sentiu como uma intrusa neste lugar, uma sombra manchando sua luminosidade. Mas quando Jonathan voltou da cozinha com tigelas fumegantes de ensopado, colocando-as na longa mesa de carvalho com uma calma segura, suas filhas correram à frente, colheres de madeira apertadas nas mãos desesperadas.
As pequenas faces delas coraram de calor e comida, e a garganta de Sophia apertou ao ver isso. “Vocês vão dormir aqui esta noite,” disse Jonathan simplesmente, sua voz baixa, mas resoluta. “Amanhã encontraremos roupas secas para vocês.”
Sophia abriu a boca para protestar, para lembrá-lo de que os fofocas se espalhariam, que um homem de sua posição não poderia bancar tal caridade. Mas o suspiro de contentamento de sua filha abafou as palavras antes que elas se formassem.