No outono de 1895, quando as vinículas da Serra Gaúcha ainda eram propriedades familiares modestas e os imigrantes italianos lutavam para estabelecer suas raízes no solo brasileiro. A região de Bento Gonçalves foi palco de eventos que permaneceram arquivados em registros fragmentados por décadas.
O caso de Elisa Bernardi, como ficou conhecido nos poucos documentos que sobreviveram ao tempo, representa um dos episódios mais perturbadores já registrados naquela comunidade informação. A colônia italiana de Bento Gonçalves, estabelecida havia apenas 15 anos, vivia o delicado equilíbrio entre preservar tradições ancestrais e adaptar-se às exigências do novo mundo.
As famílias se agrupavam em pequenos núcleos rurais, separados por quilômetros de mata atlântica, ainda virgem, e estradas de terra que se tornavam intransitáveis durante as chuvas de inverno. Era nesse cenário de isolamento relativo que a família Bernardi havia construído sua vida. Giuseppe Bernardi, patriarca de 52 anos, havia chegado ao Brasil em 1878.
com a esposa Caterina e três filhos. Trabalhador incansável, estabeleceu uma pequena propriedade na região que hoje corresponde ao distrito de Tuiuti, a aproximadamente 12 km do centro da futura cidade de Bento Gonçalves. A propriedade situava-se em uma elevação suave, cercada por arroios e mata densa, oferecendo tanto isolamento quanto proteção natural.

Elisa Bernardi era a filha mais nova do casal, nascida já em solo brasileiro no ano de 1877. Aos 18 anos, em 1895, ela havia se tornado uma jovem mulher de aparência marcante, com os cabelos escuros, característicos da região da Lombardia, de onde originava-se a família.
Segundo relatos preservados em correspondências da época, Elisa possuía uma personalidade introspectiva, passando longas horas caminhando sozinha pelas trilhas que serpenteavam a propriedade familiar. A rotina na propriedade dos seguia o ritmo característico das famílias colonas da região. Giuseppe dedicava-se ao cultivo de milho e feijão, além de manter um pequeno rebanho de gado leiteiro.
Caterina cuidava da horta e dos afazeres domésticos, auxiliada pelos filhos mais velhos. Elisa, por sua vez, havia assumido a responsabilidade de cuidar das galinhas e de uma pequena criação de porcos. que a família mantinha em um chiqueiro construído nos fundos da propriedade, próximo à linha de mata que delimitava suas terras. Era uma existência simples, mas não desprovida de tensões.
Giuseppe Bernardi era conhecido na comunidade por seu temperamento severo e por manter disciplina rígida no lar. Vizinhos relatavam que raramente se ouvia risadas vindas da propriedade dos Bernard. Mesmo durante as festividades religiosas que uniam italiana, o silêncio que envolvia aquela família era tema de conversas sussurradas entre as mulheres quando se reuniam para os trabalhos coletivos de costura.
Durante o inverno de 1894, alguns eventos aparentemente menores começaram a alterar a dinâmica familiar. Caterina Bernardi passou a fazer comentários vagos sobre o comportamento de Elisa para outras mulheres da comunidade. Mencionava que a filha havia desenvolvido o hábito de acordar antes do amanhecer e permanecer longos períodos fora de casa, sempre alegando estar cuidando dos animais.
Quando questionada diretamente, Elisa oferecia respostas evasivas e demonstrava irritação crescente. O padre Giovan Marcelo, responsável pela assistência espiritual da comunidade italiana na região, registrou em seus diários pessoais algumas observações sobre a família Bernard durante aquele período.
Segundo suas anotações, datadas de dezembro de 1894, Giuseppe havia procurado orientação espiritual sobre questões familiares não especificadas. O padre notou que Giuseppe parecia perturbado por assuntos domésticos que não conseguia explicar claramente. A propriedade dos Bernardi possuía características físicas que contribuíam para o ambiente de isolamento.
A casa principal, construída em madeira e pedra, segundo os padrões arquitetônicos trazidos da Itália, situava-se no centro de um terreno de aproximadamente 20 haares. Atrás da residência, uma série de construções menores abrigava os animais e implementos agrícolas. O chiqueiro onde Elisa passava grande parte do tempo ficava a cerca de 100 m da casa, escondido por uma fileira de eucaliptos que Giuseppe havia plantado como quebravento.
Entre a residência principal e as instalações dos animais havia um pequeno galpão de madeira que originalmente servia como depósito de ferramentas. Com o tempo, esse espaço havia sido parcialmente abandonado, acumulando objetos em desuso e servindo ocasionalmente como abrigo para equipamentos durante as tempestades.
Era uma construção simples, de aproximadamente 4 m por6, com apenas uma janela pequena e uma porta que rangia quando aberta devido à humidade constante da região. No início de março de 1895, chegou à propriedade dos Bernardi um jovem chamado Marco Stefanelli. Marco era órfão de 22 anos, filho de imigrantes que haviam falecido durante uma epidemia de febre amarela que atingiu a região 3 anos antes.
Sem família próxima, ele havia sobrevivido realizando trabalhos temporários em diferentes propriedades da colônia italiana. Giuseppe Bernardi havia contratado Marco para ajudar com os preparativos para o plantil de outono e para realizar reparos nas instalações da propriedade.
Marco Stefanelli estabeleceu-se em um pequeno quarto anexo ao celeiro principal a cerca de 50 m da casa da família. Era um jovem de aparência robusta, acostumado ao trabalho pesado, mas que chamava atenção por sua tendência ao silêncio e por evitar contato visual prolongado durante conversas.
Alguns vizinhos que conheciam sua história comentavam que a perda traumática dos pais havia deixado marcas profundas em sua personalidade. A chegada de Marco coincidiu com mudanças no comportamento de Elisa, que não passaram despercebidas pela família. Caterina notou que a filha havia começado a tomar banhos mais frequentes e a dedicar maior atenção à aparência.
Elisa também passou a questionar sobre assuntos que nunca haviam despertado seu interesse, como as atividades sociais da comunidade e os eventos religiosos programados para os meses seguintes. Giuseppe, inicialmente satisfeito com o trabalho de Marco, começou a expressar preocupação sobre a proximidade que parecia estar desenvolvendo-se entre o jovem trabalhador e sua filha.
