😢ME CONTRATE POR UMA NOITE MINHA FILHA PRECISA COMER… O FAZENDEIRO VIÚVO OLHOU PARA ELA E FEZ ISSO…

O sol do sertão soprava quente naquele fim de tarde. O chão rachado, o gado magro e o silêncio de um lugar que parecia esquecido até por Deus. A poeira dançava no ar e, ao longe, via-se um cavalo castanho amarrado a uma cerca diante da placa de madeira velha escrita à mão: Contrata-se por uma noite. Era o costume da época; homens simples vendiam a sua força por um prato de comida, mas naquele dia, quem se aproximou não foi um homem. Elisa vinha a passos lentos, descalça, o vestido rasgado na barra, os olhos fundos de quem há dias não dormia. Parou diante do portão da fazenda e segurou firme a cerca com as duas mãos. O olhar dela encontrou o de António Vargas, o dono daquelas terras, um homem de uns trinta anos, forte, com o rosto marcado pelo sol e pela solidão desde que perdera a esposa, Isabel, há dois anos.

Elisa respirou fundo e disse, com a voz a tremer, mas firme: “Senhor, eu sei que o senhor não me conhece, mas a minha filha está sem comer há dois dias. Eu, eu faço qualquer coisa. Contrate-me por uma noite.” António franziu o sobrolho, largou a pá que segurava e caminhou até ela. “Como é que é, moça?” Ela abaixou a cabeça. “Eu não tenho mais o que vender, nem o que dar. Só tenho a mim.” O silêncio que se seguiu foi pesado. António pegou um pedaço de pão que estava dentro do bolso do casaco e mostrou-lhe. “É isso que você quer, não é? Comida.” Ela anuiu sem conseguir falar. “Então, por que se humilha desse jeito?” “Porque a minha filha não entende de orgulho, senhor. Ela só sente fome.” António respirou fundo. “Eu não compro corpos, moça,” disse ele pausadamente, “mas compro coragem.” Ele estendeu o pão firme e completou. “Se você quiser trabalhar, a Casa Grande está a precisar de limpeza. Pode vir amanhã cedo.” Elisa olhou para ele com os olhos marejados. “E a comida?” António encolheu os ombros e colocou o pão na mão dela. “A comida vem antes do trabalho.” Ela segurou o pão com as duas mãos, como quem segura um tesouro. “Obrigada, Senhor. Deus lhe pague.” Ela virou-se devagar e começou a andar de volta. A cada passo, o vestido balançava, e o vento levava embora o último fio de orgulho que restava nela. Olhando até ela sumir na estrada, só quando o sol desapareceu atrás das serras é que ele murmurou quase para si mesmo: “Que mundo é esse? Onde uma mulher precisa vender a própria dignidade por um pedaço de pão?”

Na manhã seguinte, antes mesmo do sol nascer, no seu casebre simples, Elisa partia o pão que António lhe dera na véspera. Um pedaço para ela, o outro, o maior, para a filha, Mariazinha, de oito anos, deitada num canto ainda fraca. “Come, minha flor,” disse Elisa. “Hoje a mamãe vai trabalhar, o vento vai mudar, você vai ver.” Mariazinha sorriu mesmo com os lábios rachados. “Esse pão tem gosto de festa, mamãe.” A estrada até à fazenda era longa, mas ela andava firme, cada passo era uma lembrança do marido morto na seca, da fome que a fez perder até o medo da vergonha. Quando chegou à porteira, António já estava lá a cortar lenha. “Pensei que não viesse,” disse ele, sem olhar. “Prometi que viria,” respondeu ela. “E promessa eu cumpro.” Elisa entrou. O casarão era imenso, mas triste, as cortinas cobertas de poeira. Ela parou diante do retrato de Isabel, a falecida esposa de António. “Bonita, não é?” disse António, que tinha se aproximado em silêncio. “Muito. Dá para ver que o senhor a amava.” “Ainda amo. Mas amor não segura ninguém nesse mundo.”

