ELA É NOSSA IRMÃ?” PERGUNTARAM AS GÊMEAS, FILHAS DO MILIONÁRIO. – QUANDO ELE OLHOU A MENDIGA…

Ela é nossa irmã?”, perguntaram as gêmeas sem conseguir esconder o choque. O milionário ficou paralisado quando olhou para a menina suja, adormecida no chão do posto de gasolina. Ela era idêntica a suas filhas. Aquela semelhança absurda não podia ser coincidência. Era o início de uma verdade cruel escondida há anos.

E a partir desse momento, a vida dele começou a desmoronar, revelando segredos capazes de destruir sua própria família. Se esta história te interessou, não se esqueça de se inscrever no nosso canal e diga-nos de que cidade você nos está vendo. Continuamos. O sol escaldante de Ribeirão Preto castigava o asfalto naquela tarde de fevereiro. Eduardo Mendonça Albuquerque, 42 anos, dirigia seu Range Rover pela rodovia Ananguera, retornando de uma viagem de negócios a São Paulo com suas filhas gêmeas de 12 anos.

Beatriz e Bianca, empresário do setor sucro alcoleiro e um dos homens mais influentes do interior paulista, Eduardo havia transformado a usina herdada do pai em um império agroindustrial que se estendia por três estados. “Pai, estou com sede”, reclamou Beatriz do banco traseiro, ajeitando os óculos de armação colorida sobre o nariz. Eu também”, concordou Bianca, idêntica à irmã em aparência, mas com personalidade completamente distinta.

Enquanto Beatriz era metódica e introvertida, Bianca transbordava energia e espontaneidade. “Tem um posto logo à frente”, Eduardo respondeu, observando as filhas pelo retrovisor. Eram sua razão de viver desde que Cláudia, sua esposa, sofrera complicações no parto e entrara em estado vegetativo, falecendo dois anos depois.

O posto Hungera era uma parada tradicional para viajantes, com lanchonete, lojas de conveniência, a um pequeno restaurante self service. Eduardo estacionou próximo às bombas de combustível e, enquanto o frentista abastecia, levou as meninas para a lanchonete climatizada. “Podem escolher um lanche e um suco. Vou aproveitar para usar o banheiro”, disse Eduardo, entregando o cartão para Beatriz, sempre a mais responsável.

Ao sair do banheiro, Eduardo parou abruptamente na área externa da lanchonete, sentada sozinha em um banco de concreto sob uma árvore, estava uma menina que fez seu coração falhar uma batida. Esfregou os olhos incrédulo. A garota, aparentando a mesma idade de suas filhas, era a cópia exata de Beatriz e Bianca.

Os mesmos olhos amendoados, o mesmo formato do rosto, os mesmos cabelos castanhos ondulados caindo sobre os ombros. Eduardo permaneceu imóvel, observando a menina que foliava um livro desgastado. Ela vestia roupas simples, mais limpas, uma camiseta azul desbotada, shorts jeans e sandálias de plástico. Ao seu lado, uma mochila surrada parecia conter todos os seus pertences.

“Moço, tudo bem?” Uma funcionária do posto interrompeu seus pensamentos. O senhor está pálido. Eduardo murmurou algo ininteligível e caminhou em direção à menina, como se estivesse em transe. Quanto mais se aproximava, mais evidente ficava a semelhança impossível de ignorar. “Oi”, disse ele, parando a uma distância respeitosa. “Tudo bem com você?” A menina ergueu os olhos do livro.

eram os mesmos olhos de suas filhas, mas havia neles uma maturidade precoce, o tipo de olhar que só se desenvolve quando se cresce depressa demais. Tudo respondeu ela com cautela, fechando o livro sobre o colo. Você está sozinha? Seus pais estão por perto. Minha avó, ela hesitou. Minha avó não está mais aqui.

Estou esperando uma assistente social que vai me levar para um abrigo em Ribeirão. O coração de Eduardo apertou. Sinto muito pela sua avó. Como é seu nome? Bruna, respondeu ela. Bruna Oliveira. Bruna! Repetiu Eduardo, sentindo o nome estranho e familiar ao mesmo tempo. Eu sou Eduardo. Eduardo Albuquerque. A menina assentiu sem demonstrar reconhecimento.

O nome que estampava manchetes de jornais de negócios e revistas de economia não significava nada para ela. Pai. Bianca apareceu na porta da lanchonete segurando um milkshake. Achei que tinha se perdido. A frase morreu em seus lábios. quando viu Bruna. Beatriz surgiu logo atrás e a mesma expressão de choque se estampou em seu rosto.

Durante alguns segundos, as três meninas se encararam em silêncio absoluto, como se observassem suas próprias reflexões em um espelho tridimensional. Pai. Beatriz finalmente quebrou o silêncio. Sua voz um sussurro confuso. Quem é ela? Eduardo não sabia responder. Havia algo profundamente errado acontecendo, algo que desafiava qualquer explicação racional.

“Esta é Bruna”, disse ele, sentindo-se tonto. “Bruna, estas são minhas filhas, Beatriz e Bianca.” “Vocês são gêmeas?”, perguntou Bruna, igualmente atordoada pela semelhança. “Somos, respondeu Bianca, aproximando-se lentamente. “Mas você parece nossa irmã também.” Bruna franziu o senho. Impossível. Eu não tenho irmãs. Minha mãe, ela engoliu em seco. Minha mãe foi embora quando eu era bebê.

Minha avó sempre cuidou de mim. Onde você mora, Bruna? Perguntou Eduardo, tentando manter a voz calma enquanto sua mente corria em círculos. Morava em Cravinhos com minha avó, dona Zulmira, mas ela, Bruna, parou, os olhos marejados. Ela partiu na semana passada. O pessoal do Conselho Tutelar disse que vão me levar para um abrigo porque não tenho mais ninguém.

Eduardo sentiu como se o chão estivesse se abrindo sob seus pés. Cravinhos ficava a menos de 30 km de Ribeirão Preto. Toda sua vida, uma menina idêntica às suas filhas, vivera praticamente ao lado, sem que ele soubesse. Sua mãe, qual era o nome dela? Eduardo perguntou temendo a resposta. Marina. Marina Oliveira, mas não lembro dela. Só tenho uma foto antiga. O nome não era familiar para Eduardo.

Não era Cláudia. Nada fazia sentido. Bruna. Eduardo tentou escolher as palavras cuidadosamente. Você sabe quem é seu pai? A menina balançou a cabeça negativamente. Vovó dizia que ele não sabia que eu existia. Ela sempre falava: “Ele te amaria se soubesse que você existe”. As palavras atingiram Eduardo como um soco.

Uma súbita revelação começou a se formar. Em sua mente, uma possibilidade tão absurda quanto aparentemente inegável diante da evidência viva à sua frente. “Quanto tempo falta para na assistente social chegar?”, perguntou Eduardo, tomando uma decisão instantânea. “Não sei, ela só disse que viria à tarde.

” Eduardo olhou para suas filhas, que permaneciam hipnotizadas pela presença de Bruna. Então, tirou o celular do bolso. “Vou fazer algumas ligações. Meninas, por que não levam Bruna para tomar um lanche enquanto eu resolvo isso?” As gêmeas sentiram, ainda atordoadas, e convidaram Bruna para acompanhá-las. A menina hesitou, olhando para sua mochila surrada.

“Pode levar seus pertences, fique tranquila”, assegurou Eduardo. Enquanto as três meninas se afastavam, Eduardo observou como se moviam de forma similar o mesmo balanço suave ao caminhar. Era como assistir a um estranho milagre ou talvez pensou com um aperto no peito, a correção de um terrível erro. Seu primeiro telefonema foi para Ricardo Fonseca, seu advogado e amigo de longa data. Ricardo, preciso de sua ajuda urgente.

Estou no posto Anhanguera e encontrei uma menina que é idêntica às minhas filhas. Exatamente idêntica. Acho que acho que ela pode ser minha filha também. Houve um longo silêncio do outro lado da linha. Eduardo, você está bem? Isso não faz sentido. Eu sei que não faz, mas ela existe e está aqui na minha frente.

Preciso que você entre em contato com o Conselho Tutelar de Cravinhos. A menina se chama Bruna Oliveira. Foi criada pela avó Zulmira, que acabou de falecer. Quero impedir que a levem para um abrigo. O que você está planejando, Eduardo? Vou levá-la para casa comigo temporariamente até descobrirmos o que está acontecendo. Mas preciso fazer isso legalmente. Isso é loucura. Você não pode simplesmente pegar uma criança.