Em conversas com vizinhos, mencionava que Elisa havia começado a encontrar desculpas para permanecer nas proximidades de onde quer que Marco estivesse trabalhando. Quando confrontada sobre esse comportamento, Elisa reagia com defesas veementes, alegando que simplesmente estava aprendendo sobre o trabalho na propriedade.
Durante o mês de abril de 1895, uma série de pequenos incidentes começou a criar atmosfera de tensão crescente na propriedade. Ferramentas desapareciam de seus locais habituais e eram encontradas em lugares inesperados. Caterina relatou que alimentos preparados sumiam da despensa sem explicação. Giuseppe descobriu que a porta do galpão abandonado, que permanecia trancada há meses, havia sido violada e mostrava sinais de uso recente.
Os animais da propriedade também começaram a apresentar comportamento incomum. As galinhas, tradicionalmente tranquilas, passaram a demonstrar agitação constante, especialmente durante as primeiras horas da manhã e ao entardecer. Os porcos que Elisa havia cuidado com dedicação por anos começaram a mostrar relutância em se aproximar dela, reagindo com grunhidos quando ela entrava no chiqueiro.
Marco Stefanelli, quando questionado sobre sua percepção desses eventos, oferecia respostas vagas e demonstrava desconforto visível. alegava não ter notado nada fora do comum e atribuía às mudanças no comportamento dos animais as variações climáticas típicas da mudança de estação. Sua postura corporal durante essas conversas, entretanto, sugeria conhecimento que ele preferia não compartilhar.
O padre Giovan Marcelo registrou em seus diários uma conversa que teve com Caterina Bernardi no final de abril. Segundo suas anotações, Caterina havia procurado orientação sobre preocupações familiares de natureza delicada. O padre notou que Caterina parecia profundamente angustiada, mas incapaz de articular a natureza exata de seus temores.
Ela mencionou sonhos perturbadores e uma sensação crescente de que algo estava sendo escondido dentro de sua própria casa. A configuração física da propriedade facilitava a manutenção de segredos. A distância entre as diferentes construções, combinada com a mata densa que cercava o terreno, criava múltiplos espaços onde atividades poderiam ocorrer sem observação direta.
O galpão abandonado em particular situava-se em uma posição que o tornava invisível da casa principal, escondido atrás dos eucaliptos e acessível através de uma trilha discreta que serpenteava pela vegetação. Durante o mês de maio, Giuseppe Bernardi tomou a decisão de dispensar Marco Stefanelli.
oficialmente alegou que os trabalhos para os quais havia contratado o jovem estavam concluídos e que a situação financeira da família não permitia manter um empregado adicional. Entretanto, vizinhos notaram que Giuseppe parecia ansioso para ver Marco partir e que evitava explicações detalhadas sobre sua decisão.
Marco recebeu a notícia de sua dispensa com aparente resignação, mas testemunhas relataram que ele passou os últimos dias na propriedade demonstrando agitação crescente. foi visto caminhando sozinho pelas trilhas durante a noite e mantendo conversas sussurradas com Elisa, sempre que conseguia encontrá-la fora da presença dos pais.
Na manhã de sua partida, programada para 22 de maio, Marco desapareceu sem se despedir da família. Giuseppe descobriu a ausência de Marco quando foi chamá-lo para o café da manhã. O quarto anexo ao celeiro estava vazio, mas os pertences pessoais do jovem permaneciam no local. Suas roupas, ferramentas pessoais e uma pequena quantia de dinheiro que havia economizado durante seu tempo na propriedade estavam intocados.
A única evidência de sua partida era a ausência do próprio Marco. A reação de Elisa à notícia do desaparecimento de Marco chamou atenção pela intensidade incomum. Segundo Caterina, a filha passou o dia inteiro trancada em seu quarto, recusando-se a comer ou a conversar. Quando finalmente emergiu, na manhã seguinte, parecia ter perdido peso visivelmente e apresentava olheiras profundas que sugeriam noite inse.
Suas primeiras palavras foram perguntas ansiosas sobre se alguém sabia para onde Marco havia ido. Giuseppe organizou uma busca informal nas propriedades vizinhas e nas trilhas que conectavam à região. Outros colonos se juntaram ao esforço, percorrendo quilômetros de mata à procura de sinais do jovem desaparecido.
A busca se concentrou inicialmente nas trilhas que Marco conhecia, aquelas que levavam as propriedades onde havia trabalhado anteriormente e ao pequeno povoado, onde ocasionalmente comprava suprimentos. Após três dias de busca em frutífera, Giuseppe decidiu reportar o desaparecimento às autoridades locais.
Na época, a presença policial na região era limitada, consistindo principalmente em um delegado itinerante que visitava as colônias a intervalos irregulares. O relato oficial arquivado nos registros municipais precários da época classificou o caso como abandono voluntário de emprego e não previu investigação aprofundada.
Elisa, durante as semanas que se seguiram ao desaparecimento de Marco, passou por transformação marcante em seu comportamento e aparência. Perdeu peso significativo e desenvolveu hábito de falar sozinha durante as tarefas diárias. Caterina relatou a vizinhas que a filha havia começado a referir-se a Marco como se ele ainda estivesse presente na propriedade, mencionando conversas que supostamente havia tido com ele na noite anterior.
O galpão abandonado, que havia sido violado meses antes, tornou-se objeto de atenção renovada. Giuseppe decidiu investigar o espaço pessoalmente e descobriu evidências de uso recente e prolongado. O chão de terra batida mostrava sinais de ter sido nivelado artificialmente e havia indícios de que um tipo de mobília improvisada havia sido instalada e posteriormente removida.
Pequenos objetos pessoais foram encontrados escondidos entre as tábuas soltas das paredes. Entre os objetos descobertos no galpão, Giuseppe encontrou uma série de cartas escritas à Amão em italiano. As cartas não eram assinadas nem endereçadas, mas a caligrafia era reconhecível como sendo de Elisa. O conteúdo das cartas, segundo anotações preservadas nos diários do padre Giovani, era de natureza íntima e perturbadora, sugerindo o relacionamento que ia além das convenções sociais aceitas pela comunidade. A descoberta das cartas levou a confronto direto
entre Giuseppe e Elisa. Testemunhas relataram ter ouvido gritos vindos da casa dos Bernard durante a tarde de 15 de junho. Caterina, visivelmente angustiada, procurou refúgio na casa de vizinhos, explicando que Giuseppe havia descoberto o comportamento inaceitável por parte de Elisa e que a situação havia se tornado insustentável.
