Mendiga Pede Sobra, Milionária Ajoelha: O Bebê Faminto Tinha os Olhos da Sua Irmã Desaparecida e Morta.

Não chora, Breno, não chora, por favor,” disse Aurora, a voz rouca, segurando o irmão junto ao peito. O pequeno gritava, o rosto vermelho e sujo de lágrimas. “Eu vou arrumar comida para você, eu prometo.”

O sol nascia, lançando faixas douradas sobre a rua larga de paralelepípedos, mas o calor era enganoso. As pessoas passavam apressadas, desviando o olhar quando viam Aurora, de dez anos, parada no chão frio, aninhando Breno, que chorava tão alto que chegava a tremer. Ela balançava o irmão, sentindo o corpo dele leve demais, quase sem peso. O som agudo do choro parecia ecoar, misturado ao ruído distante e indiferente dos carros.

“Só mais um pouquinho, tá?”, murmurou, a voz escapando trêmula. “Eu vou achar comida, nem que eu tenha que correr o dia inteiro.”

Breno choramingou, abrindo e fechando as mãozinhas no ar. Aurora olhou para o saco plástico ao lado, onde guardava uns pedaços de pão duro, agora embolorados demais até para tentar comer. O cheiro azedo fazia seu estômago se revirar, mas ela fingia não sentir. Ela sabia que se algum adulto reparasse neles ali, poderiam chamar a polícia e levar Breno para um lugar onde ela não poderia ficar com ele. Só de pensar, Aurora estremeceu.

Ela ajeitou o gorro na cabeça e respirou fundo, olhando para as vitrines brilhantes do outro lado da avenida, cheias de pães, bolos e frutas coloridas. A barriga dela roncou tão alto que algumas pessoas se viraram para olhar.

“Tá tudo bem, bebê,” disse, embora não estivesse. “Eu sou forte. Eu vou cuidar de você.”

Uma mão tocou seu ombro. A menina se encolheu num reflexo, puxando Breno para longe.

“Calma, minha flor. Sou só eu,” disse Vovó Clarice, a voz rouca, mas cheia de doçura. Clarice estava agachada na calçada, emanando aquela calma estranha que só quem já viveu muita coisa consegue ter. Seu jeito de se aproximar sem fazer barulho, atenta a cada movimento da rua, transmitia uma sensação de abrigo.

“Vovó, o Breno está com muita fome,” disse Aurora, a voz embargada. “E eu não achei nada hoje. Nada.”

Clarice suspirou, abriu a sacola que carregava e puxou um pacote embrulhado num jornal. Era metade de pão amanhecido. “Come. Você precisa de força para correr se precisar.”

Aurora negou com a cabeça, empurrando o pão de volta. “Dá para o Breno. Ele precisa mais.”

“Você também precisa. Não pode proteger seu irmão se cair dura no chão, entendeu?”

Aurora pegou o pão, mas não mordeu. Partiu um pedacinho e colocou na boca de Breno, que chupou o miolo mole com os olhinhos brilhando, embora ainda choroso.

Clarice baixou a voz. “Escuta o que vou dizer, Aurora. Hoje está cheio de polícia rondando o viaduto. Teve confusão ontem à noite. Melhor vocês ficarem por aqui. Não me faz perder mais ninguém, filha. Tua mãe…”

Aurora fechou os olhos, apertando os lábios até doer. Lembrava das mãos da mãe, Olívia, sempre quentes, e da última vez que a viu, tossindo tanto que não conseguia falar.

“Eu não vou sumir, Vovó, eu prometo.” Aurora abriu os olhos úmidos.

Clarice, vencida, assentiu. “Então vai, mas se alguém te parar, você corre e não fala para ninguém seu nome, nem o do teu irmão. Promete?”

“Eu prometo.”

Aurora ajeitou Breno nos braços e se afastou. O bebê, mais calmo, mastigava o pão. A menina andava rápido, o corpo dolorido, mas o medo de ver Breno chorar de fome de novo a empurrava para frente.

 

Aurora atravessou a rua, segurando firme o irmão. Parou diante de uma lixeira grande, perto de um muro coberto de pichações. O cheiro ruim chegou antes que ela se aproximasse, mas ela não recuou. Colocou Breno sentado num cantinho do muro, sobre um pedaço de papelão sujo.

“Espera só um pouquinho, tá? Eu preciso ver se tem alguma coisa aqui.”

