A Baronesa de Veracruz teve um filho com seu escravo mais forte… Ninguém imaginava como esse romance terminaria.

No ano de 1789, a Fazenda Santa María de los Remedios erguia-se como uma fortaleza de pedra e cal entre os canaviais de Veracruz. Os seus muros brancos refletiam o sol do Caribe mexicano e as suas terras estendiam-se até onde a vista alcançava, abraçando plantações de cana-de-açúcar que tinham enriquecido a família Solís Duarte durante três gerações.

Mas por trás daquelas paredes imaculadas, onde os criados caminhavam com passos silenciosos e as cortinas de renda filtravam a luz dourada da tarde, gestava-se uma história que transformaria a fazenda em lenda e os seus habitantes em fantasmas que ainda sussurram nas noites de tempestade.

Adelina de Solís Duarte herdara Santa María de los Remedios aos 24 anos, quando o seu pai morreu de febre amarela e a sua mãe o seguiu apenas seis meses depois, consumida pela tristeza. A jovem baronesa era uma mulher de beleza severa, com olhos negros que pareciam atravessar a alma de quem a olhava e uma postura que revelava anos de educação europeia.

Estudara em Madrid, onde aprendera francês, latim e os modos da nobreza, mas o destino tinha-a trazido de volta ao México para administrar um império de açúcar e suor que dependia do trabalho de mais de 250 escravos. Se está a desfrutar desta história, subscreva o canal e deixe-nos nos comentários de onde nos está a ver. Agora, continuemos com o que ninguém em Veracruz imaginava que aconteceria.


Entre esses 250 homens e mulheres que trabalhavam de sol a sol, um destacava-se acima de todos. Chamava-se Gabriel, embora nos registos da fazenda aparecesse simplesmente como o número 63. Era um homem de compleição extraordinária, com ombros largos como vigas de carvalho e braços que podiam levantar três sacos de açúcar onde outros carregavam um.

A sua pele era escura como a terra húmida depois da chuva e os seus olhos verdes, herança de algum antepassado distante que ninguém se atrevia a mencionar, brilhavam com uma inteligência que não passava despercebida. Aos 28 anos, Gabriel era o feitor dos escravos, uma posição que lhe concedia certos privilégios, mas também a inveja de muitos e a desconfiança de outros.

A primeira vez que Adelina realmente viu Gabriel foi durante a safra de 1790. Tinha saído para o lagar para inspecionar a produção, como o seu pai fazia em todas as temporadas. O calor era sufocante e o ar espesso carregava o aroma adocicado do melaço, misturado com o suor de dezenas de corpos, trabalhando no limite das suas forças. Os escravos moviam-se como autómatos, alimentando o moinho, cortando cana, transportando cargas que teriam quebrado as costas de qualquer homem comum.

Então, ela viu-o. Gabriel estava a organizar um grupo de trabalhadores perto das caldeiras, dando instruções com uma autoridade natural que não precisava de gritos nem ameaças. A sua voz era profunda, mas tranquila, e os homens ouviam-no com respeito genuíno, não apenas por medo, mas por algo mais profundo.

Quando um dos escravos mais jovens tropeçou num barril de melaço que se derramou pelo chão de terra, vários feitores brancos aproximaram-se com chicotes na mão, prontos para castigar a inabilidade com a brutalidade que caracterizava aqueles tempos. Mas Gabriel interpôs-se entre eles e o rapaz aterrorizado.

“Foi um acidente”, disse com firmeza, olhando diretamente nos olhos de um feitor chamado Fermín, conhecido pela sua crueldade e pelo prazer doentio que encontrava em causar dor. “O rapaz está a aprender. Eu respondo por ele e compensarei a perda com o meu próprio trabalho.”

Fermín bufou e cuspiu no chão, mas não insistiu. Havia algo na presença de Gabriel que fazia com que até os homens mais violentos pensassem duas vezes antes de o confrontar. Não era apenas o seu tamanho imponente, mas algo no seu olhar, uma dignidade inabalável que nenhuma corrente tinha conseguido destruir.


Adelina observou a cena à distância, parcialmente oculta pela sombra de um armazém de ferramentas. Naquela tarde, quando regressou à casa grande, não conseguiu parar de pensar naqueles olhos verdes que tinham desafiado a autoridade estabelecida sem quebrar nenhuma regra, com uma coragem silenciosa que a tinha comovido de formas que não compreendia completamente.

As semanas seguintes foram um turbilhão de trabalho e decisões que Adelina nunca tinha antecipado. Descobriu que administrar uma fazenda era infinitamente mais complexo do que tinha imaginado à distância segura dos salões madrilenos. Os livros de contas estavam em completa desordem.

Alguns mordomos roubavam sem o menor disfarce e os comerciantes de Veracruz tentavam constantemente tirar partido da sua inexperiência e da sua condição de mulher solteira. Precisava de alguém em quem confiar, alguém que conhecesse a fazenda desde as suas entranhas e que não estivesse corrompido por anos de impunidade e ganância.

Uma noite, depois de rever durante horas os registos de produção que simplesmente não batiam certo, não importando quantas vezes os repassasse, tomou uma decisão que escandalizaria toda a região e que os seus contemporâneos considerariam o primeiro passo para a sua ruína. Mandou chamar Gabriel à biblioteca da Casa Grande, um espaço sagrado onde nenhum escravo jamais tinha posto os pés.

O homem chegou com a cabeça baixa e as mãos entrelaçadas à sua frente, como correspondia à sua posição naquela hierarquia brutal. Mas quando Adelina lhe pediu que se sentasse, um ato completamente sem precedentes que quebrava todas as convenções sociais, ele olhou para ela com uma mistura de surpresa, cautela e algo que poderia ter sido esperança.

A baronesa estava junto à janela com um vestido de veludo verde-escuro que contrastava dramaticamente com a palidez da sua pele, e a luz das velas projetava sombras dançantes nas paredes forradas de livros encadernados em couro.

“Preciso que me ajude a entender o que realmente se passa nesta fazenda”, disse sem preâmbulos, com uma franqueza que o apanhou completamente desprevenido. “Os números não batem certo, as perdas relatadas são impossivelmente altas e suspeito que vários mordomos estejam a roubar quantidades significativas. O senhor conhece todos. Sabe como as coisas realmente funcionam para além do que aparece nos registos oficiais. Quero a verdade, por mais incómoda que seja.”


Gabriel permaneceu em silêncio durante vários segundos que pareceram estender-se eternamente. Sabia que podia ser uma armadilha elaborada, um teste de lealdade concebido para identificar os escravos dispostos a trair os seus senhores brancos.

Mas algo na voz daquela mulher, na forma direta e sem artifício como o olhava, fê-lo acreditar que falava completamente a sério e que talvez, só talvez, realmente quisesse mudar as coisas.

“Com a sua permissão, Senhora Baronesa”, começou, escolhendo cada palavra com o cuidado de quem sabe que um erro poderia custar-lhe a vida. “Há três mordomos principais que estão a vender açúcar por fora dos canais oficiais. Dom Fermín tem um arranjo secreto com um comerciante corrupto do porto que paga em dinheiro e não deixa registos. Dom Esteban falsifica sistematicamente os livros sobre as perdas por pragas e clima, inflando-as três vezes acima da realidade. E Dom Vicente cobra subornos a certos escravos e trabalhadores livres por lhes atribuir trabalhos menos pesados ou mais seguros.”