Elisa, quando confrontada sobre as cartas e sobre a natureza de seu relacionamento com Marco, ofereceu respostas contraditórias que variaram de negações veementes a confissões parciais. Em determinado momento, segundo relatos da época, ela alegou que Marco havia prometido levá-la embora da propriedade e que eles haviam feito planos para se estabelecer em outra região.
Em seguida, negou ter tido qualquer relacionamento especial com ele. A pressão psicológica sobre Elisa intensificou-se quando Giuseppe decidiu consultar outras famílias da comunidade sobre o comportamento de sua filha. As conversas revelaram que vários vizinhos haviam notado mudanças no comportamento da jovem durante os meses anteriores, mas ninguém havia compartilhado suas observações diretamente com os pais.
O silêncio coletivo que havia cercado a situação criou atmosfera de culpa e recriminação dentro da comunidade. Durante os últimos dias de junho, Elisa começou a apresentar sintomas que hoje seriam reconhecidos como sinais de colapso nervoso.
Passou a dormir apenas poucas horas por noite e desenvolveu obsessão com o galpão onde havia encontrado-se com Marco. Caterina a encontrou várias vezes parada diante da construção, conversando com alguém que não estava visível, gesticulando como se respondendo a perguntas. O comportamento cada vez mais errático de Elisa culminou em incidente que marcou definitivamente a memória da comunidade.
Na manhã de 2 de julho de 1895, ela foi encontrada por Caterina no interior do galpão, deitada no chão de terra, batida em posição fetal, murmurando repetidamente o nome de Marco. Quando tentaram movê-la, Elisa resistiu violentamente, alegando que Marco estava esperando por ela e que não podia partir. Giuseppe decidiu que a situação exigia intervenção médica.
Na época, os recursos de saúde mental disponíveis para a comunidade italiana eram extremamente limitados. O médico mais próximo ficava na cidade de Caxias do Sul, a mais de 30 km de distância. e sua experiência com distúrbios psicológicos era rudimentar. A viagem até Caxias do Sul, por estradas precárias exigiria pelo menos um dia inteiro.
Antes que providências médicas pudessem ser tomadas, Elisa desapareceu da propriedade. Na manhã de 5 de julho, Caterina descobriu que a filha não estava em seu quarto e que não havia sinais de sua presença em nenhum lugar da casa ou das instalações anexas. Diferentemente do desaparecimento de Marco, entretanto, algumas pistas foram deixadas para trás.
A janela do quarto de Elisa estava aberta e pegadas descalças eram visíveis na terra úmida que cercava a casa. A busca por Elisa mobilizou toda a comunidade italiana da região. Mais de 20 homens participaram dos esforços, percorrendo sistematicamente as trilhas, arroios e clareiras em um raio de 10 km da propriedade dos Bernardi. A busca incluiu áreas de mata densa que raramente eram exploradas pelos colonos.
lugares onde uma pessoa poderia se esconder ou se perder facilmente. No terceiro dia de busca, em 8 de julho, um grupo liderado pelo vizinho Antônio Ross fez descoberta perturbadora em uma clareira localizada a aproximadamente 2 km da propriedade dos Bernardi. A clareira, cercada por árvores altas, que bloqueavam a maior parte da luz solar, continha evidências de ocupação humana recente.
Cinzas de fogueira ainda estavam presentes e havia sinais de que alguém havia construído abrigo improvisado usando galhos e folhas. Mais inquietante que os sinais de acampamento era a presença de objetos pessoais que foram identificados como pertencentes tanto a Elisa quanto a Marco.
Fragmentos de tecido que correspondiam ao vestido que Elisa usava quando desapareceu foram encontrados presos em galhos baixos. Uma faca que Giuseppe reconheceu como tendo pertencido a Marco estava parcialmente enterrada próximo às cinzas da fogueira. A configuração da clareira sugeria que havia sido usada como local de encontro por período prolongado.
Trilhas discretas conectavam o espaço a diferentes direções, incluindo uma que levava diretamente à propriedade dos Bernard. A vegetação ao redor havia sido parcialmente alterada, de maneira que criava maior privacidade, com galhos entrelaçados formando barreira natural que tornava a clareira praticamente invisível para quem passasse pelas trilhas principais.
Antônio Ross e seus companheiros expandiram a busca a partir da clareira, seguindo as trilhas que se irradiavam em diferentes direções. Uma das trilhas levava a um afloramento rochoso que oferecia vista parcial da propriedade dos Bernard. Outra descia em direção a um arroio que atravessava a região, correndo paralelo à estrada principal, que conectava as propriedades isoladas ao povoado mais próximo.
Foi seguindo a trilha que levava ao arroio que os buscadores fizeram descoberta que alteraria permanentemente a natureza do caso. Em uma curva do córrego, onde a água havia criado o poço natural, cercado por pedras e vegetação densa, eles encontraram mais evidências da presença de Elisa e Marco. Roupas lavadas estavam estendidas em galhos próximos à água, e havia sinais claros de que o local havia sido usado para banho e para lavar utensílios.
Próximo ao poço, parcialmente escondido sob uma pilha de pedras que claramente havia sido arranjada artificialmente, Antônio Rossi descobriu pequeno embrulho feito de tecido. O conteúdo do embrulho incluía várias cartas escritas por Elisa, similares àquelas encontradas no galpão, mas com data mais recente.
As cartas revelavam que Elisa e Marco haviam planejado fuga da propriedade e que estavam vivendo escondidos na mata por período indeterminado. O conteúdo das cartas também sugeria que a situação entre Elisa e Marco havia se tornado complicada de maneiras que os buscadores inicialmente não compreenderam completamente.
Referências vagas a problemas e mudanças eram feitas sem explicação clara. Uma das cartas mencionava dificuldades em encontrar comida e abrigo adequados, e outra fazia referência a decisão que precisa ser tomada, sem especificar que decisão seria essa.
A descoberta das cartas e dos objetos pessoais na região do Arroio redirecionou os esforços de busca. Ficou claro que Elisa e Marco haviam estado vivendo na mata por período significativo, possivelmente desde o desaparecimento inicial de Marco em maio. A proximidade dos locais de acampamento à propriedade dos Bernard sugeria que eles haviam permanecido na área, talvez retornando ocasionalmente para obter suprimentos ou simplesmente para observar a casa de onde Elisa havia partido.
