O SORRISO DA CENSURA: HUGO MOTTA DESLIGA O MICROFONE E É ESMAGADO PELA AUTORIDADE MORAL DE BENEDITA DA SILVA
A Câmara dos Deputados protagonizou, em uma de suas sessões recentes, um espetáculo de autoritarismo e descontrole que será lembrado como um dos momentos mais vergonhosos da sua história. No centro do caos, o Presidente da Câmara, Hugo Motta, perdeu completamente a compostura regimental e a decência política, transformando o Plenário, a suposta “casa do povo”, em um palco de intimidação e descarada censura. O uso de dois pesos e duas medidas, a agressão a um parlamentar e a expulsão de jornalistas definiram uma noite que teve seu ponto mais baixo no momento em que Motta, com um sorriso no rosto, cortou o microfone de uma das maiores referências da história constitucional brasileira, a Deputada Benedita da Silva.
O vexame foi tão profundo que gerou uma reação imediata não apenas no meio político, mas entre os mais respeitados jornalistas do país, com Miriam Leitão e Andreia Sadi usando termos duros para descrever o que aconteceu: censura, blackout e ditadura.

O Confronto Geracional: A Humilhação de Benedita da Silva
O primeiro sinal de que Hugo Motta havia perdido “completamente o controle” veio em seu confronto com a Deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Movido por um “ego tão inflado” e uma visível intenção de provocar, Motta interrompeu a fala da deputada, que, aos 83 anos, carrega o peso da história e da experiência política que Motta ainda não tem.
A resposta de Benedita, no entanto, foi um tour de force de respeito regimental e autoridade moral que humilhou Motta publicamente. Em um tom calmo, mas firme, ela o colocou “exatamente no lugar dele”, exigindo reciprocidade:
“Eu estou falando, senhor presidente. Eu estou, senhor presidente, eu estou falando com Vossa Excelência, com todo o respeito regimental e com toda a educação que pelo menos eu tive até agora aqui nesse plenário e esperamos reciprocidade.”
Em seguida, ela deu a Motta uma aula de Regimento Interno, lembrando-o de que, como Presidente da Casa, ele é o “presidente de todos nós” e, portanto, se quisesse manifestar uma opinião a favor ou contra, deveria passar a presidência para o seu substituto.
O golpe de misericórdia veio com a invocação de sua própria história:
“Mas eu quero lembrar a vossa excelência, porque talvez essa casa não esteja informada, que no Brasília 5 de outubro de 88, presidente Ulisses Guimarães, primeiro secretário Mauro Maia, segundo secretário Arnaldo Faria de Sá, terceira secretária, Benedita da Silva, que assinou com toda a sua bancada a Constituição de 88.”
A Deputada Benedita da Silva não apenas deu uma bronca; ela confrontou a inexperiência e o autoritarismo de Motta com a memória viva da redemocratização. Ela é uma signatária da Constituição Cidadã de 1988. Motta, ao interrompê-la, estava desrespeitando não apenas uma colega, mas um pilar da história democrática.
O ato final de Motta nessa sequência foi, talvez, o mais revoltante: ele sorriu enquanto cortava o microfone de Benedita, em uma cena que, segundo a análise, “expõe o autoritarismo crescendo dentro da câmara”. O sorriso de escárnio em resposta a uma lição de democracia é a face mais sombria do poder que se sente intocável.
O Blackout e a Censura: “Digno dos Piores Momentos da Ditadura”
O incidente com Benedita foi apenas o prefácio de uma noite de terror democrático. Hugo Motta partiu para uma escalada de ações que incluíram a expulsão de jornalistas e o corte do sinal da TV Câmara.
Miriam Leitão, em sua análise ao vivo, não hesitou em classificar o ato: “Isso aí lembra os piores momentos da [ditadura]”. O corte de sinal e a retirada da imprensa, segundo ela, são “uma coisa assim digna dos piores momentos da ditadura. Não se faz isso de maneira alguma”. A censura é o termo correto.
Andreia Sadi reforçou a gravidade do ato, chamando-o de “censura” e de um completo desvirtuamento do propósito da instituição:
“Desvirtuaram completamente o que é o sentido da Câmara dos Deputados, que é a casa do povo. Eles não são donos da Câmara dos Deputados.”
