O sol poente tingia de vermelho as colinas secas da fazenda Santa Cruz, no sertão baiano de 1875, quando o coronel Ramiro desmontou do cavalo com um bque surdo no terreiro de terra batida. Seus botins de couro polido erguiam poeira fina e o chapéu de aba larga sombreava olhos que ardiam como brasas.
Ele havia voltado cedo da cidade, o peito apertado por um sussurro ouvido no armazém. algo sobre sua esposa, dona Isabela, e um ventre que crescia além do esperado. Sem uma palavra, ele atravessou o alpendre de madeira escura, as esporas tiltando como sinos de alerta. Isabela costura a luz de uma lamparina no quarto principal, o vestido de linho claro esticado sobre a barriga proeminente.
Seus cabelos negros, presos em coque severos sob a mantilha de renda, tremiam levemente ao ouvir os passos pesados. Ela ergueu o olhar pálida como cera, e a agulha parou no ar. Ramiro parou na soleira, o lenço sujo de suor no pescoço e fechou a porta com um clique que ecoou como uma sentença.

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Seus olhos, castanhos e frios, como o inverno do planalto, fixaram-se na curva suave do abdômen dela. Isabela! Murmurou, a voz rouca de cachaça e raiva contida. Quem é o pai dessa criança que carrega no ventre? Ela engoliu em seco, as mãos crispadas no pano. O ar cheirava a jasmim murcho e segredos podres.
Fora dali, os escravos terminavam o dia nos canaviais. Foi se cortando a terra seca sob o olhar dos feitores. Isabela se levantou com esforço, o corpete apertado forçando uma respiração curta. casara-se com Ramiro aos 17, viúva de um primo distante, atraída pelo poder dele sobre aquelas terras vastas, onde o engenho rangia dia e noite, mas os anos haviam secado o leito conjugal, como o rio no estio.
Ele, absorto em dívidas com bancos do rio e intrigas políticas, mal tocava nela. Ela, dona da casa grande, administrava as mucamas e os quitais com mão firme, mas o vazio crescia. Até João, o escravo capataz, de pele escura como café torrado, olhos verdes herdados de algum avô fugido. É seu, Ramiro! Mentiu ela, a voz firme, apesar do tremor nas pernas.
Ele riu curto e seco, aproximando-se. O cheiro de tabaco e couro invadiu o quarto. Meu, há meses sem te tocar, mulher, e esse ventre não mente. Ele estendeu a mão, hesitante, tocando a barriga. Isabela recuou, o coração martelando. Lá fora, o sino da capela tocava o Angelos, chamando os fiéis para a reza, mas ali só sombras alongadas e acusações não ditas.
Ramiro virou-se para a janela, olhando o terreiro onde os escravos se arrastavam para os barracões. João estava entre eles, alto e forte, carregando um feixe de varas. O coronel sentiu o ciúme subir como Billy. As semanas notar os olhares demorados, as idas dela acenzá-las sob pretexto de remédios.
“Eu sei tudo”, disse ele baixo. “O capataz, aquele negro que você protege das chibatadas”. Isabela negou com a cabeça, mas as lágrimas traíam. Não de tristeza, mas de medo cru, o tipo que paralisa. A noite caiu pesada, estrelas cravadas no céu sem lua. Ramiro saiu pisando firme, ordenando ao feitor que trancasse João no tronco do engenho.
Isabela ficou sozinha, mãos na barriga, sentindo o leve chute da criança. João a salvara meses antes, numa febre que a derrubara. Ele entrara no quarto à noite, com ervas do mato, mãos calejadas que curavam mais que remédios. O toque virara desejo, encontros furtivos no paiol de milho, sussurros de liberdade num mundo de correntes.
No barracão, João ouviu as correntes tilintarem em seus pulsos. O feitor, um homem magro, de bigode fino, cuspiu no chão. Ordens do patrão, moleque. Amanhã você explica. João não falou. Seus olhos, herdados de uma mãe branca, raptada, fitavam o vazio. Ele sonhava com quilombos distantes, mas Isabela o ancorava ali. A gravidez mudara tudo.
