Na noite de 23 de novembro de 1876, nove dos coronéis mais poderosos do recôncavo baiano sentaram-se à mesa da casa grande do Engenho Boa Vista. Nenhum deles imaginava que aquela seria sua última refeição. O jantar servido com requintes de ostentação escondia um segredo mortal que transformaria aquela noite num dos episódios mais sangrentos da história da escravidão no Brasil.
O que eles não sabiam é que uma mulher escravizada chamada Zeferina havia decidido que o reinado de terror deles terminaria ali. Se você quer saber como uma cozinheira escravizada planejou e executou a vingança mais calculada do império, fica comigo até o final, porque essa história vai te deixar sem palavras.
E antes de continuar, se inscreve no canal e ativa o sininho, porque você não vai querer perder nenhum detalhe dessa trama real que parece roteiro de filme. Mas antes de eu te contar como tudo aconteceu, deixa seu like nesse vídeo e comenta aqui embaixo: “Você acha que a vingança de Zeferina foi justiça ou crime? Quero saber sua opinião sincera.
O recôncavo baiano em 1876 era um território dominado por homens que se intitulavam coronéis, mesmo sem nunca terem vestido farda. Esses fazendeiros controlavam engenhos de cana de açúcar e centenas de pessoas escravizadas. A riqueza deles vinha do sangue, do suor e das lágrimas de quem eles consideravam propriedade.
O coronel Antônio Ferreira Guimarães era o dono do engenho Boa Vista, uma propriedade imensa que ficava três léguas de cachoeira na Bahia. A casa grande dele tinha dois andares, 15 janelas com grades de ferro forjado e um salão de jantar que comportava 20 pessoas sentadas.
Era ali que ele gostava de receber seus iguais para discutir negócios, política e como manter o controle sobre as cenzalas que sustentavam todo aquele luxo. Zeferina tinha 42 anos em 1876. Ela havia nascido escravizada na própria fazenda, filha de africanos trazidos à força pro Brasil décadas antes. Durante 26 anos, ela trabalhou na cozinha da Casa Grande. Conhecia cada tempero, cada panela de cobre, cada prato de porcelana francesa que o coronel Guimarães ostentava nas suas recepções.
Mas Eferina não era apenas cozinheira, ela era mãe, mãe de cinco filhos que foram vendidos um por um ao longo dos anos. O último deles, Miguel, um menino de apenas 11 anos, tinha sido vendido três meses antes do jantar. O comprador foi justamente um dos coronéis que seria convidado pra mesa naquela noite fatídica.
A ideia do jantar surgiu no final de outubro. O coronel Guimarães queria reunir os fazendeiros da região para discutir uma estratégia conjunta contra as pressões abolicionistas que vinham da capital. Desde 1850, com a lei Eusébio de Queiroz, o tráfico de escravizados africanos tinha sido proibido, mas as leis abolicionistas continuavam avançando.
Os coronéis estavam sentindo o chão tremer debaixo dos pés. Nove fazendeiros confirmaram presença. Além do anfitrião Antônio Guimarães, viria o coronel José de Alencar Pinto, dono do Engenho Santa Cruz, o coronel Manuel Rodrigues de Carvalho, proprietário do Engenho São José, o coronel Joaquim Pereira da Cunha, senhor do engenho Nossa Senhora da Conceição, o coronel Francisco de Paula Souza, do engenho Santo Antônio, o coronel Sebastião Gomes da Silva, do Engenho Bom Jesus, o coronel Pedro Álvares Cabral Filho do Engenho Santa Bárbara, o coronel Luiz Gonzaga de Almeida, do Engenho São Pedro, e o
coronel Domingos Ferreira de Brito, do Engenho Santíssimo Sacramento. Esses homens comandavam juntos mais de 1200 pessoas escravizadas. Eles se consideravam reis das suas terras, donos de vidas e destinos. Jamais imaginariam que uma mulher negra, cozinheira, estaria planejando o fim de todos eles.
Zeferina começou os preparativos duas semanas antes. Ela sabia que precisava de algo que agisse lento suficiente para não levantar suspeitas durante o jantar, mas forte bastante para garantir que nenhum deles sobrevivesse. A resposta estava num conhecimento passado de geração em geração entre as mulheres africanas da Cenzala, a mandioca brava.
A mandioca brava contém ácido cianídrico em alta concentração. Se não for processada corretamente, pode matar. Zeferina sabia exatamente como extrair e concentrar o veneno. Ela também sabia que misturado com outros ingredientes fortes, como pimenta, dende e coentro, o gosto amargo ficaria disfarçado. As duas semanas antes do jantar foram de tensão silenciosa.

Zeferina trabalhava na cozinha da casa grande ao lado de outras três mulheres escravizadas. Joana, Rosa e Margarida. Elas sabiam que algo estava diferente, mas Eferina mantinha tudo trancado dentro de si. Confiar em alguém poderia significar a morte dela antes mesmo de concretizar o plano. O coronel Guimarães exigiu que o jantar fosse digno da importância dos convidados.