Ricardo interrompeu Eduardo sua voz firme. Quando você vir, essa menina vai entender. Ela não é apenas parecida com Bia e Bianca. Ela é idêntica. Algo muito estranho. Aconteceu 12 anos atrás e preciso descobrir o quê. Enquanto falava, Eduardo observava as três meninas através da janela da lanchonete. Estavam sentadas à mesma mesa, Bruna no meio, todas tomando milkshakes.

Era uma imagem que parecia ao mesmo tempo impossível e perfeitamente natural, como se uma peça perdida do quebra-cabeça de sua vida tivesse finalmente sido encontrada. Duas horas e várias ligações depois, Eduardo conseguiu uma guarda provisória de Bruna. Graças à influência de Ricardo e a sensibilidade da assistente social, que ao chegar ao posto e testemunhar a incrível semelhança entre as meninas, concordou com a solução temporária. Na semana seguinte, uma audiência no juizado determinaria os próximos passos. O

caminho de volta para Ribeirão Preto foi silencioso. Pelo retrovisor, Eduardo observava as três meninas no banco traseiro, uma imagem que parecia saída de um sonho. Beatriz e Bianca, sempre tão diferentes em personalidade, apesar da aparência idêntica, agora pareciam igualmente desconcertadas.

Bruna, por sua vez, mantinha os olhos fixos na janela, observando a paisagem de canaviais que margeava a rodovia. Sua casa é muito grande?”, perguntou Bruna, finalmente quebrando o silêncio. “É bastante espaçosa”, respondeu Eduardo. “Fica numa área mais afastada da cidade, com muito verde ao redor. Como um sítio, mais como uma chácara”, explicou Bianca.

“Tem piscina, quadra de tênis e até um estábulo com cavalos”. Os olhos de Bruna se arregalaram. Cavalos de verdade? Três respondeu Beatriz. Ventania, tempestade e brisa. Você sabe montar? Bruna balançou a cabeça negativamente. Nunca vi um cavalo de perto? Podemos te ensinar? ofereceu Bianca com um sorriso hesitante. Eduardo sentia o coração apertado.

Enquanto suas filhas cresciam com todos os privilégios que o dinheiro podia comprar, esta menina, que ele começava a acreditar ser sua filha também, vivia uma realidade completamente diferente a apenas alguns quilômetros de distância. Ao chegarem à mansão dos Albuquerque, localizada em um condomínio exclusivo nos arredores de Ribeirão Preto, Bruna não conseguiu esconder o espanto.

A propriedade, com seus 5000 m² de área construída, jardins exuberantes e uma vista privilegiada para o vale, era um mundo à parte de tudo que ela conhecia. Dona Magda chamou Eduardo assim que entraram. Temos uma convidada especial. A governanta, que trabalhava para a família há mais de 20 anos, apareceu no Mnoise Busqu de entrada, secando as mãos em um avental.

Ao ver Bruna, sua expressão mudou de curiosidade para absoluta perplexidade. “Santo Deus!”, murmurou, fazendo o sinal da cruz. “Mas o que é isso, seu Eduardo?” Magda, “Esta é Bruna. Ela vai ficar conosco por um tempo. Pode preparar o quarto de hóspedes ao lado do quarto das meninas, por favor? A governanta continuava paralisada, olhando de uma menina para outra. “Maga, sim, sim, seu Eduardo.

Vou preparar tudo”, respondeu automaticamente, ainda em choque. “Menina, dirigiu-se a Bruna. Você gostaria de um lanche antes do jantar? Deve estar com fome depois da viagem. Não precisa se preocupar, senhora”, respondeu Bruna educadamente. “Magda, por favor, me chame de Magda como todo mundo”, sorriu a governanta, recuperando-se do choque inicial. “E aqui ninguém passa fome.

Vou preparar um café reforçado para todos vocês enquanto ajeito o seu quarto.” Enquanto Magda se retirava, murmurando palavras incompreensíveis para si mesma, Eduardo se voltou para as filhas. Meninas, por que não mostram a casa para Bruna? Vou estar no escritório fazendo algumas ligações importantes. Assim que as meninas subiram para o andar superior, Eduardo trancou-se no escritório e pegou o telefone.

Sua primeira ligação foi para Dr. Paulo Mendes, o obstetra que havia realizado o parto de Cláudia. Eduardo, que surpresa. Como estão as meninas? Paulo, preciso que você me diga a verdade sobre o parto da Cláudia, disse Eduardo sem rodeios. Houve uma terceira criança. O silêncio do outro lado da linha foi revelador.

Do que você está falando, Eduardo? A voz do médico suava defensiva. Encontrei uma menina hoje, Paulo. Ela é idêntica às minhas filhas. Não estou falando de semelhança, estou falando de identidade completa, como se fossem trigêmeas, outro longo silêncio. Isso é impossível, respondeu finalmente o médico. Você estava lá, Eduardo. Viu o parto? Foram duas meninas.

Eduardo fechou os olhos tentando recordar aquela noite caótica de 12 anos atrás. O parto havia sido prematuro, de emergência. Cláudia teve complicações graves, foi sedada. Ele lembrava de ter visto dois bebês sendo levados às pressas para incubadoras, enquanto os médicos lutavam para estabilizar sua esposa. Quero ver todos os registros do parto, Paulo. Todos eles.

E quero que você venha até minha casa ainda hoje, Eduardo. Isso é irregular. Os prontuários são confidenciais e ficam no hospital. Além disso, já se passaram 12 anos. Esses registros provavelmente foram arquivados. Ou Paulo interrompeu Eduardo, sua voz agora carregada de uma autoridade fria.

Você vai encontrar esses registros e vai trazê-los até minha casa hoje ou amanhã o Conselho de Ética do Hospital receberá uma denúncia formal. Tenho influência suficiente para garantir que sua carreira esteja acabada antes do final da semana. Você está me ameaçando? Estou te dando uma chance de explicar o inexplicável. Estarei esperando. Eduardo desligou e imediatamente fez.

Outra ligação, desta vez para um laboratório de análises genéticas. Preciso de um teste de DNA urgente para ontem. Após acertar os detalhes, Eduardo abriu o notebook e começou a pesquisar o nome Marina Oliveira. Nada significativo apareceu, apenas perfis genéricos em redes sociais, nenhum que pudesse estar relacionado a Bruna ou a Cravinhos.

Sua concentração foi interrompida por uma batida suave na porta. “Entre”, disse fechando o notebook. Bruna apareceu na porta do escritório sozinha. Com licença, senor Eduardo. Beatriz e Bianca estão tomando banho para o jantar e eu queria mostrar uma coisa para o senhor, se não for incomodar. Claro, Bruna. E por favor, pode me chamar só de Eduardo.

A menina entrou timidamente e se aproximou da mesa. De um bolso interno da mochila retirou uma fotografia antiga e desgastada, protegida por um plástico transparente. “Esta é a única foto que tenho da minha mãe”, disse ela, estendendo a imagem para Eduardo. Com as mãos ligeiramente trêmulas, Eduardo pegou a fotografia.

Mostrava uma jovem bonita, de cabelos castanhos longos e olhos claros, segurando um bebê recém-nascido nos braços. A foto tinha sido tirada em um hospital a julgar pelas cortinas e mobiliário ao fundo. O rosto da mulher não era o de Cláudia. Não havia dúvidas quanto a isso, mas havia algo vagamente familiar naquela imagem, algo que Eduardo não conseguia precisar.

“Ela muito bonita”, comentou devolvendo a foto para Bruna. “Você se parece com ela?” Vovó dizia que sim, nos olhos principalmente. “E sua avó nunca falou nada sobre seu pai?” Bruna hesitou mordendo o lábio inferior, um gesto que Eduardo já havia observado em Beatriz inúmeras vezes. Ela só dizia que ele não sabia que eu existia, mas que era um homem bom.

Às vezes, quando eu perguntava mais, ela ficava triste e mudava de assunto. Nos últimos tempos, antes de antes de partir, ela tentou me contar mais coisas, mas já estava muito fraca. Eduardo sentiu um nó na garganta. O que ela tentou te contar? algo sobre um acordo sobre dinheiro que nunca chegou. Ela falava que tinha sido enganada, que alguém tinha prometido cuidar de nós e nunca cumpriu.