Giuseppe Bernardi, confrontado com evidências de que sua filha havia estado vivendo na mata com Marco por meses, passou por período de profunda angústia. Vizinhos relataram que ele parou de trabalhar na propriedade e passou dias inteiros caminhando pelas trilhas, chamando o nome de Elisa e implorando para que ela retornasse. Caterina, por sua vez, refugiou-se na religião, passando horas em oração e buscando orientação constante do padre Giovani.
A comunidade italiana da região, tradicionalmente unida por laços de solidariedade mútua, começou a demonstrar sinais de divisão sobre como lidar com a situação dos Bernard. Algumas famílias expressaram simpatia e ofereceram apoio contínuo. Outras, entretanto, começaram a manifestar desconforto com o escândalo que o caso estava criando e sugeriram que Giuseppe deveria procurar resolver a situação de maneira mais discreta.
Durante a segunda semana de julho, as condições climáticas na região deterioraram-se significativamente. Chuvas intensas caíram por vários dias consecutivos, transformando as trilhas em atoleiros e fazendo os arroios transbordarem. As condições tornaram impossível continuar a busca na mata e criaram preocupação adicional sobre a segurança de Elisa e Marco, que supostamente ainda estavam vivendo ao ar livre.
Foi durante esse período de tempestades que Giuseppe tomou decisão que surpreendeu a comunidade. Em 17 de julho, ele anunciou que estava abandonando a busca ativa por Elisa e que aceitava que ela havia escolhido sua própria vida. explicou que continuaria esperando por seu retorno, mas que não podia mais dedicar toda sua energia a procurar alguém que claramente não desejava ser encontrada.
A decisão de Giuseppe de cessar a busca ativa não foi bem recebida por todos os membros da comunidade. Antônio Ross e várias outras famílias argumentaram que a busca deveria continuar, especialmente dadas as condições climáticas adversas que poderiam colocar Elisa em perigo. Padre Giovanni ofereceu-se para organizar expedições de busca independentes, mas Giuseppe pediu que respeitassem sua decisão.
Durante o mês de agosto, relatos esporádicos começaram a circular sobre avistamentos de duas pessoas caminhando pelas trilhas remotas da região. Os avistamentos nunca eram confirmados e geralmente envolviam figuras vistas à distância ou durante condições de pouca luz.
Alguns vizinhos alegaram ter visto fumaça subindo de áreas de mata, onde não havia propriedades estabelecidas, sugerindo que fogueiras estavam sendo acesas por pessoas acampando ilegalmente. Um dos relatos mais específicos veio de Maria Fontana, esposa de um colono que morava a aproximadamente 5 km da propriedade dos Bernard.
Em 23 de agosto, ela alegou ter visto uma jovem mulher caminhando sozinha por uma trilha que passava próxima a sua propriedade. A mulher correspondia à descrição de Elisa e parecia estar carregando uma trouxa de roupas. Mas quando Maria chamou por ela, a figura desapareceu rapidamente na mata. O avistamento relatado por Maria Fontana foi significativo porque sugeriu que Elisa estava sozinha sem marco.
Isso levantou questões sobre o que havia acontecido com o jovem e se ele ainda estava com Elisa ou se havia partido para destino desconhecido. Giuseppe, quando informado sobre o avistamento, demonstrou interesse renovado, mas manteve sua decisão de não organizar buscas ativas. Durante setembro de 1895, a atenção da comunidade começou a se desviar gradualmente do caso de Elisa Bernarde.
As preocupações com a preparação para o inverno, o plantio das culturas de estação fria e outros assuntos práticos da vida colonial assumiram prioridade. A família Bernard lentamente retornou a uma rotina que superficialmente se assemelhava à normalidade. Embora vizinhos notassem que tanto Giuseppe quanto Caterina haviam mudado permanentemente.
O primeiro evento que trouxe o caso de volta à atenção da comunidade ocorreu em 26 de outubro. Caçadores que perseguiam javalis nas matas ao sul da propriedade dos Bernard descobriram estrutura que claramente havia sido construída por seres humanos. A estrutura, localizada em depressão natural, cercada por árvores altas, consistia em abrigo mais elaborado que os acampamentos temporários encontrados anteriormente.
O abrigo havia sido construído com considerável habilidade, utilizando galhos entrelaçados, folhas e lama, para criar paredes que ofereciam proteção substancial contra os elementos. O teto havia sido feito com camadas de folhas e galhos. dispostos, de maneira que desviava a água da chuva. O interior continha área preparada para dormir, local para fazer fogo e espaços organizados para armazenar objetos pessoais.
Mais perturbador que a existência do abrigo era sua condição quando foi descoberto. A estrutura estava parcialmente destruída, com paredes derrubadas e objetos espalhados pelo chão, como se tivesse ocorrido luta ou perturbação violenta. Cinzas de fogueira estavam espalhadas e havia sinais de que alimentos em decomposição haviam sido deixados expostos, atraindo animais selvagens que haviam danificado ainda mais o local.
Entre os objetos espalhados pelo abrigo destruído, os caçadores encontraram mais evidências da presença de Elisa e Marco. Fragmentos de roupas, utensílios de cozinha improvisados e vários objetos pessoais. foram identificados pelas famílias como pertencendo aos jovens desaparecidos. Mais inquietante era a presença de objetos que claramente haviam sido tomados da propriedade dos Bernard, incluindo uma faca de cozinha e uma manta que Caterina reconheceu imediatamente.
A descoberta do abrigo destruído reiniciou especulação intensa na comunidade sobre o que havia acontecido com Elisa e Marco. As condições em que o abrigo foi encontrado sugeriam que algo dramático havia ocorrido, mas não havia evidências claras que permitissem determinar a natureza exata dos eventos.
Teorias variaram desde ataque de animais selvagens até confronto entre os próprios jovens. Giuseppe, confrontado com evidências renovadas da presença de Elisa na região, decidiu investigar pessoalmente o abrigo destruído. Acompanhado por Antônio Ross e dois outros vizinhos, ele passou várias horas examinando os restos da estrutura e procurando pistas adicionais na área circundante.
O que encontraram aprofundou o mistério em vez de esclarecê-lo. A investigação mais detalhada do abrigo revelou que havia sido ocupado por período considerável, possivelmente vários meses. Restos de comida indicavam que os ocupantes haviam tido acesso a suprimentos variados, alguns dos quais só poderiam ter sido obtidos através de visitas a propriedades habitadas ou ao povoado próximo.
