— Senhor, eu imploro, não saia hoje! — disse Aminata, ajoelhada no chão frio, olhos vermelhos, mãos unidas, corpo tremendo.
Cyril Badiane parou de repente; ele acabara de atravessar o corredor, ajustando o relógio com uma mão e segurando as chaves do carro na outra.
— O que é isso? — perguntou, confuso.
Aminata ergueu os olhos para ele, a voz trêmula:
— Por favor, senhor, não saia… algo terrível acontecerá se você atravessar este portão hoje.

Cyril piscou, confuso:
— Do que você está falando?
— Eu tive um sonho esta noite. Você vestia exatamente essas roupas, entrou no carro e nunca mais voltou. Havia sangue por toda parte, pessoas gritavam seu nome… por favor, não saia, por favor.
Um silêncio estranho tomou o corredor, o ar ficou pesado. Não era um daqueles sonhos ridículos que fazem rir. Ela parecia sinceramente aterrorizada. Mas o telefone de Cyril vibrou no bolso — Thomas, novamente. Ele já estava atrasado para uma reunião crucial com investidores.
— Levante-se — disse ele, com voz baixa. — Não é hora…
— Eu sei que sou apenas uma empregada, mas não podia ficar em silêncio. Se eu deixar você sair e algo acontecer, nunca me perdoarei.
Passos ecoaram na escada. Madame Mariam descia lentamente, robe bem ajustado à cintura, maquiagem impecável. Ela parou ao ver Aminata no chão:
— O que está acontecendo aqui? — perguntou, com tom glacial.
— Ela disse que eu não devo sair — respondeu Cyril, sem desviar o olhar.
Mariam desceu mais dois degraus, cruzou os braços:
— Por que Aminata não se mexe?
— Mãe, tive um sonho muito claro. Se ele sair de casa hoje, não voltará vivo.
Mariam riu:
— É por isso que sempre disse que devemos despedir essa mulher. Agora ela se acha uma profetisa!

Cyril tentou:
— Não, não, deixe-me falar. Você tem uma reunião importante hoje, dinheiro em jogo, contratos a assinar, e vai se deixar parar por uma empregada com histórias de sonho? Você está brincando, espero.
Aminata baixou ainda mais a cabeça:
— Não, desculpe, senhora, mas eu precisava dizer.
Cyril a segurou pela mão:
— Espere…
Mariam olhou surpresa:
— Esperar o quê?
Cyril permaneceu em silêncio. Havia algo na voz de Aminata que soava certo — sem tremores, sem teatro, apenas medo puro, uma verdade nua. E de repente, como um sussurro no fundo do peito, um aviso sem gritos, sem luz, sem murmúrios: se você atravessar aquele portão hoje, se arrependerá.
Ele deu meia-volta, caminhou lentamente até a mesa da sala, colocou suas chaves e o telefone, e sentou no sofá, olhos fixos no chão:
— Não vou mais sair… não vou mais sair.
Aminata soltou um leve suspiro, ainda ajoelhada. Mariam ficou boquiaberta:
— Aminata, o que você está fazendo?
— Eu disse que não vou mais sair.
Cyril permaneceu imóvel, olhando para os azulejos de mármore. Mariam sacudiu a cabeça furiosa e subiu de volta ao andar. Aminata se levantou lentamente, enxugou as lágrimas e pegou o copo de água que havia deixado sobre a mesa.
As mãos ainda tremiam. Cyril permaneceu ali, coração acelerado, ainda assombrado pelo rosto da jovem ajoelhada. Por que aquele medo nos olhos dela parecia mais real que tudo o que ele sentira em anos? Ele ainda não sabia que tudo isso era apenas o começo.
Cyril Badiane não era apenas rico; ele era respeitado. Não gostava de redes sociais, de barulho inútil, de entrevistas chamativas ou aniversários extravagantes. Mas, em todos os círculos imobiliários de Dakar a Abidjan, seu nome pesava. Ele era cofundador da Crestrock Imobiliário, um dos maiores grupos de promoção imobiliária da África Ocidental, junto com seu amigo de longa data Thomas Onanga. Eles construíram tudo juntos, desde ligações em um pequeno escritório em Yopougon até contratos bilionários.
Thomas era o estrategista, charmoso e extrovertido; Cyril, silencioso, preciso e observador. O sucesso veio, o dinheiro fluía, a vida parecia perfeita. Em casa, também tudo parecia ideal: uma villa moderna em Bingerville, academia nova, velas perfumadas em cada cômodo, pares de sapatos de luxo, e uma esposa, Mariam, bela, elegante, sempre impecável.
Mas por trás das cortinas fechadas, a realidade era outra. Mariam se casou com Cyril por conforto, não por amor. Nos primeiros anos, ela demitiu várias empregadas por razões fúteis. Aminata entrou silenciosa, eficiente, trabalhando sem fazer perguntas. Cyril a notava, intrigado, mas não de maneira ruim.
Aminata era diferente; ela não falava demais, limpava antes do amanhecer, e até Mariam, que nunca elogiava ninguém, disse uma vez: “Ela é menos irritante que as outras.”
Mas o que Cyril não sabia era que a paz trazida por Aminata não era a verdadeira razão de sua presença. Ela estava lá para protegê-lo. Seus sonhos e avisos o salvariam repetidamente de perigos iminentes.
Um dia, Cyril recebeu a notícia de que Thomas desviava fundos há anos. A traição dentro dos negócios se misturava ao caos em casa; Mariam se tornava cada vez mais agressiva, tentando mandar Aminata embora. Mas Cyril defendeu sua empregada:
— Eu escolho minha paz.
Mariam se isolou, furiosa, ligou para Thomas e revelou seus planos. Mas Aminata sempre sabia os caminhos certos, os perigos ocultos, e guiava Cyril sem que ele percebesse completamente.
Com o tempo, Cyril reconstruiu sua vida: reorganizou a Crestrock, limpou a corrupção, contratou novos talentos, e encontrou uma nova forma de viver e amar, desta vez com alguém que não se importava com riqueza ou status, mas com calma e autenticidade.
A história termina com Aminata saindo silenciosamente, deixando Cyril seguro, mais sábio, consciente de que ouvir o instinto e aqueles avisos discretos poderia salvar sua vida. Ele olhou para o quadro de casamento com Mariam, o quebrou, e pela primeira vez sorriu — não porque tudo estava bem, mas porque havia sobrevivido à tempestade.