Ele gastou sua fortuna neste rancho… e encontrou uma Gigante pendurada no celeiro.

A poeira vermelha cobria a trilha estreita como um manto de sangue seco. Elias Creed puxou as rédeas, fazendo seu cavalo parar diante da propriedade que havia consumido cada centavo de sua fortuna. No papel, era apenas um rancho abandonado, a promessa de um recomeço silencioso, longe do caos e dos fantasmas da guerra.

Mas o que estava diante dele roubou o ar de seus pulmões ali mesmo, no pátio, sob a estrutura de madeira castigada pelo tempo.

Uma figura imensa balançava pelo pescoço.

Era uma mulher, uma gigante, pendurada como um espantalho grotesco. Sua estrutura alta e poderosa oscilava fracamente na brisa da tarde. Pernas longas chutavam o ar em pânico exausto. A corda cavava fundo em seu pescoço, deixando marcas roxas e vermelhas, brutais e furiosas. Os suspiros — ásperos, irregulares — escapando de sua garganta eram pouco mais altos que o vento assobiando pelas paredes rachadas, os únicos sinais de que a vida ainda não havia desistido completamente.

Elias apertou as rédeas com mais força, suas mãos calejadas tremendo levemente. Ele já vira a morte muitas vezes, perto demais. Mas isso… isso era diferente. Não era a fúria impessoal da batalha, mas a crueldade silenciosa de um ser humano contra outro, impotente demais para revidar.

O pôr do sol banhava tudo em ouro: a grama quebradiça, o rancho abandonado e o rosto arroxeado e desbotado da garota. E em seus olhos arregalados, cheios de dor, Elias viu algo estranho. Medo, desespero e um apelo silencioso.

Ele desceu da sela. Sua mão, quase por instinto, tocou o cabo da adaga em seu cinto. Com o vento uivando pela pradaria, Elias sabia que tinha apenas segundos para decidir. Ele viraria as costas como tantos antes dele? Ou cortaria a corda e caminharia direto para uma história que ele já sabia que cobraria um preço alto?

A lâmina cortou a corda com um golpe limpo.

O corpo pesado dela caiu no chão com um baque surdo, levantando uma nuvem espessa de poeira vermelha. Elias caiu de joelhos, mãos ásperas deslizando sob a cabeça dela para firmá-la. A pele dela estava queimando de febre, cada respiração vindo em curtos e quebrados espasmos. Ele pressionou a mão no pescoço dela, encontrando um pulso fraco, vacilante.

— Ainda viva. Vamos lá. Não desista — Elias murmurou, sem ter certeza se falava com ela ou consigo mesmo.

Depois de alguns goles de água de seu cantil, ela soltou um gemido fraco. Suas pálpebras pesadas tremeram antes de revelar dois olhos estranhos, de um azul-acinzentado pálido e tempestuoso, cheios de lágrimas e pânico. Seus lábios se moveram e saiu um sussurro fraturado.

— Cain… me vendeu… me deixou.

Então ela desmaiou novamente.

O nome atingiu Elias como uma lâmina no estômago. Samuel Cain. Aquele era o homem que lhe vendera esta terra poucas semanas atrás. O preço parecera bom demais. O negócio, apressado e cheio de urgência nervosa.

“Você vai levar ou não? Assine agora. Essa oferta não virá de novo.”

Agora ele sabia o porquê. Cain não lhe vendera apenas um pedaço de terra. Ele lhe vendera um horror enterrado, deixado pendurado à vista de todos.

Elias sentou-se na terra seca, os olhos percorrendo o rancho. Parecia abandonado, mas havia sinais. Uma porta recém-pintada, fileiras de terra meio lavradas, palha espalhada ainda fresca nos currais. Alguém vivera aqui recentemente, pelo menos até o laço ser apertado no pescoço da garota gigante.

Ele olhou para ela novamente. Sua estrutura imponente poderia assustar um homem à primeira vista. Mas seu rosto era jovem, quase infantil. As contusões em seu pescoço, os arranhões em seus braços… contavam a história de tormento, de ser tratada como menos que humana, rotulada de monstro, amarrada como um animal para servir de exemplo.

