
Diana, com apenas dezasseis anos, segurava a barriga de seis meses com as duas mãos, numa tentativa desesperada de proteger o bebê de toda a escuridão que a cercava. As lágrimas escorriam, mas a sua voz quebrava-se não de fraqueza, mas de súplica e determinação.
“Por favor, pai, eu posso cuidar do meu bebé. Eu sei que posso”, sussurrava, olhando para Roberto, que mal conseguia encará-la. “Não me importo se vai ser difícil, eu vou trabalhar, vou estudar à noite, vou fazer qualquer coisa.”
Roberto, um homem esmagado pelo peso da fraqueza e da vergonha, mexeu as mãos nervosamente. Abriu a boca, mas o olhar da esposa, a madrasta de Diana, paralisou-o.
“Roberto, não sejas fraco agora”, disse a madrasta, caminhando pelo quarto, a voz cortante como vidro partido. “Sabes muito bem que não podemos deixar esta situação continuar. Uma criança que trouxe vergonha para esta família.” Ela parou diante de Diana. “Dezasseis anos e grávida. O que vão dizer na igreja? O que vão dizer os vizinhos?”
“Eu não me importo com o que vão dizer!”, gritou Diana. “Eu amo o meu bebé! Por favor, deixem-me ficar com ele!”
A madrasta riu, um som sem alegria. “Amor? Tu nem sabes o que é amor, miúda. És uma criança a brincar às bonecas.”
“Não é verdade!”, respondeu Diana, sentindo o bebé mexer-se. “Eu sinto-o mover-se. Eu falo com ele todas as noites!”
O pai finalmente ganhou coragem para falar, mas as palavras vieram envoltas em derrota.
“Diana, filha, talvez a tua madrasta tenha razão. Talvez seja melhor para o bebé ter uma família que lhe possa dar tudo o que precisa.”
“Eu posso dar amor!”, chorou Diana, ajoelhando-se no chão de mármore frio. “Posso dar muito amor!”
“Amor não paga contas, não compra comida, não paga o médico”, disse a madrasta, puxando-a. “Para de ser dramática, já está tudo decidido. Vais ter este bebé, vais entregá-lo a uma família de verdade e depois vais voltar para a escola como se nada tivesse acontecido.”
Diana olhou para o pai, a implorar com o olhar, mas ele baixou a cabeça, vencido.
“Pai, por favor”, suplicou ela pela última vez. “Não a deixes fazer isto comigo.”
“Diana, tu és muito nova. Um dia vais entender que fizemos isto porque te amamos”, disse Roberto, respirando fundo.
“Se me amassem, não fariam isto!”, respondeu Diana, a voz firme na dor. “Se me amassem, ajudavam-me a criar o meu filho.”
A madrasta aproximou-se, o rosto quase colado ao de Diana. “Escuta bem, miúda, não vamos carregar a vergonha de uma mãe solteira nesta casa. Esta história acaba aqui. Amanhã mesmo vais para casa da minha irmã. Lá ficas até o bebé nascer. Depois disso, nunca mais falamos neste assunto.”
Naquela noite, Diana fez as malas, o coração feito em pedaços. Falou com a barriga, prometendo ao bebé que daria um jeito. Mas, no fundo, sabia que a promessa era vã.
Seis anos passaram como uma névoa fria de dor. Diana tinha tentado esquecer, mas todas as noites, ao fechar os olhos, via o rosto do bebé que nunca conheceu. Disseram-lhe que a menina havia nascido prematura e não resistiu. Sem corpo para chorar, sem funeral, apenas um atestado de óbito guardado na gaveta, uma ferida que nunca sarava.
Foi então que Clarice, a meia-irmã, ligou.
“Tenho uma proposta para ti, Diana. Não queres vir para São Paulo? Terminar os teus estudos? O meu marido tem contactos na universidade. Podemos ajudar-te.”
Diana desconfiou, mas a solidão e a vida estagnada na pequena cidade eram um peso insuportável. Duas semanas depois, ela estava num autocarro para São Paulo, o coração hesitante.
A mansão de Clarice era um palácio de luxo. Mas Clarice guiou-a para um quartinho nos fundos, pequeno e simples.
“Não sejas boba, Diana, é só um quarto simples”, riu Clarice, um som que não chegava aos olhos. “Não vais passar muito tempo aqui, vais estar a estudar.”
Diana logo conheceu Otávio, o marido de Clarice, um homem elegante e gentil. E Maira, a sobrinha, a filha do casal. Maira, de seis anos, entrou na sala, parou e olhou para Diana com uma curiosidade imensa.
“Tu és a Diana?”
“Sou. E tu és a Maira?”
“Sou. Tu és bonita.”
A menina aninhou-se ao lado de Diana no sofá, como se a conhecesse há anos. Diana sentiu o coração aquecer pela primeira vez em muito tempo.
No dia seguinte, a mentira foi revelada. Clarice apareceu com um avental.
“Diana, preciso que me ajudes com a casa hoje. A empregada saiu.”
“Mas e a universidade?”
“Ah, sim, a universidade. Vamos resolver isso para a semana. Por agora, podes ajudar-me, não podes?”