Ele mandou buscar em Salvador caixas de vinho português, queijos importados, bacalhau e azeite de oliva. Mas o prato principal seria preparado ali mesmo. Um banquete típico do recôncavo com vatapá, muqueca, caruru, feijão tropeiro e farofa dourada. Zeferina foi encarregada de comandar toda a operação. Isso lhe deu o controle absoluto sobre cada panela, cada tempero, cada ingrediente.
Era a oportunidade perfeita e ela sabia que não teria outra. Nos dias que antecederam o jantar, Zeferina passou a acordar antes do amanhecer. Enquanto a casa grande ainda dormia, ela ia até a roça, onde cresciam os pés de mandioca brava, arrancava as raízes com cuidado e levava escondidas debaixo do avental até um canto isolado da senzala.
Ali, longe dos olhos de qualquer feitor ou capais, ela ralava, espremava e concentrava o líquido venenoso. O processo exigia paciência. Zeferina sabia que precisava de uma quantidade suficiente para garantir que todos morressem, mas também precisava calcular para que os efeitos não fossem imediatos.
Se alguém caísse morto durante o jantar, a confusão poderia impedir que os outros continuassem comendo. Ela queria que todos consumissem o veneno antes que qualquer sintoma aparecesse. Rosa, uma das cozinheiras mais jovens, começou a desconfiar. Numa manhã, ela perguntou diretamente pra Zeferina: “O que a senhora anda fazendo de madrugada? Zeferina olhou fundo nos olhos da menina e respondeu com uma firmeza que cortava.
Você não viu nada, não ouviu nada? Não sabe de nada e se perguntar de novo, vai se arrepender. Rosa engoliu seco e nunca mais tocou no assunto, mas Eferina sabia que o tempo estava correndo contra ela. Qualquer deslize, qualquer comentário fora de hora poderia arruinar tudo. Três dias antes do jantar, o coronel Guimarães recebeu a visita de um dos convidados, o coronel Manuel Rodrigues de Carvalho.
Ele vinha confirmar presença e discutir os temas que seriam abordados durante a reunião. Zeferina serviu o café com bolo de fubá e ficou na cozinha ouvindo cada palavra da conversa que vazava do escritório. “A situação tá ficando insustentável, Antônio”, dizia Manuel.
Esses abolicionistas de Salvador e do Rio de Janeiro não vão parar até acabar com tudo que a gente construiu. Precisamos nos organizar e mostrar que a economia desse país depende da gente. Exatamente, respondeu Guimarães. Por isso, esse jantar é importante. Vamos sair daqui com o plano para pressionar os políticos em Salvador e na corte. Se for necessário, vamos financiar candidatos que defendam nossos interesses.
E se as leis continuarem avançando, vamos é desobedecer. Aqui na minha terra, quem manda sou eu. Zeferina apertou os punhos até as unhas cravarem na palma da mão. Aqueles homens falavam de vidas como se fossem sacas de açúcar. discutiam estratégias para perpetuar a escravidão como se fosse um negócio qualquer. Nenhum deles demonstrava o menor sinal de humanidade.
Naquela noite, Zeferina teve um sonho. Ela viu Miguel, seu filho caçula, correndo livre num campo sem cercas, sem correntes, sem senhores. Ele sorria. Quando acordou, as lágrimas escorriam pelo rosto dela, mas algo tinha mudado por dentro. Não era mais apenas raiva, era certeza.
certeza de que o que ela estava prestes a fazer era a única forma de resposta possível para tanta crueldade. Na véspera do jantar, Zeferina testou uma pequena quantidade do veneno num galo velho que estava destinado ao abate. Ela misturou o líquido concentrado numa porção de milho. O animal comeu normalmente, ciscou por alguns minutos e depois começou a cambalear.
Em meia hora estava morto. Era exatamente o efeito que ela queria. Naquela última noite antes do dia fatal, Zeferina não conseguiu dormir. Ficou deitada na esteira imunda da senzala, olhando pro teto de palha e pensando em cada filho que tinha perdido. Pensou em Maria, a primogênita, vendida aos 8 anos. Pensou em João, vendido aos 10. Pensou em Antônia, em José e finalmente em Miguel.
Cada rosto, cada choro, cada despedida rasgada à força. Quando o Sol nasceu no dia 23 de novembro de 1876, Zeferina levantou com uma calma estranha. Não havia mais medo, não havia mais dúvida, havia apenas o que precisava ser feito. O dia 23 de novembro amanheceu quente e abafado, típico do recôncavo naquela época do ano.
A casa grande foi tomada por uma movimentação frenética desde as primeiras horas da manhã. Escravizados foram destacados para limpar cada canto do salão, polir a prataria, lavar os copos de cristal e arrumar a mesa com as toalhas de linho branco importadas da Europa. Zeferina entrou na cozinha às 5 da manhã. Joana, Rosa e Margarida já estavam lá esperando as ordens.