Mas ela sempre dizia que foi melhor assim, que pelo menos tínhamos uma a outra. Um alarme suou na mente de Eduardo. Dinheiro prometido e nunca entregue, um acordo quebrado. Sua mente começou a formular hipóteses cada vez mais sombrias. Bruna, você confia em mim? A menina o estudou com seus olhos perspicazes, tão idênticos aos de suas filhas.

“Ainda não sei”, respondeu com honestidade. “Mas a senhora, que cuidava da gente no Conselho Tutelar, disse que você é um homem respeitado e que vai cuidar bem de mim até resolverem o que vai acontecer comigo.” “Eu prometo que vou cuidar de você”, disse Eduardo, sentindo o peso daquela promessa. “Em prometo descobrir a verdade sobre tudo isso. A campainha tocou interrompendo a conversa. “Deve ser o Dr.

Paulo”, murmurou Eduardo mais para si mesmo. “Bruna pode chamar Magda para atender a porta? Diga a ela para levar o visitante para a sala de estar e me avisar”. Enquanto Bruna saía do escritório, Eduardo abriu uma gaveta e retirou um pequeno dispositivo, um gravador digital que usava ocasionalmente em reuniões importantes.

Colocou-o no bolso e respirou fundo, preparando-se para o confronto que poderia finalmente revelar a verdade que alguém tentara enterrar 12 anos atrás. No caminho para a sala de estar, passou pelo corredor decorado com fotos de família. Uma delas, em particular, sempre chamava sua atenção. Cláudia grávida, radiante em um vestido azul turquesa, as mãos delicadamente pousadas sobre a barriga proeminente de 8 meses.

Ao lado dela, sorrindo orgulhoso, estava Gustavo, seu primo e então diretor financeiro da usina Albuquerque. O mesmo Gustavo que assumiu a administração do Hospital da Família após a fatalidade de Cláudia, o mesmo que havia se tornado seu braço direito nos negócios e a única pessoa além dele, com acesso irrestrito às contas da família durante aquele período turbulento.

“Será possível?”, murmurou Eduardo, um calafrio percorrendo sua espinha enquanto uma suspeita terrível começava a tomar forma. Dr. Paulo Mendes parecia ter envelhecido 10 anos desde a última vez que Eduardo ouvira sentado na poltrona da sala de estar, o obstetra de renome que havia trazido Beatriz e Bianca ao mundo agora transpirava nervosismo, os dedos tamborilando incessantemente sobre a pasta que carregava.

Eduardo, antes de mais nada, quero que entenda que sempre agi pensando no melhor para você e para as meninas. O melhor seria me dizer a verdade”, respondeu Eduardo friamente, ativando discretamente o gravador no bolso. “Houve uma terceira criança no parto da Cláudia?” Paulo desviou o olhar, fixando-o em um ponto qualquer do tapete persa.

“O parto foi complicado, você se lembra? Cláudia teve uma hemorragia grave. Precisamos fazer uma cesariana de emergência. Isso eu sei. O que não sei é porque uma menina idêntica às minhas filhas cresceu a 30 km daqui sem que eu soubesse de sua existência. O médico suspirou profundamente. Sim, Eduardo, eram três bebês, não dois.

A confirmação, mesmo já esperada, atingiu Eduardo como um golpe físico. Sentiu o ar escapar de seus pulmões enquanto a raiva borbulhava em seu peito. Como isso foi possível? Como permitiram que levassem minha filha? Como você permitiu isso? Não foi uma decisão minha, defendeu-se Paulo, erguendo as mãos em um gesto de rendição.

Quando os bebês nasceram, você estava na sala, viu as duas primeiras crianças. A terceira veio alguns minutos depois, quando você já havia saído para acompanhar as outras até a UTI neonatal. E depois, depois Paulo hesitou. Gustavo apareceu, disse que tinha uma solução para um problema que você nem precisaria saber que existia. Que problema? A voz de Eduardo era gelada. Financeiro, respondeu o médico, encarando-o finalmente.

Gustavo explicou que o nascimento de uma terceira criança comprometeria o fundo fiduciário estabelecido pelo seu pai. Aparentemente, o velho Albuquerque havia estipulado que a herança seria dividida igualmente entre todos os netos, mas com uma cláusula específica para garantir uma quantia mínima para cada um. Com três em vez de dois, o valor cairia abaixo desse mínimo.

Eduardo sentiu a boca seca. Seu pai Teodoro Albuquerque sempre foram homem de visão, mas também de regras rígidas. O fundo que criara para os netos era substancial. mas vinha com condições. Jamais imaginaria, porém, que essas condições serviriam de pretexto para um crime tão ediondo.

E você acreditou nisso? Acreditou que eu preferiria dinheiro a uma filha? O médico baixou os olhos novamente. Gustavo foi convincente. Disse que você já estava devastado com o estado de Cláudia, que não suportaria mais essa pressão, que a menina seria entregue a uma boa família. com uma generosa compensação financeira que seria melhor para todos. Melhor para todos.

Eduardo elevou a voz incapaz de conter a indignação. Melhor para ele. Você quer dizer quanto ele desviou o Paulo? Quanto do dinheiro destinado à minha filha foi parar no bolso do Gustavo? Não sei de valores, respondeu Paulo rapidamente. Meu envolvimento foi apenas permitir que acontecesse. Assinei a certidão de nascimento das gêmeas e olhei para o outro lado quando a terceira criança foi levada.

Por quem? Por uma enfermeira chamada Solange. Ela não trabalha mais no hospital, mudou-se para o Nordeste alguns anos atrás. Eduardo levantou-se abruptamente e caminhou até a janela, tentando processar a magnitude da traição. E a mãe? A tal Marina Oliveira? Paulo franziu o senho. Não conheço nenhuma Marina Oliveira.

A mulher que aparece na foto com minha filha, a suposta mãe de Bruna. Eduardo não havia nenhuma outra mulher. A mãe das três meninas era Cláudia. Apenas Cláudia. Um silêncio pesado caiu sobre a sala. enquanto Eduardo tentava encaixar as peças do quebra-cabeça. Então, quem é a mulher da foto? E por que Bruna acredita que essa mulher era sua mãe? Provavelmente parte da farça montada por Gustavo, sugeriu Paulo.

Ele deve ter criado uma história falsa para quem quer que tenha ficado com a criança. Eduardo balançou a cabeça incrédulo. A menina foi criada pela avó, uma senhora chamada Zulmira Oliveira, que faleceu recentemente. De acordo com Bruna, a mãe Marina faleceu quando ela era muito pequena.

Eduardo, eu juro que não sei nada sobre isso. Meu envolvimento terminou quando a criança deixou o hospital. Seu envolvimento em um crime, você quer dizer, corrigiu Eduardo, voltando a encará-lo. Porque é isso que aconteceu aqui? Um crime. Paulo empalideceu. Por favor, Eduardo, você precisa entender.

Gustavo disse que tinha sua autorização, que você havia concordado em segredo. Disse que era um assunto delicado de família e que precisávamos de descrição absoluta. E você acreditou, sem me consultar diretamente, ele tinha procurações suas, documentos assinados. Na época você mal conseguia funcionar, Eduardo.

Cláudia estava entre a vida e a convalescência, as gêmeas na UTI. Gustavo assumiu tudo, todas as decisões. Eduardo respirou fundo, tentando controlar a fúria que ameaçava consumi-lo. Quero os documentos, Paulo. Todos eles, os originais. Não tenho os originais, apenas cópias de alguns registros”, respondeu o médico, abrindo a pasta que trouxera.

E tive que acessá-los discretamente. “Se Gustavo descobrir que estive aqui, ele vai descobrir”, garantiu Eduardo, pegando os documentos. Mas não por você. Entre os papéis havia uma cópia da ficha de parto com anotações manuscritas, indicando o nascimento de três bebês do sexo feminino, todas saudáveis, apesar da prematuridade.

Havia também uma certidão de nascimento, preenchida à mão, porém não oficializada, com o nome Criança Três Albuquerque, no campo destinado ao nome do bebê. Isso. É tudo? É tudo que consegui encontrar”, confirmou Paulo. A maioria dos registros físicos daquela época já foram digitalizados ou arquivados em outro local. E alguns, bem, alguns podem ter desaparecido. “Conveniente”, comentou Eduardo sarcasticamente.