Aurora ergueu a tampa de metal com esforço. O lixo estava lotado de sacos plásticos rasgados, cascas de frutas escuras, moscas rodopeando. Aurora vasculhou com as mãos, sem se importar com a sujeira que grudava nos dedos.

A cada embalagem vazia, a ansiedade apertava seu peito. Achou algo embrulhado num guardanapo. O rosto dela se iluminou, mas tremeu ao desfazer o embrulho: era apenas um caroço de manga, seco. Sentiu as lágrimas subirem, ardendo nos olhos. Continuou procurando. Pegou uma casca de pão, mas estava verde de bolor. Tentou afastar o mofo com o dedo, mas o cheiro era tão forte que quase vomitou.

“Não tem nada, nada,” murmurou, a voz falhando.

Olhou para Breno, que agora chorava baixinho, o corpinho mole de cansaço. Aurora começou a chorar sem perceber, lágrimas grossas rolando pelo rosto. Fechou a tampa da lixeira devagar, as mãos tremendo.

Voltou até Breno, ajoelhou-se e abraçou o irmão bem forte. “Me desculpa, eu tentei. Eu juro que tentei.” Breno apenas encostou o rostinho no ombro da irmã, exausto.

Ali, ajoelhada no chão duro, ela ficou balançando o irmão nos braços e prometeu a si mesma que de algum jeito não deixaria Breno dormir outra noite com fome.

 

O sol da manhã já estava quente quando Aurora chegou a um quarteirão onde as fachadas eram ainda mais imponentes. Viu um prédio alto, todo de vidro, onde o cheiro de comida boa escapava por uma porta giratória.

Breno acordou e começou a se mexer, inquieto, chorando de novo. “Eu sei, eu sei,” murmurou Aurora. “Eu vou conseguir alguma coisa, tá? Confia em mim.”

Inspirou fundo e subiu alguns degraus. As portas de vidro se abriram sozinhas, exalando ar fresco e cheiro de comida quente. Aurora foi engolida por um salão luxuoso, cheio de mesas com taças e talheres brilhantes.

Um garçom se aproximou, franzindo a testa. “Ei, você não pode ficar aqui. Vai embora,” disse ele, abrindo os braços.

“Por favor, ele está com fome. Eu não quero dinheiro. Eu só queria um pouco de comida para ele. Só um pouquinho.”

O garçom olhou para o bebê e depois para a menina, com nojo evidente. “Não dá para ficar dando comida para qualquer um que aparece na porta. Você está sujando o lugar. Sai daqui.”

Aurora viu pratos fumegantes sendo levados às mesas: carne tenra, arroz cheiroso. O cheiro fazia seu estômago doer.

“Vai embora, menina,” insistiu o garçom, num tom baixo, mas cheio de desprezo. “Está assustando os clientes.”

Breno agora chorava alto. Foi quando uma mulher apareceu perto da porta. Usava uma roupa elegante, o cabelo impecável, e uma expressão distante. Ao lado dela, um homem falava ao celular, gesticulando irritado.

“Moça, moça, por favor,” disse Aurora, quase num sussurro, com a voz tremendo. “Ele está com fome. Pode me ajudar com um prato de comida? Só para ele.”

O homem baixou o telefone, olhou Aurora de cima a baixo, e franziu o nariz. “Isso aqui está virando o quê? Essas crianças ficam aparecendo do nada. É inconveniente. Vão pedir em outro lugar. Aqui não é instituição de caridade.”

A mulher, Luana, olhou para a menina. Parecia prestes a falar, mas hesitou. Então, finalmente, disse num tom frio: “Caio, não fala assim com ela, é só uma criança.”

“Se der atenção para um, daqui a pouco tem uma fila na porta. E ainda ficam segurando esses bebês para fazer drama.”

Aurora encolheu os ombros, sentindo o rosto arder. Estava prestes a dar meia volta quando ouviu Luana suspirar fundo.

“Como é o nome do seu irmãozinho?”, perguntou Luana, com a voz suave.

Aurora respirou fundo, olhando desconfiada. “Breno.”

Luana abaixou-se um pouco. “Ele parece exausto. Você também. Quando foi a última vez que comeram?”

“Ontem, mas foi bem pouco.”

Luana lançou um olhar duro para o homem. “Caio, eu não vou simplesmente ir embora e fingir que não vi isso.”

“Luana, pelo amor de Deus, não começa! Você sempre arranja esses ‘casos perdidos’. Essas crianças não são problema nosso.”