Adelina ouviu cada palavra sem interromper, sem mostrar choque nem indignação, apenas uma concentração intensa que revelava uma mente analítica a trabalhar a toda a velocidade. Quando Gabriel terminou o seu relato, ela assentiu lentamente, como se cada revelação confirmasse suspeitas que já tinha albergado.

“E por que ninguém me tinha dito antes?”, perguntou, embora intuísse a resposta.

“Porque ninguém lhe perguntou diretamente, Senhora. E porque denunciar um feitor branco, acusá-lo de roubo ou corrupção, pode custar a vida a um escravo ou a um trabalhador livre que depende desta fazenda. Vi homens chicoteados até à morte por ofensas muito menores do que questionar a honestidade dos seus superiores.”

A honestidade brutal daquela resposta, despojada de todo o artifício ou tentativa de suavizar a realidade, comoveu algo profundo no interior de Adelina.


Durante as semanas seguintes, ela agiu com uma determinação férrea, baseando-se na informação que Gabriel lhe tinha fornecido. Despediu imediatamente Fermín e Esteban depois de os confrontar com evidências que tinha recolhido meticulosamente. Repreendeu severamente Vicente e deu-lhe uma última oportunidade que todos sabiam que ele não merecia, e reorganizou toda a estrutura administrativa da fazenda desde os seus alicerces.

Os boatos começaram imediatamente, espalhando-se por Veracruz como fogo em palha seca, uma mulher solteira a consultar intimamente um escravo, tomando decisões importantes sem a aprovação ou conselho de nenhum homem da sua classe social, comportando-se de maneiras que desafiavam todas as expectativas.

Mas os resultados eram absolutamente inegáveis. A produção aumentou dramaticamente, os roubos cessaram quase por completo e os escravos começaram a trabalhar com menos medo paralisante e mais eficiência genuína.

O que ninguém sabia, o que ninguém podia sequer imaginar, era que aquelas reuniões noturnas na biblioteca tinham começado gradualmente a transformar-se em algo infinitamente mais perigoso do que conversas sobre açúcar e contas.

Adelina descobriu que Gabriel sabia ler — o seu anterior dono, um latifundiário ilustrado de ideias progressistas que tinha morrido afogado em dívidas de jogo, tinha-o ensinado quando era apenas um menino — e que possuía uma mente extraordinariamente aguda, capaz de resolver problemas administrativos complexos com uma lógica e criatividade que poucos homens com educação formal poderiam igualar.

E Gabriel, por sua vez, viu em Adelina não a baronesa cruel e distante que tinha temido encontrar, mas sim uma mulher inteligente e compassiva, presa num mundo que não tinha escolhido, lutando para fazer o que era certo dentro de um sistema fundamentalmente concebido para a exploração e a injustiça.

Via a sua solidão, a sua luta para ser respeitada num mundo de homens, o seu genuíno desejo de melhorar as condições de vida na fazenda.


Uma noite de julho, quando uma tempestade tropical açoitava Veracruz com ventos de furacão que faziam gemer e ranger toda a estrutura da casa grande, Adelina desceu à biblioteca passada a meia-noite e encontrou Gabriel absorto na leitura de um dos livros que ela lhe tinha emprestado, um tratado sobre filosofia moral e política de um pensador francês considerado perigosamente revolucionário.

As velas cintilavam violentamente a cada rajada de vento que se infiltrava pelas fendas das janelas, e o som ensurdecedor da chuva a bater no telhado de telhas criava uma sensação de isolamento do mundo exterior.

“O que pensa do que Rousseau diz sobre a liberdade e as correntes?”, perguntou Adelina, aproximando-se descalça e sem fazer ruído sobre os ladrilhos frios.

Gabriel fechou o livro cuidadosamente e pôs-se de pé por respeito, mas ela indicou-lhe com um gesto casual que permanecesse sentado, outro pequeno ato de transgressão que se tinha tornado rotineiro entre eles.

“Diz que todos os homens nascem livres, Senhora, mas que em toda a parte estão acorrentados por sistemas que eles próprios perpetuam. Pergunto-me o que pensaria este filósofo francês se visse esta fazenda. Se caminhasse entre os canaviais e visse realidades que as suas palavras mal tocam.”

“Provavelmente diria que eu também estou acorrentada”, respondeu Adelina com uma amargura que a surpreendeu a si mesma, revelando emoções que normalmente mantinha sob estrito controlo. “Acorrentada a um nome que não escolhi, a uma posição social que me define mais do que as minhas ações, às expectativas sufocantes de uma sociedade que me vê como uma propriedade valiosa, tanto quanto vê os escravos que supostamente possuo.”

Gabriel olhou-a com uma intensidade que fez com que o ar entre eles se carregasse de uma eletricidade que nada tinha a ver com a tempestade exterior. Pela primeira vez, em meses de conversas cada vez mais profundas, o verniz de formalidade e distância social começou a rachar de forma visível.

“Não é a mesma coisa, Senhora, e ambos o sabemos”, disse com uma honestidade que beirava a insolência. “A Senhora pode escolher ir embora se realmente o desejar. Vender tudo isto, viver confortavelmente em Madrid ou Paris, casar com algum nobre europeu. Eu morrerei com estes grilhões invisíveis que levo sempre, embora fisicamente nunca me ponham correntes reais de ferro.”

As palavras caíram entre eles como pedras pesadas atiradas a um lago profundo, criando ondas expansivas que alcançariam consequências que nenhum dos dois podia sequer imaginar naquele momento.

Adelina aproximou-se lentamente até ficar à sua frente com o escritório maciço de mogno como única barreira física entre ambos. A luz dourada e cintilante das velas projetava sombras dançantes e misteriosas nas paredes forradas de livros empoeirados que continham séculos de conhecimento humano.

“E se eu o libertasse?”, perguntou em voz tão baixa que mal se ouvia sobre o ruído da tempestade. “O que faria com essa liberdade?”

Gabriel demorou muito a responder, consciente de que a pergunta era perigosíssima, carregada de implicações que podiam destruir ambos se alguém os ouvisse. A chuva batia nas janelas com fúria renovada, como se o próprio céu quisesse avisá-los do perigo.

“Ficaria”, disse finalmente, sustentando-lhe o olhar com uma coragem que desafiava séculos de condicionamento social, “não pelas correntes legais ou pelo medo do castigo, mas por escolha livre. Ficaria por si.”


Naquela noite tempestuosa, algo mudou irrevogavelmente entre eles, cruzando linhas invisíveis, mas absolutamente reais, que a sociedade tinha traçado com sangue e sofrimento. Não houve palavras grandiloquentes de amor nem declarações dramáticas como nas novelas românticas. Mas quando Adelina finalmente subiu as escadas de mármore para os seus aposentos privados, enquanto o amanhecer começava a tingir o céu, ambos sabiam com certeza absoluta que tinham cruzado uma fronteira invisível que dividiria as suas vidas para sempre num antes e num depois.

Os meses seguintes foram uma dança cada vez mais perigosa de olhares roubados a meio do dia, conversas que se estendiam até ao amanhecer e um desejo mútuo que crescia inexoravelmente como a cana-de-açúcar na época das chuvas tropicais.