Diana era a nova empregada. O seu sonho de estudar era a cobertura para a exploração.
O único alívio de Diana era Maira. A menina corria sempre para a cozinha, onde Diana limpava ou preparava o jantar.
“Diana, hoje na escola a professora contou uma história de uma menina que encontra a sua mãe de verdade”, disse Maira, animada. “Podes contar-me uma história também?”
“Claro que posso. Que tipo de história queres ouvir?”
“Uma história de uma menina que encontra a sua mãe de verdade”, pediu Maira. “Porque eu sonho, às vezes, que tenho outra mãe. Uma mãe que me abraça forte e canta para eu dormir.”
Antes que Diana pudesse responder, Clarice entrava, o rosto tenso, a proibir a conversa. “Tu estás aqui para trabalhar, não para seres a tia amiguinha da minha filha.” A raiva de Clarice era desproporcional.
A ligação entre Diana e Maira era irresistível. Maira procurava o carinho, e Diana dava-lhe o amor que guardava há seis anos. Uma tarde, enquanto faziam biscoitos às escondidas, Diana começou a cantar baixinho uma melodia que a sua avó lhe cantava.
“Eu gosto dessa música”, disse Maira. “Parece que já a ouvi antes.”
A raiva de Clarice explodiu ao descobrir a farinha espalhada.
“Você está a confundir a cabeça dela! Ela está a começar a tratar-te como se fosses da família!” gritou Clarice.
“Maira é minha sobrinha, Clarice!”
“É péssimo! Tu és a empregada, Diana! Empregada? Não és amiga, não és tia. Não és nada além de empregada!”
O medo nos olhos de Clarice era quase tão intenso quanto a sua raiva.
“Por que tens tanto medo que eu me aproxime da Maira, Clarice?”, perguntou Diana, sentindo que havia algo escondido.
A vida na mansão continuou tensa, até que, numa quinta-feira chuvosa, tudo mudou. Diana ouviu os gritos de Clarice. Maira estava com febre alta, quarenta graus. Otávio estava a viajar, e Clarice desabou em pânico, incapaz de agir.
“Fico com ela. Liga para um médico particular que venha cá!”, ordenou Diana.
Diana passou a noite ao lado da menina, fazendo compressas, cantando baixinho. Por volta das três da manhã, a febre baixou. Maira, meio a delirar, tocou o pescoço de Diana.
“É igual à minha”, sussurrou Maira, antes de voltar a adormecer.
Diana ficou curiosa. Levantou-se devagar e foi ao espelho do quarto. Olhou para a sua marca de nascença no pescoço, uma pequena marca em formato de lua. A sua avó dizia que vinha de família, só as mulheres a tinham, no mesmo lugar.
Diana voltou para a cama e afastou cuidadosamente o cabelo de Maira. O seu coração parou. Ali, no exato mesmo lugar, estava uma marca idêntica em formato de lua. Maira tinha seis anos. Diana havia sido forçada a entregar o seu bebé há exatos seis anos. O bebé que Clarice e a madrasta disseram ter morrido.
“Minha filha!”, sussurrou Diana, sentindo o mundo girar. A menina acordou e viu as lágrimas no rosto da empregada.
“Diana, por que estás a chorar?”
“Não é nada, meu amor. Volta a dormir. Não vou sair daqui, prometo.”
Naquela manhã, Diana esperou Clarice na cozinha.
“Clarice, preciso de conversar contigo agora. É sobre a Maira.”
“O que é que tem a Maira?”
“Ela tem a marca da minha família no pescoço”, disse Diana, sem tirar os olhos de Clarice.
O rosto de Clarice ficou pálido, e ela tentou negar, mas Diana bloqueou-lhe o caminho.
“Tu sabes exatamente do que estou a falar! A marca em formato de lua. A mesma que eu tenho, que a minha mãe tinha! Maira tem seis anos. Faz exatamente seis anos que tive uma filha que vocês disseram ter morrido!”
Clarice desabou. Sentou-se e cobriu o rosto.
“Não foi assim que aconteceu. Eu não podia ter filhos, Diana. Tentamos por anos. O nosso casamento estava a acabar. Quando a minha mãe me contou o plano… eu pensei que era a solução perfeita.”
“O plano de roubar a minha filha e forjar a certidão de óbito?”, a voz de Diana era um sussurro de fúria.
“Não foi roubar! Tu eras uma criança! Como ias criar um bebé sozinha? Maira tem uma boa vida aqui! Tem estabilidade, segurança, um pai que a ama!”
“E uma mãe de verdade que foi roubada dela!”, gritou Diana. “Você falsificou documentos! Fizeram-me acreditar que a minha filha estava morta por seis anos!”
Clarice levantou-se e tentou chantageá-la.
“Se contares isto a alguém, vais destruir a vida da Maira! Ela conhece Otávio como pai, conhece-me como mãe. Vais confundir a cabeça dela, vais destruir a família dela! O que é melhor para ela, Diana? Uma mentira que a deixa feliz ou a verdade no teu quartinho de empregada?”
Diana ficou em silêncio. Maira descia a escada para o pequeno-almoço.