Elias respirou fundo, abaixou-se e a ergueu em seu ombro. Ele carregara camaradas caídos de campos de batalha sangrentos. Agora carregava uma vida que a sociedade enforcara e deixara para trás.

Chutou a porta da cabana. O cheiro de fumaça velha e madeira envelhecida o atingiu em cheio. Ele a deitou em um colchão rasgado no canto e fechou a porta. Do lado de fora, o sol poente tingia a forca de um vermelho-sangue. Elias sabia: a partir do momento em que cortou aquela corda, ele não era mais apenas um transeunte. Ele havia entrado direto na história que Samuel Cain deixara para trás.


A lâmpada a óleo tremeluzente lançava um brilho amarelo opaco nas paredes de madeira rachada. Elias sentou-se silenciosamente na beira da cama. Ele havia enrolado uma tira de pano rasgada de sua própria camisa em volta das contusões no pescoço dela.

Depois de um tempo, aqueles estranhos olhos cinza-azulados se abriram. — Por quê? — ela engoliu em seco, a garganta seca. — Por que você me salvou?

Elias deu de ombros, o olhar firme. — Porque já vi muitos serem deixados para trás. E jurei não deixar isso acontecer de novo.

Ela não disse nada por um momento. Então seus lábios tremeram. — Ele. Samuel Cain. Ele é quem me enforcou.

— Por quê? — perguntou Elias, a voz rouca.

A garota mordeu o lábio. Seus ombros maciços tremeram. — Eu trabalhava para ele. Arava os campos, construía cercas, lutava contra invasores. Eu fazia tudo. Mas então ele se endividou. Quando os cobradores vieram, ele me ofereceu para pagar sua saída. Disse que eu era um monstro… me deixou lá, amarrada para pendurar, um aviso para qualquer um que ousasse ficar em seu caminho.

Sua voz falhou, mas cada palavra atingiu Elias. — Qual é o seu nome?

— Mara — ela sussurrou. — Minha mãe me deu esse nome. Mas a maioria das pessoas… eles apenas me chamam de monstro.

No silêncio daquele pequeno quarto, Elias cerrou os punhos. Se Mara sobrevivera por causa dele, então, a partir deste momento, ele não estava mais sozinho. Mas isso também significava que sua própria corda agora estava amarrada ao buraco profundo que Samuel Cain deixara para trás.


Lá fora, o som de cascos ecoou de longe, constante e deliberado como tambores de guerra. Elias apagou a lâmpada e a escuridão engoliu o quarto.

A porta da frente tremeu com uma batida pesada. — Elias Creed! Sabemos que você está aí, e aquela aberração com você também. Saiam agora antes que queimemos essa pilha de lixo até o chão!

Elias abriu a porta e saiu para a varanda. O luar banhava o pátio em prata fria. Cinco homens estavam montados em seus cavalos. O líder, um homem de barba grossa e olhos de animal, adiantou-se.

— O que vocês querem? — perguntou Elias, calmo e frio.

— A dívida de Cain — o homem de barba bufou. — Ele prometeu pagá-la com esta terra. E com aquela besta que ele mantinha no celeiro. Agora ele se foi. E você ficou segurando a conta.

— Eu comprei esta terra com meu próprio dinheiro. Tenho uma escritura assinada. O acordo sujo de Cain não tem nada a ver comigo.

Os homens riram. O barbudo cuspiu no chão. — Aqui fora, papéis de tribunal não valem nada. A única lei que importa é de quem a arma fala mais alto. Você tem sete dias, Creed. Pague ou saia. E deixe a aberração para nós lidarmos.

Eles viraram os cavalos e partiram, levantando poeira vermelha. Elias voltou para dentro. Mara estava sentada, sua sombra enorme estendendo-se pela parede.

— Você vê? Eu só trago problemas. Eles vão te matar assim como tentaram me matar.

Elias soltou um suspiro cansado. — Talvez eu devesse ir embora. Mas se eu te deixar para trás, nunca mais dormirei em paz.


