Existe uma estrada de terra no interior do Paraná que os caminhoneiros evitam passar depois do anoitecer. Não por causa das curvas perigosas ou da neblina densa que desce das montanhas, mas porque, segundo eles, ainda se ouve o choro de crianças vindo das ruínas de uma fazenda que deveria estar vazia há quase um século.
Os mais velhos da região sabem que aqueles lamentos têm nome e sobrenome. Sabem que carregam o peso de segredos que três gerações tentaram esquecer. A fazenda Santo Casimiro, localizada entre os municípios de Irate e Prudentópolis, foi o palco de eventos que fariam qualquer pessoa questionar os limites da maldade humana. Em 15 de abril de 1920, Cazimierz Stravinsky desembarcou na estação ferroviária de Ponta Grossa com uma mala de couro gasto e um olhar que os funcionários da estação descreveram como frio demais para um homem que acabara de chegar ao paraíso. Três dias
depois, ele pagava 50 contos de réis em dinheiro vivo por uma propriedade que nenhum fazendeiro local queria comprar. O motivo. A terra era considerada amaldiçoada pelos índios caingangues que viveram ali por séculos. Mas Casimier não acreditava em maldições. Ele estava prestes a criar uma.

Antes de continuar, escreva nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo. Quero saber até onde nossas histórias estão chegando. O escrivão do cartório de imóveis de Prudentópolis, seu João Cordeiro, mantinha um diário pessoal onde anotava suas impressões sobre os clientes mais peculiares. No dia da escrituração da propriedade Stravinski, ele escreveu: “Homem estranho, barba comprida, olhos que não piscam, trouxe uma mulher e sete meninas, todas vestidas igual, todas quietas demais.” A mulher assinou com um X. As crianças nem levantaram os olhos
do chão. Cordeiro não era homem de fantasias, mas naquele abril de 1920 algo o incomodou profundamente. Talvez fosse o silêncio absoluto daquelas meninas ou a forma como Casimiers falava sobre preservar a pureza da família longe dos pecados da cidade.
O escrivão anotou ainda uma observação que anos depois ganharia um significado sinistro. Perguntei sobre escola para as crianças. Ele disse que Deus seria o único professor que elas precisariam. A propriedade que Stravinsky comprou ficava a quase 20 km da cidade mais próxima, acessível apenas por uma trilha estreita que serpenteava através de mata fechada.
O terreno incluía uma casa de madeira em ruínas, um celeiro e uma pequena capela construída pelos antigos moradores. Mas Casimiers não estava interessado nas construções existentes. Ele tinha planos próprios. Em menos de dois meses, algo impossível aconteceu. Uma casa nova, grande e sólida, surgiu onde antes havia apenas mato, dois andares, oito quartos, porão e sótam.
Tudo construído sem que ninguém visse um único trabalhador subindo ou descendo a trilha. Os comerciantes de Iraate, que venderam madeira e pregos para Stravinsk juravam que as quantidades compradas exigiriam pelo menos 10 homens trabalhando por meses. Como um homem sozinho ergue uma casa daquele tamanho? Era a pergunta que ecoava nas tavernas da região.
A resposta chegaria somente décadas depois, quando os investigadores descobririam que as próprias filhas de Stravinsk, algumas com apenas 10 anos, carregaram tábuas e pregos montanha acima sob o sol escaldante do verão paranaense. O primeiro contato dos Stravinsk com os vizinhos mais próximos aconteceu no outono de 1920. Sebastião Maciel, que criava gado numa propriedade a 5 km de distância, encontrou duas das meninas coletando lenha perto do limite entre as terras.
Ele descreveu o encontro ao delegado Benedito Ferraz anos mais tarde. Estavam magras, sujas, com os cabelos cortados curtos como menino. Quando cumprimentei, uma delas começou a chorar. A outra puxou ela pela mão e saíram correndo sem dizer uma palavra. Sebastião decidiu levar o caso ao conhecimento das autoridades, mas o delegado Ferraz tinha outros problemas para resolver.
A região vivia um período de tensão política, com conflitos entre colonos poloneses e ucranianos se intensificando. Uma família excêntrica vivendo isolada na mata não parecia prioridade. Além disso, Casimier havia se apresentado às autoridades locais como um patriarca religioso em busca de paz espiritual, declarando que sua família seguia costumes tradicionais do velho mundo.
O primeiro inverno dos Stravinski na Serra Paranaense foi particularmente rigoroso. As geadas de junho e julho de 1921 destruíram plantações inteiras na região. Mas quando chegaram os primeiros dias quentes de agosto, algo estranho foi observado pelos moradores da estrada que cortava a base da montanha. Fumaça subindo da propriedade Stravinsk.
Não a fumaça fina de uma lareira doméstica, mas colunas espessas que duravam dias inteiros. Um caçador chamado Antônio Bueno, que conhecia cada trilha daquelas montanhas, decidiu investigar. Ele encontrou Casimers queimando pilhas enormes de roupas, livros e objetos pessoais no quintal da propriedade.
O que mais me impressionou, bueno relatou ao padre da cidade, foi ver o homem queimando bonecas de pano, dezenas delas, e algumas tinham cabelos de verdade costurados na cabeça. Quando questionado, Cazimers explicou que estava purificando a família dos vestígios do mundo corrupto. disse que suas filhas não precisavam mais de distrações mundanas, porque estavam sendo preparadas para uma missão sagrada.
O caçador notou que durante toda a conversa, janelas da casa permaneciam abertas, mas ninguém aparecia nelas. Era como se a casa estivesse vazia, apesar da fumaça saindo constantemente da chaminé. O mistério se aprofundou quando o padre Vslav Kovalsk, responsável pela paróquia que incluía a região dos Stravinsk, decidiu fazer uma visita pastoral em setembro de 1921.
O sacerdote polonês pensava que poderia oferecer orientação espiritual a uma família de compatriotas que vivia isolada. Ele não imaginava que estava caminhando em direção a algo que testaria sua fé de formas que os seminários nunca ensinaram. Casimies recebeu o padre na porta da casa, mas não o convidou para entrar. Durante a conversa, que durou menos de 10 minutos, o padre Kovalsk ouviu vozes femininas vindas do interior da casa.
Vozes que pareciam estar recitando orações, mas em um idioma que ele não conseguia identificar. Não era polonês, não era latim, ele anotou em seu diário pessoal. soava como lamentações. O padre perguntou sobre as filhas, sobre educação religiosa, sobre a participação da família na vida da paróquia. Casimier respondeu que sua família havia transcendido a necessidade de igrejas construídas por mãos humanas e que eles seguiam revelações diretas de Deus recebidas através dele.
Quando o padre insistiu em conhecer a esposa e as filhas, Casimi se tornou hostil, declarando que mulheres santas não devem ser expostas aos olhares de estranhos. O padre Kovalsk saiu dali perturbado em seu relatório mensal ao bispo de Ponta Grossa, ele escreveu: “Existe algo profundamente errado na propriedade Stravinsk. O homem fala de Deus, mas seus olhos têm a frieza do diabo.
Recomendo uma investigação mais detalhada. Mas 1922 trouxe mudanças políticas que afastaram a atenção das autoridades de questões familiares isoladas. A revolução paulista exigia todos os recursos disponíveis. O caso Stravinski foi arquivado sem investigação. Enquanto isso, na fazenda perdida entre os Pinhais da Serra Paranaense, Casimiers Stravinsky começava a implementar um plano que transformaria sua propriedade isolada em um reino de horrores que duraria décadas.
As bases estavam sendo construídas, os muros do silêncio erguidos e as primeiras vítimas de sua missão divina começavam a compreender que não havia saída daquele pesadelo verde e silencioso que um dia elas haviam chamado de lar. O último registro oficial dos Stravinsk em 1922 vem de uma nota fiscal da farmácia de Iraat.
Casimiers havia comprado grandes quantidades de éter, clorofórmio e bandagens cirúrgicas. Quando questionado pelo farmacêutico sobre a finalidade, ele respondeu apenas para o trabalho de Deus. Ninguém na cidade imaginou que tipo de trabalho divino exigiria anestésicos, mas as montanhas guardam segredos e algumas verdades são pesadas demais para que o vento as carregue para longe.