Uma batida suave na porta interrompeu a conversa. Era Magda anunciando que o jantar estava servido. “Paulo, você vai jantar conosco?”, disse Eduardo em um tom que não admitia a recusa. E depois vai conhecer Bruna. Durante o jantar, a atenção era palpável. Beatriz e Bianca, normalmente tagarelas, estavam silenciosas, observando Bruna com uma mistura de curiosidade e cautela.

A própria Bruna comia lentamente, claramente desconfortável, com os talheres de prata e a louça fina. “Dr. Paulo me ajudou a nascer?”, perguntou Bianca de repente, quebrando o silêncio. Paulo engasgou-se com o vinho. “Sim”, respondeu Eduardo, observando atentamente a reação do médico. “Dr. Paulo foi quem trouxe você e sua irmã ao mundo.

” “E a Bruna também”, insistiu Bianca com a inocência perspicaz típica das crianças. Antes que Paulo pudesse responder, o telefone de Eduardo tocou. Era o laboratório, confirmando que um técnico viria na manhã seguinte para coletar as amostras para o teste de DNA. “Meninas”, disse Eduardo após desligar. “Amanhã vamos fazer um exame especial. É bem simples.

Apenas um cotonete na bochecha de cada uma de vocês.” “Para quê?”, perguntou Beatriz, sempre a mais desconfiada. “Para descobrirmos se Bruna é realmente sua irmã”. Paulo empalideceu ainda mais. Se é que isso era possível. Você realmente acha necessário, Eduardo? A semelhança já não é prova suficiente. Quero evidências científicas, Paulo.

Evidências que ninguém poderá contestar. Após o jantar, enquanto as meninas se recolhiam, para assistir a um filme no quarto de Beatriz, Eduardo conduziu Paulo até a porta. “O que você pretende fazer, Eduardo?”, perguntou o médico visivelmente nervoso. Justiça respondeu simplesmente, e espero pelo seu bem que você esteja disposto a testemunhar sobre tudo o que me contou hoje quando chegar a hora. Isso arruinaria minha carreira.

E o que você acha que aconteceu com a vida da minha filha, Paulo? 12 anos longe da família, crescendo sem os mesmos privilégios que as irmãs, acreditando em mentiras sobre suas origens. Você participou disso, agora vai ajudar a consertar. Após a saída do médico, Eduardo voltou ao escritório e reproduziu a gravação, certificando-se que cada palavra estava nítida e compreensível.

Em seguida, fez uma cópia digital e a enviou para um servidor seguro, garantindo que a evidência estaria protegida. O som de risos chamou sua atenção. Seguindo o ruído, Eduardo parou na porta entreaberta do quarto de Beatriz, onde as três meninas assistiam a uma comédia na televisão. Bruna estava no meio com Beatriz e Bianca de cada lado, as três compartilhando uma grande tigela de pipoca.

Apesar das circunstâncias extraordinárias, pareciam confortáveis juntas, como se sempre tivessem sido um trio, não um par. Naquele momento, Eduardo tomou uma decisão. Não importava o que custasse, não importava quem tivesse que enfrentar. Ele faria justiça, recuperaria os anos perdidos com sua filha e garantiria que os responsáveis por separá-los pagassem por suas ações.

Ao se afastar silenciosamente para não interromper o momento de leveza das meninas, Eduardo não percebeu Magda, observando-o, do final do corredor, uma expressão enigmática em seu rosto enrugado. “Senhor Eduardo”, chamou ela em voz baixa. “Posso falar com o senhor um minuto?” Eduardo assentiu, seguindo a governanta até a cozinha, agora vazia e impecavelmente limpa após o jantar. O que foi, Magda? A mulher hesitou, torcendo nervosamente o pano de prato entre os dedos nodosos.

Eu sempre desconfiei, sabia? Desde o início, três berços foram montados no quarto das meninas antes do nascimento. Três de tudo, três móbiles, três ursinhos, três mantas. Depois, de repente, eram só dois e ninguém falava no assunto. Eduardo sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Por que nunca me disse nada? O senhor estava destroçado com a situação da dona Cláudia e seu primo Gustavo disse a todos nós que era para nunca tocarmos no assunto, que um dos bebês não tinha resistido, mas que não devíamos falar sobre isso para não aumentar sua dor. “Meu Deus!”,

murmurou Eduardo, apoiando-se na bancada da cozinha. Quando vi a menina hoje, continuou Magda, soube na hora. É como se o tempo tivesse voltado. Ela é a cara das nossas meninas quando chegaram do hospital. Eduardo assentiu, sentindo uma gratidão imensa pela lealdade da governanta.

Magda, vou precisar de sua ajuda nos próximos dias. As coisas podem ficar complicadas. Conte comigo para o que precisar, seu Eduardo. Já ajudei a criar duas gerações dessa família. Será uma honra ajudar a reunir o que nunca deveria ter sido separado. Os resultados do teste de DNA chegaram em tempo recorde, graças à influência de Eduardo e a uma generosa compensação financeira pela urgência.

O envelope lacrado repousava sobre sua mesa, contendo a confirmação científica do que seus olhos já haviam lhe dito. Bruna, Beatriz e Bianca não eram apenas irmãs, eram trigêmeas idênticas, compartilhando 100% do material genético. “Eu sabia”, murmurou Eduardo, passando os dedos sobre o papel timbrado do laboratório.

A raiva que sentia deu lugar momentaneamente a uma alegria profunda. tinha três filhas, não duas, uma família maior do que imaginara. O som de risadas infantis invadiu o escritório através da janela aberta. No jardim, Beatriz e Bianca ensinavam Bruna a montar em Brisa, a égua mais dócil do estábulo. A cena era surreal. Três meninas absolutamente idênticas, vestidas com roupas diferentes, apenas para que pudessem ser distinguidas.

Bruna usava um conjunto emprestado de Bianca. ligeiramente grande para seu corpo mais esguo, resultado de que é uma infância com menos privilégios. Uma semana havia-se passado desde o encontro no posto de gasolina e a integração de Bruna à família acontecia de forma surpreendentemente natural. As gêmeas, agora trigêmeas, haviam desenvolvido uma conexão instantânea, como se o DNA compartilhado criasse uma ponte sobre os anos de separação.

Bruna, inicialmente reservada, agora sorria com mais frequência, embora ainda demonstrasse um olhar cauteloso, característico de quem aprendeu cedo demais a desconfiar da própria sorte. A audiência no juizado havia sido adiada por mais uma semana, dando a Eduardo tempo para reunir evidências e preparar sua estratégia legal.

Ricardo Fonseca, seu advogado, trabalhava incansavelmente para garantir a guarda definitiva de Bruna, enquanto, paralelamente, investigava o papel de Gustavo em toda a trama. O telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Eduardo, é o Ricardo. Temos novidades e não são boas. O que descobriu? Estive vasculhando os registros financeiros da época do nascimento das meninas.

Havia um fundo fiduciário separado, criado especificamente para a terceira herdeira Albuquerque. Mas o dinheiro foi transferido para uma conta nas ilhas CAN dois meses após o nascimento das crianças. Gustavo! concluiu Eduardo cerrando o punho. Provavelmente a assinatura digital nos documentos de transferência é sua, mas sabemos que ele tinha suas procurações naquela época.

E quanto à avó de Bruna, a tal Zoumira Oliveira, aí é que a história fica ainda mais sombria respondeu Ricardo. Zulmira Oliveira era a enfermeira chefe da maternidade do hospital até 2013, quando se aposentou. Antes disso, trabalhou por mais de 30 anos no hospital Albuquerque. Eduardo sentiu um calafrio. Ela trabalhava para minha família? Tecnicamente sim. Já mais.

Encontrei registros de pequenos depósitos mensais em uma conta no nome dela, vindos de uma empresa de fachada que consegui vincular a Gustavo. Os pagamentos começaram no mês do nascimento das trêmias e continuaram até três meses atrás, quando ela faleceu, completou Eduardo conectando os pontos. Gustavo estava pagando para manter Bruna longe de mim.