Sete dias passaram como uma tempestade de vento. Elias e Mara se jogaram no trabalho, reconstruindo cercas, cavando valas. De dia, trabalhavam sob um sol que queimava como fogo. À noite, Elias debruçava-se sobre livros de contabilidade enquanto Mara remendava roupas, suas mãos grossas movendo-se com resolução teimosa.

E, no pôr do sol do sétimo dia, os cascos retornaram.

Uma gangue de mais de uma dúzia de homens trovejou a cavalo. O barbudo sorriu ao ver Elias firme no portão quebrado.

— Acabou o tempo, Creed!

Elias não respondeu. Apenas ergueu seu Winchester. Mara deu um passo à frente, atrás dele, imponente como uma montanha, os hematomas no pescoço ainda visíveis. Mas seus olhos queimavam com fogo.

O primeiro tiro estalou como um trovão. O caos explodiu.

Elias agachou-se atrás da cerca, disparando com precisão mortal. Anos de guerra o tornaram frio, estável. Mara soltou um rugido profundo. Ela avançou, agarrando um homem que tentava laçá-la e arremessando-o como um saco de grãos. Ela arrancou um poste da forca, soltou-o e o balançou, derrubando três homens em um único golpe.

Gritos, tiros e cavalos em pânico enchiam o ar.

Por fim, apenas o líder barbudo restou. Ele se agachou, aterrorizado. Elias avançou, rifle apontado, mas Mara foi mais rápida. Ela o agarrou pelo colarinho e o ergueu do chão.

— Não! — gritou Elias. — Se o matarmos, não somos melhores que eles.

Mara ofegava, os olhos cheios de lágrimas. Não de raiva, mas de anos de humilhação finalmente transbordando. Após uma longa pausa, ela o deixou cair.

— Corra — disse Elias. — Se voltar, esta terra será seu túmulo.

O homem fugiu. O silêncio retornou ao rancho, quebrado apenas pelo vento e pelo cheiro de pólvora.


Naquela noite, sentados perto da lareira, Elias abriu o livro de dívidas que os homens haviam deixado cair na fuga.

— Ele pegou tudo emprestado em seu nome e nesta terra — disse Elias. — É uma montanha de dinheiro.

Mara baixou a cabeça. — Sou apenas um fardo.

Elias fechou o livro com um baque. — Eu vi você derrubar três homens com uma viga de madeira podre. Isso não é um fardo. Isso é força. Vamos pagar isso com trabalho, não com vidas. A partir de agora, isso é uma parceria.

Mara olhou para cima, os olhos marejados. — Você confia em mim? Depois de tudo…

— Eu confio.

Nos meses seguintes, o Oeste rigoroso ainda uivava, mas a terra de Elias e Mara mudara. Fileiras de milho jovem estendiam-se verdes. O gado mugia nos currais reconstruídos. Todas as manhãs, Elias ia à cidade negociar, sua honestidade bruta conquistando o respeito relutante dos comerciantes. E todas as noites, Mara trabalhava incansavelmente, mas também ria — um riso puro, infantil, de alguém que finalmente encontrou um lugar onde não era chamada de monstro.

Certa noite, na varanda, Elias serviu duas xícaras de café. — Três meses atrás, pensei que tinha comprado uma armadilha. Acontece que encontrei um lar.

Mara colocou sua mão larga gentilmente sobre a dele. — Você acreditou em mim quando o mundo inteiro me deixou pendurada. Nunca vou esquecer isso.

A dívida não havia sumido completamente. O perigo poderia retornar. Mas Elias entendera. Ele encontrara algo que a guerra nunca lhe dera: uma razão para viver. E Mara, uma vez zombada e enforcada, agora era chamada pelo seu nome.

No Oeste, a justiça muitas vezes balançava na ponta de uma corda. Mas, às vezes, a verdadeira justiça vinha de um par de mãos calejadas corajosas o suficiente para cortar aquela corda e dar a alguém uma segunda chance de vida.

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