Adelina começou a encontrar desculpas cada vez mais elaboradas para visitar os campos, para supervisionar pessoalmente o trabalho, para além do que a sua posição exigia, para estar perto de Gabriel sob qualquer pretexto. E ele, com a discrição e cautela que tinha aprendido ao longo de longos anos de sobrevivência num mundo hostil, encontrava formas subtis de estar disponível, de se cruzar no seu caminho como por acaso, de existir na sua órbita de maneiras que mais ninguém notaria.

A primeira vez que realmente se tocaram foi durante a colheita abundante de outubro. Adelina tinha insistido em visitar os canaviais ao anoitecer, quando o calor brutal do dia finalmente cedia e o céu se tingia de laranjas e púrpuras espetaculares. Gabriel acompanhava-a como sempre, explicando-lhe pacientemente os detalhes técnicos do corte ideal, os tempos precisos de maturação, as técnicas ancestrais que tinha aprendido do seu pai, também escravo, antes que o vendessem cruelmente a outra fazenda em Puebla, quando Gabriel tinha apenas 12 anos e nunca mais o voltou a ver.

Enquanto caminhavam entre as canas altíssimas que se balançavam ritmicamente com a brisa quente que vinha do mar do Caribe, Adelina tropeçou inesperadamente numa raiz grossa oculta sob a terra solta. Gabriel segurou-a pelo braço instintivamente com reflexos rápidos que evitaram uma queda que poderia tê-la magoado seriamente.

O contacto físico durou apenas um segundo ou dois, mas foi absolutamente suficiente para que uma corrente elétrica intensa percorresse os corpos de ambos, deixando-os sem fôlego.

“Obrigada”, sussurrou ela, mas não se soltou de imediato como teria sido apropriado. Gabriel deveria tê-la libertado instantaneamente, retirado a sua mão como se o contacto o queimasse, mas o seu corpo recusou-se a obedecer aos ditames da prudência.

Os seus dedos permaneceram no braço de Adelina, sentindo o calor da sua pele através do tecido fino do vestido de algodão. Os olhos dela, normalmente frios e perfeitamente controlados em público, ardiam agora com uma intensidade que o deixou completamente sem fôlego e sem vontade.

“Isto é uma loucura absoluta”, disse ele, embora não fizesse nenhum movimento para se afastar.

“Eu sei perfeitamente”, respondeu Adelina, “mas há muito tempo que deixei de me importar com o que deveria fazer.”


Naquela mesma noite, no estudo privado de Adelina, um quarto íntimo no segundo andar a que absolutamente mais ninguém tinha acesso, tornaram-se amantes. Foi um encontro marcado pelo desespero e pela paixão de duas pessoas que sabiam com terrível clareza que estavam a desafiar não apenas convenções sociais superficiais, mas as leis mais severas do vice-reinado que castigavam tais transgressões raciais com a morte, o exílio ou a prisão permanente.

Durante os meses seguintes extraordinários, desenvolveram uma rotina cada vez mais elaborada de encontros secretos que exigiam uma planificação meticulosa. Gabriel entrava na casa grande depois da meia-noite, quando todos os criados dormiam, usando uma passagem antiga e esquecida que comunicava as caves húmidas com a biblioteca principal. Mais ninguém conhecia a sua existência.

Adelina tinha-a descoberto completamente por acidente enquanto revia obsessivamente os planos arquitetónicos originais da construção que datavam de 1720. Ali, naquelas horas preciosas roubadas ao sono e ao mundo exterior implacável, viviam uma vida completamente paralela, onde temporariamente não existiam baronesa nem escravos. Apenas um homem e uma mulher unidos por uma paixão que desafiava toda a lógica e razão.

Adelina ensinou a Gabriel tudo o que tinha aprendido durante os seus anos na Europa. Literatura clássica e moderna, história mundial, música refinada, filosofia. Tocava o cravo para ele em voz muito baixa, interpretando com dedos experientes peças complexas de Bach e Vivaldi, enquanto ele a ouvia com os olhos fechados, memorizando cada nota como se fossem orações sagradas.

E Gabriel ensinou a Adelina sobre a vida verdadeira da fazenda, sobre as histórias reais dos escravos que tinham nomes completos e famílias e sonhos e esperanças, apesar de tudo, sobre as formas subtis de resistência silenciosa que se manifestavam em canções de trabalho codificadas e rituais noturnos secretos que os feitores nunca viam nem compreendiam.


Mas o segredo mais perigoso de todos ainda estava por se revelar como uma tempestade que se forma lentamente no horizonte. Em fevereiro de 1791, Adelina descobriu com uma mistura de terror e espanto que estava grávida. A notícia atingiu-a com a força devastadora de um furacão categoria 5. Durante dias inteiros se encerrou nos seus quartos sem saber o que fazer, como sequer processar a magnitude absoluta do que significava um filho de um escravo, um filho que destruiria completamente a sua posição social, que a transformaria em pária rejeitada por todos, que provavelmente lhe custaria absolutamente tudo o que possuía e muito possivelmente a própria vida.

Quando finalmente reuniu a coragem para o dizer a Gabriel, ele empalideceu visivelmente sob a sua pele naturalmente escura. Ficou em silêncio durante um tempo que pareceu eterno, sentado na borda da cama elaboradamente talhada de Adelina, com a cabeça enterrada entre as mãos trémulas, processando o impossível de processar.

“Podemos fugir juntos”, disse finalmente com uma voz que tentava desesperadamente soar convincente e prática. “Há lugares remotos no norte, comunidades isoladas no Texas, onde ninguém faz perguntas incómodas sobre o passado. Ou poderíamos ir muito para o sul, perder-nos nas montanhas de Oaxaca, onde as autoridades coloniais mal têm presença.”

Mas ambos sabiam nos seus corações que era completamente impossível. Uma baronesa rica e conhecida não desaparece sem que todo o vice-reinado da Nova Espanha a procure incansavelmente e um escravo fugitivo a viajar com uma mulher branca visivelmente grávida não iria muito longe antes que os caçadores de recompensas profissionais, brutais e eficientes, os encontrassem e os arrastassem de volta acorrentados.

Adelina pegou na mão grande de Gabriel entre as suas, muito mais pequenas e pálidas, criando um contraste visual que simbolizava todo o seu dilema impossível.

“Vou ter este filho”, disse com uma determinação férrea que parecia surgir do mais profundo do seu ser, “e vou protegê-lo com todos os recursos que tenho, não importa o custo pessoal que tenha de pagar.”


Os meses seguintes foram um exercício mental exaustivo de planificação meticulosa e engano elaborado. Adelina inventou uma história sumamente detalhada. Tinha tido um romance secreto e apaixonado com um jovem oficial do exército espanhol destacado em Cuba, um homem de boa família que tinha morrido tragicamente num confronto sangrento com piratas ingleses antes que pudessem formalizar o seu noivado.

A história era apenas credível, cheia de lacunas lógicas que qualquer um com pensamento crítico poderia questionar, mas tinha elementos suficientes de drama romântico e tragédia operística para que a sociedade veracruzana pudesse aceitá-la, embora com escândalo considerável e murmúrios intermináveis.