Ela prometera libertá-lo após o parto, com papéis falsos para o norte. Ramiro voltou ao quarto ao amanhecer, Barba por fazer, olhos injetados. Isabela dormia inquieta. Ele sentou na beira da cama, a pistola no coudre reluzindo. Diga a verdade, ou ele some da fazenda. Ela acordou sobressaltada, o vestido amarrotado. Não faça isso, Ramiro. Ele não fez nada.
Mas o coronel já sabia. Um moleque da cozinha vira os dois no estábulo. Sussurrara por ciúme. A traição queimava mais que sol no lombo. O dia raiou quente, o sol escaldante nos canaviais. Isabela desceu a senzala véu no rosto, alegando caridade. Os escravos se afastavam, sussurrando. João, acorrentado ao tronco, ergueu o olhar.
Dona Isabela, fuja enquanto pode. Ela tocou seu rosto rápido. Eu cuido disso. Mas o feitor rondava, chicote enrolado. Ramiro observava da varanda, charuto na boca. Seus planos ferviam. Vender João para o garimpo no Amapá. onde homens sumiam em minas, ou pior, um acidente no engenho.
Isabela era dele, a fazenda era dele. Ninguém roubava o que era seu. Ela subiu correndo, suando sob o espartilho. Me deixe falar com ele uma última vez. Ramiro negou, trancando a porta. Hoje resolvemos. A tensão crescia como nuvem de tormenta. No almoço, pratos de feijão e carne seca intocados. Isabela sentia contrações leves, o corpo traindo-a.
Ramiro andava de um lado para outro, botas ecoando no açoalho de taco. Por que, Isabela? Eu te dou tudo. Ela fitou-o complexa em sua dor. Amava o poder dele tanto quanto o desprezo. Você me deu correntes invisíveis. Ao entardecer, o coronel mandou chamar o padre da capela vizinha, não por fé, mas por testemunhas.
João seria interrogado ali na casa grande, sob olhares de todos. Isabela suplicou em vão. O sino tocou de novo, chamando para o julgamento particular. Os escravos paravam o trabalho, sentindo o ar carregado. João foi arrastado, correntes nos pés, camisa rasgada revelando cicatrizes antigas. Ramiro o encarou no salão, mesa de mogno entre eles.
Confessa, negro. João ergueu o queixo. A senhora é livre no coração dela. Isabela entrou pálida, barriga proeminente como prova viva. O padre murmurava orações. A mão de Ramiro foi à pistola. O ar parou. Isabela gritou: “Pare!” Mas o tiro não veio. Ainda não. O coronel hesitou vendo a criança mexer sob o vestido dela.
Seria sangue do seu sangue ou marca indelével? A dúvida o corroía. A noite avançava, velas piscando, conversas sussurradas no terreiro. Isabela trancada no quarto, João no tronco. Ramiro bebia conhaque sozinho na varanda, olhando as estrelas. Amanhã decisões finais, mas um ruído no escuro, passos leves.
Alguém se aproximava da cenzala, o ciúme reaccendia. Enquanto isso, na casa grande, Isabela planejava um cavalo selado no estábulo, papéis escondidos, mas Ramiro vigiava. A porta rangeu, ele entrou. Sombra imensa. “Você não escapa!” Ela congelou. Ramiro fechou a porta com um clique seco, o som ecoando como um veredito.
Seus olhos, frios como o aço de uma lâmina, fixaram-se nela. Isabela sentiu o ar rarear, o peito apertado por uma mão invisível. Papéis amassados caíam de sua mão trêmula, espalhando-se pelo açoalho de madeira polida. “Planejos tolos”, murmurou ele, aproximando-se devagar. Cada passo rangia, medido, como o tic-taque de um relógio antigo marcando o fim.
“Acha que um cavalo e umas cartas vão te levar para onde?” para os braços dele. Ela ergueu o queixo, forçando a voz a sair firme. Não finja ignorância, Ramiro. Você sabe de tudo, mas eu não sou sua propriedade. Ele riu baixo, um som que serpenteava pela sala escura. Parou a um braço de distância, o cheiro de tabaco e couro impregnando o ar. Propriedade.