O silêncio tem peso e nas montanhas ao redor da fazenda Santo Casimiro, o silêncio havia se tornado tão denso que até os pássaros pareciam evitar sobrevoar a propriedade. Era como se a própria natureza pressentisse que algo antinatural estava crescendo entre aquelas árvores centenárias. Em janeiro de 1923, o carteiro Joaquim Santos fez sua primeira entrega na propriedade Stravinsk.
Ele levava uma correspondência do consulado polonês em Curitiba, endereçada a Casimiers. O que Joaquim viu naquele dia o assombraria pelo resto da vida. Cheguei na porteira por volta do meio-dia. Ele contou anos depois ao investigador que finalmente se interessou pelo caso. O sol estava forte, mas a casa parecia estar sempre na sombra. Chamei pelo Sr. Stravinsk e ele apareceu na varanda. Atrás dele viu uma menina.
Ela não devia ter mais que 15 anos, mas estava claramente grávida. Joaquim entregou a carta e começou a se afastar. quando ouviu algo que o fez parar. Era um som baixo, contínuo, como um murmúrio de orações, mas diferente de qualquer reza que ele conhecia. “Parecia vir de debaixo da casa.” Ele recordou, como se houvesse gente rezando no porão.
Quando Joaquim se virou para olhar novamente, Casimier já havia entrado. A menina grávida não estava mais na varanda, mas uma cortina se mexeu na janela do segundo andar. E por um instante ele teve a impressão de ver rostos pálidos observando-o partir. A correspondência que Joaquim entregou continha uma notícia que mudaria tudo.
O irmão mais novo de Casimers, Wardav Stravinsky, havia morrido de tuberculose em Varsóvia, deixando uma herança considerável. Documentos bancários encontrados décadas depois revelaram que essa herança permitiu a Casimiers expandir suas propriedades, comprando terras adjacentes até que sua fazenda isolada se tornasse um reino particular de quase 100 haares.
Mas a riqueza súbita também trouxe responsabilidades indesejadas. O governo paranaense havia implementado novas leis de registro civil, exigindo que todas as crianças nascidas na região fossem documentadas. Em março de 1923, o oficial de registro civil de Ira, Antônio Machado, enviou uma notificação aos Stravinsk, solicitando que se apresentassem com todas as crianças da propriedade para documentação obrigatória.
A resposta de Casimers chegou uma semana depois, uma carta escrita à mão em polonês e português misturados, onde ele declarava que suas filhas estavam sob proteção divina especial e que documentos terrenos não se aplicavam aos escolhidos de Deus. A carta terminava com uma frase que Antônio Machado considerou uma ameaça velada. Aqueles que interferem na obra sagrada sofrerão as consequências eternas.
Antônio era um homem prático, mas também supersticioso. A carta o perturbou tanto que ele aguardou numa gaveta trancada, adiando qualquer ação oficial. Havia algo na caligrafia”, ele explicou mais tarde. As letras pareciam doentes. Enquanto isso, na propriedade isolada, eventos ainda mais sinistros começavam a se desenrolar. Dr.
Eduardo Palma, o único médico que atendia a região rural entre Irate e Prudentópolis, recebeu um chamado urgente em uma noite de maio de 1923. Um homem havia batido a sua porta às duas da madrugada, dizendo que havia uma mulher em trabalho de parto com complicações na montanha. O trajeto até a fazenda levou 3 horas através de trilhas mal conservadas. Dr.
Palma chegou exausto e encontrou Casimier esperando-o na porta. Ele me levou direto para um quarto no segundo andar. O médico anotou em seu diário profissional documento que só veio à luz em 1967. A paciente era uma jovem de aparência frágil, claramente em sofrimento. Mas o que mais me chamou a atenção foi o terror em seus olhos quando ela me viu.
A jovem em questão era Catarzina, a filha mais velha de Casimers, que então tinha 17 anos. Durante o exame, Dr. Palma fez uma descoberta perturbadora. Não era o primeiro parto da garota. Cicatrizes e outros sinais indicavam pelo menos duas gestações anteriores. “Perguntei sobre o pai da criança”, escreveu o médico.
A moça começou a soluçar e olhou para Casimierres com tal pavor que sentiu um frio na espinha. O parto foi complicado, mas bem-sucedido. Uma menina saudável nasceu pouco antes do amanhecer, mas quando o Dr. Palma foi lavar as mãos, ouviu Casimers conversando com a filha em polonês. O médico, que havia aprendido algumas palavras do idioma durante a guerra, conseguiu entender fragmentos da conversa.
Casimers falava sobre purificação da linhagem e cumprimento do destino sagrado. Antes de partir, Dr. Palma pediu para usar o banheiro. Ao subir as escadas, passou por um corredor longo, onde viu várias portas fechadas. De uma delas vinha um som baixo, como gemidos ou choro contido. Quando ele parou para escutar, Casimier apareceu imediatamente atrás dele, segurando uma lamparina.
Minhas outras filhas estão em oração”, ele explicou com uma frieza que fez o médico acelerar o passo. Na saída da propriedade, Dr. Palma notou algo que o fez questionar sua própria sanidade. No quintal dos fundos, havia um pequeno cemitério cercado por uma cerca de madeira tosca. Ele contou pelo menos oito cruzes simples, algumas visivelmente pequenas demais para adultos.
Perguntei sobre as sepulturas, ele anotou. Casimier disse que eram parentes que vieram da Polônia e não resistiram ao clima brasileiro, mas as cruzes pareciam feitas recentemente. Dr. Palma retornou para casa perturbado, mas não sabia exatamente o que fazer com suas suspeitas. A região não tinha delegacia próxima e as autoridades estaduais estavam ocupadas com problemas políticos maiores.
Ele decidiu anotar tudo em seu diário e aguardar desenvolvimentos. Esses desenvolvimentos vieram no outono de 1924, quando um evento mudou tudo. Antes de prosseguirmos, confira se você já está inscrito no canal. Caso não esteja, se inscreva, pois temos mais histórias como essa para contar. Jonas Kovalsik era lenhador e conhecia cada trilha da serra como a palma da mão.
Em abril de 1924, ele estava coletando madeira numa área próxima à propriedade Stravinsk, quando ouviu algo que o fez largar o machado e correr. Gritos. Gritos femininos vindos da direção da fazenda. Não gritos de dor física, mas algo pior. Gritos de desespero absoluto. Jonas subiu numa árvore alta para tentar ver o que estava acontecendo.
A distância era grande, mas ele conseguiu distinguir movimento no quintal da casa. Havia várias figuras vestidas de branco. Pareciam ser mulheres ou meninas, formando um círculo ao redor de algo que ele não conseguia identificar. No centro do círculo, uma figura masculina gesticulava como se estivesse conduzindo algum tipo de cerimônia.
Os gritos pararam abruptamente. O silêncio que se seguiu foi ainda mais perturbador. Jonas desceu da árvore e correu em direção à cidade. Ele encontrou o delegado Benedito Ferraz na taverna local e relatou o que havia visto e ouvido. Ferraz, que já havia recebido outras queixas vagas sobre os Stravinsk, finalmente decidiu que era hora de fazer uma visita oficial à propriedade.
No dia seguinte, 25 de abril de 1924, o delegado Ferraz subiu à trilha íngreme que levava a fazenda Santo Casimiro. Ele levava consigo o escrivão João Cordeiro como testemunha oficial. O que eles encontraram foi uma propriedade aparentemente normal. Jardins bem cuidados, animais saudáveis, uma casa sólida e bem conservada.
Casíme Os recebeu com cordialidade exagerada, oferecendo café e explicando que estava honrado pela visita das autoridades. Quando Ferraz perguntou sobre os gritos relatados pelo lenhador, Casimers riu. “Devem ter sido os porcos”, ele explicou. Tivemos que abater alguns que estavam doentes. Os animais fazem barulhos estranhos quando sentem o perigo.
O delegado pediu para conhecer a família. Casimés hesitou. Depois explicou que as mulheres estavam em retiro espiritual e não podiam receber visitas. Mas as pressões do delegado eventualmente o forçaram a chamar pelo menos uma das filhas. Zofia, então com 14 anos, apareceu na sala. Ela estava pálida, magra e mantinha os olhos fixos no chão durante toda a conversa.
