“Aceite Esta Noiva Virgem” — O Fazendeiro Ficou Paralisado Quando Ela Segurou Sua Mão Como Se Já Conhecesse Cada Segredo Escondido da Sua Vida Solitária

Gideon Nash havia escrito apenas três cartas em toda a sua vida adulta. A primeira foi para pedir sementes a um catálogo. A segunda, para o banco, sobre a hipoteca de sua terra. A terceira, para solicitar uma esposa através do serviço de correio territorial, porque trinta e cinco anos de solidão haviam quebrado dentro dele algo que não conseguia mais consertar sozinho.

Naquela manhã de setembro, quando Magnolia Pierce desceu da carroça, ela parecia exatamente como descrevera em suas cartas: cabelos loiros, olhos verdes e vinte e dois anos de idade. Carregava contra o peito um pequeno bornal de couro, como se dentro dele estivesse guardada a sua vida inteira. O que ela não havia mencionado era a maneira como olharia para as mãos calejadas de Gideon, como se já tivesse percorrido cada cicatriz com os dedos.

Havia também aquele sorriso leve quando seus olhos pousaram sobre a janela da cozinha, como se soubesse da pequena trinca no canto inferior do vidro, a mesma que deixava entrar ar frio durante os invernos longos. Mas o momento em que estendeu a mão para cumprimentá-lo foi o que fez o tempo parar. Seus dedos encontraram com precisão o ponto exato do polegar de Gideon, esmagado por uma tora de madeira dois anos antes, o lugar que ainda ardia quando a chuva se aproximava.

Ela pressionou ali, de forma delicada, e disse seu nome como se o conhecesse há anos. Gideon recuou de imediato, o coração disparado. Ninguém sabia daquela dor. Ele estava sozinho quando o acidente aconteceu, sozinho quando tentou alinhar o osso, sozinho quando reaprendeu a trabalhar com a rigidez que ficou. Nunca mencionara nada disso nas cartas. Ainda assim, Magnolia sabia.

O silêncio entre eles esticou-se como arame farpado. Gideon a observava enquanto ela examinava os detalhes da casa: a tábua solta do degrau da varanda, o barril de chuva sob a calha quebrada, a porta torta desde a última tempestade. Eram marcas que apenas quem viveu ali poderia notar.

— Sua casa é exatamente como imaginei — disse ela.

A voz não carregava surpresa, mas sim familiaridade. Gideon pigarreou, tentando esconder o incômodo.

— Como exatamente você a imaginou?

Por um instante, o rosto dela vacilou, sombra breve antes de recuperar o sorriso.

— Pelas suas cartas. Você descreveu tão bem.

Gideon lembrava de cada linha. Apenas três parágrafos, curtos, práticos. Escrevera sobre o rancho, sobre a solidão que o consumia, e sobre a necessidade de companhia. Nada mais. Certamente não falara sobre tábuas frouxas ou feixes de luz atravessando a cozinha ao amanhecer.

O cocheiro pigarreou atrás, ansioso para seguir viagem. Gideon o pagou sem tirar os olhos de Magnolia. Ela caminhou para a porta com passos firmes demais para alguém que chegava pela primeira vez. Girou o trinco com a pressão certa para que não emperrasse. Ali, Gideon compreendeu que havia um jogo em andamento, e ele não conhecia as regras.

Dentro da casa, Magnolia moveu-se como quem já conhecia o espaço. Deixou o bornal sobre a mesa e foi direto ao armário onde ele guardava as canecas. Não o mais óbvio, acima do fogão, mas o estreito ao lado da janela. Pegou duas canecas sem errar nenhuma porta.

— Pensei em preparar café enquanto conversamos. Você sempre o faz forte, não é? Como seu pai fazia.

O golpe foi direto no peito de Gideon. Ninguém sabia do café de Jacob Nash, morto havia quinze anos. Ele jamais falara disso em carta alguma.

— Quem te contou sobre meu pai? — perguntou, a voz carregada de desconfiança.

Dessa vez, Magnolia hesitou.

— Talvez tenha sido você, em uma das cartas.

— Não. Não fui eu.

Ele se aproximou, e ela recuou contra o balcão. Pela primeira vez, demonstrava nervosismo.

— Escrevi três cartas. Lembro de cada palavra. Nunca falei dele, nem do meu polegar, nem da calha quebrada.

Os olhos verdes dela desviaram para a janela e voltaram. Havia cálculo em seu olhar, não inocência.