Ela retirou-se progressiva e deliberadamente de toda a vida social ativa, alegando luto profundo pelo seu amante imaginário e necessidade de privacidade para processar a sua dor. Despediu estrategicamente a maioria do numeroso pessoal da Casa Grande, ficando apenas com os criados mais antigos e leais ou mais facilmente silenciáveis, através de generosas compensações monetárias.

E enquanto o seu ventre crescia mês após mês de forma inegável, Gabriel permanecia forçosamente nas sombras, a sofrer em silêncio agónico cada vez que via Adelina caminhar com dificuldade crescente pelos campos sob o sol impiedoso, sabendo que ela carregava o seu filho no ventre, mas que nunca, nunca poderia reclamá-lo publicamente como seu.


O menino nasceu finalmente numa noite particularmente tempestuosa de setembro de 1791, como se o próprio céu chorasse pelo que estava a acontecer. Adelina recusou terminantemente a presença de qualquer médico profissional da cidade. Demasiado perigoso, demasiadas possibilidades de que notassem detalhes reveladores e começassem a fazer perguntas. Confiou unicamente numa parteira escrava chamada Jacinta, uma mulher sábia de 50 anos que tinha trazido ao mundo literalmente dezenas de crianças na fazenda durante décadas e que sabia guardar segredos mortais melhor do que qualquer confessor católico.

Foi um parto brutalmente difícil que durou 18 horas de agonia. Adelina gritou até ficar completamente rouca, até que a sua voz se reduziu a um sussurro áspero enquanto Jacinta trabalhava com mãos experientes e calmas. E Gabriel esperava invisível na passagem secreta, ouvindo cada gemido de dor com o coração absolutamente destroçado, completamente incapaz de ajudar a mulher que amava no seu momento de maior necessidade.

Quando finalmente o bebé emergiu para o mundo depois de um último esforço sobre-humano, chorou com uma força vital que literalmente fez tremer as paredes. Era um varão, um menino perfeito em todos os sentidos, de pele notavelmente clara como a de sua mãe, mas com traços faciais que qualquer um que olhasse com atenção genuína reconheceria como problemáticos.

Tinha os olhos verdes inconfundíveis do seu pai e uma cabeleira negra e densamente encaracolada, que definitivamente não era comum na aristocrática família Solís Duarte, de pele pálida e cabelo liso. Jacinta limpou-o meticulosamente com água morna e envolveu-o com ternura em mantas suaves de linho importado. Depois colocou-o com reverência nos braços trémulos de Adelina, que chorou abertamente pela primeira vez em muitos anos.

Não eram lágrimas simples de dor física, mas sim de uma mistura extraordinariamente complexa de amor avassalador, medo paralisante e desespero existencial.

“É absolutamente lindo”, sussurrou com voz quebrada, olhando aquela carinha diminuta e enrugada que instantaneamente se tinha tornado todo o seu mundo, o centro do seu universo.


Nessa mesma noite interminável, depois de se certificar cuidadosamente de que Adelina estava fisicamente estável e fora de perigo imediato, Jacinta permitiu silenciosamente que Gabriel subisse pela passagem secreta. O homem entrou no quarto com passos extraordinariamente hesitantes, como se pisasse terreno absolutamente sagrado que poderia profanar com a sua mera presença.

Quando viu o seu filho pela primeira vez, ajoelhou-se junto à cama elaboradamente esculpida de Adelina e estendeu um dedo longo e trémulo para tocar aquela mãozinha perfeita e diminuta. Os dedinhos fecharam-se imediatamente à volta do seu, com uma força surpreendente para algo tão frágil.

“Chamar-se-á Leonardo”, disse Adelina com firmeza. “Pelo meu avô paterno, que foi o único que realmente me compreendeu.”

Gabriel assentiu sem conseguir articular palavra alguma, completamente incapaz de falar. As lágrimas corriam livremente pelo seu rosto marcado por anos de trabalho sob o sol, enquanto olhava para o seu filho. Um filho que nunca poderia chamar seu publicamente, um filho que cresceria com o apelido Solís Duarte, enquanto ele permanecia como o número 63 nos registos frios e impessoais da fazenda.


Os primeiros meses com Leonardo foram relativamente tranquilos, quase enganadoramente pacíficos. O bebé era extraordinariamente saudável e curioso, com um olhar já inteligente que prometia a acuidade mental combinada dos seus dois pais brilhantes. Adelina amamentou-o ela mesma, recusando categoricamente as amas profissionais que a sociedade aristocrática esperava que empregasse, e passava horas intermináveis a embalar o seu berço elaboradamente talhado, enquanto lhe cantava canções de embalar espanholas que a sua própria mãe lhe tinha cantado na sua própria infância distante.

Mas à medida que o menino crescia mês após mês, as semelhanças inegáveis com Gabriel tornavam-se cada vez mais evidentes e preocupantes. Aos seis meses, quando Adelina finalmente se viu obrigada por pressão social a receber visitas formais de outras famílias nobres de Veracruz, começaram os sussurros venenosos que se espalhavam como doença.

O menino tinha um tom de pele que, embora relativamente claro, definitivamente não era o marfim pálido típico da aristocracia espanhola pura. E aqueles olhos verdes extraordinários, embora objetivamente bonitos, recordavam suspeitamente e de maneira inquietante alguém que muitos tinham visto a trabalhar nos campos de cana.

A primeira acusação, verdadeiramente direta e pública, veio da parte de Ricardo de Ayala, um latifundiário vizinho ambicioso que tinha cortejado persistentemente Adelina antes de ela herdar a fazenda e que nunca tinha superado a rejeição.

Durante um jantar formal extraordinariamente tenso em casa dos Guzmán, uma das famílias mais influentes de toda a região, Ricardo bebeu consideravelmente mais vinho tinto do que o devido e com um sorriso venenoso que revelava dentes manchados, comentou em voz deliberadamente alta: “É verdadeiramente curioso como o pequeno Leonardo se parece tanto com aquele escravo feitor seu, Adelina. Como é que se chama aquele homem grande? Gabriel, creio. Mesma cor exata de olhos, mesma estrutura facial característica. Que coincidência absolutamente extraordinária e estatisticamente improvável.”


O silêncio que se seguiu foi tão absoluto que se poderia ter ouvido cair um alfinete. Todas as conversas pararam simultaneamente. Os garfos de prata ficaram suspensos no ar. Os olhares de 20 pessoas cravaram-se em Adelina, que empalideceu visivelmente, mas manteve a compostura exterior com uma frieza aristocrática que teria impressionado profundamente o seu falecido pai.

“As coincidências genéticas existem na natureza, Dom Ricardo”, respondeu com voz tão gélida que praticamente formou geada no ar. “E também existe o conceito básico de decência que proíbe especular publicamente sobre a honra de uma dama. Mas vejo claramente que o vinho nublou completamente o seu juízo esta noite.”

Ela levantou-se com dignidade da mesa, fez uma vénia fria e perfeitamente cortês aos anfitriões incómodos e abandonou a casa com a cabeça erguida, caminhando como uma rainha no exílio. Mas o dano terrível já estava feito, irreversível. Os rumores espalharam-se por toda Veracruz com velocidade assombrosa, alimentados generosamente pela inveja social, o moralismo hipócrita e o racismo profundamente enraizado naquela sociedade colonial estratificada.