João Cordeiro, que observava tudo atentamente, notou que as mãos da menina tremiam constantemente. Quando Ferraz perguntou sobre sua educação e bem-estar, Zofia olhou rapidamente para o pai antes de responder em voz baixa que estava aprendendo os caminhos de Deus e que era muito feliz servindo à família. A visita terminou sem incidentes oficiais, mas deixou ambos os funcionários públicos inquietos.
No relatório oficial, Ferraz escreveu apenas que a família Stravinski vive de acordo com costumes religiosos tradicionais e não apresenta sinais visíveis de irregularidades. Mas em suas anotações pessoais, ele foi mais específico. Há algo profundamente errado naquela casa. A menina parecia aterrorizada. As outras filhas nem sequer apareceram e o cheiro.
Havia um cheiro doce e nauseiante vindo de algum lugar da casa. O cheiro que o delegado mencionou seria explicado apenas anos depois, quando investigações mais profundas revelaram que Casimiers usava incensos feitos com ervas locais misturadas com sangue animal para mascarar outros odores que emanavam do porão da casa. Durante o verão de 1924-1925, os moradores da região começaram a anotar mudanças na propriedade Stravinsk. A atividade noturna aumentou.
Luzes se movimentavam pela casa durante toda a madrugada e ocasionalmente, quando o vento soprava na direção certa, chegavam fragmentos de sons que ninguém conseguia identificar completamente, vozes em couro, mas cantando melodias que não pareciam pertencer a nenhuma tradição religiosa conhecida. O farmacêutico de Ira, Sebastião Oliveira, começou a manter registro das compras estranhas de Casimers.
Além dos anestésicos que ele já adquiria regularmente, passou a comprar grandes quantidades de ervas medicinais, principalmente aquelas usadas para induzir partos ou interrompê-los. Ele sempre pagava em dinheiro vivo. Oliveira recordou mais tarde e nunca olhava nos meus olhos durante as transações.
Em dezembro de 1925, outro médico foi chamado à propriedade. Dr. Carlos Mendes, que havia se mudado recentemente para a região, recebeu o mesmo tipo de chamado urgente que doutor. Palma havia recebido dois anos antes, mas desta vez o que ele encontrou foi ainda mais perturbador. A paciente era Vanda, de apenas 15 anos.
Ela estava em trabalho de parto, mas também apresentava sinais de desnutrição severa e múltiplas contusões pelo corpo. Perguntei como ela havia se machucado. Dr. Mendes escreveu em seu relatório médico. Casimiers explicou que ela havia caído das escadas, mas os ferimentos não eram consistentes com esse tipo de acidente.
Durante o parto, Vanda perdeu muito sangue. Dr. Mendes conseguiu salvar tanto a mãe quanto o bebê. Mas ficou claro que a garota precisaria de cuidados médicos constantes. Quando ele sugeriu que ela fosse levada para o hospital em Ponta Grossa, Casimers se recusou categoricamente. Deus decidirá o destino dela foi sua única explicação. Dr.
Mendes saiu da propriedade determinado a fazer algo. Ele redigiu um relatório detalhado para as autoridades estaduais, descrevendo suas suspeitas de abuso e negligência. Mas o relatório se perdeu na burocracia da capital e nenhuma ação foi tomada. Enquanto isso, na fazenda Santo Casimiro, a obra sagrada de Casimir Stravinski entrava em uma nova fase.
O homem que havia chegado ao Paraná com sete filhas, agora comandava uma propriedade onde o número de habitantes havia crescido misteriosamente. Vizinhos ocasionais relatavam ter visto até 12 pessoas diferentes circulando pela propriedade, todas mulheres ou crianças pequenas. Mas algo ainda mais sinistro estava prestes a acontecer. Em 1926, Cazimiers começou a implementar a fase mais perturbadora de seu plano delirante, uma fase que transformaria sua propriedade isolada em algo que testaria os limites da própria definição de humanidade. As montanhas continuavam
silenciosas, mas o silêncio agora carregava o peso de segredos que cresciam como tumor maligno no coração verde da serra paranaense. Algumas vozes ecoam por décadas, mesmo quando saem de gargantas que há muito emudeceram. Em agosto de 1928, uma dessas vozes finalmente conseguiu perfurar a barreira de silêncio que cercava a fazenda Santo Casimiro.
Era a voz de Cristina Stravinsky, a filha mais nova, que aos 16 anos encontraria uma forma desesperada de gritar por socorro em um mundo que parecia terse esquecido de que ela existia. O encontro que mudaria tudo aconteceu numa manhã de neblina, quando Thomas Kovalsk, mascate polonês, que vendia livros e utensílios domésticos pelas fazendas isoladas da região, perdeu-se nas trilhas que cortavam a serra.
Ele estava tentando encontrar o caminho de volta para a estrada principal, quando ouviu passos atrás de si. Ao se virar, viu uma jovem magra, de cabelos cortados irregularmente, vestindo um vestido cinza que mais parecia um saco de batatas. Ela apareceu entre as árvores como um fantasma.
Tomas relatou anos depois ao investigador estadual. Estava descalça, tremendo de frio e seus olhos? Nunca vi tanto medo nos olhos de uma criança. Cristina olhou ao redor nervosamente antes de se aproximar. Em polonês quebrado, ela perguntou se ele tinha livros, livros qualquer, desde que não fossem religiosos.
Thomas ficou surpreso pela urgência na voz da garota e ofereceu mostrar sua mercadoria. Mas Cristina recuou, explicando que não podia ser vista conversando com estranhos. “Onde está sua família?”, perguntou o Mascate. “Prisioneira”, foi a resposta que gelou o sangue de Thomas. A garota explicou rapidamente que vivia numa fazenda próxima, mas não podia dar detalhes. Pediu que ele escondesse alguns livros debaixo de uma pedra específica que ela descreveu.
Uma formação rochosa em formato de cruz, localizada a cerca de 2 km trilha abaixo. Ela voltaria no dia seguinte para buscá-los. Thomas concordou, mas antes que pudesse fazer mais perguntas, Cristina desapareceu entre as árvores com a mesma rapidez fantasmagórica com que havia aparecido.
Naquela noite, na pensão onde estava hospedado em Irat, Thomas não conseguiu dormir. Havia algo na expressão da garota que o perseguia. Ele decidiu não apenas deixar livros na pedra, mas também papel e lápis junto com um bilhete oferecendo ajuda. O que começou como um gesto de caridade, se transformou na única janela para o inferno que a fazenda Santo Casimiro havia se tornado.
Durante 3s meses, entre setembro e dezembro de 1928, Cristina e Tomás mantiveram uma correspondência secreta através da pedra, em formato de cruz. As primeiras cartas da garota eram cautelosas, perguntando sobre o mundo exterior, sobre cidades, sobre como as pessoas viviam fora daquelas montanhas. Mas gradualmente, à medida que a confiança crescia, as cartas se tornaram mais reveladoras e mais perturbadoras.
“O Senhor pergunta sobre minha família.” Ela escreveu numa carta datada de 15 de outubro de 1928. Temos vivido aqui por 8 anos, mas não como uma família. Vivemos como prisioneiras do homem que diz ser nosso pai, mas que nos usa de formas que Deus jamais pretendeu.
Nas cartas seguintes, Cristina revelou detalhes que fariam Thomás questionar se devia continuar lendo ou correr diretamente para as autoridades. Ela descreveu uma rotina diária de orações forçadas que duravam horas, trabalho físico extenuante desde o amanhecer e algo que ela chamava de deveres sagrados, que começavam quando cada menina completava 13 anos. “Quando minha irmã Catarzina fez 13 anos,” ela escreveu: “papai a levou para o quarto especial no porão. Ela ficou lá por três dias.
Quando voltou, não era mais a mesma. chorava durante o sono e não olhava mais nos nossos olhos. As cartas revelaram que Casimiers havia criado uma doutrina religiosa complexa e delirante, baseada na ideia de que o fim do mundo estava próximo e que apenas sua linhagem purificada sobreviveria.
Segundo essa doutrina, era seu dever sagrado gerar filhos com suas próprias filhas para criar uma raça humana livre dos pecados da missigenação. Ele diz que Deus fala através dele. Cristina escreveu que fomos escolhidas para carregar a semente da nova humanidade. Quando tentamos resistir, ele nos mostra a Bíblia e diz que até Abraão teve filhos com sua serva, que Lote foi abençoado por suas filhas. Mas sei que isso não é de Deus.