Você é minha esposa. Carrega meu nome. E agora? Isso apontou para o ventre dela, arredondado sob o vestido de linho fino, bordado com rendas que pareciam zombar da situação. Isabela recuou um passo batendo na mesa de Mogno. Ali, sobre a superfície, uma vela tremeluzia, projetando sombras dançantes nas paredes forradas de tapeçarias portuguesas.
Lá fora, o vento uivava entre as palmeiras da fazenda, carregando o eco distante dos gemidos dos trabalhadores nos canaviais. A noite caía pesada sobre a baía do século XIX, onde o sol escaldante do dia dava lugar a uma escuridão úmida e conspiratória. Ramiro estendeu a mão, pegando um dos papéis caídos.
Desdobrou-o com dedos precisos, lendo em silêncio. Para o porto de Salvador, um barco para o norte. Seus lábios se curvaram. Com ele o escravo Manoel. O nome pairou no ar como fumaça, Manuel, alto, de pele escura como ébano polido, olhos que prometiam liberdade em meio à corrente. Ele trabalhava nos campos há anos, mas nos últimos meses olhares trocados nas sombras da cenzala haviam se tornado toques furtivos, promessas sussurradas.
E agora a criança, prova irrefutável. Ele me ama”, disse Isabela, a voz ganhando força. “Não como você, concorrentes e ordens. Ele me vê”. Ramiro amassou o papel, jogando-o no fogo da lareira. Chamas devoraram as palavras, lambendo a borda com fome. “Amor, na cenzala você delira, Isabela. Ele é propriedade minha, como os cavalos, como a terra.
E você? Você traiu tudo isso. Ela girou nos calcanhares, correndo para a porta, mas ele foi mais rápido. O braço dele atravou, puxando-a de volta. O corpo dela colidiu contra o dele, rígido como o tronco de jatobá. Solte-me!”, gritou ela, debatendo-se. “Não antes de decidir seu destino.” Ramiro a empurrou para a cadeira, os olhos flamejando, sentou-se à frente, inclinando-se.
“Eu poderia mandar chicoteá-lo até o limite ou vendê-lo para o rio longe daqui. E você?” “Ficaria aqui sozinha com a vergonha”. Isabela engoliu em seco. Pensou em Manuel, acorrentado na cenzala, o corpo marcado pelas tarefas diárias sob o sol impiedoso. Ele sonhava com quilombos distantes, terras livres além das matas densas.
Você não fará isso. Sabe que a criança é inocente. Ele se levantou abruptamente, caminhando até a janela. Lá fora, tochas piscavam nos postes da entrada da Casa Grande, vigiando os caseiros. A lua cheia iluminava os telhados de palha das barracas dos escravos, um mar de silhuetas imóveis. Inocente. Nada é inocente aqui.
Esta fazenda é meu império. Eu construí com suor alheio e você o mancha. Silêncio. Apenas o crepitar da lareira. Isabela observa as costas dele largas sob o colete de veludo. Ramiro não era monstro sem alma, era homem forjado pela terra, viúvo recente quando a desposara, atraído por sua beleza pálida e herança modesta. Casamento de conveniência, pensara ela.
Mas o ciúme agora o consumia, lento, corrosivo. “Vai embora, então”, disse ele por fim, virando-se, “ma sem ele, deixe o escravo, pegue o cavalo, os papéis, vá para onde quiser, sozinha”. Era uma armadilha. Isabela sabia. Sem Manuel, a criança nasceria sem pai, e ela, mulher solteira na Baia escravocrata, enfrentaria olhares e sussurros.
Famílias a rejeitariam, portas se fechariam. Você mentiria, mandaria capangas atrás de mim. Ramiro sorriu sombrio. Talvez, ou talvez eu queime tudo agora. A senzala, ele, você assistiria. A ameaça pairou. Ela se levantou devagar, aproximando-se. Ouça-me. Deixe-nos ir. Eu sumirei. Ninguém saberá. Ele balançou a cabeça. Meu orgulho não permite.