Parece que sim, mas os valores eram baixos, Eduardo, muito abaixo do que seria justo para o cuidado de uma criança. A maior parte do dinheiro destinado à Bruna foi desviada. Eduardo respirou fundo, tentando controlar a fúria que ameaçava consumi-lo. Ricardo quer que peça um mandado judicial para acessar todos os registros bancários de Gustavo dos últimos 12 anos.

E também quero uma investigação completa sobre as circunstâncias do falecimento de Zulmira Oliveira. Já estamos trabalhando nisso, mas tenho que avisar, Eduardo. Gustavo é poderoso, tem conexões. Se ele perceber que estamos investigando-o, pode tentar se defender ou atacar. Que venha”, respondeu Eduardo determinado. “Dessa vez estou preparado.

” Após desligar, Eduardo foi até o jardim se juntar às filhas. Observou com orgulho como Bruna, apesar do medo inicial, agora conduzia brisa em um trote suave pelo cercado, orientada pacientemente por Beatriz. “Pai!”, exclamou Bianca ao vê-lo. “A Bruna é um talento natural. Olha só como ela já consegue trotar. Estou vendo. Sorriu Eduardo. Vocês são ótimas professoras.

Na verdade é a Bia quem sabe explicar direito, admitiu Bianca. Eu só fico gritando segura firme e não cai. Todos riram, inclusive Bruna, que trazia no rosto uma expressão de genuína felicidade. Meninas, que tal irmos todos jantar fora hoje? Para comemorar. Comemorar o que, pai?, perguntou Beatriz, sempre atenta. Eduardo sorriu, mostrando o envelope que trazia na mão.

A confirmação oficial de que vocês três são irmãs trigémeas idênticas. Beatriz e Bianca comemoraram com gritos entusiasmados. Bruna, por sua vez, parecia confusa. Mas como isso é possível? Minha mãe era Marina Oliveira, não Cláudia Albuquerque. Eduardo suspirou. Era hora de começar a contar a verdade, ou pelo menos a parte dela que já conhecia.

Bruna, há muitas coisas que precisamos conversar, coisas difíceis sobre como você foi separada de nós. Podemos fazer isso hoje à noite depois do jantar? A menina a sentiu séria. A vovó sempre dizia que a verdade dói, mas a mentira mata. Sua avó era uma mulher sábia”, comentou Eduardo, sentindo uma pontada de tristeza ao pensar em Zulmira, uma mulher que conheceu sua filha muito melhor do que ele próprio.

O restaurante escolhido para o jantar foi o Família Mancini, um estabelecimento tradicional italiano no centro de Ribeirão Preto. Eduardo reservou uma sala privativa, antecipando o burburinho que três meninas idênticas causariam. O que ele não antecipou, porém, foi encontrar Gustavo no saguão principal do restaurante, jantando com um grupo de empresários. O primo, dois anos mais novo que Eduardo, mantinha a aparência impecável de sempre.

Terno sob medida, cabelo meticulosamente penteado, sorriso calculado. Ao ver Eduardo e as três meninas, o sorriso congelou em seu rosto. Eduardo, que surpresa agradável, disse ele, levantando-se e se aproximando. Seus olhos, no entanto, estavam fixos em Bruna, uma mistura de choque e cálculo passando rapidamente por eles. “Gustavo”, respondeu Eduardo friamente.

Não sabia que você frequentava o Mancini. Reunião de última hora com investidores”, explicou Gustavo, sem tirar os olhos de Bruna. “E vejo que você trouxe as meninas.” “Sim, minhas três filhas, enfatizou Eduardo, Beatriz, Bianca e Bruna. Um silêncio tenso se estabeleceu entre os dois homens. As meninas, percebendo a atmosfera hostil permaneceram incomumente quietas.

” Interessante”, comentou finalmente Gustavo, recuperando a compostura. Não sabia que você havia adotado uma criança. Não adotei corrigiu Eduardo, encarando o primo diretamente. Apenas recuperei o que é meu por direito. Os olhos de Gustavo se estreitaram quase imperceptivelmente. Sempre tão dramático, primo.

Devemos marcar um almoço qualquer dia desses para você me contar mais sobre essa novidade. Pode apostar que conversaremos em breve, garantiu Eduardo. Muito em breve. O Ma apareceu nesse momento, conduzindo Eduardo e as meninas à sala privativa. Ao se afastarem, Eduardo podia sentir o olhar de Gustavo queimando em suas costas, o olhar de um homem calculando seu próximo movimento.

Durante o jantar, Eduardo tentou manter a atmosfera leve, permitindo que as meninas desfrutassem da noite especial, mas sua mente trabalhava intensamente, antecipando as implicações do encontro com Gustavo. O primo agora sabia sobre Bruna, o que significava que o jogo havia mudado. De volta à mansão, após as meninas se recolherem, Eduardo recebeu outra ligação de Ricardo. “Tive acesso aos prontuários médicos de Zulmira Oliveira”, informou o advogado.

Sem preâmbulos. Eduardo, ela não faleceu de causas naturais, como foi registrado. O laudo indica uma reação anafilática severa a uma medicação que ela tomava há anos. É. Extremamente suspeito que alguém desenvolva uma alergia fatal a um remédio que usava regularmente.

Você está sugerindo que foi premeditado? Estou dizendo que precisamos de uma investigação mais aprofundada. E há mais. Dois dias antes de sua partida, Zumira consultou um advogado em Cravinhos. Consegui falar com ele e, aparentemente ela queria preparar um depoimento oficial sobre um grave erro que precisava corrigir. Eduardo sentiu o sangue gelar. Ela ia contar a verdade sobre Bruna. Parece que sim.

E alguém pode ter descoberto e a impedido. A ideia de que Gustavo pudesse ter ido tão longe para manter seu segredo enviou uma onda de pânico através de Eduardo. Se o primo era capaz disso, do que mais seria capaz agora que Bruna estava sob os cuidados de Eduardo? Ricardo, quero segurança reforçada na propriedade a partir de amanhã e vou levar as meninas para a fazenda no fim de semana.

Avise apenas o essencial da equipe. Acha mesmo que Gustavo tentaria algo contra vocês? Não sei do que ele é capaz, admitiu Eduardo. Mas não vou arriscar a segurança das minhas filhas. Após desligar, Eduardo caminhou até o quarto de Bruna. A porta estava entreaberta e ele podia ver a menina sentada na cama, foliando um álbum de fotos que Beatriz havia emprestado. “Posso entrar?”, perguntou suavemente.

Bruna assentiu fechando o álbum. “São fotos bonitas”, comentou ela. “Vocês parecem felizes.” Eduardo sentou-se na beira da cama. Éramos a nossa maneira, mas sempre faltava algo, mesmo que eu não soubesse o quê. Eu, completou Bruna com uma sabedoria além de seus anos. “Sim, você?” Eduardo hesitou, então continuou.

Bruna, o que eu vou te contar agora é difícil e talvez você precise de tempo para processar tudo, mas prometo que é a verdade, pelo menos a verdade que descobri até agora. Durante a próxima hora, Eduardo explicou gentilmente a Bruna o que havia descoberto. Que ela era filha de Cláudia, não de Marina Oliveira, que havia sido separada das irmãs ao nascer devido a um esquema fraudulento, que a avó que a criara provavelmente sabia a verdade, mas foi paga para manter o segredo.

Bruna ouviu tudo em silêncio, lágrimas silenciosas escorrendo ocasionalmente por seu rosto. Quando Eduardo terminou, ela permaneceu quieta por vários minutos. “A vovó sabia?”, perguntou finalmente, sua voz quase um sussurro. “Ela sabia que eu tinha uma família de verdade e nunca me contou?” Eduardo escolheu as palavras com cuidado.

Acredito que ela fez o que pensou ser melhor para protegê-la, Bruna. Talvez ela tenha sido ameaçada ou talvez tenha acreditado que seria mais seguro para você ficar longe daqui. O importante é que ela te amou e cuidou de você o melhor que pôde. Mas a foto da minha mãe, quem é aquela mulher com o bebê? Ainda não sei, admitiu Eduardo, mas vamos descobrir, prometo.

Quando Eduardo finalmente deixou o quarto de Bruna, a menina havia caído em um sono inquieto. Ele se sentia emocionalmente exausto, mas sabia que a batalha estava apenas começando. Gustavo não desistiria facilmente, especialmente agora que tanto dinheiro e sua própria liberdade estavam em jogo.