Adelina sabia com clareza terrível que tinha de agir rápido e decisivamente. Uma semana depois daquele incidente humilhante, convocou todos os mordomos e feitores da fazenda a uma reunião formal no impressionante salão principal da Casa Grande. Gabriel estava entre eles, de pé junto aos outros homens, mantendo uma expressão cuidadosamente neutra, embora o seu coração batesse tão forte que pensava que todos poderiam ouvi-lo.

“Tomei uma decisão importante que transformará o funcionamento desta fazenda”, anunciou Adelina com voz firme que não admitia discussão. “Vou começar um processo gradual de libertação de alguns escravos que demonstraram excecional lealdade, competência e caráter. Será um programa cuidadoso que beneficiará tanto os trabalhadores quanto a produtividade geral de Santa María de los Remedios.”

Era uma manobra extraordinariamente audaciosa e arriscada. Libertar escravos não era completamente invulgar. Alguns senhores faziam-no como gesto de caridade cristã ou nos seus testamentos ao morrer. Mas fazê-lo de maneira sistemática e em grande escala, enquanto uma mulher solteira administrava a fazenda, era praticamente escandaloso e suspeito.

No entanto, Adelina tinha calculado tudo cuidadosamente com a sua mente analítica. Se libertasse vários escravos simultaneamente, incluindo estrategicamente Gabriel entre eles, mas não primeiro nem último, o seu ato pareceria menos suspeito, mais uma decisão administrativa progressista do que um gesto de amor proibido.


Entre os primeiros cinco a receber a sua liberdade oficial estava Gabriel. O documento legal tornava-o um homem livre sob as leis da Nova Espanha, embora com certas condições restritivas cuidadosamente concebidas. Devia permanecer a trabalhar na Fazenda por 5 anos adicionais, recebendo um salário modesto, mas real.

Era essencialmente uma jaula dourada, mas continuava a ser uma jaula, uma absolutamente necessária para manter as aparências sociais vitais. Na noite em que Adelina lhe entregou pessoalmente os papéis oficiais de liberdade com o selo real, Gabriel chorou abertamente.

Não eram lágrimas simples de alegria, porque a liberdade legal, sem poder viver abertamente com a mulher que amava apaixonadamente, e o filho que tinha gerado era uma liberdade dolorosamente incompleta, mas sim de uma mistura extraordinariamente complexa de emoções contraditórias que não tinham nome em nenhum idioma.

“Isto não muda nada realmente no que importa, pois não?”, perguntou, olhando o documento que o declarava legalmente livre.

“Muda absolutamente tudo do ponto de vista legal e técnico”, respondeu Adelina. “Mas tem completa razão. No que realmente importa, nos nossos corações continuamos igualmente presos.”


Leonardo completou um ano em setembro de 1792. Era um menino extraordinariamente precoce que já caminhava agarrado aos móveis com determinação e balbuciava palavras soltas que os seus pais interpretavam com alegria exagerada. Adelina adorava-o com uma intensidade quase religiosa que assustava quem a conhecia. Tinha contratado tutores privados e amas cuidadosamente selecionadas, mas ela mesma supervisionava obsessivamente cada aspeto da sua criação e educação, determinada a dar-lhe as melhores oportunidades possíveis.

Gabriel via-o em segredo, em visitas noturnas, cada vez mais arriscadas, que desafiavam a probabilidade. Brincava com o seu filho no estudo privado de Adelina. Ensinava-lhe canções ancestrais que a sua própria mãe africana lhe tinha cantado. Embalava-o até que adormecesse profundamente. Eram momentos preciosos e roubados de paternidade que o enchiam de uma felicidade dolorosa e insustentável, porque sabia com certeza que no dia seguinte teria de caminhar junto ao seu filho nos terrenos da fazenda, fingindo ser um estranho sem ligação alguma.

Mas a tensão social em Veracruz ia em aumento constante e inexorável. As famílias nobres da região começaram sistematicamente a excluir Adelina de todas as atividades sociais. Os convites para eventos importantes cessaram completamente. Na igreja, aos domingos, outras mulheres da sua classe a evitavam ostensivamente, mudando de assentos quando ela se sentava por perto. E embora ninguém se atrevesse ainda a acusá-la diretamente, o poder económico considerável de Santa María de los Remedios continuava a ser um fator dissuasor importante. Os sussurros constantes e olhares de desprezo eram absolutamente omnipresentes.


O ponto de rutura definitivo chegou em março de 1793, quando o Bispo de Veracruz, Dom Pascual Fernández de Velasco, visitou a Fazenda pessoalmente. Era oficialmente uma visita pastoral para abençoar os campos antes da crucial temporada de sementeira, mas absolutamente todos sabiam que o verdadeiro propósito era outro muito mais obscuro e ameaçador.

O bispo era um homem de 60 anos com uma barriga proeminente que falava de décadas de boa comida e olhos de abutre calculista que pareciam avaliar o valor moral das pessoas em questão de segundos frios. Chegou com um séquito intimidante de três sacerdotes menores e vários funcionários da temida Inquisição. Uma presença que fez com que absolutamente todos na fazenda sentissem um arrepio profundo de medo atávico.

Adelina recebeu-o com toda a cortesia formal que a sua posição aristocrática exigia, mas havia aço puro na sua espinha dorsal. Conduziu-o ao impressionante salão principal, onde tinham preparado meticulosamente um refrigerio ligeiro, mas elegante. Leonardo estava com a sua ama principal nos aposentos superiores, mantendo-o estrategicamente longe.

“Baronesa”, começou o bispo depois de trocar cumprimentos formais superficiais. “Vim porque me preocupa profundamente a tua alma imortal e a tua reputação nesta vida.”

“A minha alma está perfeitamente em ordem, Excelência”, respondeu Adelina com calma estudada. “Confesso regularmente os meus pecados e cumpro escrupulosamente todos os meus deveres cristãos.”

“Mas há rumores profundamente perturbadores, minha filha, rumores absolutamente escandalosos sobre o verdadeiro pai do teu filho. Rumores que, se fossem verdadeiros, constituiriam não só um escândalo social monumental, mas um pecado mortal gravíssimo aos olhos de Deus todo-poderoso e da sua santa Igreja.”

Adelina sentiu que o chão se movia sob os seus pés, mas manteve a expressão perfeitamente serena, uma máscara impenetrável que tinha aperfeiçoado durante meses. “Os rumores maliciosos são a moeda comum dos invejosos e dos ociosos, Excelência. O meu filho Leonardo é produto de uma relação com um honrado oficial espanhol que morreu heroicamente antes que pudéssemos casar. Vivi com essa vergonha social e esse luto profundo.”

O bispo estudou-a com olhos penetrantes que pareciam procurar rachas na sua armadura. “Então, certamente não terás inconveniente em que examinemos a criança. Os médicos da Inquisição são peritos em determinar linhagens raciais com precisão científica.”

Era uma ameaça mal velada, um ultimato disfarçado de sugestão razoável. Adelina sabia com certeza absoluta que se permitisse esse exame exaustivo, descobririam a verdade inegável. Os médicos da Inquisição tinham métodos pseudocientíficos, supersticiosos, mas suficientemente convincentes para as autoridades coloniais para determinar a pureza racial, segundo os seus critérios racistas.

“O meu filho está gravemente doente neste momento”, mentiu rapidamente com surpreendente facilidade. “Tem febre alta. O médico recomendou repouso absoluto. Não é prudente nem seguro movê-lo.”