— Você está me assustando.

— Ótimo. Porque você me assusta desde que desceu daquela carroça.

A luz da tarde se desfazia, e as sombras cresciam pelo chão da cozinha. Gideon encostou-se à porta, bloqueando a saída. Magnolia mantinha-se firme, como um animal acuado que não parecia desesperado, mas paciente.

— Acho que houve um engano — disse ela, enfim. — Talvez eu deva explicar.

Do bornal, retirou um papel dobrado, amarelado pelo tempo. Colocou-o sobre a mesa.

— Essa é sua carta. A verdadeira. Não a que você pensa ter enviado.

— Enviei apenas uma.

— Não. Você enviou duas. A segunda chegou um mês depois. Você estava bêbado quando a escreveu.

Gideon sentiu o chão ceder. Outubro. Sempre em outubro a ausência do pai se transformava em faca. Whisky barato, noites escuras, palavras que talvez tivesse rabiscado sem memória.

— O que escrevi?

— Tudo — respondeu ela, firme. — Sobre o café do seu pai, sobre o polegar esmagado, sobre como você fala sozinho. Sobre a solidão que te dilacera.

Cada palavra era como se tivessem invadido sua alma. Se aquilo era verdade, a traição vinha dele mesmo, que abrira o coração para uma estranha. Se fosse mentira, o perigo era ainda maior.

Gideon não tocou no papel.

— Fique com isso. Não quero ver o tolo que fui.

— Você não foi tolo — disse Magnolia com suavidade. — Apenas precisava que alguém soubesse que você existia.

Ele virou-se para a janela, fitando a escuridão dos campos.

— Então você veio até aqui para se casar com um homem que despeja segredos no papel? Que tipo de mulher faz isso?

— A mulher que entende o que é estar sozinha.

Ali, a máscara dela cedeu. Havia dor em seus olhos, fome de pertencimento.

— Você está fugindo — afirmou ele.

Ela assentiu.

— Meu pai morreu na primavera. Deixou dívidas. Os homens a quem devia não têm paciência.

— Então você me escolheu para desaparecer.

— Eu escolhi porque você escreveu que se sentia um fantasma. E eu sabia o que isso significava.

Nesse instante, o som distante de cavalos atravessou a noite. Magnolia ficou pálida.

— Achei que teria mais tempo.

Gideon foi até a janela. Uma silhueta conhecida se aproximava: Otis Caldwell, o vizinho.

Otis entrou, cumprimentou Magnolia com um aceno seco e logo percebeu a tensão.

— Vi três cavaleiros no leste. Bons cavalos, roupas de cidade. Homens que não pertencem a este território.

O silêncio pesou. Gideon sabia que eram cobradores. Magnolia tremia. Otis puxou uma cadeira, abriu o revólver, conferiu as balas.

— Ano calmo demais. Talvez esteja na hora de um pouco de barulho.

Minutos depois, bateram à porta. Uma voz educada, mas firme.

— Senhorita Pierce, sabemos que está aí.

Magnolia empalideceu.

— É Vincent Harrow, a mão direita de Marcus Kellerman. Se ele veio, não querem só o dinheiro. Querem os documentos do meu pai.

O mundo de Gideon ruiu de vez. Se aqueles papéis estavam no bornal, sua casa agora era alvo de homens capazes de matar.

A contagem de Harrow começou. Gideon, Otis e Magnolia se entreolharam. Não havia saída fácil.

Quando a porta explodiu, a violência tomou conta da cozinha. Gideon atirou primeiro, acertando Harrow no peito. Otis derrubou dois homens com tiros rápidos. Magnolia correu para a janela, levando os documentos que poderiam destruir Kellerman.

O cheiro de pólvora encheu o ar. Harrow agonizava, mas ainda ameaçava.

— Kellerman mandará um exército.

— Então entregaremos isso ao marechal antes — respondeu Gideon, frio.

Semanas depois, Kellerman fugia para o leste, seu império arruinado pelos papéis entregues ao juiz. Magnolia estava ao lado de Gideon, num vestido simples, e uma aliança em sua mão.

Não eram mais dois estranhos unidos por desespero, mas duas almas que escolheram permanecer juntas depois de enfrentar a escuridão.

— Pronta para voltar para casa? — perguntou Gideon.

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Magnolia sorriu, apertando a mão dele.

— Estou pronta desde o dia em que desci daquela carroça.

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