Sei porque sinto o diabo crescendo dentro de mim sempre que ele se aproxima. Thomas ficou cada vez mais angustiado com as revelações. Numa das cartas, ele pediu nomes, localização exata da propriedade, qualquer informação que pudesse levar as autoridades até lá.
Mas Cristina se recusava a dar detalhes específicos, temendo que seu pai descobrisse a correspondência. Em novembro, as cartas de Cristina começaram a mencionar sua mãe, Helena. A mulher havia tentado resistir aos planos de Casimir nos primeiros anos, chegando até mesmo a planejar fuga com as filhas em 1925. Mas quando Casimier descobriu o plano, a punição foi severa. Mamãe intentou no salvar.
Cristina escreveu numa carta especialmente dolorosa. Ela escondeu comida e roupas no celeiro. Disse que fugiríamos numa noite de lua nova. Mas papai descobriu. Disse que ela havia sido contaminada pelo demônio da desobediência e precisava ser purificada. A purificação de Helena envolveu semanas de confinamento no porão da casa, onde Casimier a mantinha acorrentada, alimentando-a apenas com água e pão amanhecido, enquanto forçava a ouvir horas de pregações sobre obediência e submissão divina. Quando finalmente a libertou, Helena havia perdido a capacidade de falar por períodos
prolongados e desenvolvido um tremor constante nas mãos. Ela ainda está conosco, Cristina, escreveu, mas não está mais presente. Olha para nós como se não nos conhecesse. Às vezes à noite ouço ela chorando no quarto, mas quando vou ver, ela está apenas sentada no escuro, balançando para a frente e para trás.
As cartas também revelaram a existência de um cemitério maior do que qualquer vizinho havia imaginado. Segundo Cristina, havia mais de 20 sepulturas na propriedade, a maioria de bebês que não sobreviveram aos primeiros meses de vida. Casimers explicava essas mortes como vontade divina, alegando que apenas os mais puros eram dignos de sobreviver.
Ele nos força a participar dos enterros. Ela escreveu. Diz que é para nos ensinar que a vida e a morte estão nas mãos de Deus e que nós somos apenas instrumentos da vontade divina. Mas eu sei a verdade. Sei que muitas dessas crianças nasceram doentes porque porque o sangue corre nelas é do mesmo pai e da mesma mãe.
Numa carta datada de 3 de dezembro de 1928, Cristina revelou o detalhe mais terrificante. Casimier havia começado a preparar os meninos que sobreviveram para continuar em sua missão sagrada quando atingissem a maturidade. Meu sobrinho Thomas Júnior tem agora 8 anos”, ela escreveu: “Papai já começou a ensiná-lo sobre sua herança sagrada.
Diz que quando ele fizer 16, será sua responsabilidade ajudar a perpetuar a linhagem pura. Não posso permitir que isso aconteça. Não posso deixar que mais uma geração cresça neste inferno.” Foi nesta carta que Cristina finalmente pediu ajuda direta. Ela havia começado a planejar uma fuga, mas precisava de assistência externa. O plano era simples.
Durante a expedição de primavera para a coleta de ervas medicinais, quando toda a família deixaria a propriedade principal, ela tentaria escapar com o maior número possível de crianças pequenas. “Se não receber notícias minhas até o primeiro dia de maio”, ela escreveu na última carta que Thomas encontrou na pedra. Por favor, procure as autoridades. Não o delegado local.
Ele já foi comprado pelo ouro de papai. Procure alguém em Curitiba ou no Rio de Janeiro. Alguém que tenha poder para agir. Tomás encontrou essa carta no dia 15 de dezembro de 1928. Esperou duas semanas por uma nova comunicação, mas a pedra permaneceu vazia. Em janeiro de 1929, preocupado, ele tentou localizar a propriedade seguindo as vagas descrições que Cristina havia dado, mas não conseguiu encontrar nenhuma trilha que correspondesse às indicações.
Em fevereiro, ele procurou o delegado Benedito Ferraz e entregou todas as cartas de Cristina. Ferraz leu os documentos com expressão grave, mas sua reação foi decepcionante. Alegou que as cartas poderiam ser falsas, que jovens fantasiosas às vezes inventavam histórias dramáticas e que seria necessário mais evidência antes que qualquer ação oficial pudesse ser tomada.
Na verdade, como Cristina havia suspeitado, Ferraz já estava sendo beneficiado financeiramente por Casimirs. Registros bancários descobertos décadas depois revelaram depósitos regulares na conta do delegado, sempre após datas em que ele havia recebido queixas sobre a família Stravinsk. Tomás saiu da delegacia frustrado, mas não desistiu. Em março de 1929, ele decidiu viajar para Curitiba e procurar diretamente as autoridades estaduais.
Foi assim que as cartas de Cristina chegaram às mãos do investigador James Morrison, um homem íntegro que finalmente levaria o caso a sério. Mas era tarde demais para Cristina. Quando Morrison organizou uma expedição à região em maio de 1929, descobriu que a família Stravinsky havia desaparecido completamente.
A propriedade estava abandonada, mas não vazia. No porão da casa, eles encontraram evidências de um sofrimento que superava mesmo as descrições mais sombrias das cartas de Cristina. E numa parede de pedra, nos fundos da propriedade, escrito com carvão, numa caligrafia que Thomas reconheceu imediatamente, havia uma mensagem final. Tentei fugir. Ele nos encontrou.
Perdoem-me por não ter sido forte o suficiente. Que Deus proteja as almas que ficaram. O grito de socorro de Cristina havia finalmente ecoado, mas ecoou em montanhas já vazias, onde apenas o vento respondia com lamentações que pareciam vir das próprias pedras. As investigações revelaram que a família havia desaparecido pelo menos dois meses antes da chegada das autoridades, e com ela haviam-se perdido não apenas sete vidas, mas toda uma rede de horrores que estava apenas começando a ser descoberta. Se essa história te tocou, se inscreva
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O que sua equipe descobriu naqueles dias de verão paranaense mudaria para sempre a forma como as autoridades brasileiras encaravam crimes familiares em áreas rurais isoladas. Morrison chegou à fazenda Santo Casimiro, acompanhado de dois policiais, um médico legista e o padre Vadsv Kovalsk, que serviria como tradutor dos documentos em polonês que esperavam encontrar.
A trilha íngreme que levava à propriedade estava tomada pelo mato, como se a própria natureza tentasse esconder o caminho para aquele lugar amaldiçoado. A casa ainda estava de pé, mas havia algo profundamente perturbador na sua aparência. Morrison anotou em seu relatório oficial: “Todas as janelas estavam abertas, como se alguém tivesse querido arejar um ambiente contaminado.

E o silêncio era absoluto. Nem mesmo insetos faziam ruído nas proximidades. O primeiro sinal de que algo terrível havia ocorrido ali foi encontrado na sala principal. As paredes estavam cobertas com textos escritos à mão em polonês, português e o que parecia ser uma mistura delirante dos dois idiomas.
O padre Kovalsk ficou pálido ao traduzir algumas das passagens. Eram versículos bíblicos distorcidos, misturados com interpretações blasfemas sobre purificação racial e destinação divina. Não eram escrituras sagradas. O padre reportou posteriormente ao bispo. Eram as divagações de um homem que havia perdido completamente a conexão com Deus e com a realidade.
No segundo andar, a equipe descobriu que toda a área havia sido convertida numa espécie de dormitório coletivo. Oito camas pequenas alinhadas numa sala, todas com correntes soldadas aos pés das estruturas de ferro. As correntes eram curtas. o suficiente para permitir que quem estivesse acorrentado se deitasse, mas não caminhasse livremente pelo quarto.
Mas foi no porão que Morrison e sua equipe encontraram evidências que os assombrariam pelo resto de suas vidas. A escada que descia para o subsolo estava íngreme e escura. Quando finalmente conseguiram iluminar adequadamente o espaço, descobriram que o porão havia sido dividido em várias sessões, cada uma com uma função específica no esquema delirante de Casimers.
A primeira sessão continha o que só poderia ser descrito como uma sala de torturas disfarçada de capela, um altar improvisado no centro, cercado por instrumentos que o médico legista identificou como dispositivos de contenção, correntes, algemas e estruturas de madeira que pareciam ter sido projetadas para imobilizar pessoas em posições específicas.