“Hoje tem que ser perfeito”, disse Zeferina com uma voz que não deixava espaço para questionamentos. O coronel quer impressionar os convidados. Qualquer erro e a gente paga caro. As quatro mulheres começaram a trabalhar. O vatapá foi o primeiro prato a ser preparado. Zeferina assumiu pessoalmente a responsabilidade por ele.
Enquanto Joana torrava o pão e rosa ralava o gengibre, Zeferina preparava o caldo de peixe que seria a base do prato. Era nesse caldo que ela planejava adicionar a primeira dose de veneno. A mandioca brava concentrada estava escondida numa pequena garrafa de vidro escuro que Zeferina carregava amarrada na cintura debaixo da saia. Ninguém poderia ver. Quando teve certeza de que as outras estavam distraídas, ela despejou metade do conteúdo da garrafa no caldeirão fumegante. Mexiu bem, garantindo que se misturasse completamente.
O cheiro forte de pimenta, coentro e dendê disfarçava qualquer traço do veneno. Amanhã avançou com o ritmo acelerado. A muqueca de peixe foi preparada por Rosa, mas Eferina insistiu em fazer o tempero final. Mais uma dose de veneno foi adicionada. O caruru feito com quiabo, camarão seco e amendoim, também recebeu sua porção mortal.
Zeferina estava garantindo que mesmo que alguém comesse pouco de um prato, acabaria consumindo veneno suficiente em outro. Meio-dia chegou e os primeiros convidados começaram a aparecer. Carruagens puxadas por cavalos paravam na frente da casa grande, levantando nuvens de poeira vermelha.
Os coronéis desciam vestidos com seus melhores trages, paletós de linho, coletes bordados, correntes de ouro atravessando os peitos fartos. O coronel José de Alencar Pinto foi o primeiro a chegar. Ele cumprimentou Guimarães com um abraço forte e um sorriso largo. Antônio, meu velho, que prazer estar aqui. Logo atrás veio Manuel Rodrigues de Carvalho, acompanhado de Joaquim Pereira da Cunha. Um por um, os nove coronéis foram se reunindo no salão.
Zeferina observava tudo de longe, através da porta entreaberta que ligava a cozinha ao corredor da Casa Grande. Aqueles homens riam alto, bebiam cachaça e falavam de política, de dinheiro, de negócios. Nenhum deles olhava pros escravizados que serviam as bebidas e limpavam as mesas como se fossem gente. Eram invisíveis. Sempre foram.
Às 2as da tarde, o coronel Guimarães anunciou que o jantar seria servido às 7 da noite. Até lá, os convidados poderiam descansar nos quartos preparados ou passear pela fazenda. Alguns aproveitaram para visitar a Cenzala e avaliar a qualidade da mercadoria, como costumavam dizer.
Zeferina arranjeu os dentes quando ouvi o coronel Domingos Ferreira de Brito comentar que estava interessado em comprar algumas peças jovens para repor as perdas no engenho dele. As horas finais antes do jantar foram as mais tensas. Zeferina conferiu cada prato pela terceira vez. Tudo estava pronto. O vatapá dourado fumegava na travessa de prata. A muqueca borbulhava no tacho de barro. O caruru estava no ponto exato.
A farofa crocante esperava numa gamela de madeira nobre. Tudo perfeito, tudo envenenado. Àsete em ponto, a cineta da Casa Grande tocou anunciando o jantar. Os nove coronéis e o anfitrião Guimarães se dirigiram ao salão. A mesa estava posta como nunca antes. 10 lugares marcados, prataria reluzente, velas de cera de abelha iluminando tudo com uma luz dourada.
Zeferina e as outras cozinheiras começaram a servir. Primeiro veio o vinho português servido em taças de cristal, depois as entradas, queijos, azeitonas, pães frescos. Os coronéis comiam com apetite, elogiando a fartura. Zeferina mantinha o rosto neutro, mas por dentro seu coração batia como tambor de guerra.
Quando os pratos principais começaram a ser servidos, o silêncio tomou conta da mesa por alguns segundos. Os homens olharam pra comida com aquele ar de quem estava prestes a devorar algo especial. O coronel Francisco de Paula Souza foi o primeiro a provar o vatapá. Ele fechou os olhos, saboreou e soltou um gemido de satisfação. Zeferina, essa negra cozinha como os deuses.
Os outros riram e começaram a comer. Garfadas generosas de muqueca, caruru, vatapá, farofa. Eles comiam e bebiam sem parar, conversando sobre como iam combater as leis abolicionistas, como iam manter o controle das fazendas, como iam garantir que nada mudasse.
Zeferina permaneceu na cozinha ouvindo cada palavra, cada risada. Ela sabia que em poucas horas aquelas risadas se transformariam em gritos. O jantar se estendeu por quase 2 horas. Os coronéis comeram e beberam sem qualquer moderação, encharcando os pratos com molho venenoso e repetindo as porções diversas vezes.