A notícia se espalhou como fogo em palha seca pelos círculos empresariais e sociais de Ribeirão Preto. Eduardo Albuquerque, o poderoso herdeiro do Império Sucro alcoleiro, havia encontrado uma terceira filha, completando o trio de trigêmeas idênticas que ninguém sabia existir. Os burburinhos nos cafés, clubes e salões de beleza da Alta Sociedade Ribeirão Pretana não falavam de outra coisa.

Dizem que ele a encontrou pedindo esmolas na rodoviária. Ouvi que a menina foi roubada do bersário por uma enfermeira obsessiva. Comentam que é tudo uma farça para conseguir mais dinheiro do fundo familiar. As especulações cresciam e se distorciam, alimentadas pelo silêncio oficial da família Albuquerque.

Eduardo havia optado por não fazer declarações públicas até que a situação legal de Bruna estivesse completamente resolvida. No entanto, os repórteres de tabloides já farejavam a história e não demorou para que fotógrafos começassem a rondar os portões da mansão, esperando flagrar as trigémeas juntas.

Em seu escritório na sede da Usina Albuquerque, Eduardo analisava relatórios financeiros quando sua secretária anunciou a chegada de Gustavo. “Mande-o entrar”, disse Eduardo, guardando discretamente os documentos sensíveis em uma gaveta. Gustavo entrou com a confiança habitual, mas Eduardo percebeu as sutis mudanças em sua aparência. Olheiras discretas, um vinco de preocupação entre as sobrancelhas, o nó da gravata ligeiramente frouxo, todos sinais de que seu primo não estava dormindo bem. Eduardo, precisamos conversar sobre essa situação.

Que nousitada, começou Gustavo, sentando-se sem esperar convite. Que situação exatamente? Eduardo manteve o tom neutro, observando cada reação do primo. Essa história da menina, obviamente. Bruna, não é? Você está criando um escândalo desnecessário. Os investidores estão preocupados. As ações da empresa oscilaram negativamente ontem.

Interessante como você está mais preocupado com as ações do que com o fato de eu ter descoberto que uma das minhas filhas foi roubada de mim ao nascer”, observou Eduardo, mantendo o olhar fixo no primo. Gustavo ajustou a postura desconfortável. Não foi bem assim, Eduardo. Você está dramatizando uma situação complexa. Complexa? Eduardo Ru sem humor. Por favor, Gustavo, me explique o que há de complexo em fraudar documentos médicos, registrar falsamente o falecimento de um recém-nascido e desviar fundos destinados a uma criança. O rosto de Gustavo empalideceu ligeiramente, mas

ele manteve a compostura. Não sei do que você está falando. Vim aqui como seu primo e sócio, preocupado com os impactos dessa história na empresa. Não, você veio aqui para avaliar quanto eu sei e calcular suas próximas ações. Corrigiu Eduardo levantando-se. Deixe-me poupar seu tempo. Sei tudo, Gustavo. Sobre o desvio do fundo fiduciário para as ilhas CAN.

Sobre os pagamentos mensais Oliveira. Sobre a adulteração dos documentos do hospital. E estou a um passo de descobrir o que aconteceu com a senhora Oliveira. Algo sombrio passou pelos olhos de Gustavo, tão rápido que seria imperceptível para alguém menos atento. “Cuidado, Eduardo”, disse ele com uma calma estudada.

“Ausações graves como essas, sem provas podem ser consideradas difamação. E difamação é crime. Tenho todas as provas necessárias. blefou Eduardo, abrindo uma pasta sobre a mesa. Inclusive o depoimento gravado do Dr. Paulo Mendes. Menção ao médico provocou uma reação visível em Gustavo, um tique nervoso no canto do olho esquerdo.

“Paulo sempre teve problemas com bebida”, comentou Gustavo, tentando parecer despreocupado. Ninguém levaria a sério o testemunho de um alcólatra. E os documentos bancários e os registros médicos originais que foram perdidos, mas que, curiosamente apareceram nos arquivos pessoais do diretor administrativo do hospital.

Você na época? Gustavo ajustou a gravata visivelmente desconfortável. Eduardo, você está obsecado. Essa garota apareceu do nada, parecida com suas filhas, e você criou toda essa teoria conspiratória sem base na realidade. Teste de TNA, Gustavo. 100% de compatibilidade genética. Elas são trigémeas idênticas. Um silêncio pesado caiu sobre o escritório.

Através da janela, o sol da tarde iluminava os vastos canaviais que se estendiam até o horizonte. o legado dos Albuquerque, construído por gerações e que agora estava no centro de uma disputa que ia muito além de dinheiro. “O que você quer?”, perguntou finalmente Gustavo, abandonando a fachada de inocência.

“Justiça”, respondeu Eduardo simplesmente, “vou apresentar todas as evidências às autoridades e deixar que a lei decida seu destino. Você destruiria a própria família? Arrastaria o nome Buquerque pela lama? Pense no escândalo, no impacto nos negócios, nas suas próprias filhas. Não, Gustavo, você fez isso quando decidiu separar minhas filhas por ganância.

Gustavo levantou-se abruptamente, ajustando o palitó com um movimento brusco. Você vai se arrepender, Eduardo. Há muito mais em jogo do que você imagina. É uma ameaça, um conselho de primo respondeu Gustavo, dirigindo-se à porta. família é tudo o que temos no final. Após a saída de Gustavo, Eduardo pegou o telefone e ligou para Ricardo. Ele esteve aqui, informou ao advogado, e está desesperado.

Isso o torna ainda mais perigoso, alertou Ricardo. Descobrimos mais coisas, Eduardo. A tal Marina Oliveira da foto realmente existiu. Era enfermeira no hospital, amiga próxima de Zulmira. faleceu em um acidente de carro quando Bruna tinha cerca de do anos. Acidente? A desconfiança era evidente na voz de Eduardo. Estamos investigando, mas há mais.

Gustavo esteve no hospital no dia que Zumira teve a reação alérgica. Assinou o livro de visitantes. Eduardo sentiu um calafrio. Ele não vai parar, Ricardo. Precisamos acelerar o processo legal. Estamos trabalhando nisso. A audiência para a guarda definitiva de Bruna foi antecipada para quinta-feira. Mas Eduardo, seja cauteloso. Gustavo ainda tem muitos aliados.

Ao desligar, Eduardo contemplou a foto na parede de seu escritório. Ele mais jovem ao lado do pai de Gustavo. Os três sorridentes diante da usina recém-modernizada. Era difícil conciliar aquela imagem com o homem calculista e sem escrúpulos que Gustavo se revelara. Na mansão Albuquerque, a vida começava a encontrar um novo ritmo.

Bruna, inicialmente tímida e reservada, agora se integrava gradualmente à rotina familiar. Magda a havia levado para comprar roupas e material escolar, preparando-a para iniciar os estudos no mesmo colégio particular que Beatriz e Bianca frequentavam. As três meninas estavam na sala de estudos, onde Beatriz ajudava Bruna com matemática.

Quando o interfone tocou, era Celso, o chefe da segurança, anunciando a chegada de visitantes inesperados. Senr. Eduardo, tem uma viatura da polícia e uma equipe do Conselho Tutelar aqui fora. Dizem que precisam falar com o senhor sobre a menor Bruna Oliveira. Eduardo sentiu o estômago afundar.

Deixe-os entrar, Celso e peça a Magda para levar as meninas para o andar de cima. No R de entrada, Eduardo recebeu uma delegada da Polícia Civil, uma conselheira tutelar e um homem de terno que se apresentou como assessor jurídico da Secretaria Municipal de Assistência Social. “Senr Albuquerque”, começou a delegada.

Recebemos uma denúncia grave de que o senhor estaria mantendo sob sua guarda uma menor sem os devidos procedimentos legais. A denúncia alega ainda possível falsificação de documentos para comprovar parentesco. “Quem fez essa denúncia?”, perguntou Eduardo, mantendo a calma. Não podemos revelar, mas veio de uma fonte confiável, com documentos que levantam dúvidas sobre a legalidade da situação, respondeu o assessor jurídico.

Viemos verificar o bem-estar da menor e a documentação que o senhor possui. Tenho guarda provisória concedida pelo juiz da vara da infância”, informou Eduardo, dirigindo-se à sua pasta para buscar os documentos e resultados de exames de DNA comprovando que Bruna é minha filha biológica, trigêm idêntica de Beatriz e Bianca.

