Eli Ward estava acostumado a ver a morte. Aos 45 anos, ele a havia encontrado de todas as formas possíveis: nos campos de batalha da Guerra Civil, nas longas e árduas jornadas de condução de gado, e até em brigas em saloons. Mas nada o preparou para o que encontrou naquela tarde quente de setembro de 1878, à beira do Crow Creek, no território de Wyoming.
Era uma mulher Apache, quase morta, com as mãos amarradas com tiras de couro e o corpo marcado por golpes. O cabelo escuro, misturado com a poeira vermelha da terra, espalhava-se pelos ombros bronzeados, e ela respirava de maneira fraca e irregular, como se tentasse se agarrar à vida. Mesmo inconsciente, havia algo selvagem nela, algo indomável. Lembrava a Eli uma Mustang selvagem, bela e quebrada, mas não derrotada.
O instinto dizia-lhe para seguir em frente, para ignorar o que via e deixar as questões tribais para os nativos, mas uma voz interior o fez parar. Ele sabia que naquele momento estava prestes a quebrar todas as regras do Wyoming sobre interferir nos assuntos das tribos. Mas, às vezes, um homem tem que escolher entre o que é legal e o que é certo.
Eli sabia que salvar uma vida poderia significar perder tudo o que havia construído. Mas ele não hesitou.
Ele se aproximou, sentindo o pulso fraco da mulher e, com mãos cuidadosas, cortou as cordas que a prendiam. Quando a levantou, percebeu como ela era leve e como seu corpo se encaixava perfeitamente em seu. Seus olhos se abriram lentamente, e o brilho feroz da mulher o surpreendeu.
“Fique calma agora”, ele disse suavemente, tentando tranquilizá-la.
Ela tentou falar, mas apenas um som fraco saiu de seus lábios secos. Quando tentou se afastar dele, sua força falhou completamente. Sem hesitar, Eli a colocou em seu cavalo e a levou para sua casa, uma jornada longa e silenciosa.
Quando chegaram, o céu estava tingido de dourado e vermelho, refletindo o tom da pele da mulher. Eli a deitou em sua cama e, com cuidado, limpou suas feridas. Ele sabia o que estava fazendo; já havia cuidado de muitos homens feridos, mas essa mulher, essa presença silenciosa e intensa, mexia com ele de uma maneira que ele não conseguia controlar. Quando ela acordou abruptamente, pegando uma faca em sua mão com a agilidade de um animal, Eli teve que segurar a respiração.
“Fique longe”, ela disse, a voz carregada de ódio e dor.
Eli levantou as mãos, uma atitude pacífica. “Não vou te machucar”, respondeu.
Ela olhou nos seus olhos, hesitando, e depois abaixou a faca, mas com um orgulho feroz. “Você é Bilagana, um homem branco. Vocês acham que podem possuir tudo o que tocam.”
Eli não se importou com as palavras. Ele apenas fez o que achava certo, não por obrigação, mas por convicção. Ele a havia resgatado porque ela não merecia morrer sozinha.
Ela se apresentou como Ayana, “a flor que floresce para sempre”, mas logo revelou que seu nome havia sido tirado dela, como uma punição por se recusar a se casar com um homem escolhido pela tribo, um homem cruel. Ela explicou que sua própria resistência havia sido sua sentença.
“Se você vai ficar aqui”, Eli disse, “você pode se chamar do que quiser.”
Os dias seguintes foram cheios de cuidados. Anna (como Eli passou a chamá-la) se curou fisicamente e foi uma grande ajuda. Ela começou a ensinar Eli a lidar com cavalos de uma maneira que ele nunca soubera, além de cuidar da horta e ajudar com a casa. Ela era forte, mais forte do que qualquer homem que Eli conhecia, e a cada dia ele se via mais atraído por sua inteligência, por sua independência e por sua beleza silenciosa.
No entanto, o mundo exterior não os deixaria em paz. O passado de Anna ainda estava em busca dela.
Num dia de sol, quando Eli e Anna estavam no campo, o som de cavalos sem ferradura se aproximando fez o coração de Anna gelar. Ela reconheceu imediatamente. “Apaches”, disse ela calmamente.
Eli viu cinco cavaleiros, guerreiros Apache, com um líder mais velho à frente. Era Nalnish, tio de Anna, o líder guerreiro de sua tribo. Eli sabia que essa visita não era de boas intenções.
“Eu busco a mulher chamada Ayana”, disse Nalnish em inglês com forte sotaque, seu tom de autoridade e desaprovação evidente.
Anna, com o orgulho da sua cultura, foi até ele. Mas não o deixou ficar longe de Eli. “Você desonra a si mesma, menina”, disse o tio, “Este homem a enfeitiçou, fez você esquecer quem você realmente é.”
Anna, com uma calma impressionante, respondeu: “Eu sou livre, tio. Pela primeira vez na minha vida, sou livre.”
A tensão estava no ar. Nalnish não aceitou isso. Ele exigiu que Eli lutasse contra o melhor guerreiro da tribo para provar que ele era digno de Anna. Caso contrário, Anna seria levada de volta e “enfrentaria o julgamento por seus crimes”.
Eli não hesitou. Ele aceitou o desafio de lutar contra o homem mais forte da tribo.
A luta foi brutal. Eli, embora mais velho, lutava com experiência e determinação. No fim, ele derrubou o guerreiro Apache, que, com orgulho ferido, se rendeu.
“Eu escolho ficar”, Anna disse, olhando seu tio, e depois, Eli.
Meses depois, na primavera, Anna estava em sua casa com Eli, agora carregando um filho de ambos. Ela estava feliz, mais feliz do que jamais imaginara. Eli havia se tornado não apenas seu protetor, mas seu companheiro, e o homem que ela escolhera para dividir a vida.
Ela olhou para a janela onde o sol se punha, tingindo o céu de dourado. A liberdade que ela sempre desejara agora era real. Ela estava entre dois mundos, mas tinha encontrado um lugar onde pertencia — com Eli, sob a vasta terra de Wyoming.
“Você já se arrependeu?” ela perguntou um dia.
Ele olhou para ela, sorrindo suavemente. “Não, nunca.”
“Então, vamos fazer isso juntos”, disse ela.
A vida no campo era dura, mas juntos eles poderiam enfrentá-la. Anna sabia que o amor de Eli, construído lentamente e com força, era tudo o que ela precisava para sentir que estava finalmente em casa.