O coronel Sebastião Gomes da Silva chegou a pedir uma terceira porção de vatapá, elogiando o tempero excepcional que Zeferina tinha conseguido. Entre uma garfada e outra, a conversa na mesa foi ficando cada vez mais acalorada. Os coronéis discutiam abertamente suas estratégias para enfrentar o que chamavam de ameaça abolicionista. O coronel Pedro Álvares Cabral Filho bateu punho na mesa e declarou: “Nenhum político de Salvador vai me dizer o que fazer na minha propriedade.
Se tentarem tirar meus escravos, vão ter que passar por cima do meu cadáver”. A ironia daquela frase não passou despercebida por Zeferina, que ouvia tudo da cozinha. Ela sabia que em poucas horas seria exatamente isso que aconteceria com ele.
O coronel Luís Gonzaga de Almeida, um homem gordo de bochechas vermelhas e bigode cerrado, levantou a taça de vinho e propôs um brinde aos verdadeiros senhores dessa terra, aos homens que construíram essa província com trabalho e determinação. Que nenhuma lei idiota venha destruir o que conquistamos com tanto suor. As taças se chocaram no ar. Os 10 homens beberam até a última gota.
Zeferina observava da porta da cozinha, com os braços cruzados e o rosto impassível. Ela pensou em cada chicotada que tinha visto ser aplicada na cenzala. Pensou em cada mãe separada dos filhos. Pensou em cada estupro cometido pelos senhores contra as mulheres escravizadas. Pensou no desprezo, na humilhação, na desumanização cotidiana. Às 9 da noite, a sobremesa foi servida.
Doce de leite com queijo e goiabada. Zeferina não tinha colocado veneno na sobremesa. Não precisava. Todos já tinham consumido doses letais durante o prato principal. Era só questão de tempo. A primeira vítima começou a passar mal às 9:30.
O coronel Joaquim Pereira da Cunha, que tinha comido com mais voracidade que os outros, subitamente parou de falar no meio de uma frase, levou a mão à barriga e franziu a testa. Tô me sentindo meio estranho”, disse ele, tentando disfarçar o desconforto. Os outros coronéis riram, achando que era efeito do vinho. “Bebeu demais, Joaquim, aguenta firme aí, rapaz!”, brincou o coronel Manuel Rodrigues de Carvalho.
Mas poucos minutos depois, o próprio Manuel começou a sentir um mal-estar crescente, uma tontura leve, uma náusea que subia do estômago. Em 15 minutos, todos os 10 homens estavam sentindo os primeiros sintomas. Suor frio, palidez, dores abdominais, confusão mental. O coronel Guimarães, como anfitrião, tentou manter a calma. Deve ser o calor. Vamos pro terraço tomar um ar fresco.
Eles se levantaram com dificuldade e caminharam até o terraço que dava vista pras terras do engenho. Mas o ar fresco não ajudou em nada. Pelo contrário, os sintomas se intensificaram rapidamente. O coronel Francisco de Paula Souza começou a vomitar violentamente, apoiado na balaustrada de madeira.
Em segundos, outros três o seguiram. Foi quando o Pânico tomou conta. Tem algo errado. Chamem o médico! gritou o coronel Pedro Álvares Cabral Filho, já cambaleando. Mas o médico mais próximo estava a 2 horas de distância em cachoeira e nenhum deles tinha 2 horas de vida pela frente.
Zeferina permaneceu na cozinha, ouvindo os gritos e o tumulto que começava a tomar conta da casa grande. Joana, Rosa e Margarida estavam apavoradas sem entender o que estava acontecendo. O que tá rolando lá? Perguntou Rosa com a voz trêmula. Zeferina olhou para ela e disse apenas: “Justiça”. Às 10 da noite, o caos era total.
Dos 10 homens, sete já estavam caídos no chão do terraço ou do salão, contorcendo-se de dor e vomitando sangue. Os outros três, ainda em pé, mas visivelmente debilitados, tentavam desesperadamente socorrer os companheiros. O coronel Guimarães, com a camisa encharcada de suor e o rosto pálido como cera, conseguiu arrastar-se até a porta da cozinha.
Ele viu Zeferina parada ali imóvel observando. Os olhos dele encontraram os dela e naquele instante ele entendeu. Não precisou de palavras. O ódio frio no olhar daquela mulher disse tudo. Você tentou falar, mas a voz falhou. Sangue escorria do canto da boca dele. Você fez isso? Zeferina deu um passo à frente. Pela primeira vez em 42 anos de escravidão, ela olhou diretamente nos olhos do seu senhor, sem baixar a cabeça, sem demonstrar medo, sem submissão.
“Sim”, ela respondeu com uma voz firme que ecuou na cozinha silenciosa: “Eu fiz pelos meus filhos, por todas as mães que choraram, por cada gota de sangue derramado nessa terra maldita”. O coronel Guimarães tentou se segurar na parede, mas as pernas não responderam. Ele desabou no chão como um saco de farinha, ainda fitando Zeferina com aqueles olhos incrédulos. Em poucos minutos, ele estava morto.