Luana respirou fundo e voltou a olhar para Aurora. O garçom, pálido, se aproximou. “Senhora, eu não sei se a gerência vai permitir…”

“Permitir? Eu estou pagando esta conta, e essas crianças vão se sentar comigo!” cortou Luana, firme.

Caio passou a mão no rosto, exasperado. “Isso é ridículo. Você quer dar comida? Paga ali fora e manda embora. Não traz para dentro.”

Mas Luana não se moveu. Estendeu a mão para Aurora. “Vem comigo.”

Aurora hesitou, o medo ainda preso nos olhos. Mas quando olhou para Breno, sentindo o corpinho dele fraco, segurou a mão da mulher. Caio, soltando um suspiro de pura frustração, girou nos calcanhares, resmungando sobre “loucura e falta de juízo”.

Luana conduziu Aurora e Breno até uma mesa no canto. Pediu suco, pão, arroz, frango, sopa.

Enquanto Aurora dava pequenas colheradas de sopa a Breno, Luana não tirava os olhos dela. Havia uma expressão confusa em seu rosto, como se tentasse entender algo escondido sob a sujeira e o medo.

“Você cuida muito bem do seu irmão,” disse Luana, num tom baixo, quase emocionado. “Ele tem sorte de ter você.”

“Me conta onde está a mãe de vocês?” perguntou Luana, olhando-a fixamente.

Aurora manteve os olhos baixos. Depois de um longo minuto, a voz dela saiu falha, quase sem som. “A mamãe ficou doente, muito doente… Ela dormiu um dia e não acordou mais. Foi há uns meses.”

Luana levou a mão à boca, os olhos enchendo de água. “Meu Deus, minha querida, eu sinto tanto.”

Caio, de braços cruzados, soltou um suspiro impaciente. “Isso não muda nada, Luana. Elas não são problema nosso. A mulher morreu. Acontece o tempo todo com gente que vive na rua. Você não pode salvar o mundo.”

Luana virou o rosto para ele, o olhar brilhando de raiva. “Para, Caio! Você está ouvindo o que essa menina está dizendo? A mãe dela morreu na rua, sozinha, e ela está aqui tentando salvar o irmãozinho com fome no meio dessa cidade podre!”

Aurora baixou ainda mais o olhar. “Eu tentei ajudar ela, mas eu não consegui. Ela me mandou cuidar do Breno e disse que ele era pequenininho demais para ficar sozinho.”

As lágrimas escorreram pelo rosto de Aurora. Luana pegou um guardanapo e enxugou o rosto da menina com mãos leves.

“Eu não quero que levem ele embora de mim. Eu não quero ir para lugar nenhum sem ele.”

Luana apertou os lábios, respirando fundo. Passou o braço pelos ombros de Aurora. “Ninguém vai separar vocês. Você me ouviu? Ninguém vai tirar o Breno de você.”

 

Horas mais tarde, na mansão, Luana sentou-se à beira da cama enorme, mas parecia não caber ali. O rosto de Aurora surgia em sua mente toda vez que piscava. O jeito protetor, a coragem desesperada.

Caio entrou. “Você está com essa cara desde o restaurante. Vai me dizer que ainda está pensando naquelas crianças?”

“Claro que estou. Você viu a forma como ela olhava o irmão? Como se fosse tudo o que ela tinha no mundo.”

“E daí? Você não pode se meter em tudo. Essas pessoas vivem assim e vão continuar vivendo assim, por mais que você queira bancar a salvadora.”

“A mãe deles morreu sozinha na rua. E aquela menina, ela é só uma criança tentando proteger o irmão. Você realmente acha que isso é só ‘gente da rua’?”

Uma lembrança antiga piscou na memória de Luana. Flashes de risadas. A voz de uma menina chamando “irmãzinha”, o som distante de uma porta batendo, o vazio que ficou depois. Ela piscou rápido, tentando afastar as imagens.

“Eu não sei o que eu vou fazer, Caio, mas eu não consigo fingir que não vi.”

“Você está arriscando demais, Luana. Essas crianças não têm nada a ver com a gente. Você está misturando coisas que não deviam se misturar.”

Luana ficou sozinha no silêncio. Sentia o coração bater tão alto que parecia ecoar pelas paredes. Ela sabia que precisava fazer algo, mas não sabia o quê.