“Que extraordinariamente conveniente!”, murmurou o bispo com suspeita evidente em cada sílaba. “Mas sou paciente, posso esperar vários dias.”


Naquela noite terrível, depois de o bispo e todo o seu séquito ameaçador se retirarem para os quartos de hóspedes que Adelina tinha preparado com dentes cerrados, ela convocou urgentemente Gabriel ao estudo numa reunião de emergência.

“Tens que ir embora imediatamente”, disse-lhe sem qualquer preâmbulo, sem preparação emocional. “Esta mesma noite, se te encontrarem aqui, se provarem a ligação biológica, matar-nos-ão a todos sem exceção. A ti por corrupção de uma mulher nobre, a mim por adultério e profanação racial, e a Leonardo, Deus sabe o que fariam com o nosso filho.”

Gabriel olhava-a com uma mistura devastadora de dor e determinação. “Não vou abandoná-los assim de repente.”

“Não é abandono, é pura sobrevivência.” Adelina tirou um mapa detalhado e um saco pesado de moedas de ouro. “Há um barco que sai amanhã cedo para Havana. De lá podes ir para Nova Orleães, onde as leis são diferentes. Podes começar uma nova vida com identidade nova. Quando as coisas se acalmarem aqui, encontrarei a maneira de nos reunirmos.”

“Isso é uma fantasia completa e tu sabes perfeitamente bem”, disse Gabriel com amargura que cortava como navalha. “Uma baronesa não abandona a sua enorme fazenda para ir com um ex-escravo e, mesmo que o fizesses, perseguir-nos-iam até ao fim do mundo.”

“Então, o que sugeres? Que esperemos que nos prendam a todos, que eu veja como te torturam brutalmente e executam enquanto obrigam o nosso filho pequeno a presenciar isso como advertência pública?”

O silêncio que se seguiu foi denso, como o ar pouco antes de uma tempestade devastadora. Ambos sabiam dolorosamente que não havia opções boas disponíveis, apenas graus variáveis de tragédia inevitável.


Finalmente, Gabriel falou com uma voz completamente quebrada. “Leva Leonardo e foge tu para a Europa. Eu ficarei e assumirei toda a culpa. Direi que te forcei, que usei feitiçaria africana ou o que for necessário para te absolver completamente. Se confessarem sob tortura, só me envolverão a mim.”

“Não.” A resposta de Adelina foi imediata e absolutamente feroz. “Não vou permitir que te sacrifiques assim e, além disso, não funcionaria. Uma mulher nobre não pode ser forçada por anos sem o denunciar imediatamente. Não és tu quem precisa de ir embora, somos nós os três juntos.”

Mas mesmo enquanto pronunciava as palavras, Adelina sabia a verdade terrível que ambos tinham estado a evitar desesperadamente. Três pessoas a fugir juntas, uma baronesa reconhecível, um ex-escravo e um menino mestiço, seriam capturados antes de chegar ao porto. Mas duas pessoas tinham possibilidades razoáveis, ou uma única pessoa com recursos suficientes.

A decisão que tomaram naquela noite foi a mais dolorosa e devastadora das suas vidas inteiras. Gabriel partiria sozinho, estabelecendo-se em algum lugar seguro e distante. Adelina permaneceria, enfrentaria o bispo com uma história elaborada e faria absolutamente tudo o possível para proteger Leonardo sob o manto, cada vez mais frágil, da sua posição e riqueza.

Se conseguisse dissipar as suspeitas, se conseguisse que o escândalo fosse esquecido com o tempo, encontrariam alguma maneira de se reencontrarem. Era um plano desesperado, cheio de variáveis completamente impossíveis de controlar. Mas era literalmente tudo o que tinham.


Às 3 da madrugada, enquanto a casa dormia e apenas as lanternas dos guardas noturnos cintilavam à distância, Gabriel despediu-se do seu filho pela última vez. Leonardo dormia profundamente no seu berço elaborado, completamente alheio à tragédia que se desenrolava à sua volta.

Gabriel acariciou o seu cabelo encaracolado com dedos trémulos, memorizou cada traço daquela carinha perfeita e sentiu que algo se partia irreparavelmente no mais profundo da sua alma. “Perdoa-me”, sussurrou com voz quebrada. “Perdoa-me por não ser forte o suficiente para ficar. Perdoa-me por não poder dar-te o meu nome, a minha proteção, a minha presença diária. Mas juro-te que esta separação não será para sempre. Encontrarei alguma maneira de voltar por ti, mesmo que demore décadas.”

Adelina estava junto à janela de costas, porque sabia que se o olhasse nos olhos não teria a força emocional para o deixar ir. Ouviu os seus passos a aproximarem-se. Sentiu as suas mãos grandes nos seus ombros, o seu hálito quente no seu pescoço.

“Eu amo-te mais do que a minha própria vida”, disse Gabriel. “Isso nunca mudará, não importa quantos oceanos ou anos nos separem.”

“Eu também te amo”, respondeu Adelina.

E então se virou e beijou-o com um desespero que sabia a despedida final, embora ambos fingissem que era temporário. Gabriel saiu pela passagem secreta pela última vez. Levava apenas uma mochila com roupa básica, os documentos de liberdade que Adelina tinha preparado meticulosamente e o saco pesado de moedas de ouro, que era tanto um recurso prático como um símbolo de tudo o que deixava para trás.

Caminhou pelos campos escuros da fazenda, que tinha sido simultaneamente a sua prisão e o seu lar. Passou junto aos quartéis, onde dormiam os escravos, que tinham sido os seus irmãos de sofrimento, e dirigiu-se para o caminho poeirento que levava ao porto de Veracruz e mais além, para um futuro completamente incerto.

Não olhou para trás porque sabia que se o fizesse a sua resolução desmoronar-se-ia completamente. Se o tivesse feito, teria visto a silhueta solitária de Adelina na janela do estudo, observando-o desaparecer gradualmente na escuridão absoluta, com lágrimas silenciosas a escorrerem sem controlo pelo seu rosto pálido, sabendo que estava a ver pela última vez o único homem que tinha amado verdadeiramente.


Na manhã seguinte, quando o bispo perguntou especificamente por Gabriel durante o pequeno-almoço — tinha ouvido que era o feitor mais competente de toda a região e queria conversar longamente com ele sobre a administração dos trabalhadores — Adelina respondeu com perfeita compostura e uma mentira perfeitamente ensaiada: que o homem tinha partido na noite anterior para o norte distante, onde com a sua liberdade recém-adquirida tinha comprado um pequeno terreno para estabelecer a sua própria modesta fazenda.

“Que extraordinariamente oportuno e conveniente”, comentou o bispo com suspeita evidente a brilhar nos seus olhos calculistas. “A liberdade dá aos homens opções que antes não tinham.”

“Excelência”, respondeu Adelina com frieza aristocrática. “É natural que procurem novos horizontes quando lhes é apresentada a oportunidade.”

O exame médico exaustivo de Leonardo foi realizado dois dias depois, numa cerimónia humilhante e aterrorizante. Os médicos da Inquisição mediram-no com instrumentos estranhos, pesaram-no em balanças de precisão, examinaram cada centímetro da sua pele delicada sob lentes de aumento, procurando evidências raciais. Observaram meticulosamente a textura exata do seu cabelo encaracolado, a cor precisa dos seus olhos verdes, a forma dos seus lábios e nariz. Adelina permaneceu presente durante todo o processo interminável, com uma mão apertada num punho invisível sob as dobras do seu vestido de seda, rezando constantemente a um deus em que já quase não acreditava.

