FAXINEIRA ARRISCA A VIDA PARA IMPEDIR O SEQUESTRO DO BEBÊ E REVELA A VERDADE QUE CHOCOU O MILIONÁRIO

Um choro desesperado rasga o silêncio da mansão. Isadora congela no meio do corredor. É choro de bebê agudo, sem parar. Ela larga o pano de limpeza e corre. O som vem do quarto do fundo. A porta está entreaberta. Isadora empurra e entra. A cena faz o coração dela apertar. Um bebê sozinho no berço. Não tem mais de seis meses. Rosto vermelho de tanto chorar.

suado, se debatendo, a fralda visivelmente suja, uma madeira vazia caída no chão e ninguém ali, nenhuma babá, nenhum adulto, só o bebê abandonado. Meu Deus! Isadora vai até o berço e pega a criança no colo. Calma, meu amor, calma. Tá tudo bem agora. O bebê continua chorando, mas já é diferente, menos desesperado, como se sentisse que alguém finalmente veio.

Isadora troca a fralda dele rápido, já fez isso mil vezes com os irmãos. Prepara uma mamadeira nova, testa no pulso, senta na poltrona e oferece. O bebê agarra a mamadeira como se estivesse há horas esperando. Mama com vontade. Os olhinhos azuis enormes fixos nela. Pronto, né? Tava era com fome. Cadê a mulher que cuida de você? Ela começa a cantarolar baixinho, uma canção que a mãe dela cantava. O bebê relaxa, os olhos começam a fechar.

Em poucos minutos está dormindo tranquilo nos braços dela. Isadora olha aquele rostinho pequeno, indefeso. Como é que alguém deixa uma criança assim? A porta se abre. Isadora ergue os olhos. Um homem alto está parado ali, terno impecável, cabelo escuro, olhos castanhos fixos nela. Rafael Matarazo, o patrão.

O que você tá fazendo aqui? A voz dele é fria, controlada. Isadora se levanta rápido, quase derruba a mamadeira. Desculpa, senhor, eu ouvi ele chorando muito. A babá não tava aqui. Eu só vim ver. Rafael entra no quarto, olha o filho dormindo nos braços dela, olha o berço vazio, a fralda no lixo, a mamadeira.

Ele respira fundo, algo se solta no peito dele. Pela primeira vez em dias, Miguel está em paz. Cadê a Andreia? Não vi ela desde que cheguei. Rafael aperta os punhos, a raiva sobe. Ele paga uma fortuna para aquela mulher e ela some quando o filho precisa. Pode colocar ele no berço. Isadora obedece. Devagar, com cuidado.

Cobre o bebê com o lençol, depois pega suas coisas, pronta para sair. Desculpa, eu não queria me intrometer. É que ele tava tudo bem. Rafael olha para ela pela primeira vez de verdade, a faxineira que ele mal notava. Agora ali tendo feito o que ele não conseguiu, o que a Babáara não fez. Obrigado, Isadora pisca, surpresa.

Faz que sim com a cabeça e sai rápido, o coração disparado. Será que vai ser demitida por se meter onde não foi chamada? Rafael fica sozinho com o filho, se aproxima do berço. Miguel dorme tranquilo, relaxado. Faz se meses que Helena morreu trazendo esse bebê ao mundo.

Se meses que Rafael mal consegue olhar pro filho sem sentir uma dor que rasga. Como é que ele vai amar uma criança que custou a vida da mulher que ele amava? Mas agora, vendo Miguel assim, Rafael sente outra coisa. Raiva, raiva de Andreia. Ele sai do quarto, desce as escadas, atravessa a sala, vai pro jardim e lá está ela, sentada num banco perto da piscina ao telefone rindo. Rafael caminha até ela.

A sombra dele cobre a mulher. Ela olha para cima e leva um susto. Senhor Rafael, o senhor chegou cedo. Meu filho estava chorando sozinho no quarto, fralda suja, com fome. E você aqui? Andreia desliga o telefone na pressa. Eu só saí um minutinho. Ele tava dormindo. Mentira. Ele estava acordado, desesperado. A faxineira teve que cuidar dele. O rosto de Andreia fica vermelho.

Foi só um momento. Eu ia voltar. Você tá demitida. Pega suas coisas agora. Mas, senhor, agora? A voz de Rafael ecoa. Andreia se levanta assustada e corre para dentro. Rafael fica ali respirando fundo, tentando controlar a raiva que ferve dentro dele. Ele volta para casa, sobe as escadas, passa pelo corredor, vê Isadora limpando de novo.

Ela olha para ele de relance, nervosa. Rafael para. Obrigado por cuidar do Miguel. Isadora relaxa um pouco. Não precisa agradecer, senhor. Qualquer pessoa teria feito. Rafael balança a cabeça. Não, a babá que eu pagava não fez. Você fez. Ele segue pro escritório, mas enquanto fecha a porta pensa: “Tem algo diferente naquela mulher, algo que ele não consegue ignorar.” Três dias depois, Rafael ainda não encontrou Babá Nova.

Ele tenta cuidar de Miguel sozinho enquanto entrevista candidatas. Mas o bebê chora. Rafael não sabe o que fazer. Fome, sono, fralda, tenta tudo. Nada funciona. Miguel chora mais alto. Rafael sente o desespero subindo. É sempre nesses momentos que Isadora aparece.

Naquela manhã, Rafael está no quarto tentando fazer o bebê arrotar, mas ele segura errado. Miguel se debate, chora. Desculpa interromper, senhor. Ele vira. Isadora na porta com o balde de limpeza. Ele não para de chorar. Posso ajudar? Rafael quer dizer que consegue sozinho. Orgulho gritando. Mas o choro de Miguel é mais alto. Por favor. Isadora entra. Pega Miguel dos braços dele com delicadeza. O senhor tá segurando ele longe demais do corpo.

Bebê precisa sentir o calor. Olha, ela coloca Miguel no ombro. A cabecinha apoiada faz movimentos circulares suaves nas costas. Menos de um minuto depois, Miguel arrota e para de chorar. Rafael fica olhando impressionado. Como você sabe fazer isso? Criei meus dois irmãos. Minha mãe morreu quando eu tinha 14.

O Lucas era bebê. A Marina tinha 3 anos. Aprendi na raça. Ela devolve Miguel pro Rafael. Agora o bebê está calmo, olhando pro pai. O senhor só precisa ter mais confiança. Bebê sente quando a gente tá nervoso. Rafael olha para ela de verdade, pela primeira vez desde que ela foi contratada. Isadora não é como as outras funcionárias, não tem aquela pose falsa, é direta, natural e tem uma paciência com Miguel que ele não tem.

Você tem filhos? Não, senhor, mas quero ter um dia. Quando der, quando der. Isadora dá um sorriso pequeno. Trabalho em três casas. Pago aluguel, mercado, escola pros meus irmãos. Lucas quer fazer faculdade. Preciso juntar para ajudar ele. Então, filho, vai ter que esperar. Rafael sente algo estranho no peito. Admiração.

Respeito. Você mora aonde? No São José. uns 40 minutos da três empregos, dois irmãos para sustentar e mesmo assim ela para para cuidar do filho dele. Obrigado de novo. Sempre que precisar. Ela sai. Rafael fica ali olhando Miguel. O bebê sorri. Primeira vez que Rafael vê isso em semanas. Nos dias seguintes vira costume. Miguel chora. Isadora aparece.

ensina Rafael a trocar fralda direito, a fazer mamadeira na temperatura certa, a saber quando o bebê quer colo e quando quer ficar sozinho. E alguma coisa começa a mudar. Rafael passa para esperar pelos momentos em que Isadora está na casa, não só pela ajuda com Miguel, mas pela presença dela, pela calma que ela traz.

Uma tarde, ele está no escritório quando olha o monitor do quarto do bebê. A câmera que ele instalou mostra tudo. E vê, Isadora. Ela entrou depois de limpar. Miguel estava acordado no berço. Ela pegou ele no colo e começou a cantar. Uma canção simples, voz suave, nada de especial, tecnicamente, mas cheia de carinho. Miguel fecha os olhinhos, dorme. Rafael desliga o monitor, encosta na cadeira, passa a mão no rosto.

Desde que Helena morreu, ele virou um zumbi. Trabalha porque precisa, respira porque o corpo obriga, mas não vive. Mas quando vez com Miguel, quando ouve ela cantar, quando vê o sorriso do filho, algo dentro dele acorda e isso assusta, porque ela é a faxineira, ele é o patrão. Não pode depender dela para cuidar do próprio filho.

Precisa de alguém profissional, mesmo que tudo nele grite para não afastar Isadora. Uma semana depois, Rafael já não imagina a rotina sem Isadora. Ele contratou candidatas através da agência. Mas todas parecem erradas, frias, robóticas. Nenhuma faz Miguel sorrir. Enquanto isso, Isadora continua aparecendo. Naquela tarde de quinta, Rafael tenta dar papinha de legumes pro Miguel.

O bebê cospe tudo, vira o rosto, chora. Ele não gosta de papinha. É porque o senhor tá dando errado. Rafael vira. Isadora na porta da cozinha. Sorriso discreto. Como assim errado? O senhor enfia a colher na boca dele, tipo robô. Bebê precisa de jeito. Ela se aproxima, pega a colher, deixa uma gotinha de papinha nos lábios de Miguel. Ele lambe. Ela espera, deixa mais um pouquinho. Miguel abre a boca.

Ela dá uma colherada pequena. Miguel engole sem cuspir, viu? é ir com calma, deixar ele sentir o gosto primeiro. Rafael solta uma risada curta, primeira em muito tempo. Você devia dar aula. Aula nada, é só ter paciência. Ela continua dando papinha, cantarolando entre uma colherada e outra. Miguel come tudo. Rafael senta na cadeira ao lado, fica olhando.

Tem algo na forma como Isadora cuida do filho dele, algo que prende a atenção, natural, verdadeiro. Por que você é tão boa com criança? Isadora limpa a boca de Miguel. Quando minha mãe morreu, eu virei mãe dos meus irmãos. Lucas tinha 6 meses, mesma idade do Miguel. Eu acordava de madrugada para dar mamadeira.