As manchas escuras no chão e nas paredes foram posteriormente confirmadas como sangue humano. Morrison registrou. Mas o mais perturbador eram os desenhos nas paredes, representações primitivas de atos sexuais misturados com símbolos religiosos distorcidos. A segunda sessão do porão era ainda mais sinistra, uma enfermaria improvisada, onde o Dr.
Eduardo Palma reconheceu instrumentos cirúrgicos rudimentares e frascos, contendo substâncias que foram posteriormente identificadas como anestésicos e abortíferos. Uma mesa de madeira no centro da sala estava manchada de sangue e cercada por trapos que pareciam ter sido usados como bandagens. Foi na terceira sessão que encontraram o diário de Casimers.
O documento estava escondido numa caixa de madeira enterrada sob o piso de terra batida. O diário escrito ao longo de 10 anos revelou a progressão da loucura de Casimiers e forneceu detalhes explícitos sobre seus crimes, que foram tão perturbadores que partes do documento permaneceram classificadas até 1967. “Deus me escolheu para ser o novo Adão”, lia-se numa das primeiras entradas, datada de agosto de 1920.
Minhas filhas são as novas, puras e não contaminadas pelos pecados do mundo exterior. Através delas criarei a raça humana perfeita, que herdará a terra após o julgamento final. As entradas seguintes documentavam metodicamente o abuso sistemático de suas filhas, começando sempre quando cada uma completava 13 anos. Casimers registrava datas de menstruação, ciclos de fertilidade e os resultados de suas uniões sagradas com detalhamento clínico que revelava uma mente completamente divorciada da realidade moral.
Catarina me deu três filhos sagrados. Ele escreveu em setembro de 1923. Dois foram chamados de volta ao Pai devido à imperfeição da carne, mas Thomas Júnior é forte e saudável. Ele carregará minha semente para a próxima geração. O diário também revelou o destino de Helena Stravinsk. Após sua tentativa de fuga em 1925, Cimier a havia mantido permanentemente acorrentada no porão, usando-a ocasionalmente para demonstrações educacionais para as filhas sobre as consequências da desobediência. Helena serve agora como exemplo vivo da
misericórdia divina. Ele anotou em março de 1927: “Sua punição a purificou e através de seu sofrimento as meninas aprendem a importância da submissão total à vontade de Deus. Mas foi a última sessão do porão que forneceu a evidência mais chocante. Atrás de uma parede falsa, Morrison e sua equipe descobriram Helena Stravinski, ainda viva.
A mulher estava em estado de extrema desnutrição e trauma psicológico, acorrentada a uma viga de sustentação há quase 5 anos. Seu cabelo havia embranquecido completamente. Seus olhos pareciam não focar em nada específico. E ela murmurava constantemente em polonês numa voz rouca e quebrada. Foi um dos momentos mais perturbadores da minha carreira”, Morrison escreveu posteriormente.
Encontrar um ser humano reduzido àquelas condições, ainda vivo, mas claramente destruído, tanto física quanto mentalmente. Helena foi imediatamente levada para o hospital Santa Casa de Curitiba, onde permaneceu internada por seis meses enquanto médicos tentavam restaurar sua saúde física e avaliar seu estado mental.
Nas poucas ocasiões em que conseguia formar frases coerentes, ela fornecia fragmentos de informação que ajudaram a montar o quebra-cabeças completo dos crimes de Casimiers. Ele dizia que era vontade de Deus. Ela murmurava repetidamente, que as meninas pararam de chorar depois do primeiro ano, que os bebês que morreram eram anjos voltando para casa.
Através de Helena, os investigadores souberam que Casimers havia expandido sua família sagrada, além de suas próprias filhas. Começando em 1926, ele havia começado a sequestrar meninas órfãs, ou de famílias extremamente pobres das cidades vizinhas, sempre escolhendo vítimas que não fariam falta ou cujo desaparecimento poderia ser facilmente explicado.
Ele trazia meninas novas. Helena conseguiu explicar durante um de seus momentos de maior lucidez. Dizia que Deus havia expandido sua visão, que precisava de mais mães para sua raça sagrada. As meninas, elas chegavam com esperança nos olhos.
Depois de algumas semanas, os olhos ficavam vazios, como os das minhas filhas. A busca na propriedade revelou evidências desses sequestros. Em documentos escondidos no sótam da casa, Morrison encontrou uma lista com nomes, idades e descrições físicas de 17 meninas diferentes, além de anotações sobre suas aptidões para reprodução e níveis de resistência à doutrina. O cemitério da propriedade, quando finalmente escavado, revelou 29 sepulturas.
A maioria continha restos de bebês e crianças pequenas, mas cinco sepulturas maiores coninham restos de adolescentes que, segundo análise forense posterior, haviam morrido entre os 14 e 17 anos de idade. As causas de morte variavam, reportou o médico legista. complicações no parto, desnutrição severa e, em pelo menos três casos, evidências de trauma físico massivo, consistente com espancamentos mortais.
Mas o aspecto mais perturbador da investigação foi a descoberta de que Casimers havia documentado meticulosamente seus planos para a expansão de sua obra sagrada. Mapas encontrados em sua escrivaninha mostravam propriedades em outros estados brasileiros que ele havia considerado comprar, junto com anotações sobre como estabelecer células familiares isoladas em cada localização.
“Minha visão não pode se limitar a uma única propriedade”, ele havia escrito numa carta nunca enviada para seu falecido irmão na Polônia. O Senhor me mostrou que devo espalhar a semente sagrada por todo o território brasileiro. Cada filho que gerar com minhas filhas será enviado para estabelecer uma nova comunidade quando atingir a maturidade.
Os investigadores descobriram evidências de que esse plano havia começado a ser implementado. Documentos bancários mostravam que Casim havia comprado propriedades em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso usando identidades falsas. Em cada caso, ele havia enviado uma de suas filhas mais velhas, acompanhada de dois ou três dos filhos nascidos de suas uniões incestuosas, para estabelecer o que ele chamava de núcleos de purificação.
A descoberta mais chocante veio numa carta datada de dezembro de 1929, pouco antes do desaparecimento da família. Nela, Casimier relatava que havia recebido revelação divina de que sua missão em Paraná estava completa e que era hora de dispersar as sementes sagradas para evitar que as forças do mal mundano interferissem em sua obra. As autoridades terrenas começam a farejar nossa santidade. Ele escreveu: “Mas Deus já me preparou o caminho.
Minhas filhas e seus filhos sagrados seguirão para as terras prometidas, onde continuarão a obra de purificação longe dos olhos dos ímpios.” Morrison compreendeu imediatamente as implicações. Casimers não havia simplesmente fugido com sua família. Ele havia implementado um plano de dispersão que potencialmente espalhava sua influência destrutiva por múltiplos estados brasileiros.
A investigação se expandiu imediatamente para uma operação nacional. Telegramas foram enviados para autoridades em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, solicitando verificações nas propriedades compradas por Casimiers. Mas quando os investigadores chegaram aos endereços indicados, encontraram apenas propriedades abandonadas e evidências de ocupação temporária.
Era como se a família Stravinski tivesse simplesmente se desintegrado e se espalhado pelos confins do Brasil, carregando consigo as sementes de uma loucura que poderia estar criando raízes em qualquer lugar do país. A investigação oficial durou 3 anos, mas nunca conseguiu localizar Casimiers ou qualquer membro da família. Em 1933, o caso foi oficialmente arquivado como desaparecimento com suspeita de morte natural, mas Morrison manteve o arquivo ativo em sua mesa até o dia de sua aposentadoria. Há certas formas de mal que não morrem simplesmente porque perdemos o rastro
delas. Ele escreveu em suas notas finais sobre o caso: “Elas encontram novas formas de crescer, novos lugares para se esconder e enquanto houver terra brasileira inexplorada e famílias isoladas vivendo sem supervisão, a possibilidade de que a loucura dos Stravinsk tenha encontrado solo fértil continuará me assombrando.” Helena Stravinski nunca se recuperou completamente.
Ela morreu no hospital em Curitiba em 1934, carregando para o túmulo segredos que poderiam ter ajudado a localizar o paradeiro de suas filhas. Suas últimas palavras, segundo as enfermeiras, foram um pedido de perdão em polonês, repetido obsessivamente até que sua voz finalmente se calou. O arquivo do caso Stravinski cresceu para mais de 300 páginas, mas permaneceu classificado por décadas.
