A enfermeira colocou o bebê sem vida ao lado de seu irmão gêmeo saudável e, pouco depois, um milagre aconteceu.

O som de passos apressados ecoava pelo corredor de mármore do hospital, misturando-se com o chamado urgente de uma voz feminina e desesperada: “Johana, por favor, ajude-me! É a única que ainda está aqui. Ela está a dar à luz os bebés agora!”

A enfermeira Johana, uma jovem de vinte e poucos anos, paralisou por um segundo. A sua mente, já a sonhar com a cama que a esperava, registou o grito. Tinha tirado os sapatos apertados e prendido o cabelo, esgotada após um turno extenuante que a vira acumular funções em áreas que não lhe correspondiam. Mas, ao ouvir a súplica, o cansaço desvaneceu-se. O instinto de quem nasceu para cuidar falou mais alto.

Johana ajeitou o uniforme branco, apertou o coque no cabelo e correu na direção da voz. Encontrou uma das médicas obstetras, suada e tensa.

— Mas não tínhamos nenhum parto programado para esta semana! Quem é a grávida? — perguntou Johana, a respirar com dificuldade.

A médica respondeu, quase sem fôlego.

— É Laura.

O nome caiu sobre Johana como um golpe. O seu coração acelerou.

— Mas ainda faltam doze semanas para a data prevista!

A obstetra confirmou com um olhar sombrio.

— Exato. Ela e os bebés correm um grave risco de vida.

As duas correram juntas, o som dos sapatos a misturar-se com o grito distante de dor e desespero. Ao chegarem à maternidade, foram recebidas por Víctor, o marido da paciente. O homem estava em completo desespero, suado, os olhos cheios de lágrimas. Agarrando as mãos de Johana, ele implorou:

— Por favor, Johana, salve a mulher da minha vida e salve os meus filhos. Confiamos em si.

A jovem enfermeira sentiu o peso daquelas palavras esmagá-la. Olhou para os olhos do homem, engoliu em seco e respondeu apenas com um firme aceno de cabeça, antes de correr para a sala de parto.

Lá dentro, Laura estava pálida, trémula de dor e medo. Os monitores apitavam, marcando um parto que estava longe de ser a hora certa.

— São tão pequenos. E se não resistirem? — sussurrava, desesperada.

Johana aproximou-se, tocando suavemente o ombro da mulher.

— Confie em mim, Laura. Vamos fazer tudo o que pudermos para salvar-vos a si e aos seus bebés.

Minutos depois, a médica deu a ordem: seria uma cesariana de emergência. A tensão aumentou, o ar parecia demasiado pesado.

Víctor era um homem de posses, dono de empresas e negócios milionários, mas jamais tinha podido comprar o que mais desejava: uma família. Durante anos, ele e Laura tentaram ter filhos, enfrentando perdas e frustrações que culminaram num diagnóstico cruel dado pelo seu irmão, Carlos, que também era médico: Laura não podia engravidar.

Na sua dor, Víctor tinha-se afastado de Laura. Mas o destino pregou-lhes uma partida, e a gravidez aconteceu, um milagre inesperado. Contudo, essa mesma felicidade acendeu a chama da inveja no coração de Carlos e de Júlia, a melhor amiga de Laura, que secretamente planeavam destruir o casamento para roubar a fortuna de Víctor.

Foi Júlia quem, sob o disfarce de amiga prestável, administrou secretamente o potente bloqueador hormonal roubado por Carlos, convencida de que o aborto seria a única certeza. O parto prematuro, desencadeado por estas doses, era o resultado direto dessa traição.


Na sala de parto, o som de um primeiro choro, fraco, mas presente, rompeu o silêncio. Logo depois, veio o segundo. Os bebés gémeos nasceram, mas a alegria durou pouco. Ambos eram diminutos, demasiado frágeis. Foram entubados e colocados em incubadoras separadas.

Horas depois, Laura e Víctor pararam em frente aos dois pequenos corpos, rodeados de tubos e cabos.

— Olha, amor, são os nossos filhos — disse o marido, a voz quebrada pela emoção.

Mas a felicidade não durou. O bebé menino começou a agitar-se. O seu corpo tremia, e o som dos aparelhos mudou de ritmo. Laura gritou, em pânico. Johana correu, pegou no bebé e levou-o para outra sala, onde a equipa médica já esperava.

Os minutos transformaram-se numa eternidade. Júlia, na sala de espera, fingia consolar Laura, mas no fundo, sentia a fria satisfação de que o seu plano estava a funcionar.

Na sala de emergência, o ambiente era de desespero. A obstetra suava.

— Não vamos conseguir salvar este bebé. Não entendo o que provocou este parto prematuro nem o que está a causar a falência dos órgãos — disse, derrotada.

Johana tremia. Em toda a sua curta carreira, nunca tinha estado numa situação tão tensa. “Meu Deus, por favor, guie-me,” sussurrou. Enquanto todos se concentravam nos monitores, os seus olhos pareciam ver algo que os outros não viam: uma subtil, estranha marca na pele do pequeno corpo, que parecia replicar-se na testa da irmã, na incubadora ao lado.

Tomada por uma mistura de intuição e coragem, Johana tomou a decisão mais arriscada da sua vida. Sem pedir permissão, afastou os médicos e voltou a pegar no bebé.

— O que está a fazer? — gritou a obstetra, espantada.

Johana correu para a sala das incubadoras, ignorando os olhares confusos. “Vou salvar este bebé. Sei como fazê-lo.”

Empurrou a porta com força e entrou decidida. Abriu a incubadora da bebé saudável e, com todo o cuidado, colocou o outro, o mais frágil, ao lado da irmã.