Um por um, os nove coronéis convidados também tombaram. O veneno da mandioca brava, concentrado e mortal, tinha feito seu trabalho. Às 11 da noite, não havia mais gritos, não havia mais gemidos, apenas silêncio. Um silêncio pesado que pairava sobre a casa grande como uma nuvem negra.
Zeferina caminhou lentamente até o salão. Passou por cada corpo caído, olhando para cada rosto contorcido pela agonia. Não sentiu pena, não sentiu remorço, sentiu apenas um alívio profundo, quase doloroso. Era como se um peso gigante tivesse sido tirado dos ombros dela.
Deixa eu te fazer uma pausa rápida aqui, porque essa história ainda não terminou e o que vem agora é ainda mais impactante. Se você tá acompanhando até aqui, compartilha esse vídeo com alguém que precisa conhecer essa história real e me conta nos comentários até onde você acha que a busca por justiça pode ir. A madrugada de 24 de novembro de 1876, trouxe uma quietude estranha pro engenho Boa Vista.
Os escravizados da Cenzala tinham ouvido tumulto durante a noite, mas ninguém ousou se aproximar da casa grande. Não era permitido. E quando a permissão não existia, qualquer movimento podia significar castigo ou morte. Foi o feitor Baltazar, um homem livre e mestio, que servia como braço direito do coronel Guimarães, quem primeiro entrou na casa grande ao amanhecer. Ele vinha todas as manhãs às 6 horas receber as ordens do dia.
Quando abriu a porta principal e sentiu o cheiro nauseiante que tomava conta do ambiente, soube imediatamente que algo terrível tinha acontecido. Baltazar caminhou pelo corredor com o coração acelerado. Quando chegou ao salão de jantar, depou-se com uma cena que ficaria marcada para sempre na memória dele.
10 corpos espalhados pelo chão, contorcidos em posições grotescas, rostos pálidos e bocas manchadas de sangue seco. A mesa ainda estava posta, com restos de comida nas travessas e taças de vinho derrubadas. O feitor correu até a cenzala, gritando que todos os senhores estavam mortos. O pânico se espalhou, as mulheres começaram a chorar, os homens ficaram paralisados.
Todos sabiam o que aquilo significava. Represália. Quando algo assim acontecia, todos pagavam. Não importava quem tinha feito. O castigo era coletivo. Mas Eferina não estava na cenzala. Ela tinha passado a noite inteira sentada nos fundos da cozinha esperando o amanhecer. Quando o sol finalmente rompeu o horizonte, ela se levantou, lavou o rosto na bacia de água fria e caminhou tranquilamente até o terraço da Casa Grande.
Baltazar a encontrou lá, parada no mesmo lugar onde os coronéis tinham começado a passar mal. Zeferina, o que aconteceu aqui? Fala. Ele berrou desesperado. A mulher olhou para ele com aquela mesma calma estranha que tinha tomado conta dela nas últimas horas. Eu matei eles disse com uma simplicidade desconcertante. Envenenei a comida, todos eles e eu faria de novo. O feitor ficou paralisado.
Ele conhecia Zeferina há anos. Sempre a viu como uma escravizada obediente, silenciosa, eficiente. Jamais imaginaria que ela seria capaz de algo assim. Você tá louca, mulher? Sabe o que vai acontecer agora? Eles vão matar você. Vão matar todo mundo aqui. Eu sei, respondeu Zeferina, mas pelo menos eles morreram primeiro.
A notícia se espalhou pelo recôncavo baiano como fogo em capim seco. Mensageiros a cavalo correram para todas as fazendas vizinhas informando sobre a tragédia no Engenho Boa Vista. Em poucas horas, familiares dos coronéis mortos começaram a chegar. Viúvas, filhos, irmãos, todos em estado de choque e sede de vingança. A primeira a chegar foi dona Mariana, esposa do coronel Guimarães.
Quando viu o corpo do marido estendido no chão da cozinha, ela soltou um grito que ecoou por toda a fazenda. Quem fez isso? Quem matou meu marido? Baltazar, tremendo, apontou paraa Zeferina. Foi ela, senhora. Ela confessou. Dona Mariana avançou como uma fera, agarrou Zeferina pelos cabelos e a jogou no chão. Começou a bater, a arranhar, a cuspir.
Sua desgraçada, sua assassina, você vai pagar, vai pagar caro. Zeferina não reagiu, deixou que a mulher descarregasse toda raiva, toda a dor, porque sabia que nada daquilo se comparava ao que ela mesma tinha sentido cada vez que um filho foi arrancado dos braços dela. Quando as outras famílias chegaram, a violência se intensificou. Os filhos dos coronéis mortos queriam linchar Zeferina ali mesmo, enforcar ela na frente de todos os escravizados como exemplo.
Mas um deles, o mais velho, um homem chamado Teodoro, filho do coronel José de Alencar Pinto, teve outra ideia. Não, enforcar é muito rápido. Ela tem que sofrer, tem que servir de lição para todos esses desgraçados que acham que podem se levantar contra nós. Foi convocada uma reunião urgente entre os familiares dos coronéis mortos e os fazendeiros da região, que ainda estavam vivos.