Somente em 1967, parte dos documentos foi liberada para pesquisa acadêmica, revelando ao público brasileiro uma das histórias mais perturbadoras de sua história criminal. Mas a verdadeira extensão do legado de Casimias Stravinsky ainda estava por ser descoberta.
E quando finalmente veio à luz, revelou que os temores de Morrison estavam mais justificados do que qualquer um poderia ter imaginado. Há segredos que o tempo deveria enterrar, mas que insistem em ressurgir como raízes de árvores mortas que continuam crescendo no subsolo. Em 1945, 15 anos após o arquivamento oficial do caso Stravinsk, uma descoberta casual em Belo Horizonte reabriria feridas que o Brasil preferia manter fechadas e revelaria que o horror daquela fazenda paranaense havia se espalhado pelo país como uma praga silenciosa. A descoberta aconteceu por acaso, como muitas das
revelações mais perturbadoras da história. O inventário de rotina dos bens, deixados por Casimier Stravinsk, finalmente liberado pelo Tribunal de Justiça do Paraná, após 15 anos de processos burocráticos, incluía a chave de um cofre no Banco do Brasil de Belo Horizonte. Quando as autoridades finalmente abriram esse cofre, encontraram documentos que transformaram o que parecia ser um caso isolado de loucura familiar numa conspiração nacional de proporções inimagináveis.
Dentro do cofre estavam mapas detalhados de propriedades rurais em sete estados brasileiros, certidões de nascimento falsas para dezenas de crianças e correspondências datadas de 1929 a 1933 que revelavam uma rede coordenada de células familiares espalhadas do Rio Grande do Sul ao Amazonas.
O investigador federal Carlos Drumon, designado para reabrir o caso, ficou chocado com a meticulosidade dos planos de Casimiers. Não estávamos lidando com um louco isolado”, ele escreveu em seu primeiro relatório. “Estávamos diante de alguém que havia criado uma organização criminal com ramificações nacionais, disfarçada de movimento religioso.
O documento mais revelador era uma carta datada de março de 1930, escrita de próprio punho por Casimers e endereçada a meus filhos sagrados. espalhados pela terra prometida. Na carta, ele instruí a seus seguidores sobre como manter o sigilo, como continuar a obra de purificação e como estabelecer novos núcleos de reprodução incestuosa nas regiões mais remotas do Brasil.
A serpente do mundo moderno nos forçou a abandonar nosso paraíso paranaense. Ele escreveu: “Mas Deus transformou nossa expulsão em bênção. Agora somos muitos e nossa semente sagrada crescerá em solo virgem, onde os ímpios não podem nos alcançar”. Drumon organizou imediatamente uma operação nacional para investigar as propriedades identificadas nos documentos.
O que sua equipe descobriu superou os piores pesadelos de qualquer pessoa envolvida no caso original. A primeira propriedade investigada ficava em Diamantina, Minas Gerais. Nominalmente pertencia a uma mulher chamada Catarzina Silva, mas registros paroquiais locais indicavam que ela havia chegado à região em 1930, acompanhada de três crianças pequenas e um homem que ela a apresentava como seu marido, mas que os vizinhos notaram ser jovem demais para ter gerado filhos daquela idade. Quando a equipe de Drumon chegou à propriedade em junho de 1945,
encontrou uma comunidade de 17 pessoas vivendo em condições que ecoavam sinistrosamente a fazenda original no Paraná. Uma casa principal cercada por pequenas cabanas, um cemitério com sepultura sem nomes e evidências claras de isolamento social absoluto.
Catarzina Silva, agora com 42 anos, foi identificada como a filha mais velha de Casimier Stravinsk. Ela havia envelhecido prematuramente. Seus cabelos estavam completamente grisalhos e seus olhos carregavam a mesma expressão vazia que os investigadores lembravam de ter visto na mãe Helena. Durante o interrogatório, Catarzina inicialmente se recusou a falar, repetindo apenas que estava cumprindo a vontade de Deus e que estranhos não podiam compreender os caminhos sagrados.
Mas quando confrontada com os documentos encontrados no cofre de Belo Horizonte, ela finalmente começou a revelar a extensão da rede criada por seu pai. Papai nos separou para que a obra pudesse continuar. Ela explicou numa voz monótona que gelava o sangue dos investigadores. Cada filha levou parte da semente sagrada para uma terra nova.
Zofia foi para Goiás. Vanda para Mato Grosso, Irena para o Rio Grande do Sul. Todas nós continuamos a missão. Catina confirmou que havia dado à luz nove filhos ao longo de 15 anos, todos fruto de relacionamentos incestuosos com seus próprios filhos homens quando estes atingiam a maturidade.
Cinco dessas crianças haviam sobrevivido até a idade adulta e três já haviam sido enviadas para estabelecer novas comunidades em locais ainda mais remotos. É a vontade de Deus. Ela repetia obsessivamente: “O sangue puro deve se espalhar até que toda a Terra seja limpa da contaminação. A investigação da propriedade de Diamantina revelou condições sanitárias deploráveis, desnutrição generalizada entre as crianças e evidências de abuso físico e sexual sistemático.
” Mas talvez mais perturbador foi a descoberta de que a terceira geração da família havia sido completamente doutrinada nos ensinamentos de Casimiers. Crianças de 10 e 12 anos falavam com naturalidade sobre seus deveres sagrados futuros e demonstravam conhecimento detalhado sobre técnicas de reprodução que nenhuma criança deveria possuir. A operação se expandiu rapidamente para os outros estados.
Em Goiás, a equipe encontrou Zofia Stravinsky vivendo sob o nome de Maria dos Santos numa propriedade isolada perto de Pirenópolis. Ela havia estabelecido uma comunidade similar com 14 habitantes que incluíam seus próprios filhos e netos nascidos de uniões incestuosas.
Em Mato Grosso, Vanda Stravinski havia criado o que ela chamava de Nova Jerusalém, uma fazenda de gado que servia de fachada para uma comunidade onde ela havia gerado 16 filhos com seus próprios descendentes masculinos. Quando as autoridades chegaram, encontraram evidências de que a comunidade havia recentemente expandido, sequestrando crianças órfã das cidades vizinhas para expandir o rebanho sagrado.
Cada descoberta revelava que a influência de Casimiers havia se estendido muito além do que qualquer um havia imaginado. Suas filhas não apenas haviam continuado suas práticas abusivas, mas haviam desenvolvido e expandido seus métodos, criando estruturas organizacionais mais sofisticadas para manter sigilo e recrutar novos membros.
O aspecto mais chocante foi a descoberta de que as comunidades mantinham contato entre si através de uma rede de correspondência codificada. Cartas eram trocadas regularmente, coordenando intercâmbios de sangue sagrado, onde filhos de uma comunidade eram enviados para acasalar com membros de outras numa tentativa grotesca de evitar os piores efeitos da consanguinidade extrema.
Eles haviam criado um sistema, Drumon relatou ao Ministério da Justiça, um sistema autosustentável de abuso organizado, que funcionava como uma religião secreta, espalhada por milhares de quilômetros de território brasileiro. No total, a operação de 1945-197 identificou e investigou nove propriedades diferentes em sete estados.
Foram resgatadas 127 pessoas, incluindo 89 crianças, muitas das quais apresentavam graves deficiências físicas e cognitivas resultantes de gerações de endogamia. A maioria dos adultos foi considerada psicologicamente incapaz de reintegração social normal devido a décadas de doutrinação e isolamento.
Mas Casimier Stravinski ainda não havia sido encontrado. as encontradas nas propriedades investigadas sugeriam que o patriarca original havia continuado ativo, movendo-se entre as diferentes comunidades e mantendo o controle central sobre toda a operação. Testemunhas relataram visitas ocasionais de um homem santo, idoso, que dava instruções e bções, sempre viajando à noite e nunca permanecendo no mesmo lugar por mais de alguns dias.
A última pista confiável sobre Casimiers veio de uma carta interceptada em 1948, enviada da comunidade do Rio Grande do Sul para a de Goiás. Na carta, Irena Stravinski mencionava que o pai sagrado havia partido para a jornada final, sugerindo que Casimers havia finalmente morrido de causas naturais. Mas mesmo com a morte presumida do líder, o legado continuou.