No dia seguinte, Luana não conseguiu ficar parada. Pegou a bolsa, ignorando os protestos de Caio, e dirigiu até as redondezas do restaurante, procurando. O sol estava se pondo.

“Aonde você vai? Você não vai atrás daquela gente, vai? Pode ser perigoso,” gritou Caio ao telefone.

“Perigoso é fingir que elas não existem. Eu volto logo,” ela rebateu e desligou.

Luana caminhou pelas ruas, olhando em cada beco. O vento soprava mais frio, levantando papéis e poeira. Ela estava prestes a desistir, engolindo a frustração, quando viu uma mulher do outro lado da rua empurrando um carrinho de supermercado abarrotado.

Luana atravessou a rua. “Oi, desculpe te incomodar. Encontrei uma menina chamada Aurora. Ela estava com um bebê chamado Breno. Eu queria saber se você os conhece.”

A mulher a encarou com desconfiança. “E para que você quer saber? Vai chamar o Conselho Tutelar, a polícia?”

“Não, não é nada disso. Eu só fiquei preocupada.”

“Eu sou a Clarice. Todo mundo me chama de Vovó por aqui. Eu cuido dos dois como se fossem meus netinhos,” disse Clarice.

“Eles têm família? Algum lugar para ficar?”

“Família, não. A mãe deles, a Olívia, era uma mulher boa demais para esse mundo. Ficou muito doente e se foi há uns meses.”

Luana congelou. O nome bateu nela como um soco. “Espera, como é o nome da mãe deles?”, perguntou, quase sem voz.

“Olívia,” repetiu Clarice, sem perceber a expressão chocada de Luana. “Era doce, trabalhadeira, mas teve uns problemas e perdeu tudo. Aí acabou na rua.”

“Minha irmã também se chamava Olívia e ela sumiu há mais de dez anos. A gente nunca soube o que aconteceu.”

Clarice arregalou os olhos. “Sua irmã? A Olívia… Ela só dizia que sentia a falta da mana. Chorava às vezes, mas nunca explicava.”

Luana levou a mão ao peito. “Clarice, eu preciso saber mais. Onde eu encontro a Aurora de novo?”

Clarice a observou em silêncio por longos segundos. “A Aurora aparece quase toda a noite perto do viaduto, do lado do mercado. Mas vai desconfiar de você. Não chega perto rápido demais e não promete o que não vai cumprir.”

Luana assentiu, as lágrimas contidas. “Eu não vou prometer nada, mas eu preciso entender quem ela é e quero encontrar um jeito de ajudar.”

 

Nos dias que se seguiram, Luana apareceu com sacolas de pães, frutas, sucos e roupinhas limpas. Pouco a pouco, a desconfiança de Aurora amoleceu. Ela sorria de leve quando via a mulher se aproximar, e Breno, sempre no colo da irmã, estendia os bracinhos para Luana.

Certo dia, Luana entrou em casa tarde da noite. Caio estava na sala.

“Você está obcecada, Luana. Isso não vai dar certo,” ele disse, irritado.

“O que não vai dar certo? Ajudar crianças que estão passando fome?”

“Você não pode salvar todo mundo. Essas crianças não são seu problema. Você não sabe o que vai trazer para dentro da sua vida.”

Luana o encarou, o rosto endurecido. “Eu sei, Caio. Eu não posso salvar o mundo inteiro, mas pelo menos posso tentar salvar o mundo de alguém.”

Dois dias depois, Luana sentou-se num café pequeno. Em sua frente, um investigador particular abriu uma pasta de couro.

“Investiguei o passado da mãe das crianças, como a senhora pediu. Vasculhei arquivos, registros de hospitais, documentos antigos… O nome da mãe das crianças é Olívia Souza.”

O som daquele nome pareceu bater nas têmporas de Luana como um trovão. O ar ficou denso.

“Há cerca de onze anos, essa mulher desapareceu da família, fugiu grávida e nunca mais voltou,” continuou o investigador.

Luana sentiu o estômago afundar. Segurou na borda da mesa. Imagens vieram em flashes: Olívia chorando, dizendo: “Eles nunca vão me perdoar, mana. Nunca.”

“Não! Não pode ser!” murmurou Luana.

“Senhora, o nome completo, a data de nascimento, tudo bate. A mãe da Aurora e do Breno é sua irmã. Sua irmã faleceu há alguns meses em situação de rua.”

O mundo ao redor de Luana pareceu se apagar. Ela levou a mão à boca, as lágrimas quentes.