O veredito foi deliberadamente ambíguo, uma obra-prima de cobardia política. Os médicos não puderam ou estrategicamente não quiseram declarar definitivamente que o menino tinha sangue africano misturado. A sua pele era demasiado clara, os seus traços faciais demasiado refinados, a sua aparência geral demasiado próxima da aristocracia espanhola pura, para fazer uma acusação formal que pudesse destruir uma das famílias mais poderosas e economicamente importantes de Veracruz, sem provas absolutamente irrefutáveis.

“O menino mostra certas irregularidades menores”, informou cautelosamente o médico principal ao bispo em privado. “Mas não são definitivamente conclusivas, poderiam ser simplesmente resultado natural da mistura de diferentes linhagens espanholas distantes, variações genéticas normais. Sem conhecer pessoalmente o suposto pai falecido, é cientificamente impossível fazer uma determinação definitiva com certeza absoluta.”

O bispo não estava satisfeito de todo, mas também não tinha bases sólidas suficientes para levar o caso formalmente aos temidos tribunais da Inquisição. Retirou-se de Santa María de los Remedios com advertências veladas sobre a constante vigilância de Deus e a importância crítica de manter a pureza de sangue nas famílias aristocráticas, mas sem tomar ações concretas imediatas.

Adelina tinha ganho uma batalha crucial, mas a guerra estava infinitamente longe de terminar. E o preço terrível dessa vitória provisória foi o exílio permanente do homem que amava mais do que a sua própria vida.


Os anos seguintes foram de um luto silencioso e constante. Adelina criou Leonardo com amor absolutamente feroz e determinação inabalável, educando-o ela mesma pessoalmente em história, literatura, matemáticas avançadas e filosofia. Ensinou-lhe a ter orgulho de quem era, embora nunca lhe tenha dito a verdade completa sobre o seu pai real. Contava-lhe histórias elaboradas do oficial espanhol valente que tinha morrido heroicamente em combate contra piratas, embelezando a mentira necessária com detalhes emocionais que faziam com que o menino se sentisse conectado a um legado heroico imaginário.

Leonardo cresceu sendo um menino extraordinariamente brilhante, mas profundamente solitário. Os outros meninos da sua classe social não brincavam com ele. Os seus pais tinham-se assegurado meticulosamente disso e ele intuitivamente sentia que era diferente de maneiras que não compreendia completamente, embora não pudesse articular exatamente por que os olhares dos adultos às vezes se enchiam de desprezo mal disfarçado ou curiosidade doentia quando o viam.

Enquanto isso, na distante Nova Orleães, Gabriel tinha conseguido estabelecer-se gradualmente como carpinteiro hábil. As suas habilidades excecionais e a sua força tinham-lhe conseguido trabalho rapidamente e tinha começado a poupar obsessivamente cada moeda com um objetivo singular: reunir dinheiro e recursos suficientes para eventualmente regressar pela sua família.

Escrevia cartas codificadas que enviava através de intermediários complexos, marinheiros de confiança, comerciantes discretos, mas apenas uma em cada cinco chegava realmente às mãos de Adelina e as respostas eram igualmente esporádicas e frustrantes.

Em 1795, quando Leonardo tinha 4 anos, chegou uma carta que mudou tudo momentaneamente. Gabriel tinha conseguido documentos falsos elaborados que o identificavam como um comerciante espanhol respeitável de apelido Herrera. Tinha acumulado capital suficiente para parecer genuinamente respeitável e planeava regressar cautelosamente ao México sob essa identidade completamente nova. Propôs comprar uma propriedade perto de Veracruz e gradualmente reconstruir uma relação com Adelina que pudesse eventualmente parecer legítima aos olhos desconfiados da sociedade, um viúvo comerciante a cortejar pacientemente uma baronesa solitária.

Adelina leu a carta uma dúzia de vezes com o coração dividido dolorosamente entre a esperança desesperada e o terror paralisante. O plano era arriscado ao ponto da loucura suicida. Se alguém reconhecesse Gabriel, se o seu disfarce falhasse em qualquer momento, não só o executariam brutalmente, mas ela perderia Leonardo definitivamente. As autoridades coloniais o tirariam sem dúvida, declarando-a moralmente inapta para o criar.

Mas a solidão era absolutamente insuportável e Leonardo precisava desesperadamente de um pai, embora esse pai tivesse de fingir permanentemente ser outra pessoa. Adelina respondeu dando-lhe o seu consentimento cauteloso, mas impôs condições estritas. Gabriel devia esperar pelo menos mais dois anos, permitindo que a sua nova identidade se solidificasse completamente e sem falhas. Devia estabelecer o seu negócio primeiro, de forma convincente. Criar uma rede ampla de contactos credíveis, construir uma história pessoal que resistisse a qualquer nível de escrutínio detalhado.

Gabriel aceitou, embora cada dia adicional de espera fosse uma tortura psicológica lenta, mas o destino, como frequentemente faz, tinha outros planos completamente diferentes.


Em agosto de 1796, uma epidemia devastadora de febre amarela atingiu Veracruz com uma virulência absolutamente sem precedentes. A doença mortal entrava constantemente pelo porto, trazida nos barcos que ligavam o México ao Caribe e à Europa, e espalhava-se pela cidade costeira como fogo incontrolável num palheiro extremamente seco.

Santa María de los Remedios, apesar de estar relativamente isolada geograficamente, não foi imune. Os primeiros casos apareceram entre os trabalhadores que tinham ido ao mercado semanal de Veracruz para vender produtos. Depois espalhou-se rapidamente para os criados da Casa Grande.

Adelina implementou quarentenas rigorosas, isolou cuidadosamente os doentes, queimou todas as pertenças contaminadas, mas o mosquito invisível que transmitia a doença não respeitava muros nem precauções humanas.

Leonardo adoeceu gravemente no início de setembro. Começou com febre alta e dor de cabeça intensa que Adelina atribuiu inicialmente a uma constipação comum infantil. Mas quando a pele do menino adquiriu um tom amarelado característico e começou a vomitar sangue negro coagulado, o terrível “vómito negro” que dava nome aterrorizante à doença, ela soube com horror absoluto que estavam perante algo infinitamente mais grave e potencialmente mortal.

Chamou desesperadamente os melhores médicos de Veracruz, oferecendo fortunas inteiras, mas nenhum pôde fazer mais do que administrar sangrias inúteis e rezar fervorosamente. A medicina da época era completamente impotente perante a febre amarela. Só podiam esperar ansiosamente e ver se o corpo do paciente era forte o suficiente para sobreviver por si só.

Leonardo lutou valentemente durante 10 dias intermináveis. Adelina não se separou do seu lado nem por um único momento, banhando-o constantemente com panos frios, quando a febre o fazia delirar terrivelmente, segurando-o com força quando os vómitos violentos sacudiam o seu corpinho frágil, cantando-lhe canções de embalar com voz quebrada, quando a dor era demasiado intensa para suportar.