Trocava fralda antes da escola. A gente não tinha dinheiro, mas tinha amor. E amor resolve muita coisa. O peito de Rafael aperta. Você devia estudando, curtindo a vida. Tô estudando agora. Juntei grana e comecei cursinho. Quero fazer enfermagem. Enfermagem? É, sempre gostei de cuidar das pessoas. Acho que nasci para isso.

Rafael olha para ela diferente. Não é só admiração, é respeito profundo. Seus irmãos têm sorte. Eu que tenho sorte de ter eles. Silêncio. Confortável. Miguel Balbucia. Os dois riem. Rafael percebe que faz tempo que ele não tem um momento assim, simples, tranquilo, só existindo. Com Helena era diferente. Era paixão, intenso, cheio de planos.

Mas isso aqui com Isadora é outra coisa, é paz. E ele não sabe se tá pronto para sentir isso. Naquela noite, depois que Isadora vai embora, Rafael fica pensando, ele não pode depender dela. Não é justo. Ela tem vida própria. Três trabalhos, irmãos, sonhos. precisa contratar uma babá profissional, mesmo que tudo nele grite que não, porque no fundo Rafael sabe que não é só sobre Miguel, é sobre ele também, sobre como se sente quando Isadora tá por perto. E isso assusta.

Helena morreu há seis meses. Ele não devia estar sentindo nada por ninguém, mas tá e não sabe o que fazer com isso. Dois dias depois, tudo muda. A campainha toca. Rafael não esperava visita. Vai até a porta. Abre. Beatriz abreu. Cabelo loiro, impecável. Maquiagem perfeita, roupa de grife, sorriso que não chega nos olhos.

Oi, Rafa. O estômago dele vira. Beatriz, o que você tá fazendo aqui? Soube da babá que você demitiu ela. Vim ajudar. Ela entra sem ser convidada. Olha a casa como se ainda fosse dona do lugar. Rafael fecha a porta, controla a irritação. Beatriz foi noiva dele dois anos juntos. Ela terminou quando ele disse que queria filhos.

Ela não queria, nunca quis. Filho atrapalhava carreira, corpo, liberdade. Aí ela foi embora. Helena apareceu doce, carinhosa, grávida de três meses. Um caso de uma noite que virou amor. Rafael pediu ela em casamento. Foram felizes até o parto. Beatriz ficou furiosa, cortou o contato, sumiu e agora tá aqui. Não preciso de ajuda, Beatriz.

Conheço alguém, uma babá incrível. Carla trabalhou com família de diplomata, super profissional. Rafael hesita, tá desesperado. As candidatas da agência não deram certo. Por que você tá fazendo isso? Beatriz dá um sorriso suave, falso. A gente foi importante um pro outro.

Só porque não deu certo não quer dizer que eu não me importo. Mentira. Rafael sente, mas ele tá cansado. Tá bom. Faça o contato dela. Melhor. Eu trago ela aqui amanhã. Você vê se gosta. Antes que Rafael responda, um choro vem de cima. Miguel, eu vou. Deixa eu ver ele. Beatriz sobe antes que ele empeça. Rafael vai atrás.

Ela entra no quarto, olha pro berço, Miguel chorando, bracinhos esticados. Beatriz faz uma cara, nojo disfarçado. Ele cresceu, não tem carinho na voz, tem desdém. Rafael pega o filho rápido. Valeu pela indicação. Mas agora eu preciso cuidar dele. Beatriz entende. Sorri forçado. Claro. Amanhã 3 da tarde, a Carla vem. Ela sai.

Rafael ouve a porta fechar, olha para Miguel. Papai também não gosta dela, filho. Mas a gente precisa de babá. No dia seguinte, 3 da tarde, campainha, Beatriz na porta. E do lado, uma mulher de uns 40 anos, cabelo preto preso num coque apertado, roupa escura, postura rígida, cara neutra.

Rafael, essa é a Carla. A mulher estende a mão. Aperto firme. Gelado, senhor Matarazo. Prazer. Prazer. Entra. Rafael leva Carla pra sala, faz perguntas sobre experiência, referências. Ela responde tudo certinho, profissional, eficiente, mas tem algo, algo que Rafael não identifica.

Ela é boa demais, perfeita demais, como um robô programado. Quer conhecer o Miguel? Claro, sobem. Miguel no beço acordado. Rafael pega ele, oferece para Carla segurar. Ela pega, mas é mecânico, como se segurasse um pacote. Miguel começa a choringar. Lhe é assim com estranho? Não, ele é tranquilo. Mentira.

Miguel chora com quase todo mundo, menos com Isadora. Mas Rafael tá desesperado. Precisa voltar a trabalhar direito. Quando pode começar? Amanhã, se quiser. Ótimo. Acertam os detalhes. Carla vai embora. Beatriz, fica mais um pouco, viu? Ela é perfeita. É, valeu. Posso vir ver o Miguel às vezes? Rafael quer dizer não, mas seria grosseria. Claro.

Beatriz sorri. Dessa vez é verdadeiro, mas tem algo errado, algo calculado. Ela sai. Rafael fecha a porta, volta pro quarto do Miguel. Isadora tá lá limpando a estante de livros infantis. Desculpa, ouvi vozes. A nova babá. É, ela parece séria. Rafael ri sem humor. É uma palavra. Isadora termina, pega o balde. Antes de sair, olha para Miguel. Se precisar de alguma coisa, tô aqui.

Eu sei. Obrigado. Ela sai. Rafael fica sozinho, olha pela janela, vê Beatriz entrando no carro importado. Algo grita dentro dele que foi erro. aceitar por ela. Mas ele ignora, precisa de ajuda. Carla parece profissional. O que pode dar errado? Carla começa no dia seguinte. Desde o primeiro dia, Isadora não gosta dela, não consegue explicar. É sensação.

Voz pequena na cabeça dizendo que tem algo errado. Carla cuida de Miguel certinho, troca a fralda no horário, dá mamadeira, coloca para dormir, mas faz tudo sem carinho, como robô seguindo protocolo. Miguel chora mais, sorri menos. Beatriz começa a aparecer sempre com desculpa de visitar, ver como Carla tá se adaptando.

Sempre traz presente para Miguel, sempre elogia Carla. Isadora percebe os olhares como Beatriz olha para Rafael. Olhar de fome, de posse. Tarde de quarta-feira. Isadora tá limpando a sala, ouve vozes no terraço. Reconhece Beatriz e Carla. falam baixo, mas a janela tá entreaberta. Isadora vai até a estante perto da janela, finge que limpa, mas presta atenção. Amanhã, 3 da tarde, você sabe o que fazer.

E se alguém ver? Ninguém vai ver. Porta dos fundos. A faxineira só vem de manhã. Segurança não para funcionário saindo com criança. E o dinheiro? 50.000. Metade agora. Metade quando acabar. Isadora congela, o pano cai da mão e depois você fica com o bebê uns três dias num lugar seguro.

Aí eu apareço dizendo que descobri onde ele tá. Volto sendo heroína. O Rafael vai ficar grato, vulnerável. E aí eu reconquisto ele. O sangue de Isadora Gela. Sequestro. Elas vão sequestrar Miguel. Barulho de envelope sendo aberto. 10.000 agora, mais 40 depois. Tá. Amanhã, 3 da tarde. Sem erro, Carla. Passos. Elas vêm para dentro. Isadora se abaixa atrás da estante, coração disparado, mãos tremendo.

Beatriz e Carla entram na sala, conversam mais um pouco, coisas normais, fingindo. Depois Beatriz sai. Isadora fica escondida mais alguns minutos, tentando processar. Precisa contar pro Rafael, pra polícia. Mas Rafael viajou. só volta amanhã de manhã e se ligar paraa polícia vai ser a palavra dela contra a de duas mulheres ricas. Ela é a faxineira.

Elas são de classe alta. Quem vai acreditar? Isadora respira fundo. Não, não pode arriscar. Se a polícia não acreditar, elas vão saber que ela descobriu. Vão mudar o plano. A única opção é impedir sozinha. Isadora termina o trabalho no automático, cabeça fervilhando. Chega em casa naquela noite, não dorme.

Fica olhando pro teto, pensando, repassando mentalmente o que ouviu, o que vai fazer. Amanhã, 3 da tarde, precisa estar lá, precisa impedir. O coração dispara só de pensar: “E se der errado? E se Carla for violenta? E se ela se machucar?” Mas aí pensa no Miguel, naquele bebezinho indefeso, sozinho, assustado. Não, ela não vai deixar isso acontecer.

De manhã, Isadora chega na mansão 7 horas, 4 horas antes do normal, o segurança estranha. Você tá cedo hoje? É que tenho compromisso à tarde. Preciso adiantar. Ele deixa ela entrar. Isadora limpa devagar, controlando o nervosismo, observando tudo. Rafael chegou de madrugada, tá no escritório. Carla chegou no horário, tá com Miguel.

Beatriz não apareceu, mas Isadora sabe que ela tá por trás. Meio-dia. Isadora termina a cozinha, tenta comer, mas o estômago tá embrulhado 1 da tarde. Rafael sai apressado. Reunião importante. Vai demorar. Duas da tarde, Isadora fica no andar de baixo, fingindo organizar materiais, mas olhos fixos no corredor. 2:30, o coração dispara.

2 e Carla desce as escadas, bolsa grande no ombro, empurrando carrinho de bebê. Miguel dormindo dentro. Isadora vai pro corredor dos fundos, para na frente da porta, braços cruzados. Três da tarde, Carla dobra a esquina. Vê Isadora bloqueando. O rosto dela muda só um segundo. Mas Isadora vê a máscara cai. Sai da frente. A voz não é mais profissional. É fria, ameaçadora.

Isadora respira fundo. Aonde você pensa que vai com ele? Dar uma volta. Bebê precisa de ar. Pela porta dos fundos. Com essa bolsa você vai entregar ele para quem tá esperando lá fora. Carla larga o carrinho. Mão vai até a bolsa. Não sei do que você tá falando. Sai da frente. Não. Carla tira uma faca da bolsa. A lâmina brilha. Última chance.

O coração de Isadora quase explode, mas ela não se move. Cresceu na periferia, sabe se defender e não vai deixar ninguém machucar aquele bebê. Carla avança. Isadora pega o cabo da vassoura encostado na parede. Quando Carla ataca, ela desvia e acerta o braço da mulher com tudo. A faca voa, cai no chão com barulho metálico. Segurança. Socorro. Carla corre pro carrinho, quer pegar Miguel.