“Meu Deus,” disse num fio de voz. “A Aurora e o Breno são meus sobrinhos.”

Horas depois, Luana empurrou a porta de casa. Seus olhos estavam vermelhos. Caio estava na sala.

“Você sumiu de novo? Vai me dizer que estava com aquelas crianças de novo?”

“Aurora e Breno,” disse Luana, quase sem ar. “Eles são meus sobrinhos, Caio. A mãe deles, a Olívia, era a minha irmã. Eu deixei ela sumir, e agora descobri que ela morreu na rua.”

Caio abaixou o jornal, o rosto endurecido. “Então é isso? Agora você quer trazer dois moleques da rua para dentro da nossa casa? Você acha que isso vai acabar bem, Luana?”

“Eu não vou virar as costas para eles. Não, de novo. Eles são minha família.”

Caio soltou uma risada fria. “Família? Eles são filhos de uma mulher que vivia na rua, Luana. Você quer misturar a nossa vida com isso? Você está cavando o nosso túmulo, Luana! Vai acabar sozinha, sustentando dois parasitas que nem conhece direito.”

O homem perdeu o controle, segurou Luana pelos braços com força, sacudindo-a. “Abre esses olhos, Luana! Você está louca, vai destruir tudo!”

“Me solta! Você está me machucando!”, gritou Luana, ofegante.

Ele recuou, olhando-a com olhos arregalados, percebendo o que acabara de fazer.

“É isso,” disse Luana, com a voz fria, quase um sussurro. “Não, você não vai tocar mais em mim e não vai mais mandar na minha vida. Estamos terminados, Caio. Eu vou cuidar da Aurora e do Breno. E se você tentar me impedir, vai perder muito mais do que dinheiro.”

Luana pegou a bolsa e saiu, deixando o marido tremendo de raiva e medo.

 

Naquela mesma tarde, Luana chegou ao viaduto onde Clarice costumava ficar.

“Eu acabei de sair da minha casa, Clarice. Acabei de deixar meu marido,” disse Luana. “Eu não vou desistir. Não depois de tudo que descobri.”

“E o que você vai fazer agora?”

“Eu vou levar a Aurora e o Breno. Quero que eles venham morar comigo. Quero dar a eles tudo o que nunca tiveram: segurança, futuro e saberem que têm alguém no mundo.”

Clarice observou-a em silêncio, então assentiu. “Então, se é assim, vamos buscar essas crianças.”

Aurora estava encolhida perto do muro. Luana ajoelhou-se à frente dela.

“Aurora, eu descobri quem você é. Você é minha sobrinha, e o Breno também.”

A garotinha piscou confusa. “Minha mãe falava de uma mana…”

“Eu sou essa mana, Aurora. Eu sou a irmã da sua mãe,” sussurrou Luana, com lágrimas nos olhos. “Eu quero vocês comigo. Quero cuidar de vocês. Dar comida, escola, brinquedos, tudo. Mas mais que isso, quero dar um lar.”

Aurora ficou calada, mordendo o lábio. Então, num movimento tímido, quase hesitando, deu um pequeno passo à frente. Seus ombros estremeceram, e, com um suspiro entrecortado, encostou a cabeça no peito de Luana, que a envolveu num abraço suave.

Breno, no colo da irmã, olhou para Luana com os olhos arregalados, e abriu um sorriso largo, mostrando os poucos dentinhos. Aurora, ainda abraçada, soltou um choro abafado, como quem finalmente se permitia desmoronar.

Naquele instante, Luana teve certeza absoluta: jamais deixaria aquelas crianças sozinhas de novo.

Alguns meses depois, Aurora sentava-se num quarto cheio de livros e brinquedos, ajudando Breno a encaixar blocos coloridos. No rosto da menina havia uma paz que Luana jamais tinha visto antes. Clarice aparecia quase todos os dias, trazendo histórias e gargalhadas que enchiam a casa de vida.

Luana ficou parada na porta, observando-os. Sentiu o coração cheio de algo que não sabia nomear direito: amor, misturado com o alívio de finalmente ter escolhido o que realmente importava.

“Você tinha razão, minha querida Olívia,” murmurou Luana, olhando para as crianças. “O amor é tudo o que importa no fim das contas.”

E naquele instante, teve a certeza de que a maior riqueza que podia ter estava ali, bem à sua frente, e que dinheiro nenhum poderia comprar.

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