Sadi ressaltou que a Câmara existe para o povo e pela sociedade. Quando a sociedade não pode “fiscalizar e acompanhar e monitorar” o que acontece, a porta se fecha para a transparência. O corte de acesso é uma declaração de que “Isso aqui é nosso, vocês não têm nada a ver com isso”. O resultado é a desmoralização e o acentuamento do desgaste: “eles querem fazer tudo no escurinho ali, não querem que a gente acompanhe, tem alguma coisa errada”. A falta de transparência, como Sadi bem coloca, tem nome: blackout. Conversando com ex-presidentes da Câmara, ela descobriu que o corte do sinal da TV Câmara é um evento sem precedentes na memória recente, um ato de virar as costas para o povo.
Dois Pesos e Duas Medidas: A Hipocrisia de Hugo Motta
O autoritarismo de Motta foi seletivo, e essa é a chave da sua condenação política. Miriam Leitão afirmou que, em um país polarizado como o Brasil, Hugo Motta tratou “de maneira diferente um lado e o outro lado, à esquerda e à direita”.
O estopim da crise foi o Deputado Glauber Braga (PSOL), que, em protesto, ocupou a mesa da Presidência (ato condenável, segundo a própria jornalista). Qual foi a reação de Motta? Ele mandou a Polícia Legislativa retirá-lo com “cenas de muita agressão”. O Deputado, que foi levado para cassação, vira o bode expiatório da esquerda.
O contraste é revoltante. Motta “não tratou da mesma forma quando a direita ocupou toda a mesa diretora e passou lá de um dia pro outro”. Pior: ele nunca puniu esses parlamentares, apesar de ter prometido fazê-lo.
Miriam Leitão citou três casos gravíssimos de impunidade, que expõem o conluio de Motta com a extrema-direita:
Carla Zambelli: Desde junho, há uma ordem judicial para cassá-la (por condenação), e a Câmara “desrespeita essa ordem judicial até o dia de hoje”.
Alexandre Ramagem: É um foragido da justiça, condenado, com ordem de cassação que a Câmara ignora.
Eduardo Bolsonaro: Desde março, não aparece para trabalhar, usando seu mandato para conspirar contra a economia brasileira ao pedir sanções estrangeiras.
Nenhum desses casos de conspiração, agressão à economia ou desobediência judicial foi levado ao Plenário para cassação. Mas o Deputado de esquerda, Glauber Braga, por um ato de protesto, foi sumariamente caçado. Tratar um país polarizado com “dois pesos e duas medidas… agrava o conflito” e destrói qualquer resquício de imparcialidade que o cargo de Presidente da Câmara deveria exigir.
A Reação Popular: Glauber Fica
O autoritarismo de Hugo Motta gerou uma reação imediata e contundente. A tentativa de cassação de Glauber Braga, percebida como uma injustiça e um ato político de retaliação, uniu diversos setores da sociedade.
Artistas e figuras públicas se mobilizaram com a hashtag “Glauber Fica”, inundando as redes sociais com mensagens de apoio: “Glauber fica. Glauber fica. Estou aqui para dizer mais uma vez e mais do que nunca Glauber fica”.
A solidariedade ao deputado é uma resposta direta à sua luta para “desmascarar o Congresso inimigo do povo”. Essa movimentação externa demonstra que a população não está passiva diante da escalada autoritária de Motta. A tentativa de silenciar um deputado de esquerda e encobrir o ato de violência contra a imprensa falhou, transformando-se em um catalisador para a indignação popular e a defesa intransigente da liberdade de expressão.
O Legado de uma Noite Vergonhosa
A noite de autoritarismo de Hugo Motta deixou um legado amargo para o Congresso Nacional. O Presidente da Câmara, ao sorrir ao cortar o microfone de uma constitucionalista, ao usar a Polícia Legislativa com truculência seletiva e ao impor a censura, deu munição aos críticos que o comparam aos piores momentos da ditadura brasileira.
A denúncia contundente de Miriam Leitão e Andreia Sadi é um registro histórico: o que aconteceu foi um ataque à democracia. A Câmara não pode ser vista como a propriedade privada de quem a preside. Seu papel é ser a “casa do povo”, transparente e responsável. A atitude de Motta apenas acentua o desgaste, afasta a população e confirma a percepção de que a liderança da Casa está disposta a negociar a integridade democrática por alinhamentos políticos.
O clamor por transparência e por punição exemplar dos deputados que conspiraram contra o país, como Ramagem e Zambelli, não pode ser abafado por sacrifícios políticos injustos, como o de Glauber Braga. A lição de Benedita da Silva permanece: o Presidente da Casa deve ter a decência de respeitar o debate e a reciprocidade, e não usar seu poder para oprimir ou censurar. A luta pela democracia e pela transparência no Congresso passa, urgentemente, pela responsabilização de Hugo Motta.