Passos ecoaram no corredor. Um capataz bateu a porta. Coronel, um problema nos canaviais. Fogo nos restos da colheita. Ramiro hesitou, olhos em Isabela. Fique aqui. Conversaremos ao amanhecer. saiu trancando a porta por fora. Sozinha, ela correu à janela. Vidro embaçado pelo hálito da noite. Viu sombras se movendo, escravos alertados pelo fogo distante.
Entre eles, Manuel. Seu coração acelerou. Precisava avisá-lo. Com unhas arranhou a tranca. Nada. olhou para o sino de chamada na parede usado para reunir os trabalhadores. “Um sinal desesperado?” “Não, pensou melhor no quarto adjacente, uma passagem secreta para o estábulo conhecida só dela.
Herança de antigas donas da casa, fugas de maridos brutos.” Rastejou pelo piso, empurrando o painel falso. O ar úmido do estábulo a envolveu. Cavalos relincharam baixos. Selou-o dela às pressas, mas ouviu vozes, capangas de Ramiro voltando do fogo. Correu para as cenzá-la, portão semiaberto dentro, corpos exaustos nos cres.
Manuel ergueu-se, olhos arregalados. Senhora, o que faz aqui? Ela agarrou seu braço. Ele sabe. Fugimos agora. O cavalo espera. Ele olhou para os outros escravos, despertando em sussurros. Eles vão nos seguir. Não temos escolha. Puxou-o para fora. Correram pelas sombras dos canaviais altos, folhas cortantes roçando as pernas.
O vestido dela se rasgava nas espadas de São João. O ventre pesava, mas a adrenalina impulsionava. Trovões ribombaram ao longe. Chuva fina começou misturando-se ao suor. Atrás latidos de cães. Ramiro os soltara. Manuel parou ofegante. Eu volto, distraio eles. Vá para o rio. Ah, não. Ela o segurou, mas ele beijou sua testa fugindo de volta.
Isabela seguiu sozinha, tropeçando na lama. O rio negro brilhava sob a lua, correnteza forte para Salvador, mas dor lancinante no ventre. Parou curvada. A criança se mexia, agitada, passos. Ramiro surgiu das árvores sozinho, revólver na mão. Acabou, Isabela. Ela caiu de joelhos. Por favor. Ele se aproximou, arma baixa. Volte.
Eu cuido de tudo. O escravo some. A criança será minha. Oferta cruel. Olhos dela varreram a escuridão. Manoel voltava com dois escravos armados de facões. Confronto iminente. Ramiro ergueu a arma. Tensão esticou o ar como corda de viola. Se inscreva no canal agora. Compartilhe esta história com quem ama narrativas reais e comente de onde você está assistindo.
Sua interação faz o algoritmo nos levar mais longe. Manoel avançou o facão reluzindo. Solte ela, coronel. Ramiro girou. Traidores disparou para o alto, ecoando como julgamento. Escravos hesitaram. Isabela gritou: “Parem! Basta! A chuva engrossou, transformando o chão em lama, escorregadia. Ramiro avançou para Manuel, os dois colidindo em luta bruta.
Punhos voaram. Ramiro, mais forte pela autoridade diária, derrubou-o. Mas Manuel rolou, cravando o facão na terra ao lado. Isabela se arrastou, pegando uma pedra, lançou-a, acertou o ombro de Ramiro. Ele grunhiu virando-se. Chega. Ela se pôs de pé. Mate-me se quiser, mas ele vive. Ramiro parou.
Arma apontada para Manuel. Olhos dele encontraram os dela. Algo quebrou. Não ódio puro, mas dor crua. Você escolhe isso sobre mim? Eu escolho liberdade. Silêncio, chuva batendo. Então ele baixou a arma. Vão, antes que eu mudei”. Manuel se ergueu, ajudando-a. Correram para o rio, barco escondido por ele dias antes.