Isso sugeria que Elisa e Marco haviam mantido algum tipo de contato com a civilização durante seu tempo na mata. Mais intrigante eram evidências de que o abrigo havia sido expandido e modificado ao longo do tempo. Diferentes técnicas de construção eram visíveis em diferentes sessões, como se melhorias tivessem sido feitas gradualmente, conforme os ocupantes ganhavam experiência e acesso a materiais melhores.

Uma sessão do abrigo havia sido construída com tábuas de madeira que claramente haviam sido cortadas com ferramentas adequadas não improvisadas. A presença das tábuas de madeira cortadas levou à investigação mais ampla da área ao redor do abrigo. Giuseppe e seus companheiros descobriram que havia várias outras estruturas menores nas proximidades, incluindo abrigos para armazenar comida e água, área designada para lavar roupas e utensílios e até mesmo estrutura que parecia ter servido como latrina improvisada.
O conjunto sugeria que Elisa e Marco haviam criado pequeno assentamento temporário com considerável grau de organização. A organização e permanência do assentamento levantaram questões sobre as intenções de Elisa e Marco. Parecia claro que eles não estavam simplesmente se escondendo temporariamente, mas haviam tentado estabelecer algum tipo de vida permanente na mata.
Isso contradinha teorias anteriores de que eles estavam esperando oportunidade para deixar a região completamente e sugeria que talvez tivessem planejado permanecer indefinidamente nas proximidades. Durante as primeiras semanas de novembro, novos avistamentos de figuras solitárias caminhando pelas trilhas da região foram relatados por vários vizinhos.
Diferentemente dos relatos anteriores, estes avistamentos envolviam consistentemente apenas uma pessoa, uma jovem mulher, que correspondia à descrição de Elisa. Nenhum dos relatos mencionou a presença de Marco, reforçando a impressão de que algo havia acontecido para separá-los. O mais específico destes avistamentos foi relatado por Francesco Giordano, um colono que morava na estrada principal que levava ao povoado.
Em 12 de novembro, ele alegou ter visto uma jovem mulher emergir da mata próxima à sua propriedade e caminhar ao longo da estrada em direção ao povoado. Quando ele a chamou, ela respondeu: “E Francesco teve certeza de que era Elisa Bernardi. Ela parecia magra e mal vestida, mas fisicamente intacta. Segundo Francesco, Elisa respondeu às suas perguntas de maneira evasiva, alegando que estava bem e que não precisava de ajuda.
Quando ele ofereceu levá-la de volta à propriedade de seus pais ou providenciar transporte para onde quer que estivesse indo, ela recusou firmemente. Francesco notou que ela carregava uma trouxa pequena e que suas roupas, embora sujas e desgastadas, não eram as mesmas que ela usava quando desapareceu meses antes.
O encontro de Francesco com Elisa durou apenas alguns minutos antes que ela se desculpasse e continuasse caminhando em direção ao povoado. Francesco considerou segui-la, mas decidiu respeitar seu desejo aparente de privacidade. Entretanto, ele imediatamente se dirigiu à propriedade dos Bernard para informar Giuseppe sobre o encontro. Chegando lá, na mesma tarde, Giuseppe recebeu a notícia do avistamento de Elisa com mistura de alívio e frustração.
Ficou claro que sua filha estava viva e aparentemente em condições físicas razoáveis, mas sua recusa em retornar para casa, ou mesmo manter contato prolongado com vizinhos, sugeria que ela havia tomado decisão consciente de permanecer separada da família. Giuseppe decidiu ir ao povoado no dia seguinte para tentar encontrá-la. A viagem de Giuseppe ao povoado, no entanto, não resultou em reencontro com Elisa.
Comerciantes e residentes locais relataram ter visto uma jovem mulher que correspondia à sua descrição, mas ninguém sabia para onde ela havia ido ou onde estava hospedada. Algumas pessoas mencionaram ter visto a mulher conversando com viajantes que passavam pela região, sugerindo que ela talvez estivesse tentando conseguir transporte para outro lugar.
A busca infrutífera no povoado deixou Giuseppe profundamente desencorajado. Retornou à propriedade com a certeza de que Elisa estava deliberadamente evitando contato com a família, mas sem entendimento claro de suas motivações ou planos futuros. Caterina, quando informada sobre o encontro de Francesco e a subsequente busca malsucedida, passou vários dias em estado de angústia renovada.
Durante dezembro de 1895, os avistamentos de Elisa tornaram-se ainda mais raros e espaçados. A comunidade começou gradualmente a aceitar que ela havia partido definitivamente da região, possivelmente acompanhando algum dos viajantes que frequentemente passavam pela área. O inverno rigoroso tornava improvável que alguém conseguisse sobreviver na mata sem abrigo adequado, reforçando a teoria de que ela havia encontrado outras acomodações. O último avistamento confirmado de Elisa Bernardi foi relatado em 23 de dezembro pelo padre
Giovani Marcelo. Segundo suas anotações, ele estava retornando de visita pastoral a uma família isolada quando viu uma jovem mulher ajoelhada diante de um cruzeiro de madeira que havia sido erguido à beira da estrada principal anos antes. quando se aproximou para oferecer assistência, reconheceu Elisa imediatamente.
O encontro do padre Giovani com Elisa foi mais prolongado que os avistamentos anteriores relatados por outros membros da comunidade. Segundo suas anotações detalhadas, Elisa parecia fisicamente debilitada, mas mentalmente lúcida. Ela respondeu às suas perguntas sobre sua condição e bem-estar, mas recusou-se a discutir seus planos ou explicar por havia deixado a casa familiar.
Quando o padre ofereceu ajuda para reunir-se com seus pais, ela agradeceu, mas declinou firmemente. Mais significativo foi o que Elisa revelou sobre Marco durante sua conversa com o padre Giovani. Segundo as anotações do padre, ela confirmou que Marco havia estado com ela durante os meses em que viveram na mata, mas explicou que eles haviam se separado em outubro.
Ela não ofereceu detalhes sobre as circunstâncias da separação ou sobre o paradeiro atual de Marco, dizendo apenas que ele havia partido para lugar onde ela não podia segui-lo. Quando o padre Giovan perguntou se Marco estava bem quando se separaram, Elisa hesitou por longo tempo antes de responder. Finalmente, ela disse que Marco estava em paz e que não precisava mais se preocupar com os problemas que os haviam forçado a se esconder.