Eles decidiram que Zeferina seria julgada publicamente em Cachoeira, a cidade mais próxima e depois executada da forma mais dolorosa possível. Mas antes disso, ela seria torturada para revelar se havia cúmplices. Durante três dias, Zeferina foi mantida presa numa cenzala isolada, acorrentada e privada de comida e água. Homens armados a interrogavam, exigindo que ela revelasse quem mais sabia do plano. Ela repetia sempre a mesma coisa: “Fui só eu.
Ninguém mais sabia”. Joana, Rosa e Margarida foram interrogadas também, mas ficou claro que elas realmente não sabiam de nada. Mesmo assim, foram chicoteadas como punição preventiva. A mensagem era clara: qualquer escravizado que pensasse em resistir enfrentaria consequências brutais. No terceiro dia, um advogado chamado Dr. Alberto Mendes chegou ao Engenho Boa Vista.
Ele vinha de Salvador, enviado por um grupo de abolicionistas que tinham ficado sabendo do caso. Dr. Mendes era um homem de seus 50 anos, cabelos grisalhos, óculos redondos e uma postura ereta que demonstrava determinação. Ele exigiu falar com Zeferina.
Os familiares dos coronéis tentaram impedir, mas o advogado apresentou um documento oficial autorizando a visita. Quando finalmente conseguiu entrar na cenzala onde Zeferina estava presa, ele encontrou uma mulher magra, machucada, mas com os olhos ainda brilhando daquela luz estranha. “Meu nome é Alberto Mendes. Sou advogado e vim ajudá-la”, disse ele, agachando-se ao lado dela. Zeferina o olhou com desconfiança. “Não preciso de ajuda.
Fiz o que tinha que fazer e vou pagar por isso. Você pode morrer, Zeferina, entende isso? Eles vão te matar de forma horrível”, insistiu o advogado. “Mas eu posso tentar te defender. Posso usar seu caso para mostrar a brutalidade do sistema escravista, para mostrar ao país inteiro que essas pessoas fizeram com você e com tantos outros”. Zeferina ficou em silêncio por um longo tempo.
Finalmente ela perguntou: “Isso vai mudar alguma coisa? Vai acabar com a escravidão?” Dr. Mendes suspirou. Não sei, talvez não, mas pode ser mais uma voz no couro dos que lutam por isso. A mulher fechou os olhos, pensou nos filhos, nos anos de sofrimento, na raiva que tinha alimentado aquele ato de vingança.
Quando abriu os olhos novamente, disse: “Então faça o que tem que fazer, mas eu não vou mentir sobre nada. Não vou fingir arrependimento. Eles mereceram morrer. O julgamento de Zeferina foi marcado pro dia 15 de dezembro de 1876 em Cachoeira.
A notícia do envenenamento dos nove coronéis tinha se espalhado por toda a Bahia e até chegado à corte no Rio de Janeiro. Jornais abolicionistas publicaram artigos defendendo Zeferina, enquanto jornais conservadores pediam execução imediata. O tribunal foi montado na Câmara Municipal de Cachoeira, um prédio colonial com paredes grossas de pedra e janelas altas. No dia do julgamento, uma multidão se aglomerou do lado de fora.
Fazendeiros e seus familiares queriam ver a assassina condenada, mas também havia abolicionistas, pessoas livres negras e mestiças e até alguns escravizados que conseguiram permissão para ir até a cidade. Zeferina foi levada acorrentada num carro de boi, escoltada por 10 homens armados. Quando chegou ao tribunal, uma chuva de pedras e cuspes veio da multidão furiosa.
Assassina, bruxa, demônio gritavam, mas do outro lado vozes gritavam: liberdade, justiça, abaixo a escravidão. O juiz era um homem chamado desembargador Edmundo Tavares Pinto, conhecido por ser favorável aos interesses dos fazendeiros. Ele abriu a sessão batendo martelo com força, ordem. Silêncio.
Este tribunal vai julgar a escrava Zeferina, acusada de assassinar 10 homens por envenenamento. Dr. Alberto Mendes assumiu a defesa. Do outro lado, três advogados representavam as famílias dos coronéis mortos. O promotor público, Dr. Anselmo Guedes, foi o primeiro a falar. Ele descreveu o crime com detalhes chocantes, apresentou os laudos médicos que confirmavam o envenenamento por mandioca brava e exigiu a pena de morte para Zferina.
Senhores jurados”, disse o promotor, “andando de um lado pro outro da sala, estamos diante de um crime ediondo, premeditado, covarde. Essa mulher, que foi alimentada, vestida e abrígada pela generosidade do coronel Guimarães, traiu a confiança dele da forma mais viu possível. Ela não apenas matou seu senhor, mas também assassinou nove dos homens mais respeitados e importantes da província da Bahia. A plateia aplaudiu.
O juiz teve que bater o martelo diversas vezes para restaurar a ordem. Quando chegou a vez da defesa, Dr. Alberto Mendes se levantou lentamente. Ele olhou para Zeferina, que estava sentada num banco de madeira, com a cabeça erguida e o olhar fixo. Depois, virou-se pro Júri.
