Aquela tarde de tempestade em Tombstone Arizona, o som do trovão rolando pelas montanhas Dragoon, poderia ter sido mais tranquila para Rebecca Harrison, mas o destino tinha outros planos. A viúva de Thomas Harrison, dona do Circle H Ranch, estava acostumada a enfrentar os desafios da vida sozinha. Mas aquele dia parecia ser o começo de algo muito mais perigoso do que ela poderia imaginar.
O saloon Silver Dollar não era lugar para uma mulher respeitável depois do anoitecer, mas as circunstâncias a haviam levado ali. Rebecca estava à procura de suprimentos, mas a chuva e o vento a mantiveram presa na cidade. Dentro do saloon, o cheiro de tabaco e whisky barato misturava-se com o ar carregado de poeira e homens de olhares famintos.
Foi quando Mike Garrett, o dono do maior mercadinho da cidade, se aproximou. Ele sempre soubera como fazer uma entrada. Sabia o que queria e, nos últimos três anos, vinha desejando Rebecca. Seu olhar se arrastou sobre ela, e ele, com voz grave e alcoolizada, comentou:
“Então… o que uma mulher como você faz sozinha naquela fazenda grande?
Rebecca sentiu o suor frio escorrendo pela sua testa, mas sua mão discretamente tocou o Derringer escondido sob a saia de seda verde esmeralda que vestia, herança do tempo próspero ao lado do marido. Era a arma que Thomas lhe dera no dia do casamento, um presente prático para uma mulher do Oeste.
Enquanto Mike avançava, sua mão gorda se aproximando de sua cintura, Rebecca se manteve calma, mas o olhar em seus olhos era afiado, determinado. Ela respondeu com um tom frio:
“Apenas esperando a tempestade passar, Sr. Garrett.”
Mas Mike não queria uma conversa educada. Seus amigos se aproximaram, cercando a mesa. Os olhares dos outros homens eram predatórios, e o saloon, com seu fedor de alcoolismo e desespero, parecia ter se tornado uma gaiola.
Rebecca sabia o que aquilo significava. Ela tinha enfrentado homens como ele antes. Mas algo nela dizia que aquela noite seria diferente. Ela sentiu a tensão no ar. Algo mais se aproximava com o vento do deserto. Mike estava falando de uma forma que a fazia se sentir pequena, sem valor. Ela sabia onde isso poderia levar.
Ela tentou se levantar, mas a mão de Mike agarrou seu pulso, força bruta. O cheiro de tabaco misturado àquele whisky podre era insuportável. Mas ela estava preparada. Com um movimento preciso, ela tirou o Derringer da saia e apontou diretamente para o peito de Mike.
“Afaste-se. Agora.”
O clique do cão do Derringer soou alto como um trovão naquelas paredes de madeira. O salão ficou em silêncio absoluto. Mike olhou para a arma, surpreso, e por um momento, seus olhos passaram de arrogância para algo mais. Talvez respeito.
“Volte atrás, Mike,” ela disse, sua voz firme, mais fria que o vento do deserto. “Ou vou colocar um buraco menor que seu cérebro em você.”
Mike hesitou. A tensão era palpável. Seus amigos olharam uns para os outros, sabendo que a viúva não estava brincando. Um homem como Mike estava acostumado a subjugar mulheres, mas Rebecca não era qualquer mulher. Não mais.
“Isso não acabou, Rebecca,” Mike rosnou. “Você não pode se esconder atrás dessa pistola pra sempre.”
Ela manteve o olhar fixo, sem piscar. O Derringer ainda apontava. Ele sabia que ela estava pronta para atirar.
“Eu não vou precisar,” ela respondeu, a calma em sua voz mais ameaçadora que qualquer grito. “Só uma bala é suficiente.”
A multidão se afastou enquanto ela caminhava em direção à porta, seu vestido de seda verde sussurrando contra a madeira. O vento lá fora parecia menos perigoso do que os homens dentro do saloon. Mas o cowboy no canto, um rosto desconhecido para ela, viu algo mais.
Dan Carter, um jovem cowboy com olhos de inverno e pele curtida pelo sol, observava o desenrolar da cena. Ele viu o tremor sutil nas mãos de Rebecca quando ela guardou o Derringer. Algo nela não estava totalmente blindado contra o mundo que a cercava. Dan sabia que, por mais dura que fosse, ela ainda era uma mulher sozinha em um lugar impiedoso.
Ele sabia o que precisava fazer. Tinha estado em batalhas piores do que essa, mas ver uma mulher com tanta coragem e solidão exigia respeito. E ele respeitava Rebecca Harrison.
O dia seguinte trouxe mais do que só o fim da tempestade. Rebecca não sabia que aquele jovem cowboy, que a observava da sombra do bar, voltaria para sua vida, oferecendo mais do que simples proteção.
Dan Carter apareceu na fazenda Circle H no dia seguinte, e a tensão entre eles foi imediata. Ele estava ali para trabalhar, mas Rebecca não pôde deixar de notar a maneira como ele olhava para ela, como se ela fosse mais do que a viúva da fazenda.
Meses se passaram e Dan provou seu valor, não apenas como um cowboy capaz, mas também como alguém que parecia entender o que era necessário para viver em um lugar como aquele. As noites se tornaram mais curtas e os jantares no alpendre com café e conversas se tornaram comuns. Rebecca sentiu uma tensão crescente entre eles, uma atração que ela não conseguia mais ignorar.
Mas as dificuldades não cessaram. Mike Garrett não estava disposto a desistir tão facilmente, e sua persistência em adquirir a terra de Rebecca tornou-se ainda mais ameaçadora. Quando Mike e seus homens finalmente tentaram tomar a terra pela força, Dan estava lá para proteger Rebecca, e uma batalha sangrenta explodiu na fazenda.
Foi Dan quem salvou o dia, mas não sem um preço. Mesmo com a vitória, algo entre ele e Rebecca havia mudado para sempre. Eles se encontraram mais perto do que nunca, com Dan ferido e Rebecca tomando a frente para cuidar dele.
Foi uma noite de tempestade semelhante àquela em que tudo começou. A distância entre eles, antes tão clara, desapareceu. Rebecca olhou para o homem que tinha colocado sua vida em risco por ela e viu algo mais além da honra e coragem.
O que aconteceu depois foi inevitável.
E ao amanhecer, o vento da mudança soprou mais forte que qualquer tempestade, e eles sabiam que a vida nunca mais seria a mesma. Eles estavam prontos para construir algo juntos, algo mais forte que o passado, longe dos fantasmas de Tombstone.