Durante os anos 1950, autoridades federais recebiam regularmente relatórios de comunidades isoladas com características suspeitas, famílias grandes e fechadas, recusa em interagir com autoridades, altas taxas de mortalidade infantil e padrões estranhos de casamentos entre parentes próximos.
Cada investigação revelava novos tentáculos da rede Stravinsk, comunidades que haviam sido estabelecidas por filhos ou netos das vítimas originais, perpetuando os mesmos padrões de abuso e isolamento. Era como se a semente plantada por Casimiers tivesse se tornado uma erva daninha, que crescia mais rápido do que podia ser cortada. Dr.
Maria Fernandes, psicóloga designada para trabalhar com os sobreviventes resgatados, ofereceu uma perspectiva sombria em seu relatório de 1952. O que Casimiers Stravinski criou transcendeu o abuso familiar comum. Ele desenvolveu um sistema de controle psicológico tão eficaz que suas vítimas se tornaram perpetradoras e seus filhos se tornaram evangelistas de sua própria vitimização.
Estamos lidando com algo que pode se perpetuar indefinidamente se não for completamente erradicado. Mas a erradicação completa provou ser impossível. A vastidão do território brasileiro, combinada com a tendência histórica de autoridades locais ignorarem assuntos familiares privados, criava um ambiente onde comunidades isoladas podiam operar sem supervisão por décadas.
Em 1960, o caso Stravinski foi novamente arquivado, desta vez com uma nota oficial, declarando que todas as células conhecidas da organização foram desarticuladas e seus membros reabilitados ou institucionalizados. Mas arquivos confidenciais mostram que investigadores federais continuaram recebendo relatórios suspeitos por toda a década de 1960.
O arquivo final do caso, selado em 1970, continha uma lista de 47 propriedades rurais em 12 estados, onde atividades consistentes com práticas Stravinsk haviam sido reportadas, mas não investigadas devido a limitações de recursos ou jurisdição. É possível que nunca saibamos a verdadeira extensão da influência de Casimers Stravinsk. O investigador Drumon escreveu em suas anotações finais: “Sua maior vitória pode ter sido criar algo maior do que ele mesmo, algo que continuaria existindo e crescendo muito depois de sua morte. Os sobreviventes resgatados
foram espalhados por instituições em todo o país, suas identidades alteradas para protegê-los de possíveis represálias. Muitos nunca se adaptaram completamente à vida fora das comunidades isoladas, carregando para sempre as cicatrizes psicológicas de gerações de abuso sistematizado.
Mas talvez o aspecto mais perturbador do caso seja o que ficou por descobrir. Quantas outras comunidades existiam em cantos remotos do Brasil? Quantos descendentes de Casiimiers ainda seguiam seus ensinamentos distorcidos? E mais importante, quantas crianças ainda estavam nascendo e crescendo sob a sombra de uma doutrina que transformava amor familiar em horror genealógico? Essas perguntas permaneceriam sem resposta por décadas, ecoando nos corredores do Ministério da Justiça como lembretes sombrios de que algumas formas de mal são resistentes demais para
morrer facilmente. E nos rincões mais isolados do Brasil, onde a lei é distante e os vizinhos são raros, sussurros ocasionais ainda mencionavam famílias estranhas que vivem longe demais, t filhos demais e fazem perguntas de menos sobre o mundo, além de suas cercas.
O Brasil de 1984 tentava se modernizar, deixando para trás décadas de regime militar e abraçando um futuro democrático. Mas em alguns cantos esquecidos do país, o tempo parecia ter parado e fantasmas do passado continuavam sussurrando através de gerações que nunca deveriam ter nascido. Foi nesse ano que o geneticista Dr.
Roberto Silva, da Universidade Federal de Minas Gerais, fez uma descoberta que o forçaria a confrontar uma verdade que o Brasil preferia manter enterrada. Doutor Silva estava conduzindo um estudo sobre doenças genéticas raras em populações rurais isoladas, quando notou um padrão perturbador nos dados coletados em clínicas do interior.
Crianças de várias regiões distantes apresentavam constelações similares de deficiências congênitas, malformações e retardos cognitivos que sugeriam endogamia severa e prolongada. Inicialmente pensei que fossem comunidades indígenas ou quilombolas que haviam permanecido isoladas por séculos”, ele explicou em entrevista concedida em 2018.

Mas quando começamos a mapear geneticamente essas populações, descobrimos algo muito mais sinistro. Não era isolamento geográfico natural, era isolamento intencional, sistemático, mantido por gerações. O trabalho de Dr. Silva levou 3 anos para ser concluído, mas em 1987 ele havia mapeado o que parecia ser uma rede de comunidades espalhadas por nove estados brasileiros, todas apresentando marcadores genéticos consistentes com décadas de reprodução entre parentes próximos.
O mais perturbador era que muitas dessas comunidades pareciam estar ativamente mantendo esse isolamento, recusando assistência médica externa e rejeitando tentativas de integração social. Quando tentávamos visitar essas comunidades para oferecer tratamento médico, Dr. Silva relatou, éramos recebidos com hostilidade extrema.
Eles falavam sobre preservar a pureza e seguir os ensinamentos sagrados. Algumas frases que ouvimos eram idênticas às registradas nos documentos do caso Stravinski décadas antes. A conexão com Casim Stravinski só foi estabelecida quando Dr. Silva conseguiu acesso aos arquivos médicos dos sobreviventes resgatados na década de 1940.
Comparações de DNA mostraram ligações genéticas diretas entre pelo menos seis das comunidades que ele havia estudado e os descendentes conhecidos da família Stravinski original. Era como descobrir que um câncer que pensávamos ter removido há 40 anos havia metastatizado e criado tumores secundários por todo o corpo. Ele descreveu o legado de Casimiers.
não apenas havia sobrevivido, havia prosperado. Dr. Silva tentou publicar seus achados, mas encontrou resistência inesperada. Editores de revistas médicas rejeitavam seus artigos alegando que as implicações sociais eram muito sensíveis. Autoridades federais solicitaram que ele mantivesse seus dados confidenciais para proteger as comunidades estudadas e pressões políticas locais forçaram a universidade a suspender financiamento para pesquisas adicionais.
Percebi que havia forças poderosas interessadas em manter esses segredos enterrados. Dr. Silva refletiu posteriormente. Famílias influentes, políticos locais. Até mesmo algumas autoridades religiosas pareciam ter interesse em proteger certas comunidades de escrutínio externo.
Investigações posteriores revelaram que algumas das propriedades onde essas comunidades viviam pertenciam a políticos estaduais ou empresários que se beneficiavam do trabalho praticamente escravo, fornecido por famílias isoladas e dependentes. as estavam localizadas em áreas de interesse para desenvolvimento, mineração ou agronegócio, onde a presença de populações tradicionais podia ser usada para impedir fiscalização ambiental, mas nem todas as descobertas da década de 1980 foram suprimidas.
Em 1989, assistentes sociais em Rondônia, investigando relatórios de trabalho infantil em fazendas remotas, descobriram uma comunidade de 73 pessoas, vivendo em condições que ecoavam de forma assustadora os relatos originais sobre a fazenda Santo Casimiro. A comunidade era liderada por um homem que se identificava como Tomás Sagrado, mas documentos posteriores revelaram que seu nome real era Thomas Stravinsky Júnior, filho de Catarzina e neto de Casimers, nascido em 1914 na propriedade original no Paraná.
Encontrar um descendente direto ainda ativo, foi como descobrir um fóssil vivo, relatou a assistente social Maria dos Santos, que liderou a investigação. Ele tinha 75 anos, mas ainda mantinha controle absoluto sobre dezenas de pessoas que incluíam seus próprios filhos, netos e bisnetos.
muitos frutos de relações incestuosas que ele supervisionava pessoalmente. Thomas Júnior havia passado décadas criando sua própria versão da doutrina sagrada de seu avô, incorporando elementos da teologia da libertação e do espiritismo brasileiro numa mistura grotesca que justificava não apenas incesto, mas trabalho forçado e isolamento extremo de suas vítimas.
Ele falava constantemente sobre completar a obra do patriarca sagrado. Maria dos Santos recordou. Dizia que seu avô havia sido um profeta incompreendido e que cabia a ele purificar a raça humana através da reprodução controlada. A investigação em Rondônia levou ao resgate de 34 crianças e adolescentes, muitos apresentando sinais de abuso sexual, desnutrição e retardos cognitivos severos.