A natureza vaga de sua resposta, combinada com sua linguagem corporal durante a conversa, deixou o padre com impressões perturbadoras que ele posteriormente registrou em seus diários pessoais. O padre Giovan ofereceu-se para acompanhar Elisa onde quer que ela estivesse indo, ou para providenciar acomodação temporária enquanto ela reconsiderava sua situação.
Elisa agradeceu a oferta, mas explicou que havia tomado disposições para deixar a região e que não desejava criar mais problemas para sua família ou para a comunidade. Quando pressionada sobre detalhes, ela permaneceu evasiva, mas assegurou ao padre que não estava em perigo imediato. A conversa terminou com Elisa, pedindo ao padre que transmitisse suas despedidas aos pais e explicasse que sua decisão de partir não estava relacionada a ressentimento ou raiva, mas a circunstâncias que tornavam impossível retomar sua vida anterior. Ela pediu
especificamente que Giuseppe e Caterina não se culpassem pelo que havia acontecido e que tentassem continuar suas vidas sem esperar por seu retorno. Após transmitir as despedidas, Elisa partiu caminhando pela estrada em direção ao povoado. O padre Giovan considerou segui-la, mas respeitou seu desejo aparente de privacidade.
Essa foi a última vez que qualquer membro da comunidade italiana de Bento Gonçalves relatou ter visto Elisa Bernardi. Seu destino após 23 de dezembro de 1895 permaneceu desconhecido. Giuseppe e Caterina Bernardi receberam as despedidas transmitidas pelo padre Giovani com sentimentos misturados. Havia alívio em saber que Elisa estava viva e aparentemente segura, mas também tristeza profunda pela confirmação de que ela não pretendia retornar.
Caterina, em particular teve dificuldade em aceitar que nunca mais veria a filha e passou meses esperando que Elisa mudasse de ideia e voltasse para casa. O destino de Marco Stefanelli permaneceu completamente em mistério. As referências vagas de Elisa ao fato de que ele havia partido para lugar onde ela não podia segui-lo e estava em paz, foram interpretadas de várias maneiras pelos membros da comunidade.
Algumas pessoas acreditaram que ele havia deixado a região para procurar trabalho em outras áreas. Outras, entretanto, desenvolveram teorias mais sombrias. sobre o que poderia ter acontecido com ele. Durante janeiro de 1896, uma busca final e limitada foi organizada para tentar localizar Marco ou determinar seu destino. A busca concentrou-se nas áreas onde os abrigos destruídos haviam sido encontrados e em locais que não haviam sido explorados completamente durante as buscas anteriores.
Usep participou dessa busca final, movido em parte curiosidade sobre o destino do jovem que havia trabalhado em sua propriedade. A busca de janeiro resultou em descoberta adicional que aprofundou o mistério em vez de esclarecê-lo. Em área de mata densa, localizada a aproximadamente 3 km do abrigo destruído encontrado em outubro, os buscadores descobriram um local que claramente havia sido usado para enterrar algo.
O solo havia sido escavado e posteriormente coberto, mas com cuidado insuficiente para esconder completamente a perturbação. A escavação do local revelou restos de roupas e objetos pessoais que foram identificados como tendo pertencido a Marco Stefanelli. As roupas estavam em condições que sugeriam que haviam sido enterradas há vários meses, possivelmente desde outubro, coincidindo com o período em que Elisa havia indicado que eles se separaram.
Não havia, entretanto, evidências dos restos físicos de Marco, apenas seus pertences pessoais. A descoberta dos pertences enterrados de Marco criou especulação intensa na comunidade sobre o que havia realmente acontecido entre ele e Elisa durante seu tempo escondidos na mata. Aência dos restos físicos de Marco, combinada com o enterro cuidadoso de seus pertences, sugeria que algo significativo havia ocorrido, mas a natureza exata dos eventos permaneceu indeterminada.
Giuseppe decidiu não prosseguir com investigações adicionais. Os registros oficiais sobre o caso de Elisa Bernardi e Marco Stefanelli são fragmentários e incompletos. Os arquivos municipais da época contém apenas referências básicas aos desaparecimentos classificados como abandono voluntário, no caso de Elisa, e desaparecimento não resolvido no caso de Marco.
Nenhuma investigação formal foi conduzida pelas autoridades, refletindo tanto a limitação dos recursos policiais da época quanto a tendência da comunidade italiana de resolver questões internas sem envolvimento externo. O padre Giovan Marcelo manteve registros mais detalhados em seus diários pessoais, incluindo observações sobre o comportamento da família Bernard e sua própria interpretação dos eventos.
Esses registros, preservados nos arquivos paroquiais fornecem a fonte mais rica de informações sobre os aspectos psicológicos e sociais do caso. O padre expressou preocupação particular sobre o impacto dos eventos na coesão da comunidade italiana. Giuseppe e Caterina Bernardi continuaram vivendo na propriedade onde os eventos ocorreram até suas mortes.
Giuseppe em 1903 e Caterina em 1907. Vizinhos relataram que eles nunca recuperaram completamente o equilíbrio emocional após o desaparecimento de Elisa. Giuseppe, em particular desenvolveu o hábito de caminhar pelas trilhas da propriedade durante as tardes, como se ainda esperasse encontrar evidências do paradeiro de sua filha.
A propriedade dos Bernard foi vendida após a morte de Caterina para a família de imigrantes alemães que se estabeleceram na região durante a primeira década do século XX. Os novos proprietários demoliram várias das estruturas originais, incluindo o galpão onde Elisa e Marco haviam se encontrado. A casa principal foi expandida e modificada, eliminando muitas das características físicas que estavam associadas aos eventos de 1895.
Durante as décadas que se seguiram, o caso de Elisa Bernardi tornou-se parte do folclore local da região de Bento Gonçalves. Diferentes versões da história circularam oralmente entre as famílias da comunidade italiana, com detalhes que variaram e se modificaram através das gerações.
Algumas versões enfatizavam aspectos românticos da relação entre Elisa e Marco, enquanto outras focavam nos elementos mais sombrios e misteriosos dos eventos. Em 1922, um pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul chamado Doutor Alberto Moraes, conduziu estudo sobre a história da imigração italiana na Serra Gaúcha.