Horas depois, António apareceu com uma caneca de barro. “Água fresca. A senhora precisa se cuidar.” Ela pegou com as duas mãos. “Obrigada, seu António.” “Só António. Está bom assim.” Ela sorriu pela primeira vez. “Então me chame de Elisa.” A casa ficou mais viva hoje, acho que ela gostou, disse ele apontando a mulher no retrato. Elisa limpou o pó, mas no fundo, ele não sabia se aquela mulher tinha trazido vida para a fazenda ou lembrado ele daquilo que jurou nunca mais sentir. Mas, uma coisa era certa, aquela história estava só começando.

Os dias seguintes trouxeram um ar novo à fazenda Horizonte. Elisa seguia firme no trabalho, e António, embora fingisse não notar, percebia o som da vassoura, o cheiro do café que ela fazia no ponto certo. A Casa Grande estava a respirar de novo. Uma tarde, ele perguntou: “Onde aprendeu essa música?” “Minha mãe cantava quando a seca apertava,” respondeu ela. “Dizia que cantar era o jeito de pedir coragem a Deus.” O tempo foi passando e o trabalho se tornou rotina. Elisa cozinhava, cuidava do pomar, alimentava as galinhas. À noite, sentavam-se na varanda, olhando o céu cheio de estrelas. “Sabe, Elisa,” ele comentou, “tem coisa que o homem tenta esquecer, mas Deus insiste em lembrar. Como o quê?” ela perguntou. “Como o amor.” Elisa desviou o olhar. “O amor machuca.” “Machuca, mas machuca mais é viver sem ele,” respondeu ele com a voz baixa.

Mas a vida naquele sertão duro não dava trégua. Numa tarde de sol rachando, Elisa apareceu na varanda pálida. “António,” a voz dela quase falhou. “A Mariazinha piorou. Ela está com febre alta. O médico pediu um remédio que eu não posso pagar.” António olhou para ela com atenção. “E quanto custa?” “Quarenta mil reis. E eu não tenho nem a metade.” O silêncio se estendeu. “Eu posso trabalhar dobrado, posso fazer o que for preciso. Mas…” ela hesitou, a voz embargou, “mas se for preciso, o senhor pode me contratar por uma noite.”

António ficou imóvel. O tempo parou. “Não diga isso, Elisa.” A voz dele veio baixa, quase um sussurro. “Você acha mesmo que eu seria capaz de me aproveitar da sua dor?” Ele respirou fundo e pela primeira vez sua voz tremeu. “Você vai pegar o dinheiro, vai comprar o remédio e quando sua filha sarar, a gente conversa sobre o resto.” Ele tirou um saco de couro do bolso e colocou as moedas nas mãos dela. “Aqui é o bastante. Eu não sou homem de esmola, mas também não sou o homem que assiste uma criança morrer.” Elisa segurou as moedas. “Eu prometo que vou pagar.” “E eu prometo que não quero o seu pagamento.” O olhar dele era firme. Ele se importava.

Três dias depois, Elisa voltou à fazenda, o rosto cansado, mas os olhos vivos. “Mariazinha melhorou. O remédio fez efeito.” Ela estendeu as moedas. “Vim devolver o dinheiro.” António olhou para ela. “Eu não quero esse dinheiro, Elisa. O que eu fiz não foi caridade, foi respeito.” Ele se levantou. “Sabe, Elisa, quando a minha mulher morreu, eu jurei que nunca mais ia olhar para outra mulher. Mas tem hora que a vida empurra a gente de volta pro caminho.” Elisa ficou em silêncio. “E o senhor acha que a vida está lhe empurrando para onde agora?” perguntou ela com a voz baixa. Ele virou o rosto e respondeu com sinceridade: “Para perto do que ainda faz sentido. Volte amanhã. A casa ainda precisa de cuidado. E eu acho que eu também.”

A partir daquele dia, eles começaram a construir uma cumplicidade silenciosa. Ele a levava para marcar os canteiros, ela o ensinava a cozinhar com economia. Um dia ele trouxe um pedaço de tecido azul escuro. “É só um pedaço de tecido,” explicou. “Achei que pudesse servir para a costura. Talvez eu guarde para um dia de festa,” disse ela. “Vai chegar,” ele disse, encarando-a por um instante, como quem faz um juramento.