Senhores jurados, vou-lhes contar uma história. A história de uma mulher que nasceu escrava, filha de africanos arrancados à força de sua terra. Uma mulher que durante 42 anos serviu sem reclamar, sem questionar, sem descanso. Uma mulher que foi mãe cinco vezes e viu seus cinco filhos serem vendidos como gado.
O último deles, Miguel, tinha 11 anos. Foi vendido há 3 meses, logo antes desse jantar fatídico. O advogado fez uma pausa, deixando as palavras penetrarem. Zeferina não é uma assassina comum. Ela é o resultado de um sistema brutal, desumano, que transforma seres humanos em propriedade.
Os homens que morreram naquele jantar não eram vítimas inocentes, eram senhores de escravos, homens que açoitavam, vendiam crianças, estupravam mulheres e se reuniam para discutir como perpetuar esse horror. Protestos explodiram na plateia. Familiares dos coronéis se levantaram, gritando. O juiz bateu o martelo com fúria. Ordem. Dr. Mendes, contenha-se, este tribunal não vai tolerar discursos abolicionistas inflamados.
Mas o advogado não se intimidou. Respeito a decisão do tribunal, excelência, mas peço apenas que considerem onde está a justiça no mundo em que uma mãe pode ter seus filhos arrancados dela e vendidos, mas não pode reagir sem ser chamada de assassina? Zeferina agiu por desespero, por dor, por uma busca impossível de justiça no sistema que jamais lhe daria essa justiça. O julgamento durou três dias.
Testemunhas foram chamadas. Joana, Rosa e Margarida prestaram depoimento confirmando que Zeferina tinha agido sozinha. Baltazar, o feitor, relatou a confissão dela. Os laudos médicos foram apresentados, confirmando que todos os 10 homens morreram envenenados. No terceiro dia, Zeferina foi autorizada a falar.
Ela se levantou, ainda acorrentada e caminhou até o centro do tribunal. Todas as conversas cessaram. O silêncio foi absoluto. Eu matei eles disse Zeferina com uma voz rouca, mas firme. Planejei tudo. Extraí o veneno da mandioca brava, misturei na comida, servi para cada um deles. E se tivesse mais 10 coronéis sentados naquela mesa, eu teria envenenado também.
Gritos de indignação explodiram, mas Eferina continuou levantando a voz acima do tumulto. Vocês querem me chamar de assassina? Então me chamem. Mas o que vocês chamam os homens que venderam meu filho Miguel? O que vocês chamam os homens que açoitaram até a morte dezenas de pessoas nas cenzalas? O que vocês chamam os que estupraram meninas de 12 anos, assassinos ou senhores respeitáveis? O juiz bateu o martelo furiosamente. Silêncio. Leve a ré volta pro banco.
Mas Eferina não tinha terminado. Podem me matar. Sei que vão, mas eu vou morrer em paz porque sei que levei comigo 10 dos piores homens que já pisaram nessa terra. E se existe inferno, é lá que eles estão agora. Ela foi arrastada de volta pro banco. A plateia estava empolvorosa. Alguns choravam, outros gritavam pedindo a cabeça dela. Dr.
Alberto Mendes sabia que tinha perdido o caso, mas também sabia que as palavras de Zeferina ecoariam muito além daquele tribunal. O ju se reuniu por duas horas. Quando voltaram, o veredicto foi lido pelo juiz Edmundo Tavares Pinto. Por unanimidade, o juri condena escravas fer morte por enforcamento, a ser executada em praça pública em três dias.
Aplausos e gritos de aprovação encheram o tribunal. Zeferina não demonstrou qualquer emoção, apenas fechou os olhos e respirou fundo. Zeferina foi levada de volta pro Engenho Boa Vista, onde seria mantida presa até o dia da execução marcada para 18 de dezembro de 1876. As famílias dos coronéis mortos exigiram que a execução acontecesse em praça pública, em Cachoeira, para servir de exemplo a todos os escravizados da região.
Nos três dias que antecederam a execução, algo inesperado começou a acontecer. Pessoas começaram a aparecer no Engenho Boa Vista pedindo para ver Zeferina. Eram escravizados de fazendas vizinhas que tinham conseguido permissão dos senhores, pessoas livres, negras e mestiças e até alguns brancos pobres. queriam vê-la, falar com ela, ouvir dela mesma o que tinha acontecido.
O feitor Baltazar, que tinha assumido temporariamente a administração do engenho após a morte de Guimarães, ficou confuso com o número de visitantes. No segundo dia, ele permitiu que pequenos grupos entrassem na Cenzala, onde Zeferina estava presa. Uma velha africana chamada Mariama foi uma das primeiras.
Ela tinha mais de 70 anos, tinha sido trazida da costa da mina décadas antes e trabalhava numa fazenda duas légoas dali. Quando entrou na cenzala e viu Zeferina acorrentada, lágrimas escorreram pelo rosto enrugado dela. “Filha”, disse Mariama em voz baixa, “vo fez o que nenhum de nós teve coragem de fazer”. Zeferina abraçou a velha e chorou pela primeira vez desde o envenenamento. “Eu só queria meus filhos de volta”, disse ela entre soluços.