Remaram contra a corrente, fazenda sumindo na névoa. Dias depois, em Salvador, Isabela sentiu as primeiras dores. Manuel ao lado, mãos calejadas segurando-as dela. Uma nova vida nascia em meio a incertezas. Mas Ramiro, na fazenda vazia, ele bebia conhaque, olhando os canaviais. Jurou vingança silenciosa, contratou caçadores. A perseguição só começava.
Enquanto o sol nascia sobre o porto agitado, Isabela sussurrou para o filho: “Você é livre!”, mas sombras se aproximavam pelo horizonte. As sombras no horizonte ganhavam forma. Três cavaleiros, silhuetas esguias contra o amanhecer avermelhado, galopando pela estrada de terra que levava alcais. Isabela apertou o menino contra o peito, o coração martelando como tambores de guerra.
O porto de Salvador fervilhava com carregadores suados, mercadores gritando ordens em português misturado a línguas africanas e o cheiro salgado do mar. se entrelaçando ao fedor de peixe podre. Ela havia pago o último ouro a um capitão de navio negreiro que fingia lealdade, prometendo passagem para o norte, onde as leis eram menos cruéis.
O menino, com olhos grandes e herdados do pai escravo, agarrou a saia dela. “Mamãe, eles vêm?”, sussurrou, voz trêmula como folha ao vento. Isabela forçou um sorriso, os lábios pálidos. Não olhe para trás, só para o mar. Mas os cascos ecoavam mais perto, poeira subindo como fumaça de um incêndio distante.
O capitão, um homem barbudo, com cicatrizes no rosto, gesticulou para o Cis. Subam agora, senhora, o vento vira a favor. Eles correram, pés chapinhando em poças de água de mar, o menino tropeçando nas pedras irregulares. Atrás, os caçadores desmontaram, pistolas reluzindo ao sol nascente. O líder, um mestiço de olhar frio chamado Ramiro, gritou: “Parem aí pelo coronel Albuquerque.
” Isabela não parou. O navio, um brigue rangente com velas arriadas, balançava na baia. Uma prancha instável o separava da liberdade. No terceiro instante de pavor puro, enquanto a prancha rangia sob seus pés, pare aqui e se inscreva no canal agora mesmo. Curta, compartilhe com quem precisa dessa atenção e comente de onde você está assistindo, do Brasil ou do mundo todo, para mais histórias que prendem assim.
Subiram a bordo em tropeços, mãos calejadas dos marinheiros, puxando-os para a segurança relativa do Convés. O capitão berrou ordens e as velas inflaram com um estalo seco. O navio se afastou do cais, cortando as ondas como uma lâmina. Ramiro, na margem, ergueu a pistola, mas o disparo ecoou inofensivo, perdido no vento.
Isabela caiu de joelhos, o filho nos braços, o peito arfando, livre. Por enquanto, dias se arrastaram no mar revolto, o horizonte, uma linha infinita de azul impiedoso. O capitão, vendo o ouro gasto, revelou sua face verdadeira. Vocês vão pro rio, senhora, mas o coronel tem olhos em todo o porto. Isabela trocou olhares com o menino, que agora brincava com cordas velhas alheio ao abismo.
Ela pensava em João, o escravo da fazenda, pai dele, um homem de mãos fortes que plantava café sob o chicote, mas cujos olhos prometiam mundos além das correntes. O segredo nascera numa noite de tempestade, quando o coronel roncava bêbado e João a ajudara a escapar de uma surra. Um toque virou chama, uma gravidez virou sentença.
No Recife, o navio ancorou sob nuvens carregadas. Isabela desceu com o filho, disfarçada em trapos de lavadeira, rumo a uma pensão nos becos fedorentos do porto. Mas o coronel não dormia. Seus emissários chegavam primeiro. Cartas seladas com cera vermelha, ameaças veladas. Volte ou o bastardo paga. Ela queimou o papel na chama de uma vela, cinzas voando como almas perdidas.