“Eu prometo que vou pensar”, disse Diana a Clarice, “mas não prometo mais nada além disso.”
Duas semanas se passaram na tensão, até que Diana decidiu que Maira precisava da verdade.
“Pensei, e decidi que Maira precisa de saber a verdade”, disse Diana a Clarice, numa tarde.
“Quando?”
“Quando eu encontrar o momento certo. Talvez hoje à noite, quando o Otávio voltar.”
Clarice, com um sorriso frio e cruel, respondeu: “Está bem. Se é assim que tu queres, então é assim que vai ser.”
No final da tarde, Otávio não encontrava o seu relógio de ouro. Clarice, estranhamente calma, “ajudou” a procurar.
“Diana?”, chamou Otávio, a voz séria. Clarice estava no quarto de Diana, segurando a bolsa da empregada. “A Clarice encontrou o meu relógio na tua bolsa.”
“Não peguei esse relógio! Alguém o pôs na minha bolsa!”, gritou Diana, sentindo o pânico.
“Ela está claramente desequilibrada”, disse Clarice, a voz controlada. “Primeiro rouba, depois inventa que a minha filha é dela. Eu não queria contar, Otávio, mas ela anda a espalhar histórias malucas sobre a Maira.”
“Ela disse que Maira é filha dela?”, perguntou Otávio, surpreso.
Diana viu o sorriso vitorioso de Clarice. Havia sido encurralada.
“Acho melhor fazeres as tuas malas”, disse Otávio, com a voz fria. “Não posso ter alguém em quem não confio a cuidar da minha casa, da minha família.”
Diana saiu com o coração despedaçado, perdendo a chance de revelar a verdade, expulsa da casa da sua filha. Mas ao sair, Maira correu até à porta.
“Diana, eu amo-te!”, gritou a menina.
“Eu também te amo, meu amor. Muito.”
Otávio não conseguia tirar a cena da cabeça. A calma de Clarice, a dor de Diana. Maira, por sua vez, disse-lhe que o afeto de Diana “era diferente”, que a mãe a abraçava “porque tem que abraçar”, mas Diana a abraçava “porque queria abraçar.”
Intrigado e desconfiado, Otávio tomou uma decisão: ia investigar.
Duas semanas depois, Otávio voltou para casa com um envelope na mão, após ter recolhido discretamente amostras de ADN de Maira e Diana. Encontrou as duas mulheres na sala, com Clarice a expulsar Diana, que tinha voltado para tentar contar a verdade.
“Clarice”, disse Otávio, caminhando para o centro da sala. “São os resultados que tu estás à espera há tanto tempo.”
“O que é isso?”, perguntou Clarice, notando o envelope.
“Abre”, ordenou Otávio.
Clarice abriu o envelope, tirou o papel e leu. “Compatibilidade genética entre Diana Santos e Maira Santos. 99.9%.” A sua voz falhou, e o papel caiu no chão.
“Está certo. E tu sabes que está”, disse Otávio, a sua voz fria como gelo.
Clarice desabou, confessando o plano, o medo de perder o marido, a farsa.
“Você me fez acreditar que éramos pais biológicos da Maira!”, gritou Otávio.
“Eu salvei-a! Diana era uma adolescente!”
“Você roubou uma criança à mãe verdadeira!”, respondeu Diana, a pegar o papel do chão, as lágrimas a caírem sobre o resultado.
“Clarice, o que fizeste é crime”, disse Otávio. “Tens uma hora para fazer as malas e sair desta casa. Maira precisa da mãe verdadeira dela”, disse, olhando para Diana.
Clarice implorou, mas Otávio estava implacável.
“Para mim, este exame não muda nada sobre o que sinto por Maira”, disse Otávio a Diana. “Ela é minha filha, eu criei-a, eu amo-a. Você também foi enganada. Nós vamos criá-la juntos, como deveria ter sido desde o começo.”
Quando Maira voltou da escola, encontrou Diana no jardim. Clarice havia partido.
“Diana! Voltaste! E desta vez eu nunca mais vou embora”, disse Maira, correndo para os braços da mãe.
Nas semanas seguintes, a mansão ficou mais leve. Diana não estava mais no quartinho de empregada, mas ao lado da sua filha. Otávio e Diana construíram uma amizade verdadeira e um companheirismo focado no bem-estar de Maira.
Maira, ao entender que tinha duas mães, aceitou a verdade com a simplicidade da infância.
“Diana, tu és a minha mãe de verdade, não és?”, perguntou Maira, um dia, aninhada no colo de Diana.
“Sou, sim, meu amor. E amo-te mais do que tudo no mundo.”
Otávio apareceu no jardim, observando a cena.
“Somos uma família, Diana. Uma família diferente, mas uma família verdadeira, com base na verdade desta vez”, disse Otávio.
E ali, naquele jardim, brincaram os três juntos pela primeira vez. Sem mentiras, sem segredos, sem dor. O amor genuíno de Diana e o amor incondicional de Otávio curaram a ferida. A marca de nascença no pescoço de Maira não era apenas um sinal de família; era a prova inegável de que o amor e a verdade sempre encontram um caminho, mesmo que demorem seis anos.