Isadora se joga na frente, as duas caem no chão. Carla é mais forte. Segura Isadora pelo pescoço. Aperta. Isadora não consegue respirar. Vê pontos pretos, mas luta. Chuta, arranha, consegue soltar. Rola pro lado, levanta cambaleando. Carla levanta também, vem para cima de novo. Isadora agarra do primeiro, levanta.

Quando Carla chega perto, ela acerta a lateral da cabeça da mulher. Carla cai atordoada. Isadora corre pro carrinho, pega Miguel no colo. O bebê acorda chorando. Calma, meu amor, calma, tá tudo bem. Ela se afasta, encosta na parede, protegendo Miguel com o corpo. Carla se levanta devagar, sangue escorrendo da têmpora. Olhar de ódio puro. Você não sabe o que fez.

Ela dá um passo. A porta se abre com estrondo. Rafael matarazo. Ele vê tudo. Carla sangrando. Rosto desfigurado de raiva. Faca no chão. Carrinho virado. Isadora encostada na parede segurando Miguel, protegendo ele com o corpo. Olhos arregalados, respiração ofegante. O que tá acontecendo aqui? Seguranças aparecem atrás dele, pulam em cima de Carla antes que ela possa reagir.

Isadora olha para Rafael, lágrimas escorrem, corpo tremendo. Ela ia sequestrar ele. Eu ouvi ontem. Ela e a Beatriz. Elas planejaram tudo. E começa a contar cada detalhe. A conversa no terraço. O plano de Beatriz ser heroína. Rafael ouve em silêncio. O rosto fica cada vez mais pálido, cada vez mais duro. Quando Isadora termina, ele olha para Carla. Os seguranças seguram ela. É verdade.

Carla cospe no chão. Não provam nada. A polícia vai provar. Rafael pega o celular, liga. Enquanto ele fala com a polícia, os olhos voltam para Isadora. Ela ainda tá ali segurando Miguel, protegendo ele. E Rafael sente algo que nunca imaginou sentir de novo. Ele se aproxima devagar, para na frente dela. Você salvou meu filho. A voz dele sai embargada.

Isadora limpa as lágrimas com o braço que não tá segurando Miguel. Eu só eu não podia deixar eles levarem ele. Rafael estende os braços. Ela entrega o bebê, os dedos dele se tocam por um segundo. Uma descarga elétrica. Rafael olha para ela de verdade. Não como o patrão olha pra funcionária, como o homem olha pra mulher que acabou de arriscar a vida pelo filho dele.

Obrigado. Isadora faz que sim com a cabeça. Não confia na voz. A polícia chega, leva Carla e, enquanto Rafael dá depoimento segurando Miguel, ele não consegue parar de olhar para Isadora. Algo dentro dele mudou. Algo profundo, algo que parece muito com o começo de uma paixão. A polícia leva Carla algemada. Isadora ainda tá tremendo.

O pescoço marcado de onde a mulher apertou, as mãos arranhadas da luta, mas Miguel tá seguro nos braços de Rafael. É o que importa. Rafael olha para ela de verdade. Vê cada marca, cada arranhão, cada sinal do que ela enfrentou. Você protegeu o Miguel. A voz dele sai rouca, emocionada. Eu só fiz o que era certo. Não, você fez mais que isso.

Você arriscou sua vida. Isadora olha pro chão. Não sabe lidar com agradecimento. Nunca foi boa nisso. O delegado se aproxima. Vou precisar do depoimento dos dois. Podem vir comigo? Na delegacia, Isadora conta tudo. A conversa no terraço, o plano, o dinheiro. O delegado anota os pontos principais. Quando ela termina, ele pergunta: “E você tem certeza absoluta que ouviu o nome Beatriz Abreu?” Tenho. Foi ela que trouxe a Carla pro Senr. Rafael. Ela que pagou tudo.

Rafael dá o depoimento dele. Fala sobre Beatriz, a ex-noiva que apareceu oferecendo ajuda. Como ele foi idiota de aceitar. O senhor não tinha como saber, diz o delegado. Mas Rafael sabe que devia ter desconfiado. Os sinais estavam lá. Ele só não quis ver. Duas horas depois, o delegado chama Rafael. A Carla delação premiada, quer pena reduzida.

Ela entregou mensagens, transferências, tudo. A gente tem provas suficientes para prender a Beatriz. E ela já falou alguma coisa sobre o plano? Falou: “Diz que a Beatriz pagou 50.000, 10 adiantado, 40 depois. O bebê ia ficar num sítio por três dias. Depois a Beatriz ia aparecer como heroína e te reconquistar. Rafael sente a raiva subir, ferve no peito, queima na garganta.

Vocês vão prender ela agora? Já tô mandando uma viatura. Ah, eu vou junto. O delegado hesita, mas vê a determinação no olho de Rafael. Tá bom. Mas o senhor fica no carro, não entra na operação. Rafael concorda, mas sabe que quando ver Beatriz vai ser difícil se controlar. Isadora tá na sala de espera quando ele passa.

Eu vou ver a prisão da Beatriz. Você quer ir? Ela pensa. Parte dela quer ver. ver a mulher que armou tudo sendo presa, mas outra parte só quer ir para casa, esquecer, seguir em frente. Não, eu quero ir para casa. Rafael, eu te levo depois, mas antes obrigado pela milésima vez. Obrigado. Isadora dá um sorriso pequeno. Para de agradecer.

Tá virando costume. Ele sorri de volta. Primeira vez que ela vê ele sorrir de verdade. Rafael chega na cobertura de Beatriz junto com a polícia. Prédio luxuoso, portaria chique, tudo brilhando. O delegado toca o interfone. Beatriz atende. Oi, polícia. Abra a porta. Pausa. Dá para ouvir a respiração dela pelo interfone. Um momento. Eles sobem.

Quando a porta abre, Beatriz está ali. Roupa casual, cabelo solto, tentando parecer tranquila, mas os olhos entregam. Tem medo ali. O que aconteceu? Ela vê Rafael atrás dos policiais, tenta sorrir. Rafa, o que você tá fazendo aqui? O delegado mostra o mandado de prisão. Beatriz Abreu. A senhora tá presa por tentativa de sequestro e associação criminosa. O sorriso dela congela, depois desaparece.

Isso é ridículo. Eu não fiz nada. Rafael dá um passo à frente, os punhos fechados, a mandíbula travada, tentando se controlar para não avançar nela. A Carla confessou tudo, as mensagens, o dinheiro, o plano completo. Beatriz fica branca, depois vermelha. Aquela idiota, ela percebe o que disse.

Tenta voltar atrás. Não, eu não quis dizer, eu não sei do que vocês estão falando. O delegado faz sinal. Os policiais colocam algemas nela. A senhora tem direito de ficar calada. Tudo o que disser pode ser usado contra a senhora. Beatriz olha para Rafael. Desespero misturado com raiva. Eu não fiz nada de errado.

Eu só queria você de volta. Você tentou sequestrar meu filho. Eu não ia machucar ele nunca. Era só para você ver que precisa de mim. Rafael sente nojo subindo. Eu nunca vou precisar de você. Nunca. Os policiais começam a levá-la. Beatriz se debate. Espera, Rafael, me escuta. A gente pode conversar, a gente pode Não tem nada para conversar. Ela é arrastada pro corredor.

Mas antes de entrar no elevador, ela grita: “É por causa daquela faxineira? É isso? Você tá apaixonado por ela?” Rafael não responde, mas o silêncio diz tudo. Beatriz dá uma risada amarga, histérica. Que patético. O grande Rafael Matarazo apaixonado pela empregada. Quando eu sair daqui, eu vou acabar com ela. Vou destruir a vida daquela vagabunda.

As portas do elevador fecham, mas o eco da voz dela ainda ressoa. Rafael fica parado ali, respirando fundo, as mãos tremendo de raiva, de medo, de um monte de coisa que ele não consegue nomear. O delegado põe a mão no ombro dele. Ela não vai sair tão cedo. Tentativa de sequestro é crime grave. Quanto tempo? Com as provas que a gente tem. Uns 5 a 8 anos, talvez mais.

Rafael torce para que seja mais. Uma semana depois, audiência de custódia. Rafael tá no fórum. Isadora também. Sentados em bancos diferentes, mas unidos pela mesma causa. Beatriz entra algemada, mas não parece. O cabelo tá arrumado, a roupa impecável, os advogados ao redor dela como escudo.

Ela olha para Rafael, depois para Isadora, um olhar cheio de ódio. Isadora sente um arrepio. O juiz entra, todo mundo levanta, depois senta. A audiência começa. O advogado de Beatriz é bom. Muito bom. Fala com convicção, com confiança. Meritíssimo. Minha cliente é primária, tem residência fixa, família de prestígio na cidade, empresa estabelecida, não oferece qualquer risco de fuga.

Além disso, as chamadas provas são baseadas no depoimento de uma criminosa confessa que busca apenas redução de pena. Pedimos liberdade provisória com medidas cautelares. A promotoria se levanta. Excelência. H provas robustas. Mensagens trocadas entre a acusada e a cúmplice. Transferências bancárias documentadas. Depoimento detalhado.

A gravidade do crime é evidente. A acusada planejou sequestrar um bebê de 6 meses. Oferece perigo às vítimas e testemunhas. Requeremos a prisão preventiva. O juiz folheia os altos, lê algumas páginas. O silêncio na sala é pesado. Rafael segura o banco com força. Reza mentalmente para que ela fique presa. Isadora mal respira.

O juiz finalmente fala: “Defiro parcialmente o pedido da defesa. Concedo liberdade provisória mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 200.000, Uso obrigatório de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno das 20 horas às 6 da manhã, proibição de se aproximar das vítimas e testemunhas num raio de 500 m e proibição de sair do município sem autorização judicial. Próxima audiência em 90 dias. A martelada ecoa na sala.

Rafael sente o mundo desabar. Beatriz sorri. É pequeno, discreto, mas tá ali. Vitória. Do lado de fora do fórum, Rafael tá nervoso, andando de um lado pro outro. Ela vai sair. Ela vai sair e vai fazer alguma coisa. O advogado dele tenta acalmar. Com todas essas medidas cautelares, é quase como estar presa.