Durante sua pesquisa, ele entrevistou vários membros idosos da comunidade que haviam sido contemporâneos dos eventos de 1895. As entrevistas revelaram detalhes adicionais sobre o caso, incluindo algumas informações que não haviam sido preservadas em registros escritos. Dr. Morais registrou o relato particularmente intrigante de uma mulher chamada Rosa Benedet, que havia sido amiga próxima de Caterina Bernardi.
Segundo Rosa, Caterina havia confiado a ela, pouco antes de sua morte informações adicionais sobre os eventos de 1895, que nunca haviam sido compartilhadas com outros membros da comunidade. Rosa hesitou em revelar esses detalhes durante sua entrevista com o Dr. Morais, mas finalmente decidiu compartilhá-los para fins históricos.
Segundo o relato de Rosa Benedetti, Caterina havia descoberto, após o desaparecimento final de Elisa, evidências que sugeriam que a filha havia estado grávida durante os últimos meses em que viveu na mata. Rosa explicou que Caterina havia encontrado indicações desta condição entre os pertences que Elisa havia deixado para trás e em observações que havia feito sobre mudanças físicas de sua filha antes do desaparecimento.
Caterina nunca compartilhou essa informação com Giuseppe ou com outras pessoas. A revelação sobre uma possível gravidez forneceu contexto adicional para entender as motivações de Elisa e as circunstâncias que levaram aos eventos de 1895. também explicação possível para algumas das referências vagas que Elisa havia feito durante sua última conversa com o padre Giovan sobre circunstâncias que tornavam impossível retomar sua vida anterior. Entretanto, a informação nunca foi confirmada independentemente.
Dr. Morais incluiu o caso de Elisa Bernardi em sua dissertação sobre a história social da imigração italiana. mas apresentou os eventos como exemplo de tensões familiares e sociais típicas do período de adaptação enfrentado pelos imigrantes. Não especulou extensivamente sobre os aspectos mais misteriosos do caso, focando em Sted, nos elementos que ilustravam questões mais amplas sobre estruturas familiares, expectativas sociais e pressões econômicas enfrentadas pelas comunidades de imigrantes. A dissertação de Dr. Morais foi
arquivada na biblioteca da universidade e permaneceu largamente ignorada por décadas. Não foi até 1958 que o documento foi redescoberto por outro pesquisador, Dr. Maria Gonzales, que estava conduzindo estudos sobre casos não resolvidos na história do Rio Grande do Sul. Dr. Gonzales ficou intrigada pelos aspectos misteriosos do caso de Elisa Bernardi e decidiu condir investigação mais aprofundada. Dr.
Gonzales conseguiu localizar alguns dos descendentes das famílias que haviam sido contemporâneas dos eventos de 1895. Através de entrevistas com essas pessoas, ela coletou versões adicionais da história que haviam sido preservadas oralmente através das gerações. Algumas dessas versões incluíam detalhes que não apareciam nos registros escritos disponíveis, embora a confiabilidade dessas informações fosse questionável devido ao tempo transcorrido.
Uma das entrevistas conduzidas por Dr. Gonzales foi com Giuseppe Bernard Neto, neto do Giuseppe original, que havia crescou ouvindo histórias sobre os eventos contadas por membros mais velhos da família. Giuseppe Neto revelou que havia rumores persistentes na família de que Elisa havia sido vista em outras regiões do Brasil décadas após seu desaparecimento de Bento Gonçalves.
Esses avistamentos nunca foram confirmados, mas sugeriram que ela poderia ter sobrevivido e estabelecido nova vida em outro lugar. Dr. Gonzales também conseguiu acesso aos diários pessoais do padre Giovani Marcelo, que haviam sido preservados nos arquivos paroquiais. Uma revisão mais cuidadosa desses diários revelou entradas que não haviam sido notadas por pesquisadores anteriores, incluindo reflexões do padre sobre possíveis interpretações dos eventos e suas preocupações sobre aspectos do caso que ele considerava perturbadores demais para discutir
publicamente na época. Em uma entrada datada de janeiro de 1896, o padre Giovan registrou sonho recorrente que havia começado a ter após sua última conversa com Elisa. No sonho, ele caminhava pela mata próxima à propriedade dos Bernard e ouvia vozes chamando por ajuda. Quando seguia as vozes, encontrava Marco Stefanelli sozinho em clareira, ferido e pedindo por assistência.
O padre interpretou o sonho como possível indicação divina de que Marco precisava de ajuda e que talvez ainda estivesse vivo na mata. Motivado por esses sonhos, o padre Giovanni havia organizado várias expedições pequenas e discretas para procurar Marco durante os primeiros meses de 1896. Essas expedições não haviam resultado em descobertas significativas, mas haviam permitido ao padre explorar áreas da mata que não haviam sido examinadas durante as buscas oficiais. Ele registrou em seus diários que havia encontrado evidências adicionais de
ocupação humana na mata, mas nada que pudesse ser definitivamente ligado a Marco. Dr. Gonzales tentou localizar os locais específicos mencionados nos diários do padre Giovanni para conduzir sua própria exploração, mas descobriu que muitas das características geográficas haviam mudado drasticamente durante as décadas intermediárias.
Desenvolvimento agrícola e florestal havia alterado as trilhas e muitas das estruturas naturais que haviam servido como pontos de referência na época não existiam mais. A propriedade original dos Bernardi havia sido incorporada à fazenda Maior e era irreconhecível. Em 1962, durante escavação para a construção de nova estrada na região que havia sido propriedade dos Bernard, trabalhadores descobriram restos humanos em local que correspondia aproximadamente à área onde o galpão abandonado havia sido localizado décadas antes.
Os restos foram examinados por autoridades locais e determinados como sendo de pessoa adulta que havia morrido várias décadas antes da descoberta. A descoberta dos restos humanos reascendeu interesse no caso de Elisa Bernardi e Marco Stefanelli. Dr. Gonzales foi consultada pelas autoridades devido ao seu conhecimento do caso histórico.
E ela providenciou informações sobre as pessoas desaparecidas para auxiliar na identificação. Entretanto, as técnicas forenses disponíveis na época eram limitadas. e não foi possível fazer identificação definitiva baseada apenas nos restos ósse Gonzales organizou expedição final para tentar localizar evidências adicionais relacionadas ao caso.