A conselheira tutelar examinou os documentos com atenção. Estes parecem estar em ordem, mas a denúncia menciona especificamente que os testes de DNA teriam sido fraudados. fraude. Isso é absurdo. Os testes foram realizados pelo laboratório mais respeitado do país. Compreendo sua indignação, senor Albuquerque, disse a delegada. Mas precisamos seguir o protocolo.

Gostaríamos de conversar com a menor, verificar suas condições e coletar novas amostras para um teste independente. Eduardo sentiu a raiva crescer, mas sabia que precisava cooperar, certamente, mas exijo estar presente durante a conversa com minha filha e quero que meu advogado acompanhe todo o processo de coleta de amostras.

Enquanto a delegada falava ao rádio solicitando a presença de um perito para a coleta das amostras, Eduardo enviou uma mensagem urgente para Ricardo. Era evidente que Gustavo havia partido para o ataque tentando desacreditar os testes de DNA e, possivelmente, obter a guarda de Bruna, um movimento que Eduardo não havia antecipado.

A conversa com Bruna foi tensa, com a menina, visivelmente assustada pela presença das autoridades. No entanto, ela respondeu com clareza e firmeza, confirmando que estava sendo bem tratada e que desejava permanecer com a família. “Eu nunca tive um pai antes”, disse ela, olhando diretamente para a conselheira tutelar.

“Agora que encontrei o meu e minhas irmãs, não quero ser levada embora.” Após a coleta das novas amostras para o teste de DNA e a verificação dos aposentos de Bruna, a delegada parecia menos cética, embora ainda mantivesse a postura profissional. Senhor, Albuquerque, os novos resultados deverão sair em alguns dias. Até lá, a guarda provisória continua válida, mas pedimos que não deixe a cidade com a menor.

Quando os visitantes finalmente partiram, Eduardo encontrou as três filhas agrupadas no topo da escada. observando ansiosamente. “Pai, eles vão levar a Bruna embora?”, perguntou Bianca com lágrimas nos olhos. “Não, querida, ninguém vai separar vocês novamente”, garantiu Eduardo, subindo os degraus para abraçar as filhas. Essa foi apenas mais uma tentativa de nos intimidar, mas não vai funcionar.

Naquela noite, enquanto as meninas dormiam, Eduardo recebeu uma ligação inesperada de Andreia Campos, pediatra que cuidava de Beatriz e Bianca desde o nascimento. Eduardo, desculpe ligar tão tarde, mas acabo de receber uma visita muito estranha no consultório”, disse ela, a voz agitada.

Gustavo esteve aqui querendo acesso aos prontuários médicos das meninas. Quando neguei, ele insinuou que poderia fazer com que eu perdesse meu registro no conselho de medicina. Ele ameaçou você? Eduardo sentiu o sangue ferver. Não diretamente, mas a mensagem estava clara. Eduardo, o que está acontecendo? Houve rumores sobre uma terceira criança.

Eduardo respirou fundo e decidiu confiar na médica que acompanhara suas filhas por anos. contou a ela sobre Bruna, sobre as descobertas recentes e sobre as suspeitas que pesavam contra Gustavo. “Meu Deus”, murmurou Andreia quando ele terminou. “Isso explica muita coisa”. Eduardo, na época do nascimento, notei algumas inconsistências nos registros médicos das meninas.

O grupo sanguíneo indicado para uma delas estava diferente no sistema comparado ao que eu havia anotado pessoalmente. Por que nunca mencionou isso? Porque quando questionei disseram que tinha sido um erro de digitação já corrigido. E com tudo o que você estava passando com Cláudia, não quis adicionar mais preocupações. Eduardo sentiu um novo fio de esperança.

Andreia, você estaria disposta a testemunhar sobre essas inconsistências, se necessário? Claro, respondeu ela sem hesitação. O que Gustavo fez é inadmissível, tanto ética quanto legalmente. Pode contar comigo. Ao desligar, Eduardo percebeu que, embora Gustavo tivesse poder e influência, também havia pessoas dispostas a ficar do lado da verdade.

A rede de mentiras começava a se desfazer um fio de cada vez. Em seu quarto, Eduardo abriu o cofre embutido na parede e retirou um envelope lacrado. Dentro estava a carta que Cláudia havia escrito para as filhas antes do parto, prevendo sua própria situação crítica.

Eduardo nunca havia mostrado aquela carta às meninas, achando que eram jovens demais para lidar com o conteúdo emocional. Agora, relendo as palavras da esposa, uma frase em particular saltou aos seus olhos. Minhas três princesas que ainda carrego comigo. Três. Cláudia sabia que eram três bebês. Como Eduardo não percebera esse detalhe antes, a carta era prova adicional de que Cláudia esperava trêmeas, não gêmeas.

Guardando cuidadosamente a carta de volta no cofre, Eduardo fez uma promessa silenciosa à memória da esposa. Suas três filhas cresceriam juntas, como deveria ter sido desde o início, e nada, nem ninguém impediria que essa promessa fosse cumprida. Os novos resultados do teste de DNA confirmaram o que Eduardo já sabia. Bruna, Beatriz e Bianca eram trigêmeas idênticas.

Com essa comprovação independente e acrescente quantidade de evidências contra Gustavo, a audiência para a guarda definitiva de Bruna foi favorável a Eduardo. O juiz, sensibilizado pela história da família separada e indignado com as circunstâncias, concedeu a guarda plena a Eduardo e ordenou uma investigação formal sobre a separação ilegal das crianças ao nascimento.

Para Gustavo, o cerco se fechava. Suas tentativas de desacreditar Eduardo e os testes de DNA haviam falhado. Agora enfrentava não apenas a perda de sua posição privilegiada na empresa, mas também a perspectiva de processos criminais por fraude, falsificação de documentos e apropriação indébita.

Na mansão Albuquerque, a celebração pela vitória judicial foi discreta, mas emocionante. Magda preparou um jantar especial com todos os pratos favoritos das meninas. Bruna, pela primeira vez desde sua chegada, parecia verdadeiramente relaxada, como se finalmente acreditasse que aquela era sua família, seu lar. Quero fazer um brinde”, disse Eduardo erguendo sua taça. A nossa família finalmente completa.

As três meninas ergueram seus copos de suco sorridentes. “E a vovóira”, acrescentou Bruna timidamente, “que cuidou de mim todos esses anos.” Eduardo a sentiu emocionado. A Azul Mira, que protegeu você até onde pôde. A investigação sobre o falecimento de Zulmira. Oliveira avançava lentamente.

Havia indícios de irregularidades, mas provar que sua reação alérgica havia sido provocada intencionalmente era difícil. No entanto, a polícia encontrara registros de visitas frequentes de Gustavo à casa da idosa nas semanas que precederam. Sua partida, o que reforçava as suspeitas. Na manhã seguinte à celebração, Eduardo levou as meninas para a escola, as três juntas, pela primeira vez.

Bruna havia sido matriculada na mesma turma que Beatriz, enquanto Bianca estudava em outra sala. Uma decisão tomada anos antes para estimular o desenvolvimento individual das gêmeas. Não estou nervosa”, insistiu Bruna, ajustando a mochila nova nos ombros enquanto caminhavam pelo estacionamento do colégio.

Era evidente, porém, pelo modo como mordia o lábio inferior, um hábito idêntico ao de Beatriz, que a primeira dia na nova escola a deixava apreensiva. “Vai ser ótimo”, garantiu Beatriz, entrelaçando seu braço ao da irmã recém descoberta. “Já contei para todo mundo sobre você e todos estão super ansiosos para te conhecer. É verdade, confirmou Bianca.

A escola inteira não fala de outra coisa. Você é tipo uma celebridade antes mesmo de chegar. Eduardo observava a interação entre as filhas com o coração cheio. Mesmo com todas as dificuldades que ainda enfrentavam, momentos como aquele tornavam tudo suportável.

Depois de deixar as meninas na entrada e certificar-se que Bruna estava confortável com as orientações da coordenadora, dirigiu-se à Usina para uma reunião extraordinária do Conselho Administrativo. A atmosfera na sala de reuniões era tensa. Os principais acionistas e diretores da Usina Albuquerque estavam presentes, incluindo Gustavo, que se sentava no extremo oposto da mesa, o rosto, uma máscara de controle forçado.