Ela não pode chegar perto de vocês, não pode sair da cidade e qualquer violação volta pra cadeia na hora. Quase presa não é presa. Isadora se aproxima. Ela não vai fazer nada. Seria burrice. Ela sabe que tá sendo vigiada. Rafael olha para ela. Você não viu o jeito que ela olhou para você. Ela te odeia. Deixa ela odiar.

Eu não tenho medo dela. Mas eu tenho por você. Os olhos dele se encontram. Algo passa ali, algo elétrico. Rafael desvia o olhar primeiro. Eu vou colocar segurança perto da sua casa. Discreto. Você nem vai perceber. Isadora quer recusar, mas vê a preocupação genuína no rosto dele. Tá bom, mas só até o julgamento.

Só até o julgamento. Três dias depois, Beatriz paga a fiança, sai da prisão, coloca a tornozeleira, assina todos os termos. Quando sai do fórum, há fotógrafos esperando. O caso virou notícia. milionária acusada de mandar sequestrar bebê do ex-noivo. Beatriz sorri paraas câmeras confiante, como se não tivesse feito nada de errado. Rafael vê as fotos no jornal online naquela noite.

Sente raiva, sente impotência, mas pelo menos ela não pode se aproximar, pelo menos por enquanto. Nos dias seguintes, a vida tenta voltar ao normal. Rafael pediu para Isadora ficar mais tempo na mansão, ajudar com Miguel enquanto ele procura a Babá nova. Dessa vez com muito mais cuidado. Isadora aceitou. Precisa do dinheiro extra.

E, se for sincera consigo mesma, gosta de cuidar do bebê. gosta de estar ali naquela manhã. Miguel acorda chorando. Rafael tenta acalmar, embala, canta mal, mas tenta. Nada funciona. Isadora aparece na porta do quarto. Quer ajuda? Por favor. Ela pega o bebê. Miguel para de chorar quase imediatamente. Olha para ela.

Sorri aquele sorriso banguela. Rafael balança a cabeça. Ele gosta mais de você do que de mim. Não é verdade? Ele só tá acostumado comigo. Será? Ela coloca Miguel no trocador, começa a trocar a fralda. Rafael fica ali do lado passando as coisas que ela precisa. Lenço, pomada, fralda limpa.

É estranho, íntimo, como se fossem um casal cuidando do filho. Mas não são, mesmo que pareça. Você é boa demais nisso, diz Rafael. Prática. Cuidei de bebê. A vida irmãos tem sorte. Eu que tenho sorte de ter eles. Miguel balbucia alguma coisa. Os dois riem. Rafael percebe que faz tempo que ele não ri assim. Leve. verdadeiro. Naquela tarde, Miguel tá irritado, não quer dormir, chora, se debate.

Isadora anda com ele pela casa cantando baixinho. Rafael vai atrás só observando. Eu ainda acho que você canta bem. Eu canto mal, mas bebê não se importa com a afinação. Ela passa pela sala, pela cozinha, de volta pro quarto. Miguel finalmente rel os olhinhos começam a fechar.

Isadora coloca ele no berço com cuidado, cobre com o lençol, sai do quarto sem fazer barulho. Rafael tá esperando no corredor. Por um segundo eles ficam muito perto, quase se tocando. O ar fica pesado, carregado. Rafael abre a boca para dizer alguma coisa, mas não sabe o quê. Isadora desvia o olhar primeiro. Preciso terminar a limpeza. Claro.

Ela passa por ele rápido, como se tivesse medo de ficar perto demais. Rafael encosta na parede, passa a mão no cabelo, confuso com tudo que tá sentindo. Naquela noite, depois que Isadora vai embora, Rafael fica pensando. Ele não pode se apegar a ela. Não é justo. Ela tem vida própria, sonhos, futuro.

Mas é difícil, muito difícil, porque quando ela tá por perto, tudo parece mais leve, mais possível, e ele não sabe o que fazer com isso. Enquanto isso, na cobertura dela, Beatriz está no limite. Não pode sair de casa depois das 8. Não pode se aproximar de Rafael. Não pode fazer nada. Ela olha pra tornozeleira no tornozelo, sente raiva, humilhação, mas raiva maior ainda quando pensa em Isadora.

Aquela mulher, aquela ninguém. Roubou Rafael dela. Beatriz pega o celular, rola as redes sociais de Isadora. Poucas fotos. Perfil simples, vida simples. Mas Rafael tá apaixonado por ela. Beatriz viu no olhar dele e isso é inaceitável. Se ela não pode ter Rafael, ninguém pode, especialmente não aquela faxineira. Beatriz faz uma pesquisa no Google.

Como destruir a reputação de alguém online? Vários resultados aparecem. Ela começa a ler. Um sorriso lento aparece no rosto dela. Se ela não pode chegar perto fisicamente, vai destruir de outra forma. Ela abre o WhatsApp, procura um contato. Júlio, hacker freelancer que ela conheceu numa festa anos atrás, digita: “Preciso de um serviço.

” Quanto você cobra para criar conteúdo falso em redes sociais? Fotos editadas, conversas falsas, perfis fakes. Preciso destruir alguém. A resposta vem em minutos. Depende do nível de sofisticação, mas para você faço um preço especial. 20.000. Beatriz nem hesita. Fechado. Quando pode começar? Amanhã manda as informações da pessoa. Beatriz manda tudo.

Nome completo de Isadora. fotos, endereço, locais que ela frequenta, depois joga o celular no sofá e sorri. Amanhã a vida de Isadora Lima vira um inferno. Isadora acorda com o celular tocando sem parar. Mensagens, notificações, muitas. Ela abre, vê pessoas marcando ela em posts, comentários, compartilhamentos. O coração afunda. Ela clica num post.

É uma foto dela saindo da mansão de Rafael, mas a legenda diz: “Flagrante, faxineira se aproveita de patrão viúvo, milionário. Vizinhos denunciam que ela passa noites na casa. Golpe do baú em andamento. O estômago dela vira. Abre outro. É um vídeo editado. Parece que ela tá saindo da mansão com uma sacola de grife na mão.

Legenda, já começou a roubar? Não, isso não pode estar acontecendo. Rola o feed, mais posts, mais mentiras, conversas falsas de WhatsApp, onde ela supostamente fala que vai fisgar o ricaço. Tudo mentira, tudo montagem, mas as pessoas estão acreditando. Centenas de comentários sem vergonha. Essas mulheres não têm limite. Aproveitadora, as mãos dela trem.

Liga pro Rafael. Alô. Você viu as redes sociais? Barulho de teclado do outro lado. Que história é essa? Tem posts falsos sobre mim dizendo que eu tô dando golpe em você, que eu tô roubando? É tudo mentira. Eu sei que é mentira. Calma. Como eu fico calma? Tem gente me chamando de golpista. É a Beatriz. Tem que ser ela. Como a gente prova? Eu vou contratar gente para investigar.

Advogados para processar. Vai dar tudo certo, mas não dá. Nos dias seguintes, a situação piora. Os posts se multiplicam, perfis falsos compartilham, hashtags são criadas. Isadora golpista começa a aparecer. Isadora sai na rua. As pessoas olham, coxix, apontam. Uma mulher se aproxima dela na parada de ônibus.

Você devia ter vergonha. Desculpa. Vi os posts sobre você pegando dinheiro do coitado do viúvo, nojenta. É tudo mentira. Eu nunca é o que todas dizem. A mulher se afasta. Outras pessoas olham com desprezo. Isadora sente vontade de gritar, de explicar, mas sabe que não adianta. Na internet, a verdade não importa, só a narrativa. Na escola dos irmãos, as coisas ficam piores.

Lucas chega em casa com o olho roxo, o lábio rachado. O que aconteceu? Um cara falou que você é golpista. Eu dei um soco nele. Ele deu um em mim. A gente brigou. Lucas, você não pode sair brigando e eu ia deixar o cara falar de você. Marina aparece da porta do quarto. Olhos vermelhos de chorar.

As meninas da minha sala estão rindo de mim, dizendo que a gente vai ficar rico porque você vai casar com o patrão milionário. Isadora abraça a irmã. Não liga para elas, amor. É tudo mentira. Mas por que as pessoas estão falando isso? Por quê? Porque tem gente má no mundo. Isadora perde os outros dois empregos. Mensagens no WhatsApp. educadas, mas firmes.

Isadora, foi ótimo trabalhar com você, mas vamos ter que dispensar seus serviços. Meu marido não se sente confortável depois do que viu na internet. Prefiro evitar problemas. Obrigada pela compreensão. Agora ela só tem o trabalho na mansão e até isso parece frágil.

Uma tarde voltando da mansão, Isadora tá no ponto de ônibus quando um grupo de mulheres se aproxima. Você é a Isadora, né? A aproveitadora. Eu não sou. Claro que é. A gente viu os posts. Você acha que pode dar golpe nos outros e sair impune? Uma delas empurra Isadora. Ela tropeça. Ei, para com isso. Ou o quê? Vai chamar seu namorado ricasso. Outra mulher joga algo nela, algo líquido, suco.

Ela fica toda molhada. Isso é para você aprender. As mulheres riem e se afastam. Isadora fica ali molhada, humilhada no meio da rua. Pessoas passam, olham, mas ninguém ajuda. Ela chega em casa tremendo, não de frio, de raiva, de impotência. Toma banho, chora debaixo do chuveiro, onde ninguém pode ver. Naquela noite, mensagem no celular, número desconhecido. Essa é sua última chance.

Sai da vida dele ou seus irmãos vão sofrer as consequências. Foto anexada. Lucas e Marina saindo da escola. O sangue de Isadora gela. Não, não eles. Qualquer coisa, menos eles. Ela liga pro Rafael, mal consegue falar direito. Eles eles mandaram foto dos meus irmãos. Como assim? Ela manda o print. Rafael vê.

A raiva explode dentro dele. Acabou. Você vai morar aqui, você e seus irmãos. Rafael, eu não posso. Não tô pedindo, Isadora. Tô dizendo. Eu vou mandar buscar vocês agora. Mas eles ameaçaram, crianças. Você acha que eu vou deixar você lá sozinha? Acha que vou arriscar? Isadora não tem resposta.