O menino torcia, febre subindo com o calor úmido da cidade, sem ouro, sem aliados. Ela vendia flores roubadas nas ruas, olhos sempre no retrovisor das sombras. Uma noite, chuva torrencial transformou as ruas em rios de lama. Isabela carregava o filho febril para um curandeiro negro, livre por milagre de lei. Nos fundos de uma casa de taipa, o homem de dreads grisalhos examinou o menino.
Ele carrega sangue forte, senhora. Sobreviverá se o destino quiser. Mas destino era luxo para escravos e adúlteras. Lá fora passos. Ramiro e dois capangas infiltrados como mercadores. Ela ouviu a porta ranger, escondeu-se atrás de cortinas poídas, o filho inerte nos braços. Onde está a mulher do coronel? Rosnou Ramiro, voz como ferro enferrujado.
O curandeiro mentiu com calma. Passou por aqui ontem, rumou pro interior. Uma pausa eterna. Facas foram sacadas, mas o homem não cedeu. Um soco ecoou, vidro quebrando. Isabela tapou a boca do menino, o coração uma bigorna. Eles foram embora, xingando a noite. Isabela esperou até o silêncio engolir a chuva. Fugiram pela janela, serpenteando becos escuros, lama grudando nas saias.

O curandeiro sussurrou ao partir: “Vão pro quilombo no sertão lá. Sangue como o dele é lei, mas o caminho era a morte certa. Matas infestadas de onças, rios traiçoeiros, patrulhas de senhores, semanas de marcha exaustiva, pés sangrando em trilhas invisíveis. O menino melhorava, crescendo magro, mas feroz, caçando frutas com pedras.
Isabela contava histórias de João. Seu pai ergueu montanhas com as mãos. Chegaram ao quilombo ao luar uma fortaleza de palha e coragem no coração da mata atlântica. Guardiões armados de mosquetes enferrujados os revistaram. Quem manda? Um líder, cicatriz no rosto como mapa de batalhas, fixou os olhos no menino.
Filho de quem? João da fazenda Albuquerque. O nome abriu portas. João escapara meses antes, agora capitão dos fugitivos. Ele surgiu da escuridão, corpo marcado por chicotes antigos, mas olhos flamejantes. Abraçou o filho primeiro, depois Isabela, um toque que dizia tudo sem palavras. Você veio. O coronel enfurecido enviou uma expedição. Soldados regulares, cães farejadores, fúria cega.
A batalha veio ao amanhecer, tiros cortando a névoa, flechas silvando. Ramiro liderava, prometendo ouro aos quilombolas que traíssem. Mas João, ao lado de Isabela, ergueu barricadas de troncos. O menino escondido, atirou uma pedra que derrubou um cão. Tensão no ar como corda esticada. O coronel em pessoa cavalgava à frente, espada desembanhada, rosto contorcido em ódio pessoal.
Sua traidora, o fruto da vergonha morre hoje. Isabela enfrentou-o no claro da mata, voz firme. Ele é mais homem que você jamais foi. Um duelo de vontades, não de aço. João flanqueou o mosquete apontado. Os soldados hesitaram. Fome de soldo, dúvida no peito. Ramiro traiu primeiro, virando a arma contra o coronel num instante de ganância.
O líder caiu, um gemido abafado na terra úmida, caos, tiros cruzados, retirada apressada. O quilombo venceu, não por milagre, mas por lealdade forjada em correntes quebradas. Isabela e João reconstruíram vidas na selva. O menino cresceu guerreiro, aprendendo a ler estrelas e leis ocultas. Não houve salvação fácil.
Invernos rigorosos ceifaram fracos, emboscadas testaram nervos. Mas o segredo, outrora veneno, virou raiz profunda, livre, mas sempre vigilante, pois sombras nunca morrem de todo. Anos depois, o menino, agora homem, sussurrou para o filho dele: “Você é livre. O ciclo não quebrado, mas transformado. Ei, se essa atenção te prendeu até aqui, se inscreva no canal, ative o sininho, compartilhe com amigos e comente qual segredo você esconderia numa fazenda como essa? De onde você assiste? Mais histórias vem aí. M.