Numa manhã, ao limpar o quarto fechado de Isabel, Elisa encontrou um pedaço de papel amarelado caído atrás da cômoda. Era uma carta antiga, com a caligrafia delicada da falecida esposa de António. Se um dia outra mulher cruzar por essa porta e trouxer luz, António. Deus não repete amores. Ele continua histórias. Promete que vai reconhecer quando for a hora. Com amor, Isabel.

As mãos de António tremiam ao ler. “É como se Isabel tivesse me empurrado para a vida outra vez.” Ele pegou a mão de Elisa. “Eu não quero ser lembrança, Elisa. E não é. Você é o que ficou depois da lembrança.” Ele tirou do bolso uma caixinha simples de madeira. Abriu. Dentro, um colar de ouro simples com o selo da família Vargas. “Isabel pediu para eu reconhecer a hora certa. E a hora certa não é um dia do calendário, é quando a coragem encontra a paz.” Ele colocou a corrente devagar no pescoço de Elisa. “Não é substituição. É continuação.”

O casal ficou em silêncio por um instante. O passado, enfim, deixava de ser ferida para virar raiz. Naquela tarde, veio uma forte trovoada. A chuva que caía era grossa, forte. Elisa olhou para a estrada. Mariazinha estava na pensão da velha Rita na vila, e a ponte de madeira podia não aguentar. “António, eu preciso buscar a minha menina.” “Eu não deixo você ir sozinha. Vamos juntos.” O primeiro raio riscou o céu quando os dois já galopavam.

Ao chegarem à ponte, o rio era um bicho barulhento. A ponte cedeu. Elisa caiu de joelhos, o corpo pendurado, mas António a segurou. “Olha para mim e vem!” gritou ele. A cada passo, o perigo. No regresso, com Mariazinha no colo, a ponte gemeu de novo. Uma ripa estourou, a manta escorregou, e Mariazinha escorregou por um triz. Elisa cravou os joelhos na madeira, agarrou o tecido com os dentes e puxou a menina de volta. Quando pisaram terra firme, o corpo de Elisa finalmente cedeu. “Fica comigo,” pediu António, tremendo mais de medo do que de frio. “Fica! Estou aqui,” sussurrou ela. “Só cansada.” Ele a pegou no colo e os três voltaram à fazenda.

Dias depois, a fazenda cheirava a ferro e a flor de juazeiro. António sentou-se na varanda e pediu a Elisa. “Eu te peço, fica, não por pena, não por dívida. Fica porque essa casa já fala no teu tom.” Elisa respirou demoradamente. “Eu fico como parceira, e se um dia a vida quiser mais, a gente conversa com respeito.”

No cartório, António registou o que prometeu. “Termo de sociedade e meação,” leu o escrivão. António Vargas e Elisa teriam divisão igual de lucros e responsabilidades. Depois, António tirou uma caixinha simples. Duas alianças finas. “Eu não quero que a casa te chame de sócia apenas no papel. Quero que ela te chame pelo meu sobrenome, se você quiser.” “Eu caibo aqui,” disse Elisa. Ele pegou a aliança e pôs no dedo dela.

Na capelinha, uma cerimónia pequena. Não houve dote, não houve luxo. Houve chalhe azul nos ombros, arruda presa ao cabelo, mãos dadas e o cavalo marrom esperando na sombra do IP. “Eu não te peço pressa, nem prova, te peço estrada. Se você quiser, a gente caminha juntos,” disse João firme. “Eu fico, não por dívida, mas por escolha,” respondeu Maria.

Naquela noite, a casa grande respirava nova. O amor que tinha chegado pela dor agora aprendia a ficar pela escolha. E António e Elisa encontraram o que sempre procuraram: dignidade, parceria e a certeza de que a recompensa não era o ouro, nem a riqueza, era o renascimento da vida, o reencontro com o amor e o milagre de recomeçar com dignidade.

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News