Porque ele tá certo. Ela não pode arriscar os irmãos. Tá bom. Mas a gente fica só até você descobrir quem tá fazendo isso. Quanto tempo for necessário. Meia hora depois, um carro para na frente do prédio dela. Motorista e segurança. A senhora é a Isadora Lima? Sou. O Senr. Rafael. Mandou buscar a senhora e os irmãos.

Tragam roupas e documentos. O resto a gente pega depois. Isadora chama Lucas e Marina. A gente vai ficar na casa do meu patrão por um tempo, por segurança. Lucas franze a testa. Por quanto tempo? Não sei. Alguns dias, talvez semanas. E a escola? Você continua indo, mas agora com o motorista.

Isadora, isso é sério assim? Ela mostra a foto dos dois que recebeu. Lucas fica branco. Caramba, Marina tá assustada. A gente vai ficar bem. Isadora abraça ela. Vai, eu prometo. Eles arrumam mochilas, roupas, escovas de dente, o essencial. No carro, Marina olha pela janela. A casa dele é tipo mansão. É sim, tipo castelo de princesa.

Isadora soro, mas é grande. Quando chegam, Rafael tá esperando na porta. Bem-vindos. Lucas olha para cima, pros lados, boca aberta. Cara, isso aqui é gigante. Vocês vão ficar na ala de hóspedes. Três quartos, dois banheiros. Fiquem à vontade. A casa é de vocês também agora. Marina segura a mão de Isadora apertado. A gente pode mesmo ficar? Pode, pelo tempo que precisar.

Rafael olha para Isadora. Os olhos dele dizem mais do que as palavras. Você tá segura agora. Eu vou proteger você. Ela quer acreditar. Mas no fundo sabe que Beatriz não vai parar. Não até conseguir o que quer ou até ser impedida de vez. Aquela primeira noite foi estranha para todos. Isadora não conseguiu dormir direito.

O quarto era grande demais, silencioso demais. Marina acordou duas vezes pedindo água, assustada com os sons diferentes da casa. Lucas ficou acordado mexendo no celular até tarde, tentando processar tudo, mas quando o sol nasceu, a vida seguiu. Na manhã seguinte, Rafael age rápido. Ele conhece Ferreira há anos, ex-policial federal.

se aposentou cedo e abriu empresa de investigação particular. O melhor no que faz, caro, mas vale cada centavo. Eles se encontram no escritório da mansão. Ferreira é um homem de uns 50 anos, cabelo grisalho, olhar penetrante, fala pouco, mas quando fala todo mundo escuta.

“Quanto tempo faz que você tá com esse problema?”, ele pergunta direto, sem rodeios. Umas duas semanas. Começou com posts falsos, depois ameaças. Ontem mandaram foto dos irmãos dela. Ferreira anota tudo num caderninho pequeno, a moda antiga. E você suspeita de alguém específico? Beatriz Abreu, minha ex-noiva. Ela tá presa por tentativa de sequestro, mas foi solta com tornozeleira. Não pode se aproximar da gente, mas isso não impede ela de contratar alguém. Beatriz Abreu.

Ferreira franze a testa. Já ouvi falar. Família rica, influente. Vai ser complicado mexer com ela. Você tem medo? Ferreira sorri pequeno, quase imperceptível. Eu não tenho medo de nada. Só gosto de saber com o que tô lidando. Então você aceita o caso? Aceito, mas vai demorar. Hacker bom não deixa rastro fácil.

Pode levar semanas. Quanto você cobra? 20.000 de entrada. Mais despesas. Se eu achar as provas que você precisa, mais 10 quando fechar. Fechado. Eles apertam as mãos. Ferreira pega a pasta com todos os prints, fotos, mensagens. Vou começar hoje. Te mando relatório a cada três dias.

Quando Ferreira sai, Rafael sente um pouco de alívio. Finalmente alguém fazendo alguma coisa. Ele vai até o jardim, precisa de ar. Isadora tá lá empurrando Miguel no carrinho. O bebê tá acordado. Olhando as árvores balançando com o vento, ela vê Rafael e sorri. Ele gosta de ficar aqui fora, fica calminho. É bom mesmo, silencioso. Rafael senta no banco perto dela.

Eles ficam ali em silêncio, mas não é desconfortável. Contratei um investigador, Rafael diz depois de um tempo. É mesmo? É o melhor que conheço. Ele vai achar quem tá por trás de tudo. E se for a Beatriz, ela já não tá presa? Tá, mas ela pode ter contratado alguém antes ou pode ter mandado alguém fazer isso por ela. O Ferreira vai descobrir.

Isadora respira fundo, aliviada. Obrigada por fazer isso, por nos proteger. Eu quero fazer. Não é obrigação, é escolha. Ela olha para ele. O ar entre eles fica denso, mas nenhum dos dois fala. Nenhum dos dois age, porque o momento ainda não é certo. 10 dias morando na mansão. A rotina se ajusta. Lucas e Marina vão pra escola com motorista.

Isadora cuida de Miguel durante o dia. Rafael trabalha de casa sempre que pode. À noite jantam juntos. Os cinco parecem família, mas não são. Naquela tarde de sexta, Lucas chega da escola emburrado. O que foi? Isadora pergunta: “Nada, Lucas, ele joga a mochila no sofá. Eu tô cansado de ficar aqui. Quero voltar para casa.

A gente não pode ainda, não é seguro. Faz quase duas semanas, nada aconteceu. Eu tô com saudade dos meus amigos, da minha vida.” Marina aparece da cozinha. Eu também quero voltar, mas prefiro ficar aqui segura do que voltar e ter medo. Lucas bufa. Você é criança, não entende? Entendo sim. Para vocês dois.

Isadora intervém. Eu sei que tá difícil, mas é temporário. Quando o investigador descobrir quem tá fazendo isso, a gente volta. Hum. E se não descobrir, a gente vai morar aqui para sempre? A pergunta fica no ar pesada. Isadora não tem resposta. Naquela noite, depois que os irmãos dormem, ela toma a decisão.

Tem que ir embora. Por Lucas, por Marina, por ela mesma. Quanto mais tempo ficam ali, mais confuso fica, mais doloroso. Ela vai até o escritório. Rafael tá mexendo no computador. Posso falar com você? Ele levanta na hora preocupado. Claro, aconteceu alguma coisa? Não, mas eu decidi. A gente vai embora.

Eu e meus irmãos. O rosto dele fecha. Por quê? Porque o Lucas está reclamando. Ele quer a vida dele de volta, os amigos, a rotina. E ele tem razão. A gente não pode ficar aqui para sempre, mas ainda não é seguro. Faz quase duas semanas, nada aconteceu. Nenhuma ameaça nova, nenhum post. Talvez tenha acabado ou talvez estejam planejando outra coisa. Isadora balança a cabeça.

Rafael, eu não posso ficar aqui. Não dá mais. Por quê? É por minha causa? É por causa de tudo você. Essa situação não tá certo. Rafael se aproxima, para na frente dela. O que não tá certo? Eu te proteger, te dar um lugar seguro? Tá certo demais. E isso me assusta. Isadora, não. Deixa eu falar. Ela respira fundo.

Eu sei o que você sente. Eu vejo no jeito que você olha para mim. E eu eu sinto também. Mas não pode. A gente não pode. Por que não? Porque as pessoas vão falar, vão dizer que eu me aproveitei, que dei golpe. O Miguel vai crescer ouvindo isso. Eu não vou deixar isso acontecer. Rafael quer argumentar.

Quer dizer que não liga pro que as pessoas pensam, mas vê a dor no olho dela, o medo real, e entende. Tá bom. Ele diz voz baixa. Mas deixa o Ferreira terminar a investigação. Deixa ele descobrir quem tá por trás. Aí vocês vão com segurança, com a consciência tranquila. Quanto tempo isso vai levar? Ele disse que pode demorar, mas prometo que vou cobrar ele todo dia.

Isadora quer recusar, mas sabe que ele tá certo. Seria irresponsável voltar sem saber se o perigo passou. Mais uma semana. Se em uma semana não descobrir nada, a gente vai mesmo assim. E eu prometi pro Lucas também. Fechado. Ela sai do escritório rápido antes que ele veja as lágrimas.

Rafael fica sozinho, aperta a ponte do nariz, frustrado com a situação toda. Ele tá apaixonado, completamente apaixonado. E ela tá fugindo, mas ele não vai desistir. Não dessa vez. Ferreira trabalha sem parar. Nos primeiros dias, parece que não vai dar em nada. Os perfis falsos foram criados com VPN. Os IPs mudam constantemente. O hacker é bom, mas Ferreira é melhor.

Uma semana e meia depois da contratação, ele consegue rastrear um padrão. Todos os IPs, apesar de mudarem, passam por um servidor específico. E esse servidor foi pago com cartão de crédito vinculado a uma offshore nas ilhas Cman. Mais investigação, mais quebra de sigilo autorizada pelo juiz. A Offshore tem como beneficiária final. Beatriz Abreu. Ferreira liga pro Rafael. Achei a primeira ponta do fio. Me conta.

Ferreira explica tudo. O servidor, a offshore, a ligação com Beatriz. Mas isso não é suficiente. Ele continua. Preciso do hacker. Preciso dele me entregar as conversas, os arquivos originais. Aí sim a gente fecha o cerco. Como você vai achar o hacker? Já achei. Júlio Mendes, freelancer, tem histórico, trabalha com manipulação de imagem, criação de perfis.

Como você vai fazer ele falar? Deixa comigo, tem uns contatos. Dois dias depois, Ferreira liga de novo. Consegui. Conseguiu o quê? As provas. O Júlio entregou tudo. Conversas com a Beatriz no WhatsApp, arquivos originais das montagens, tudo. Ele estava com raiva porque ela prometeu pagar mais e não pagou.

Ele entregou por raiva e por medo. Expliquei para ele que a Beatriz está sendo investigada, que ele pode ser cúmplice, que se ele colaborar, a pena dele diminui. Ele preferiu salvar a própria pele. Rafael sente o alívio tomando conta. Você é bom mesmo, por isso cobro caro. Mas ainda tem mais. Achei o cara que arrombou a casa da Isadora. Negão, 23 anos, tem ficha. Ele confessou que a Beatriz pagou 5.