Rezava sem parar, fazendo promessas cada vez mais desesperadas a um Deus em que já quase não acreditava. Prometeu doar toda a sua imensa fortuna à Igreja, libertar imediatamente todos os escravos da fazenda, viver o resto da sua vida em penitência rigorosa, qualquer coisa imaginável em troca da vida do seu filho único.

Mas Deus ou o destino ou o simples capricho cruel da doença não ouviu nenhuma súplica. Leonardo morreu ao amanhecer de 18 de setembro de 1796, com apenas 5 anos de idade. As suas últimas palavras foram: “Mamã, tenho muito frio”, embora a febre brutal o estivesse a queimar vivo internamente.

Adelina segurou-o firmemente enquanto a sua respiração se tornava mais e mais superficial e irregular, enquanto o seu pequeno corpo finalmente deixava de lutar, enquanto a vida se apagava definitivamente naqueles olhos verdes extraordinários que eram o espelho perfeito do seu pai ausente.


Quando finalmente ficou completamente imóvel, Adelina não chorou imediatamente. Ficou ali sentada a embalá-lo durante horas intermináveis, cantando as mesmas canções de embalar uma e outra vez mecanicamente, como se pudesse trazê-lo magicamente de volta com a pura força da sua negação absoluta da realidade.

Foram os criados que finalmente a afastaram com suavidade extrema, que prepararam o pequeno corpo com reverência para o enterro, que organizaram o funeral elaborado que Adelina foi completamente incapaz de planear. Ela movia-se como um autómato sem alma, indo para onde a levavam, fazendo o que lhe diziam, mas com o olhar perdido em algum ponto distante, para além da realidade visível.

Leonardo foi enterrado no cemitério privado da família Solís Duarte numa sepultura de mármore branco importado com um anjo esculpido de forma requintada que segurava uma rosa. A inscrição dizia: “Leonardo Antonio de Solís Duarte, filho amado, 1791–1796, que os anjos o guardem eternamente no seu seio.” Não mencionava o seu pai verdadeiro, nunca poderia fazê-lo.

A carta informando Gabriel da morte devastadora do seu filho chegou a Nova Orleães três meses depois. Tinha-a escrito o administrador da fazenda, seguindo instruções de Adelina, que tinha sido completamente incapaz de colocar em palavras a magnitude absoluta da sua perda. A mensagem era breve e formal.

“Lamentamos profundamente informar que o jovem Leonardo faleceu de febre amarela no passado 18 de setembro. A Baronesa encontra-se em retiro prolongado e não pode receber correspondência neste momento.”

Gabriel leu a carta na oficina de carpintaria onde trabalhava. As suas mãos começaram a tremer tão violentamente que o papel caiu no chão de madeira. Os seus colegas de trabalho encontraram-no de joelhos a chorar com uma dor tão profunda que não fazia som audível, apenas sacudia o seu corpo em espasmos silenciosos devastadores.

Tinha perdido o seu filho sem o ter podido ver crescer, sem lhe ter ensinado a ler ou a trabalhar a madeira, sem lhe ter contado as histórias dos seus antepassados, sem lhe ter dito “eu amo-te” em plena luz do dia como qualquer pai normal. Todo o sacrifício, toda a separação dolorosa, todo o plano cuidadoso para se reunirem um dia, tudo se tinha transformado em cinzas inúteis.


Gabriel tomou a decisão de regressar imediatamente. Já não importavam os riscos, as consequências, as identidades falsas cuidadosamente construídas. Adelina precisava dele desesperadamente e ele precisava de estar com ela, ainda que fosse apenas para partilhar a dor incomensurável que ambos carregavam.

Chegou a Veracruz em janeiro de 1797, usando a sua identidade falsa de comerciante espanhol próspero. Comprou uma pequena propriedade nos arredores da cidade e começou a estabelecer contactos comerciais, perguntando discretamente pela Baronesa de Santa María de los Remedios.

O que ouviu deixou-o gelado até aos ossos. Adelina tinha mudado completamente, irreconhecivelmente. Depois da morte de Leonardo, tinha caído numa depressão profunda da qual parecia nunca poder sair. Tinha deixado de administrar a fazenda completamente. Os mordomos encarregavam-se de tudo agora. Passava dias inteiros fechada no estudo, onde costumava reunir-se com Gabriel e brincar com Leonardo, sem comer, sem dormir, apenas a olhar fixamente pela janela para os campos de cana que se balançavam com o vento.

Finalmente, depois de semanas de preparação, Gabriel conseguiu visitá-la sob pretextos comerciais. Quando Adelina se virou e viu aqueles olhos verdes inconfundíveis, a cor abandonou o seu rosto. Despediu todos os presentes e quando ficaram sozinhos, desmoronou-se nos seus braços.

“Não devias ter vindo”, disse entre soluços, embora não se afastasse.

“Já não me importa”, respondeu Gabriel. “Vivi três anos sem ti, sem o meu filho, fingindo ser quem não sou.”

Mas Adelina tinha aprendido as lições mais amargas. O amor não era suficiente contra um mundo construído sobre hierarquias de sangue. Os sacrifícios não garantiam finais felizes.

“Tens que ir embora outra vez”, disse, afastando-se. “Desta vez para sempre. Vive, Gabriel, constrói uma vida real. Encontra a paz que nunca pudemos ter juntos.”

“E tu?”

“Eu ficarei aqui com as minhas recordações. Esta fazenda é a minha prisão, mas também é tudo o que me resta de Leonardo. Está enterrado nestas terras. Não posso abandoná-lo.”

Passaram aquela última noite juntos, falando até ao amanhecer sobre o filho que tinham perdido. Quando o sol começou a nascer, Gabriel preparou-se para partir pela última vez.

“Alguma vez te arrependeste?”, perguntou.

Adelina demorou a responder. “Arrependo-me do sofrimento. Arrependo-me de que o nosso filho nunca tenha conhecido um mundo que o pudesse aceitar, mas nunca, nem por um momento, me arrependi de te amar.”

Foram as últimas palavras que trocaram.


Gabriel desapareceu de Veracruz e nunca regressou. Segundo rumores que chegaram anos depois, tinha-se estabelecido na Califórnia, onde trabalhava como carpinteiro. Casou e teve outros filhos, mas nunca falou do seu passado.

Adelina viveu até 1815, administrando Santa María de los Remedios com eficiência mecânica, mas sem paixão. Nunca se casou. Libertou gradualmente todos os escravos da fazenda. Visitava o túmulo de Leonardo todos os dias, falava com ele como se ele ainda pudesse ouvi-la.

Quando morreu aos 49 anos, pediu no seu testamento para ser enterrada junto a Leonardo. Os administradores respeitaram os seus desejos. Enterraram-na ao lado do seu filho e sobre o seu túmulo colocaram uma lápide que dizia: “Adelina de Solís Duarte 1765-1815. Reunida afinal com o seu filho amado.”

A Fazenda Santa María de los Remedios acabou por ser vendida, dividida, esquecida. A casa grande caiu em ruínas, mas a história persistiu em sussurros.

Assim terminou a história da baronesa de Veracruz e do seu escravo mais forte, não com o triunfo do amor, mas com a crua realidade de que alguns amores, por mais profundos que sejam, nascem em mundos que nunca permitirão que floresçam. E o preço de desafiar esses mundos é sempre mais alto do que qualquer coração humano pode pagar.

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