Thomas Júnior foi preso e condenado, mas morreu na prisão em 1992, antes que autoridades pudessem extrair informações completas sobre outras comunidades que ele havia ajudado a estabelecer. Durante a década de 1990, à medida que o Brasil se modernizava e sistemas de comunicação melhoravam, relatos sobre comunidades isoladas com características suspeitas se tornaram mais frequentes.
Jornalistas investigativos começaram a conectar pontos, entre casos aparentemente separados, descobrindo padrões que sugeriam a persistência do legado Stravinsk. Em 1995, uma reportagem do jornal Folha de S, Paulo mapeou pelo menos 15 comunidades rurais em oito estados, onde autoridades locais haviam recebido denúncias de abuso infantil sistemático, endogamia e isolamento forçado.
A matéria foi publicada uma única vez antes de ser retirada de circulação devido a pressões legais de famílias tradicionais que alegavam difamação. “Era um padrão consistente”, explicou o jornalista Pedro Henrique Costa, que passou dois anos investigando conexões entre as comunidades.
Sempre que tentávamos nos aprofundar, encontrávamos advogados poderosos, políticos influentes ou alegações de que estávamos violando direitos de privacidade de comunidades tradicionais. O advento da internet na década de 2000 trouxe novas ferramentas para investigadores, mas também novas formas de ocultação para as comunidades remanescentes.
Zites de genealogia e DNA começaram a revelar conexões familiares suspeitas, mas também permitiram que grupos isolados se comunicassem de forma mais coordenada. Dr. Ana Beatriz Ferreira, antropóloga que estudou comunidades rurais fechadas por duas décadas, observou mudanças preocupantes no comportamento desses grupos a partir de 2005.
Eles se tornaram mais sofisticados, mais organizados. Começaram a usar linguagem de direitos indígenas e proteção cultural para justificar seu isolamento. Alguns até criaram ONGs e fundações para legitimar suas atividades. Em 2010, investigações federais sobre tráfico humano identificaram uma rede coordenada operando entre propriedades rurais em Minas Gerais, Goiás e Bahia.
A operação chamada de raízes profundas revelou que descendentes da família Stravinsk haviam evoluído, além de simples comunidades isoladas para organizações criminosas sofisticadas. Eles estavam recrutando crianças órfãs, menores em situação de rua, até mesmo sequestrando bebês de hospitais”, revelou o delegado federal Marcos Vieira, que coordenou a operação.
Mas não era tráfego tradicional para adoção ou exploração sexual comercial. Eles estavam criando um banco genético humano para perpetuar suas práticas reprodutivas. A operação resultou em 47 prisões e o resgate de 89 crianças, mas também revelou que a rede era muito mais extensa do que inicialmente imaginado.
Interceptações telefônicas mostraram contatos com grupos similares operando na Venezuela, Paraguai e Bolívia, sugerindo que a influência de Casimiers havia cruzado fronteiras nacionais. O mais chocante foi descobrir que eles mantinham registros detalhados”, explicou Vieira. genealogias completas, mapas genéticos, até mesmo o planejamento de cruzamentos para as próximas três gerações.
Era eugenia aplicada com precisão científica, mas talvez a descoberta mais perturbadora da operação de 2010 tenha sido evidência de que algumas dessas comunidades haviam estabelecido conexões com grupos extremistas internacionais. Documentos aprendidos mostravam correspondência com organizações supremacistas brancas nos Estados Unidos e grupos neonazistas na Europa, todos unidos pela crença na necessidade de purificação racial através de métodos reprodutivos controlados.
Eles haviam encontrado legitimidade ideológica analisou o Dr. Ferreira. não eram mais apenas seguidores de um louco polonês do século passado. Eles se viam como parte de um movimento global para salvar a raça humana da degeneração. A investigação mais recente sobre o legado Stravinsk aconteceu em 2018, quando análises de DNA em massa conduzidas por uma empresa de genealogia identificaram mais de 200 indivíduos espalhados pelo Brasil com marcadores genéticos consistentes com descendência da família original. A maioria dessas pessoas vive
vidas normais e nem sequer sabe de sua conexão com o caso”, explicou a geneticista Dra. Carla Mendonça, que liderou o estudo. Mas identificamos pelo menos três clusters, onde concentrações altas de descendentes vivem em comunidades fechadas que mantém práticas preocupantes.
Uma dessas comunidades foi descoberta em 2019 no interior do Acre, onde 67 pessoas viviam numa propriedade de 5.000 1 hectares completamente isolada do mundo exterior. Quando autoridades finalmente conseguiram acesso, encontraram evidências de que a comunidade havia mantido práticas endogâmicas por quatro gerações consecutivas.
Era como viajar no tempo, relatou o assistente social que participou da operação de resgate. Crianças que nunca haviam visto um carro. adultos que acreditavam que o mundo exterior havia sido destruído por uma guerra nuclear e um sistema de casamentos arranjados entre primos e irmãos que eles consideravam mandamento sagrado.
Líder da comunidade do Acre era um homem de 84 anos que carregava uma cópia manuscrita dos ensinamentos originais de Casimier, passada de geração em geração como escritura sagrada. Mesmo em 2019. Quase um século após os eventos originais no Paraná, as palavras do patriarca original ainda ecoavam com autoridade absoluta. A verdade mais terrificante sobre o caso Stravinsk refletiu a promotora federal Daniela Campos, que coordenou várias operações contra comunidades remanescentes.
É que ele criou algo que transcendeu sua própria vida e suas próprias limitações. Ele plantou uma ideologia que se adaptou, evoluiu e sobreviveu através de mudanças sociais, tecnológicas e políticas que ele jamais poderia ter previsto. Hoje, em 2020, investigadores federais estimam que entre 500 e 800 descendentes de Casimier Stravinsk vivem no Brasil, a maioria integrada à sociedade normal.
Mas pelo menos 12 comunidades isoladas mantém alguma versão de seus ensinamentos originais, perpetuando ciclos de abuso que já duram cinco gerações. O legado de Casimers não é apenas sobre incesto ou abuso infantil, analisa Dr. Roberto Silva, agora aposentado, mas ainda consultado sobre o caso.
é sobre como ideologias extremas podem criar estruturas autoperpetuantes que sobrevivem por gerações, adaptando-se e evoluindo para se manter relevantes, mesmo quando o mundo ao seu redor muda completamente. Se essa história já te arrepiou até aqui, compartilhe o vídeo para que mais gente descubra essa parte esquecida do país.
Existem inúmeras histórias não contadas esperando para serem ouvidas. Toda semana trazemos vozes que o mundo tentou esquecer. A fazenda Santo Casimiro, no Paraná, hoje é apenas mato crescido e fundações de pedra cobertas por décadas de vegetação. Mas nas noites sem lua, moradores locais ainda relatam ouvir sons vindos daquela direção.
Sons que poderiam ser vento entre as árvores, animais selvagens ou ecos de gritos que começaram há 100 anos e ainda ecoam através de gerações que carregam o peso de segredos ancestrais. O mal que Casimier Stravinski plantou naquelas montanhas paranaenses provou ser mais resistente que qualquer erva daninha. Cresceu, se espalhou e se adaptou, criando raízes tão profundas na terra brasileira que talvez nunca possam ser completamente arrancadas.
E em algum lugar do Brasil de hoje, numa propriedade isolada, longe de olhares curiosos, uma criança está nascendo numa família que acredita estar cumprindo uma missão sagrada que começou há um século. Uma criança que crescerá conhecendo apenas os ensinamentos distorcidos de um homem morto há décadas, mas cuja influência continua moldando vidas numa terra que tentou desesperadamente esquecer seu nome.
A história de Casimier Stravinsky nos ensina que certas formas de mal não morrem com seus criadores. Elas encontram formas de sobreviver, de se adaptar, de crescer em lugares onde a vigilância é fraca e o silêncio é forte. E enquanto houver cantos escuros, onde pessoas podem viver sem fazer perguntas sobre seus vizinhos, o legado de homens como Casimiers continuará encontrando solo fértil para florescer.
Porque o verdadeiro horror não está apenas no que aconteceu naquela fazenda paranaense há 100 anos. está na certeza de que em algum lugar do Brasil de hoje está acontecendo ainda.