000 para ele entrar lá, bagunçar tudo e escrever a ameaça. Tem como provar? Ele gravou a conversa com ela como seguro, caso ela não pagasse. Gente esperta, sem escrúpulos, mas esperta. Quanto tempo você precisa para fechar o dossiê completo? Dois dias. Vou organizar tudo, pegar depoimentos por escrito, autenticar documentos. Aí levo direto paraa promotoria. Faz isso.

E Ferreira, bom trabalho. Sério? É para isso que você me paga. Quando desliga, Rafael vai procurar Isadora. Ela tá no quarto de Miguel trocando a fralda dele. Isadora. Ela vira, vê o rosto dele, a empolgação. Ele descobriu. Descobriu. Foi a Beatriz. O Ferreira tem provas, conversas, transferências, depoimentos, tudo.

Os olhos dela se enchem de lágrimas, mas de alívio dessa vez. Sério? Sério. Em dois dias, ele fecha o dossiê e leva pra promotoria. A Beatriz vai ser presa de novo e dessa vez não sai. Isadora senta na poltrona, as pernas fraquejam. Acabou, então. Acabou. Ela olha para ele sorrindo apesar das lágrimas. Obrigada por tudo. Você não precisa agradecer.

Silêncio, carregado de coisas não ditas. Então eu posso ir embora. Isadora diz voz baixa. Rafael sente uma facada no peito. Pode, se você quiser. É o melhor. Para quem? Ela não responde porque não sabe mais. Rafael não aguenta. Ele precisa olhar nos olhos de Beatriz, dizer o que pensa antes dela ser presa de novo. Conversa com o juiz, pede autorização.

Como vítima, ele tem direito. O juiz autoriza uma visita na presença de um oficial de justiça. Rafael vai até a casa dela. O oficial espera no carro. Pronto para intervir, se necessário. Beatriz abre a porta. surpresa. Depois sorri. Rafa, você veio. Não me chama assim. Ela abre espaço.

Ele entra, mas fica perto da porta, pronto para sair, se precisar. O apartamento tá uma bagunça. Roupas no chão, louça suja. Beatriz não tá bem, mas tenta disfarçar. Quer sentar? Não, não vou ficar muito tempo. Então, por que veio? Rafael respira fundo, controla a raiva que ferve dentro dele. Eu vim te dizer que eu sei de tudo.

Você contratou o Júlio, criou os perfis falsos, espalhou as mentiras, pagou o cara para arrombar a casa dela. Eu tenho provas de tudo. O rosto de Beatriz fica branco, depois vermelho. Não sei do que você tá falando. Não mente. Tenho as conversas, as transferências, os depoimentos. Acabou, Beatriz. Ela treme de raiva, de medo, de frustração. Ela roubou você de mim.

Ninguém roubou nada. Eu nunca fui seu. A gente era perfeito junto. A gente era tóxico. Você não me amava. Você me queria como posse. Beatriz dá um passo à frente. Agressiva. Agora eu te amava. Eu te amo. Não, você é obsecada. Que é diferente. Rafael mantém a voz firme.

Você tentou sequestrar meu filho, destruiu a vida de uma mulher inocente, ameaçou crianças. Isso não é amor, é doença. Ela não é inocente. Ela se aproveitou de você. Ela salvou o meu filho, arriscou a vida. E você, você só destruiu tudo que você tocou, você destruiu. Beatriz pega um copo da mesa, os dedos apertam, ela quer jogar, quer quebrar, quer gritar, mas se controla porque sabe que o oficial tá ali fora, sabe que qualquer coisa pode piorar a situação dela. Ela coloca o copo de volta, devagar.

Sai daqui, eu já tô indo. Mas antes deixa eu te falar uma coisa. Você vai pagar por tudo que fez. Eu vou me certificar disso. Ele sai, fecha a porta. Beatriz fica ali parada, sozinha, no apartamento bagunçado. E pela primeira vez ela percebe perdeu. Perdeu tudo e não tem mais volta.

Dois dias depois, Ferreira entrega o dossiê completo paraa promotoria. A promotora lê tudo, fica impressionada com a quantidade de provas. Isso é sólido, muito sólido. Vou pedir revogação imediata da liberdade provisória e incluir novas acusações. Difamação agravada, ameaça, invasão de domicílio. Ela não sai mais. Quanto tempo até prender ela? 24 horas.

No dia seguinte, Beatriz é presa, dessa vez sem direito à fiança. Prisão preventiva até o julgamento. As notícias estouram. Empresária presa novamente por campanha de difamação e a adora ver no celular. Respira aliviado, mas também sente vazio, porque agora não tem mais desculpa para ficar. Naquela noite é véspera da audiência que vai confirmar a prisão preventiva. Isadora não consegue dormir, sai pro jardim, precisa pensar.

Rafael tá lá sentado no balanço perto da piscina. Você também não dorme? Ele vira. Sorri triste. Muita coisa na cabeça. Posso sentar? Sempre. Ela senta no balanço ao lado. Eles balançam devagar, olhando as estrelas. Nenhum dos dois fala, mas o silêncio diz tudo. Amanhã acaba Rafael diz depois de um tempo. É. E você vai embora. Eu preciso voltar para minha vida.

Rafael para de balançar. Vira para ela. E se eu não quiser que você vá? Isadora sente o coração disparar. Rafael, deixa eu falar só uma vez. Ela olha para ele, vê a intensidade no olhar dele. Eu sei que é loucura, eu sei que tem pouco tempo, mas eu não fala. Por que não? Porque se você falar, tudo muda.

E eu não sei se tô pronta. Pronta para quê? Para sentir isso, para deixar isso ser real? Rafael segura a mão dela. Suave, mas firme. Isadora, eu me apaixonei por você. Ela fecha os olhos, as lágrimas vêm. Você não sabe o que tá falando. Sei sim. Eu acordo pensando em você. O dia só fica bom quando você aparece.

O Miguel sorri mais quando você tá perto. A casa é mais leve. Eu sou mais leve. Mas é muita coisa. Rápido demais. E daí? Às vezes as coisas certas acontecem rápido. Isadora abre os olhos. Olha para ele e as pessoas o que vão falar? Que falem. Mas o Miguel vai ser mais feliz com você aqui. Eu tenho certeza.

E se você se arrepender? E se eu não me arrepender? E se a gente for feliz? Ela limpa as lágrimas com a mão livre. Eu também sinto. Eu tento não sentir, mas eu sinto. Rafael sorri. Aquele sorriso que ilumina tudo. Então fica. Eu tenho medo. Eu também. A gente enfrenta junto. Isadora respira fundo. Toma coragem. Tá bom. Eu fico. Eu tento. A gente tenta. Sério? Sério. Mas devagar. Com calma. Do seu jeito.

Ele se aproxima devagar, dando tempo para ela recuar. Mas ela não recua. Os lábios dele se encontram suave no começo, hesitante, depois mais firme, mais certo. Quando se separam, ela encosta a testa na dele. Eu vou fazer você feliz. Ele sussurra. Você já faz. Eles ficam ali abraçados sob as estrelas, finalmente permitindo que seja real. Enquanto isso, na cadeia, Beatriz está no limite.

A audiência de amanhã vai decidir se ela fica presa até o julgamento. E pelos crimes que acumulou, as chances são grandes. Ela só tem uma ligação permitida por dia. Liga pro advogado. Preciso de um favor. Que tipo de favor? A voz dele é cautelosa. Tenho dinheiro guardado numa conta que ninguém conhece. Quero que você use esse dinheiro para contratar alguém.

Contratar para quê, Beatriz? Para dar um susto na Isadora. Fazer ela desistir dele. Isso é 50.000 só para você fazer isso. Sem perguntas. Silêncio do outro lado. Eu posso perder minha licença. Você vai perder muito mais se recusar. Eu sei das suas falcatruas, dos processos que você manipulou. Tenho provas guardadas. Se você não me ajudar, eu entrego tudo.

O advogado respira fundo, sabe que não tem escolha. O que exatamente você quer? Quero alguém bom, profissional, para seguir ela, dar um susto. Nada muito pesado, só o suficiente para ela ter medo e ir embora. E se der errado, não vai dar. Você vai garantir. Ela desliga, sorri no escuro da cela. Se ela não pode ter Rafael, ninguém pode.

No dia seguinte, o advogado deposita o dinheiro, contrata um homem que conhece, gente que faz trabalhos discretos. Segue a mulher, fica de olho. Quando tiver oportunidade, dá um susto, mas não machuca. Entendeu? Só um susto. O homem concorda, pega o dinheiro e começa a seguir Isadora, esperando o momento certo.

Dois meses e meio se passaram desde aquela noite no jardim. Rafael e Isadora viveram como noivos, planejando o futuro juntos. Mas hoje o passado volta. É dia de acertar contas. O dia do julgamento chegou. O fórum tá lotado. O caso virou notícia nacional. empresária acusada de tentar sequestrar bebê do ex-noivo e perseguir mulher inocente.

Repórteres na porta, câmeras, flashes. Rafael e Isadora chegam juntos. Ele segura a mão dela. Ela tá nervosa. Vai dar tudo certo. Ele sussurra. E se ela ganhar? Não vai ganhar. As provas são sólidas. Eles entram, sentam nos bancos reservados para as vítimas. Minutos depois, Beatriz é trazida, algemada, uniforme laranja da prisão. O cabelo que sempre foi impecável tá sem vida.

O rosto pálido, olheiras profundas, dois meses e meio presa mudaram ela. Mas quando ela olha para Isadora, o ódio nos olhos continua o mesmo. O juiz entra, todo mundo levanta, depois senta. O julgamento começa, a promotora se levanta. Voz firme, confiante. Excelência, senhores jurados, estamos aqui porque a acusada Beatriz Abreu cometeu uma série de crimes graves.

Tentativa de sequestro qualificado de um bebê de 6 meses, formação de quadrilha, difamação agravada, invasão de domicílio, ameaça qualificada contra menores. Ela faz pausa, olha para cada membro do júri. Vamos provar com documentos, depoimentos e provas técnicas que a acusada agiu de forma premeditada e calculada, que ela representa perigo real à sociedade.