Usando mapas históricos e as descrições preservadas nos diários do padre Giovani, sua equipe explorou sistematicamente áreas que correspondiam aos locais mencionados nos relatos de 1895. A expedição resultou na descoberta de vários artefatos que pareciam datar do período relevante, incluindo fragmentos de metal, que poderiam ter sido utensílios de cozinha e pequenos objetos. pessoais.
Entre os artefatos descobertos, o mais intrigante foi fragmento de metal gravado, que parecia ser parte de medalhão ou joia. A gravação, embora desgastada pelo tempo, incluía letras que poderiam ser interpretadas como MS, possivelmente referindo-se a Marco Stefanelli. O fragmento foi encontrado em área que correspondia aproximadamente ao local onde os pertences enterrados de Marco haviam sido descobertos em 1896, fornecendo possível confirmação da conexão.
Autor Gonzales completou sua investigação em 1964 e preparou o relatório abrangente sobre o caso. O relatório incluía todas as evidências disponíveis, desde os registros históricos originais até as descobertas arqueológicas recentes. Entretanto, ela concluiu que, apesar do material substancial que havia sido coletado, o destino exato de Elisa Bernard e Marco Stefanelli permanecia indeterminado. O relatório de Dr.
Gonzales foi arquivado nos registros estaduais e cópias foram enviadas para várias instituições acadêmicas interessadas em história regional. O documento permaneceu amplamente desconhecido fora dos círculos acadêmicos especializados até 1968, quando foi descoberto por jornalista investigativo que estava pesquisando casos históricos não resolvidos para a série de artigos de jornal.
O jornalista chamado Carlos Mendoza publicou série de três artigos sobre o caso de Elisa Bernard no jornal local de Caxias do Sul durante setembro de 1968. Os artigos geraram interesse considerável na comunidade regional e resultaram em várias pessoas entrando em contato com Mendoza para compartilhar informações adicionais ou teorias sobre os eventos.
Entretanto, nenhuma das informações fornecidas resultou em esclarecimento significativo sobre o caso. Um dos contatos mais intrigantes recebidos por Mendoza veio de mulher idosa chamada Helena Martinelli, que alegava ter informações sobre o destino de Elisa Bernardi. Helena explicou que sua avó havia trabalhado como parteira na região durante as últimas décadas do século XIX e havia mantido registros informais de nascimentos e outros eventos médicos.
Segundo Helena, esses registros incluíam referência à jovem mulher que correspondia à descrição de Elisa, que havia dado à luz em localidade distante durante o inverno de 1895. Helena ofereceu-se para mostrar os registros de sua avó à Mendoza, mas quando ele tentou arranjar encontro, descobriu que Helena havia mudado de endereço e não podia ser localizada.
através das informações de contato que havia fornecido. Tentativas subsequentes de localizar Helena ou verificar sua história foram infrutíferas. Mendoza incluiu referência ao contato em seus artigos, mas admitiu que não havia conseguido confirmar as informações independentemente, os artigos de Mendoza marcaram o último interesse público significativo no caso de Elisa Bernardi durante várias décadas.
O caso gradualmente desapareceu da consciência pública, permanecendo conhecido apenas para especialistas em história local e ocasionais entusiastas de mistérios históricos. Os arquivos relacionados ao caso foram consolidados e depositados nos arquivos estaduais, onde permanecem disponíveis para pesquisadores interessados.
Durante os anos que se seguiram, desenvolvimento urbano e agrícola continuou a alterar a paisagem da região onde os eventos ocorreram. A maior parte da mata onde Elisa e Marcos supostamente viveram foi desmatada para agricultura ou desenvolvimento residencial. As trilhas antigas foram substituídas por estradas pavimentadas e marcos geográficos mencionados nos relatos históricos deixaram de existir ou tornaram-se irreconhecíveis.

Hoje, a região que foi palco dos eventos de 1895 faz parte da próspera área vinícola de Bento Gonçalves. Visitantes da área raramente têm consciência da história sombria que uma vez se desenrolou naquelas terras. Não há monumentos ou placas comemorativas relacionadas ao caso de Elisa Bernardi e poucos residentes locais estão familiarizados com os detalhes dos eventos.
Ol, pesquisadores ou escritores interessados em história local redescobrem o caso e tentam investigação adicional. Esses esforços geralmente resultam em pouco progresso devido à escassez de evidências físicas. disponíveis e a passagem de mais de um século desde os eventos originais. As pessoas que tiveram conhecimento direto dos eventos já faleceram há décadas e as tradições orais que preservaram aspectos da história tornaram-se fragmentadas e não confiáveis.
O caso de Elisa Bernardi permanece como exemplo de mistério histórico que resiste à resolução completa. As evidências disponíveis fornecem estrutura básica dos eventos, mas deixam questões fundamentais sem resposta. O destino final tanto de Elisa quanto de Marco, a natureza exata de seu relacionamento e as circunstâncias que levaram aos eventos de 1895 permanecem assuntos de especulação em vez de fato estabelecido.
Para aqueles que estudam o caso hoje, talvez a lição mais significativa seja sobre os limites do conhecimento histórico. Mesmo casos que geraram documentação substancial e investigação extensiva podem permanecer fundamentalmente misteriosos quando as evidências físicas se deterioraram e as testemunhas desapareceram.
O caso de Elisa Bernardi serve como lembrete de que nem todos os mistérios do passado podem ou serão resolvidos, independentemente dos esforços dedicados à sua investigação, nos registros fragmentados que sobreviveram, nas tradições orais que persistiram e nas evidências físicas ocasionalmente descobertas. O eco dos eventos de 1895 continua a ressoar.
A história de Elisa Bernardi e Marco Stefanelli permanece como testemunho dos dramas humanos que se desenrolaram nas comunidades pioneiras do Brasil. dramas cujos detalhes completos talvez nunca sejam conhecidos, mas cujo impacto emocional e social continuou a afetar gerações subsequentes. E assim, mais de um século depois, quando o vento sopra através dos vinhedos, que agora cobrem as terras, onde uma vez ficava a propriedade dos Bernard, talvez ainda carregue ecos.
Vozes que chamaram por ajuda numa mata que já não existe. Vozes que sussurraram segredos em abrigos que foram destruídos pelo tempo. Vozes que permaneceram silenciosas sobre verdades que levaram consigo para lugares onde ninguém mais poderia segui-las. Что?