As olhares na sala cruzaram-se, cheios de espanto. A médica obstetra correu para a separar, indignada.

— Enlouqueceu, Johana? Não sabe que os bebés podem infetar-se mutuamente?

Mas Johana levantou o braço, firme, com a voz determinada.

— Espere! Não está a ver? Olhe bem para os bebés.

Todos se aproximaram, confusos. Então, o silêncio preencheu a sala.

O bebé mais grave começou a respirar melhor. O monitor, que antes apitava irregularmente, mostrava agora um ritmo estável. Era como se o pequeno, ao sentir a presença da irmã, tivesse encontrado forças para continuar a lutar. Os seus batimentos cardíacos estavam a sincronizar-se.


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A médica arregalou os olhos.

— Meu Deus, o que é isto?

Ninguém conseguia explicar, mas todos compreenderam que algo extraordinário tinha acabado de acontecer. A obstetra, ainda em choque, murmurou a explicação que a ciência lhe ditava, que as lágrimas de amor transformavam em milagre.

— Um dos gémeos estava a absorver a dose total daquilo que provocava a sua morte. Sacrificou-se para salvar a sua irmã, mesmo antes de nascer.

As palavras atravessaram o coração de Víctor e Laura, que chegaram a tempo de testemunhar o momento. “Nosso filho, um herói!” choraram, abraçados.

A obstetra confirmou, com o semblante triste, que o corpo do bebé estava quase imóvel.

— Lamento muito, mas creio que já não podemos…

Antes que terminasse a frase, Johana deu um passo em frente, tomada por uma nova ideia.

— Espere! Aquela marca pode ser sinal de um excesso de hormona de crescimento! Lembre-se dos stocks de medicamentos desaparecidos!

A médica olhou-a, mais atenta.

— Como vai descobrir qual é o medicamento certo a tempo de preparar um soro?

— Não sei — respondeu Johana com sinceridade, voltando-se para os pais em desespero. — Mas tenho de tentar!


Johana correu para a sala de segurança, clicando freneticamente no sistema de câmaras. Avançou as gravações noturnas do depósito de medicamentos. Na segunda invasão, a imagem, embora escura, revelou o que ela procurava: a figura feminina e a inconfundível pulseira de brilhantes a reluzir sob a luz.

Um sorriso de vitória surgiu no rosto de Johana. “Eras tu, Júlia!”

De volta à sala das incubadoras, Carlos, nervoso, perguntou:

— E então, descobriu alguma coisa?

Johana não respondeu. Olhou Júlia nos olhos, com a expressão endurecida, e foi direta ao ponto.

— Doutora, por favor, chame a segurança.

Víctor deu um passo em frente, atordoado.

— Espera, Johana, estás a insinuar que a Júlia está envolvida? Ela é amiga de infância!

— Pelas gravações, ela não é tão amiga. E o seu irmão, Carlos, é o médico que roubou os medicamentos na primeira vez.

Carlos perdeu o controlo, gritando:

— Maldita sejas, Júlia! Eu disse para parares com esta história de destruir a gravidez! Agora vais condenar-nos!

Todos ficaram em choque. Laura levou as mãos à boca, incrédula. Víctor agarrou o irmão pela gola da bata, a voz a falhar de raiva e tristeza.

— De que estás a falar, Carlos?

Derrotado, Carlos confessou a hormona: “A hormona usada foi a GH. Com doses tão altas, devia ter matado facilmente aquelas crianças.”

Johana não perdeu um segundo. Correu para o depósito, a bata a voar atrás de si, misturando medicamentos, calculando as doses da hormona GH. O suor escorria-lhe pela testa, mas a determinação era mais forte que o medo. Preparou o soro o mais rápido possível e regressou à sala de incubadoras.

Com o máximo cuidado, aplicou o soro na boca do bebé. O tempo parou. Johana recuou, observando. Nada.

Laura olhou-a, o rosto banhado em lágrimas.

— O meu bebé vai ficar bem?

— Não sei — respondeu Johana. — Unamo-nos e rezemos.

E foi isso que fizeram. Pais e médicos, de mãos dadas, fecharam os olhos numa súplica pura.

O silêncio prolongou-se até que um som suave rompeu o ar: um suspiro fraco e, logo a seguir, um choro. Um choro pleno, alto, vibrante. O som mais lindo que aqueles pais podiam ouvir.

— O meu filho está vivo! — gritou Víctor, abraçando a esposa com força.

O soro tinha funcionado. O menino respirava, o coração batia com firmeza. Antes de o colocarem de volta na incubadora, deixaram-no sentir o calor dos braços dos pais.


O caso foi notícia em todo o país. O bebé que se sacrificou para salvar a sua irmã gémea antes de nascer comoveu a todos. Laura e Víctor decidiram dar nomes especiais aos seus filhos. O menino passou a chamar-se Giovanni, e a menina, Johana, em honra da enfermeira que lhes salvara a vida. Ela tornou-se madrinha de ambos, uma amiga verdadeira.

Giovanni, o heroizinho, cresceu a cuidar da irmã, como se aquele laço que os unira no início da vida jamais tivesse sido quebrado. Carlos e Júlia foram condenados, apodrecendo na prisão. A cicatriz da dor ficou, mas servia como um lembrete: mesmo nas horas mais escuras, o bem, impulsionado pelo amor, sempre triunfa. Os gatinhos, que haviam impedido Júlia de administrar o veneno muitas vezes, reapareceram e passaram a fazer parte daquela família, que se encheu de risos, amor e esperança.

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