A promotora senta, o advogado de Beatriz levanta, um dos criminalistas mais caros do país, terno impecável, postura confiante. Excelência, senhores jurados, minha cliente cometeu erros, isso é innegável, mas foram erros nascidos de um transtorno psicológico grave. Beatriz Abreu sofre de transtorno obsessivo relacionado a perdas afetivas.

Ela não é uma criminosa, é uma mulher doente que precisa de tratamento. Rafael aperta os punhos. Doente. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. O julgamento segue pelos próximos 4ro dias. Primeira testemunha, Carla. Ela cumpre pena reduzida por ter feito delação. A Beatriz me procurou há uns 4 meses. Ofereceu 50.000 para eu me passar por babá e sequestrar o bebê.

Eu aceitei porque estava precisando. Mas eu juro que não ia machucar a criança. E como seria o sequestro? Eu ia levar o Miguel para um sítio, ficar lá três dias. Depois a Beatriz ia aparecer com a polícia, fingindo que descobriu ela ia ser a heroína. A sala reage, murmúrios, caras de nojo. O advogado de Beatriz tenta desqualificar.

A senhora não está inventando isso em troca de redução de pena? Não, eu tenho as mensagens, as transferências, tá tudo documentado. Segunda testemunha, Júlio, o hacker. Ele mostra as conversas com Beatriz. os pedidos dela para criar perfis falsos, as montagens.

Ela mandou mensagem dizendo: “Quero que pareça que ela tá roubando. Faz uma foto dela com joias. Eu fiz o que ela pediu. Terceira testemunha, o criminoso que arrombou a casa de Isadora. Ela pagou 5.000, mostrou foto da casa, disse o horário, planejou tudo. Quarta testemunha, Isadora. Ela sobe ao banco, as mãos tremem no início, mas ela respira fundo. A promotora é gentil.

Isadora, pode contar pro Juri como tudo começou? Isadora conta sobre o dia que salvou Miguel, sobre Beatriz aparecendo depois, os posts falsos que destruíram sua vida, as ameaças aos irmãos. Eu perdi meus empregos. Meus irmãos sofreram bullying. As pessoas me atacavam na rua. Eu tinha medo de sair de casa. medo que fizessem algo com minha família.

A voz dela vai ficando mais firme a cada palavra. E o pior é que eu não fiz nada de errado. Eu só salvei um bebê. Vários jurados limpam os olhos. O advogado de Beatriz se levanta, tenta atacar. A senhora não se mudou paraa casa do Sr. Rafael apenas duas semanas após salvá-lo? Uma mudança conveniente, não? Isadora olha para ele direta.

Eu me mudei porque recebi ameaças de morte contra meus irmãos com foto deles saindo da escola. O Senhor Rafael ofereceu proteção. Eu aceitei porque tenho dois irmãos menores que eu amo. Se o senhor acha que proteger família é conveniência, a gente tem valores muito diferentes. Alguns no público aplaudem baixo. O juiz pede silêncio. Quinta testemunha. Rafael.

Ele conta sobre a traição de Beatriz, o trauma, o medo de perder o filho. O Miguel tinha 6 meses, 6 meses. E ela não se importou, só queria me ter de volta como se eu fosse objeto. E sobre a relação com a Isadora, Rafael olha para ela. Sorri pequeno. A Isadora me ensinou a ser pai, me fez voltar a viver.

E sim, eu me apaixonei por ela, mas não porque ela se aproveitou, porque ela é a pessoa mais íntegra que eu conheci. Ela arriscou tudo por um bebê que mal conhecia. Beatriz não aguenta. Levanta do banco. Mentira. Ela te manipulou, te enfeitiçou. O juiz bate o martelo com força. Ordem. Sentem a réate. Ou ela será retirada da sala. Os seguranças forçam Beatriz a sentar.

Ela treme de raiva, mas se cala. A promotora apresenta ainda o dossier completo de Ferreira. Provas técnicas. Rastreamentos, quebras de sigilo autorizadas, depoimentos. É irrefutável. Depois de 4 dias de julgamento, o jurri se retira para deliberar. 6 horas de espera. Rafael e Isadora ficam no corredor. Ele não solta a mão dela nem por um segundo. Tô com medo.

Ela sussurra. Eu também. Mas vai dar certo. Eles tentam comer alguma coisa. Não conseguem. O estômago tá embrulhado. Finalmente chamam todo mundo de volta. O ju voltou. A sala fica em silêncio absoluto. O juiz pergunta. O júri chegou a um veredicto. O porta-voz se levanta. Sim, excelência. Por unanimidade, consideramos a reculpada de todas as acusações apresentadas.

A sala explode, aplausos, gritos, choro. Beatriz fica completamente imóvel, processando. Depois levanta de novo. Não, isso é injusto. Eu amava ele. Seguranças correm para segurar ela, mas o juiz continua. Beatriz Abreu, pelos crimes de tentativa de sequestro qualificado, formação de quadrilha, difamação agravada, invasão de domicílio e ameaça qualificada contra menores, eu a condeno a 22 anos de reclusão em regime fechado, sem possibilidade de progressão de regime antes de cumprir 1/3 da pena. Beatriz grita, chora, tenta se soltar. Meu pai

vai me tirar daqui, vocês vão ver. Mas ela é arrastada para fora. Os gritos ecoam até sumirem no corredor. Rafael abraça Isadora. Ela a abraça de volta, apertado. Acabou. Ele sussurra. Do lado de fora, repórteres cercam. Senr. Rafael, como se sente? Sinto alívio. Justiça foi feita. Agora a gente só quer paz.

E a relação de vocês? É verdade que estão juntos? Rafael olha para Isadora. Ela acena que tá tudo bem. A gente tá junto e muito feliz. As câmeras disparam. As notícias saem naquela mesma noite. Justiça condena a empresária a 22 anos. Mulher que salvou o bebê e foi perseguida recebe apoio após condenação. Opinião pública vira completamente, como sempre deveria ter sido.

Seis semanas depois do julgamento, a vida tá encontrando um ritmo novo. Isadora voltou a trabalhar como faxineira, mas agora só na mansão. Rafael insiste em pagar o suficiente para ela não precisar de outros empregos. Deixa eu cuidar de você”, ele pede. Eu aceito, mas quando eu me formar em enfermagem, eu trabalho. Combinado? Combinado.

Naquela tarde de sábado, Rafael tem um plano. Ele contratou o fotógrafo. Pediu pro Ferreira manter segurança discreta no parque. Preparou tudo nos mínimos detalhes. “Vamos passear?”, ele pergunta. Aonde? No parque. O Miguel adora lá. E você precisa de ar. Ela hesita desde a prisão de Beatriz. Ainda tem receio de lugares abertos. Mas concorda. Eles arrumam Miguel. Saem os três. O parque tá lindo.

Fim de tarde. Sol dourado filtrando pelas árvores. Rafael empurra o carrinho. Isadora do lado, conversando sobre o dia. Indo de alguma bobagem que Miguel fez de manhã, Miguel aponta pros pássaros, balbucia coisas que só ele entende. Param perto do lago. Rafael tira Miguel do carrinho, coloca ele no colo. Isadora. Hum. Ele se ajoelha com Miguel no colo.

Isadora congela. O que você tá fazendo? Rafael tira uma caixinha do bolso. Abre um anel simples, uma pedra pequena, delicado. Eu sei que é rápido, sei que vai ter gente que vai falar, mas eu não aguento esperar mais. Os olhos dele fixos nos Isadora Lima, você salvou meu filho. Me salvou também.

fez essa casa virar lar e eu não consigo imaginar um dia sem você. Casa comigo? As lágrimas vem antes da resposta. Rafael, se você quiser pensar, sem problema. Quanto tempo precisar? Não preciso pensar. Ela limpa as lágrimas, sorrindo. A resposta é sim. Sério? Sério. Eu caso com você. Rafael levanta, coloca o anel, beija ela.

Miguel entre os dois rindo e batendo palminha. Mas a 50 m dali, escondido atrás das árvores, um homem observa o mesmo que o advogado de Beatriz contratou semanas atrás. Ele vem seguindo Isadora, esperando. Ele coloca a mão no bolso, sente o metal frio da arma.

A ordem era só um susto, mas vendo eles ali tão felizes, tão juntos, ele decide que vai resolver o problema de vez. Levanta a arma, mira. Um dos seguranças de Ferreira percebe o movimento suspeito, grita: “Arma! Abaixa! Rafael reage por puro instinto. Joga Isadora e Miguel no chão. Cobre eles com o próprio corpo. O tiro dispara! O som explode no silêncio do parque. A bala acerta a árvore ao lado deles. Casca voa.

Miguel chora assustado, mas o segundo tiro não vem porque o outro segurança já correu. Derruba o atirador, desarma ele. Em segundos, o homem tá imobilizado no chão. Polícia chega em minutos. Ambulância também. Rafael levanta, verifica Isadora. Miguel, vocês estão bem? Alguém se machucou? Isadora tá tremendo, mas a cena que sim. A gente tá bem, ninguém se machucou.

Miguel tá chorando, assustado, mas sem ferimentos. O atirador é elevado. Dois dias depois, na delegacia, ele tenta negar tudo, mas Ferreira já tinha feito o trabalho. Rastreou o celular dele, achou mensagens com o advogado de Beatriz. Transferências bancárias. Confrontado com as provas, o homem faz acordo.

A Beatriz pagou através do advogado dela 50.000 para dar um susto na mulher. Mas quando eu vi eles ali felizes, pensei em resolver de vez. Rafael ouve a gravação depois. Sente a raiva subir, mas também alívio, porque agora acabou mesmo. Duas semanas depois, nova audiência. Beatriz recebe acusações adicionais. Tentativa de homicídio qualificado.

Contratação de crime, apenas sobe para 27 anos. O advogado dela preso também por cumplicidade. Dessa vez não tem recurso que funcione, não tem dinheiro que compre saída. Acabou de verdade. Nas semanas seguintes ao ataque, Isadora sofre. Pesadelos toda a noite. Ela acorda gritando, suando, revivendo o som do tiro, o medo de morrer.

Rafael acorda junto, segura ela, liga a luz, acalma. Você tá segura? Eu tô aqui. Ninguém vai te machucar. Mas as palavras não bastam. Isadora tem medo de sair de casa, medo de ir no parque, medo até de ficar sozinha. Rafael contrata a terapeuta especializada em trauma. Isadora vai três vezes por semana.

