O vento da manhã varria o vale, trazendo consigo um frio cortante e o cheiro metálico de sangue seco. Elias Ward puxou as rédeas, seus olhos cinza-prata semicerrados enquanto o portão da cabana herdada apareceu à vista. Por um momento, ele achou que seus olhos o estavam enganando. Cinco mulheres pendiam de cordas, suspensas como advertências sombrias logo à frente do portão. Seus vestidos esfarrapados flutuavam ao vento, os cabelos caindo sobre os rostos, pés descalços balançando com o ritmo de um tambor fúnebre.
Preso a cada peito, um rústico pedaço de madeira. As letras queimadas na madeira com uma faca agora estavam claras na luz da alvorada. “Isso não é sua terra. O que pertence a Morrison sempre será de Morrison.” Elias apertou as rédeas do cavalo, a garganta repentinamente seca. Aquela terra tinha sido deixada a ele por seu tio Jeremiah. Uma chance para um novo começo, depois de anos de guerra. Mas o que o recebeu não foi o calor de uma cabana no campo, mas cinco corpos sem vida pendurados, como um soco direto no estômago.
O cavalo relinchou alto, inquieto. Elias desceu da sela, suas botas pesando no solo congelado. Aproximou-se, sua mão calejada tremendo enquanto ele tocava o pescoço de uma das mulheres. Um leve pulso respondeu. Outro. Elas ainda respiravam, mesmo naquele vento gelado. Um estalo profundo se acendeu no peito de Elias. Isso não era mais sobre herança. Era um desafio sangrento de uma força que queria devorar aquela terra. E se ele cortasse aquelas cordas, significaria que ele estava entrando direto em uma tempestade que engoliria tudo em seu caminho, mesmo que custasse sua própria vida.
A lâmina nas mãos de Elias brilhou enquanto cortava a primeira corda. O corpo da mulher caiu, mas ele a pegou no momento exato. O pescoço dela estava marcado com um vermelho intenso da corda, a respiração fraca, mas ainda ali. Sem hesitar, Elias passou de uma para a outra, cortando cada corda, baixando as cinco mulheres suavemente ao chão. Elas ficaram em uma linha, bem em frente ao portão da cabana, os corpos congelados pelo ar da noite, mas alguns olhos piscavam, presos entre a dor e a inconsciência.
Elias as arrastou para baixo da varanda da cabana. Lá dentro, estava escuro como breu, a poeira espessa como tecido matinal, mas havia espaço suficiente para as cinco corpos partidas se deitarem. Elias acendeu uma fogueira. A luz amarela começou a iluminar os rostos das mulheres. A primeira tinha cabelo preto, olhos afiados, mesmo em delírio. Um corte na bochecha dela indicava uma lutadora que havia batalhado até o último suspiro. A segunda, de cabelos vermelhos, lábios rachados, mas sua postura permanecia orgulhosa, desafiadora. A terceira, um corpo esbelto e cabelo loiro dourado, um rosto gentil que ainda carregava graça, mesmo através do sofrimento. A quarta, com olhos escuros como a meia-noite, meio adormecida, mas com um olhar calculista, envolta em mistério. E a última, mais velha, com cabelo castanho, uma presença calma como a de uma mãe protegendo as outras.
Elias não precisava perguntar. Ele sabia que elas não haviam sido enforcadas por acaso. Elas haviam sido escolhidas, e quem quer que fosse o responsável queria que ele soubesse disso de forma bem clara.
Do lado de fora, o vento uivava, carregando o amargo cheiro de corda e o fumo persistente de pólvora. Elias se sentou com as costas contra a porta da cabana. Seu Winchester estava sobre o colo. A luz da fogueira piscava nos olhos de prata desgastados dele, chamando de volta lembranças de guerras que ele jurara ter deixado para trás. Mas o Oeste nunca permite que um homem escolha a paz tão facilmente. O tio Jeremiah costumava dizer: “A terra não é comprada apenas com dinheiro. Ela tem que ser mantida com sangue.” E agora essa verdade estava clara diante do portão da cabana, na forma de cinco corpos tremendo.
Elias entendeu naquela quietude. Não havia volta. Se ele as salvasse, teria que enfrentar o tipo de homens capazes de pendurar mulheres como bandeiras em um portão. E se ele as deixasse para trás, ele não seria mais um homem. Um cavalo tossiu alto, quebrando o silêncio. A mulher de cabelo preto foi a primeira a abrir os olhos, as chamas da fogueira iluminando seu rosto. O pescoço dela estava marcado de vermelho, sua voz rouca e quebrada, mas ainda saiu como uma ordem.
“Não nos deixe para trás.”
Elias se ajoelhou ao lado dela, derramando goles de água de sua cantina em sua boca ressecada. Ela bebeu como se estivesse engolindo a própria vida, e toda a desolação que isso trazia consigo. Assim que a respiração dela se estabilizou, ela se sentou, seu olhar cortante como uma lâmina. “Você sabe que está caminhando direto para uma tempestade?”
Antes que Elias pudesse responder, mais gemidos ecoaram pela cabana. A mulher de cabelo vermelho se levantou, a fúria brilhando em seus olhos azuis. A loira se despertou, exausta, mas sua mão se agarrou à camisa de Elias, desesperada por algo, qualquer coisa para se segurar. A mulher mais velha moveu-se silenciosamente, ajudando cada uma delas, sua presença firme revelando o que Elias já sentia. Ela havia sido a que as manteve unidas através do inferno.
A cabana se encheu com respirações ofegantes e o suave estalo do fogo. Elias derramou mais água, repartiu pedaços de pão seco. Ninguém disse muito, mas seus olhos carregavam a mesma mensagem: vigilância e um teste de confiança. Por fim, a mulher de cabelo castanho falou, sua voz baixa, firme e falando por todas elas.
“Não nos enforcamos naquele portão. Isso foi uma mensagem do homem que agora comanda esta cidade. Ele quer que qualquer um que pise aqui veja o preço.”
Elias apertou o punho, os ossos brancos. Ele já suspeitava disso, mas ouvir isso em voz alta fez o sangue dele ferver.
A mulher de cabelo vermelho deu uma risada amarga, lacedada de fúria e aviso.
“Se você tiver algum senso, vai voltar para o cavalo e partir bem longe. Estamos mortas. Espere. Se você nos levar, morrerá conosco.”
Elias olhou para elas, seus olhos prateados passando por cada um dos rostos antes de falar, sua voz baixa e resoluta.
“Eu cortei essas cordas. A partir desse momento, o destino de vocês é meu também.”
E no brilho da fogueira, a mulher de cabelo preto se levantou, os lábios curvando-se em um sorriso cansado, mas desafiador.
“Então ouça, fazendeiro. Você não herdou apenas uma cabana. Você herdou uma guerra.”
Elias sabia que, a partir daquele momento, a paz não fazia mais parte do acordo.