“Só queria que eles fossem livres”. Eles são livres agora, respondeu Mariama. Por que você mostrou que a gente não é gado? A gente é gente e gente não aguenta ser tratada assim para sempre. Outros visitantes vieram, mães que tinham perdido filhos, homens que tinham sido açoitados, mulheres que tinham sido estupradas.
Cada um trazia uma história de sofrimento e cada um via em Zeferina uma espécie de vingança coletiva contra o sistema que os oprimia. Dr. Alberto Mendes também visitou Zeferina diariamente. Ele tinha enviado uma petição à corte no Rio de Janeiro pedindo clemência, mas sabia que as chances de resposta a tempo eram praticamente nulas.
Ele queria, pelo menos, garantir que as últimas horas dela fossem menos dolorosas. “Tem medo?”, perguntou o advogado na véspera da execução. Zeferina pensou por um momento. Medo de morrer? Não, eu morri um pouco cada vez que um filho meu foi vendido. O que vai acontecer amanhã é só meu corpo alcançando minha alma. Na manhã de 18 de dezembro, um carro de boi foi preparado para levar Zeferina até Cachoeira.
A praça principal da cidade tinha sido transformada num palco macabro. Uma forca de madeira foi erguida no centro e arquibancadas foram montadas ao redor para acomodar os espectadores. Quando Zeferina chegou a praça por volta das 10 da manhã, uma multidão de mais de 1000 pessoas já estava reunida.
Fazendeiros ocupavam as melhores posições, vestidos com roupas finas e bebendo vinho. Eles queriam ver o espetáculo da execução como se fosse um evento social, mas também havia muitos rostos negros na multidão, escravizados que tinham sido trazidos pelos senhores, pessoas livres que vieram por vontade própria. Eles não faziam barulho, não gritavam, apenas observavam em silêncio, com olhos cheios de lágrimas e punhos cerrados.
Zeferina foi retirada do carro e conduzida até o palanque da forca. Suas mãos estavam amarradas nas costas, mas ela caminhava com a cabeça erguida. Não demonstrava medo. O padre, que deveria fazer a estremunção, se aproximou, mas ela recusou. Não quero as bênçãos de uma igreja que abençoa a escravidão”, disse ela.
O carrasco, um homem corpulento de rosto coberto por um capuz negro, ajustou a corda no pescoço dela. Nesse momento, um grito eou pela praça. Liberdade, justiça. Era um grupo de abolicionistas que tinha vindo de Salvador. Logo, outras vozes se juntaram. Liberdade, liberdade! Os fazendeiros gritaram em resposta: Enforquem a assassina, matem a bruxa.
A praça se transformou num caos de gritos, empurrões e confrontos. A polícia teve que intervir para evitar um tumulto maior. O juiz Edmundo Tavares Pinto, que estava presente para supervisionar a execução, ordenou que procedimento continuasse. O Carrasco perguntou a Zeferina se ela tinha últimas palavras.
Ela olhou pra multidão, especialmente pros rostos negros que a observavam em silêncio, e disse com uma voz que carregava 42 anos de dor e resistência: “Meu nome é Zeferina, sou filha de africanos, sou mãe de cinco filhos que me foram roubados.
Matei 10 homens que consideravam minha vida e a vida dos meus filhos menos importante que a de um cavalo. Se isso é crime, então sou criminosa. Mas se tiverem um pingo de honestidade, chamem esses homens do que eles realmente eram, demônios. Antes que alguém pudesse reagir, ela gritou com toda a força dos pulmões: “Pelos meus filhos, por todas as mães, pela liberdade”.
O carrasco puxou a alavanca, o alçapão se abriu, o corpo de Zeferina caiu e a corda se esticou. A execução de Zeferina não calou sua voz, pelo contrário, gerou ondas de resistência no recôncavo baiano. Escravizados sabotavam plantações, desobedeciam ordens e incendiavam engenhos vizinhos. Jornais abolicionistas a transformaram em mártir, expondo a brutalidade do sistema que forçava mães a perderem filhos como o gado.
Fazendeiros entraram em pânico, testando comida antes de comer e aumentando castigos, o que só alimentou mais revoltas. O caso chegou à corte imperial, pressionando a princesa Isabel rumo à lei de 1888, que libertou 700.000, Mas sem terra ou reparação para quem sobreviveu ao horror. O engenho Boa Vista decaiu rápido.
Suas ruínas hoje sussurram histórias de resistência nas comunidades quilombolas. Zeferina não viu a abolição, mas plantou a semente. Liberdade não se dá. Se conquista com sangue e coragem. Sua história vive nas periferias, capoeiras e candomblés, honrando quem disse: “Não há desumanidade.” Essa foi a história real de Zferina, a cozinheira que envenenou nove coronéis em 1876.
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