No começo, ela resiste. Eu não preciso disso. Você quase morreu. É normal ter medo. A terapia vai ajudar. Eu não quero parecer fraca. Procurar ajuda não é fraqueza, é coragem. Ela aceita, vai, tenta. A terapeuta ensina técnicas de respiração, de controle da ansiedade, de ressignificação do trauma. Três meses de trabalho intenso.

Aos poucos, Isadora melhora, consegue dormir melhor, sair de casa sem pânico, mas ainda tem dias difíceis. Um dia ela decide voltar ao parque com Rafael, com Miguel, com seguranças por perto. Ela para exatamente no lugar onde aconteceu. Respira fundo, uma, duas, três vezes. Eu não vou deixar ela ganhar. Não vou deixar o medo me controlar. Rafael segura a mão dela.

Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço. Não sou corajosa. Só tô cansada de ter medo. Coragem não é não ter medo, é agir apesar dele. Ela olha para ele, sorri. Pequeno, mas verdadeiro. Aos poucos a vida retoma, não volta ao que era antes. Vira outra coisa, melhor em alguns aspectos, mais consciente, mais grata. E o casamento eles marcam para seis meses depois do ataque.

Tempo suficiente para Isadora se sentir pronta. Tempo suficiente para segurança. Tempo suficiente para tudo. 8 meses depois do julgamento. Miguel agora tem um ano e meio. Caminha, fala: “Mamãe, papai, água, a criança mais amada do mundo.” O dia do casamento chegou. Rafael ofereceu festa grande, salão luxuoso, lista enorme de convidados.

Isadora recusou tudo. Eu quero simples. Quero que seja sobre a gente, não sobre mostrar nada para ninguém. Então, escolheram a capela pequena da cidade, onde Isadora cresceu, onde a mãe dela foi enterrada. Dia do casamento. Céu azul, sol brilhando. Isadora tá no quartinho da noiva.

O vestido é simples, branco, comprado numa loja comum, mas ela tá radiante. Marina ajuda com o V. Você tá linda, Isas. Tô nervosa. Por quê? Você ama ele e se der errado, não vai dar. Lucas entra. Terno novo que Rafael insistiu em pagar. Ele cresceu, quase um homem. Pronta, pronta. A mãe estaria orgulhosa. Isadora segura as lágrimas. Obrigada por estar aqui.

Sempre eles saem. A música começa. Marina entra primeiro jogando pétalas. Feliz. Depois é a vez de Isadora. Lucas oferece o braço. Ela segura. Caminham devagar pelo corredor da capela. Lá na frente, Rafael espera. Terno simples, gravata azul. Miguel no colo, o bebê de roupinha social, lindo.

Quando Rafael vê Isadora entrando, os olhos dele enchem. Ela chega. Lucas beija a testa dela, entrega ela pro Rafael. O padre começa. Estamos aqui reunidos. Hora dos votos. Rafael respira fundo. Isadora, quando você entrou na minha vida, eu tava perdido. Você me mostrou que dá para recomeçar, que dá para amar de novo. Você salvou meu filho, me salvou.

E eu prometo te fazer feliz todo dia, ser o homem que você merece. Isadora limpa uma lágrima que escapa. Rafael, quando eu ouvi o Miguel chorando naquele dia, eu não imaginava que tudo ia mudar. Você me deu uma família, um lar, me fez acreditar que eu mereço amor. Eu prometo cuidar de você e do Miguel como se vocês fossem tudo, porque são o padre sorri.

Pelo poder declaro vocês marido e mulher. Pode beijar a noiva. Rafael beija ela. Suave, verdadeiro. Miguel bate palminha entre os dois. A festa é pequena. Salão ao lado da capela. Comida caseira, música ao vivo. Lucas faz discurso. A Isadora se tornou mãe da gente quando tinha 14 anos. Abriu mão dos sonhos dela e hoje eu vejo ela realizando sonhos novos.

Você merece, mana. Tudo. Todos aplaudem. Lucas senta. A namorada dele, Júlia, segura a mão dele orgulhosa. Marina dança com Miguel. Os dois rindo, tropeçando, felizes. Rafael puxa Isadora para dançar. Feliz. Mais que feliz, eles dançam devagar, abraçados, aproveitando cada segundo. No final da noite saem Miguel dormindo no colo dela.

Pronta paraa vida de casada? Mais que pronta. Entram no carro, vão para casa, a casa que agora é deles, juntos para sempre, um ano e meio após o casamento. Isadora se formou em enfermagem, conseguiu emprego num hospital público, ama cada dia.

Lucas passou no vestibular, estuda engenharia, trabalha meio período numa empresa. Rafael ofereceu pagar tudo, mas Lucas quis ter independência. Rafael respeita. Marina tá no ensino médio, tem amigas, namora um menino da escola, é feliz. Miguel tem 3 anos, fala sem parar, conta histórias inventadas, desenha, brinca, vive. Naquela tarde, Rafael chega em casa diferente.

Isadora, na cozinha. Ele entra, ela tá fazendo lanche com Miguel. Tem uma novidade. Boa ou ruim? Boa. A empresa recebeu proposta de compra. Há três meses eu vinha negociando. Hoje fechei a venda. Isadora fica surpresa. Você vendeu? Vendi por um valor que vai nos sustentar pro resto da vida sem preocupação.

Mas por que ele se aproxima, segura as mãos dela? Porque eu cansei de trabalhar demais. Quero tempo com você, com o Miguel, com a família. Quero viver de verdade. Ela abraça ele. Eu três meses depois, outra novidade. Isadora tá atrasada. Faz o teste, duas linhas. Ela mostra pro Rafael no banheiro mesmo. Os dois olhando pro teste.

A gente vai ter um bebê. Ela sussurra. Rafael abraça ela. A gente vai ter um bebê. Miguel, que ouviu da porta entra correndo. Bebê, eu vou ter irmão. Irmãzinha. Isadora corrige. Vai ser menina, princesa. Vou cuidar dela. A gravidez é tranquila. Isadora trabalha até o oitavo mês. Depois tira licença. Rafael pinta o quadro do bebê. Miguel ajuda do jeito dele. Meso a bebê nasce.

Eles dão o nome dela de Helena, em homenagem à primeira esposa de Rafael, a mãe biológica de Miguel. A Helena faz parte da nossa história. Ela deu a vida pro Miguel nascer. A gente nunca esquece ela. Isadora diz. Rafael chora, abraça a esposa, o filho, a filha recém-nascida, tudo que ele perdeu, tudo que ele ganhou, tudo que ele tem.

Enquanto isso, longe dali, na prisão feminina de segurança média, Beatriz amarga. Três anos cumpridos, 24 ainda pela frente. Uma presa se aproxima, mostra o celular escondido. Olha quem tá na notícia. É uma matéria. Empresário Rafael Mataradu e esposa comemoram nascimento da segunda filha. Foto da família.

Rafael, Isadora, Miguel, a bebê Helena, todos sorrindo. Beatriz sente a raiva conhecida subir. Pega o celular, joga contra a parede, quebra. As outras presas reclamam: “Ei, esse celular era meu. Cala a boca! Discussão vira briga. Guardas vêm. Beatriz é levada para solitária. Lá, sozinha no escuro, ela se olha no metal arranhado que serve de espelho.

Cabelo grisalho precoce, rugas que não existiam antes, olhos vazios. Tr anos atrás ela tinha tudo. Dinheiro, beleza, liberdade. Hoje não tem nada. Duas semanas depois, advogado novo vem, o que cuida dos últimos trâmites legais. vim avisar. Sua família finalizou o processo. Você foi oficialmente deserdada. Não vai receber nada.

Eles também pediram para eu comunicar que não vão mais visitar. As palavras caem como pedras. Eles não podem. Podem sim. E fizeram. Você tá sozinha. Ele sai. Beatriz volta paraa cela, senta no chão frio de concreto. Chora, mas não de tristeza, de raiva que não tem mais para onde ir.

Cada escolha que fez, cada crime, cada mentira levou a isso. Solidão, abandono, esquecimento, enquanto Isadora vive tudo que ela nunca teve. Amor verdadeiro, família real, paz. Dois anos e meio depois. A família tá completa agora. Casa cheia num domingo à tarde. Lucas trouxe Júlia, a noiva dele. Marina tá na faculdade de artes. Miguel tem 5 anos e meio.

Helena tem 2 anos e meio. Jantar de domingo. Tradição que criaram. Isadora na cozinha finalizando. Rafael ajudando. Miguel e Helena brincando na sala. Lucas e Marina conversando. Família imperfeita, barulhenta, real. Rafael abraça Isadora por trás enquanto ela mexe a panela. Lembra quando você tinha medo que não ia dar certo? Lembro. Eu tinha tanto medo.

E deu mais que certo. Ela vira, beija ele. Deu perfeito. Miguel corre pra cozinha. Papai, mamãe. A Helena desenhou na parede. Os dois riem. Vida de pais, Rafael diz. A melhor vida. Isadora responde. Vão até a sala. Helena tá com giz de cera na mão. A parede com rabiscos coloridos. Helena, a gente desenha no papel, lembra? A menina olha com olhos grandes, inocente.

Desculpa, mamãe. Isadora pega ela no colo, beija a bochecha gordinha. Tá perdoado. Mas da próxima vez papel. Tá bom. Rafael limpa a parede. Miguel, ajuda. Todos riem de alguma coisa que ninguém mais vai lembrar daqui a 10 minutos. Mas não importa, porque são esses momentos, os pequenos, os bobos, os imperfeitos que fazem a vida valer.

Chamam todo mundo pra mesa. O jantar começa. Conversas sobrepostas, risos, comida sendo passada. Miguel derrubando suco, Marina contando história da faculdade, Lucas anunciando que vai pedir Júlia em casamento. Vida acontecendo, real, imperfeita, linda. E longe dali, atrás das grades, Beatriz ouve o sino da igreja tocar. 7 da noite, mais um dia acabou. 21 anos ainda pela frente.

Duas mulheres, duas escolhas, dois destinos. Gostou dessa história? Você acha que Beatriz teve o que mereceu? Acha que Isadora e Rafael formaram uma família linda? Me conta nos comentários. Até a próxima história.

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