Senhores, obrigado por atenderem ao meu chamado com tanta urgência”, começou Eduardo. Como sabem, descobertas recentes sobre graves irregularidades administrativas e financeiras me obrigam a tomar medidas drásticas para proteger não apenas os interesses da empresa, mas também a integridade da família Albuquerque.

Eduardo distribuiu pastas contendo relatórios detalhados das fraudes perpetradas por Gustavo. Desvios do fundo fiduciário, falsificação de documentos corporativos, uso indevido de recursos da empresa. As provas eram contundentes e impossíveis de ignorar. Diante dessas evidências, continuou Eduardo, solicito o afastamento imediato de Gustavo Albuquerque, de todas as suas funções executivas e de seu assento no conselho. Um burburinho percorreu a sala. Gustavo levantou-se abruptamente.

Isso é um golpe, exclamou o rosto vermelho de fúria. Eduardo está usando questões pessoais para tentar me afastar e assumir controle total da empresa. As evidências falam por si, Gustavo, respondeu Eduardo calmamente. Não se trata de questões pessoais, mas de crimes contra a empresa e contra a minha família.

Crimes que você cometeu por ganância e que agora terá que responder. Vocês vão acreditar nele? Gustavo olhou desesperadamente para os outros. Conselheiros, depois de tudo que fiz por esta empresa, fui eu quem modernizou nossas operações, quem triplicou nossos lucros nos últimos 5 anos. Carlos Mendonça, o mais antigo dos conselheiros e amigo do falecido Teodoro Albuquerque, pigarreou antes de falar.

Gustavo, as acusações são graves e as evidências substanciais. Não podemos ignorá-las. Sugiro que você se afaste voluntariamente enquanto uma auditoria independente verifica todas essas informações. Não vou renunciar a nada, gritou Gustavo batendo o punho na mesa. Isso tudo é uma armação.

Eduardo está manipulando vocês, assim como manipulou aquela garota para fingir ser filha dele. Teste de DNA. Gustavo, lembrou Eduardo. Três testes independentes confirmando que Bruna é minha filha biológica, trigêmea idêntica de Beatriz e Bianca. Testes podem ser fraudados, insistiu Gustavo, seu controle se esvaindo completamente. E mesmo que seja verdade, e daí? Você estava em pedaços quando Cláudia estava entre a vida e a convalescência.

Não teria condições de cuidar de três recém-nascidas. Fiz o que era melhor para todos. Um silêncio sepulcral caiu sobre a sala. Gustavo percebeu tarde demais que acabara de admitir seu envolvimento no esquema. “Então você admite”, disse Eduardo lentamente. “Admite que sabia sobre Bruna, que participou da separação das minhas filhas.

” Gustavo empalideceu, percebendo o erro fatal. Eu não, não foi isso que eu quis dizer, senhores. Eduardo dirigiu-se aos demais conselheiros. Acho que acabamos de ouvir uma confissão. A votação foi unânime. Gustavo foi imediatamente afastado de todas as suas funções na empresa e uma auditoria independente seria contratada para examinar minuciosamente cada transação supervisionada por ele nos últimos 15 anos.

Ao deixar a sala de reuniões derrotado e humilhado, Gustavo lançou um último olhar carregado de ódio para Eduardo. Isso não acabou, murmurou baixo o suficiente para que apenas Eduardo ouvisse. Você não sabe do que sou capaz. Eduardo manteve a expressão impassível, mas um calafrio percorreu sua espinha. Havia algo no olhar de Gustavo, um brilho de desespero irracional que o preocupava profundamente.

Um homem encurralado pode ser extremamente perigoso, especialmente um homem que já demonstrou não ter limites éticos ou morais. Ao voltar para casa naquela tarde, Eduardo tomou precauções adicionais, pediu a Celso que reforçasse a segurança da mansão, instruiu Magda a não deixar as meninas saírem da propriedade sem sua autorização expressa.

“Aconteceu alguma coisa, patrão?”, perguntou Magda, percebendo sua preocupação. “Apenas medidas preventivas, Magda. Gustavo foi afastado da empresa hoje e não reagiu bem. A governanta fez o sinal da cruz. Ave Maria, aquele lá sempre teve olhos de quem venderia a mãe por dinheiro. Pode deixar, seu Eduardo. Vou ficar de olho nas meninas como uma águia.

Enquanto isso, no colégio Atenas, um dos mais tradicionais de Ribeirão Preto, Bruna enfrentava seu primeiro dia de aula. Inicialmente, alvo de intensa curiosidade e alguns comentários maldosos sobre suas origens, a menina conquistou rapidamente a simpatia dos colegas com sua inteligência e personalidade forte. Traços que compartilhava com as irmãs, mas que em Bruna haviam sido moldados por uma infância menos privilegiada.

Na hora do intervalo, sentada com Beatriz e um pequeno grupo de amigas, Bruna notou um carro escuro estacionado próximo ao portão da escola, com um homem observando o pátio através dos vidros fechados. “Quem é aquele?”, perguntou a Beatriz, apontando discretamente. Beatriz estreitou os olhos, tentando identificar o ocupante do veículo.

“Parece o tio Gustavo, mas não consigo ter certeza.” Um arrepio percorreu Bruna, embora tivesse visto Gustavo apenas uma. Fez no restaurante algo nele a deixara instintivamente alerta. Acho melhor avisar alguém. Beatriz concordou e as duas se dirigiram à sala da coordenação.

No entanto, quando a coordenadora foi verificar, o carro já havia desaparecido. “Deve ter sido engano das meninas”, comentou a coordenadora para a secretária. “Mesmo assim, vou avisar os seguranças para ficarem atentos”. Após o término das aulas, Eduardo aguardava as filhas no estacionamento, como havia combinado. Bianca foi a primeira a aparecer, correndo energicamente, como sempre.

Pai, você não vai acreditar. A professora de ciências disse que quer fazer um estudo sobre nós três. Disse que trigêmeas idênticas são super raras e que poderíamos ajudar na pesquisa dela sobre genética. Eduardo sorriu, bagunçando carinhosamente os cabelos da filha. Vamos conversar sobre isso em casa. Onde estão suas irmãs? Bia está ajudando a Bruna com o material.

Ela pegou emprestado um monte de livros da biblioteca. Passaram-se 5 minutos, depois 10. Eduardo começou a ficar inquieto. Não era do feitio de Beatriz se atrasar. “Vou procurá-las”, decidiu, pedindo a Bianca que esperasse no carro. No entanto, antes que pudesse se afastar, seu celular tocou. Era Beatriz sua voz trêmula de pânico. Pai, o tio Gustavo, ele levou a Bruna.

Estávamos saindo da biblioteca quando ele apareceu com outro homem. Eles puxaram ela para um carro e eu tentei impedir, mas o homem me empurrou e eu caí. Faz, onde você está agora, Bia? Eduardo sentia o sangue congelar nas veias. na biblioteca. A bibliotecária está comigo. Não saia daí. Estou indo te buscar. A escola já sabe. Sim.

A bibliotecária chamou a coordenadora. Eles estão chamando a polícia. Eduardo correu de volta ao carro, explicando rapidamente a situação para Bianca, que empalideceu de horror. Em seguida, dirigiu-se à biblioteca da escola, onde encontrou Beatriz sentada em uma poltrona tremendo, com a coordenadora e a bibliotecária ao seu lado. Bia! Eduardo abraçou a filha com força.

Você está machucada?” “Só o joelho quando caí”, respondeu ela, mostrando um arranhão superficial. Pai, eu tentei segurar a Bruna. Juro que tentei, mas ele era muito forte. Não foi sua culpa, querida? Assegurou Eduardo, contendo a própria angústia para não alarmar ainda mais a filha. Você foi muito corajosa.

A coordenadora se aproximou, visivelmente abalada. Senr. Albuquerque, já acionamos a polícia. Eles estão a caminho. Temos câmeras de segurança no estacionamento e nos corredores, então devemos ter imagens do ocorrido. Eduardo assentiu, grato pela eficiência da escola, mas sua mente já estava à frente, tentando antecipar os próximos movimentos de Gustavo.

Por que sequestrar Bruna? O que ele poderia ganhar com isso agora que havia sido afastado da empresa e estava sob investigação? A resposta veio menos de 20 minutos depois, quando Eduardo recebia orientações dos policiais que haviam chegado à escola. Seu celular tocou. Era uma chamada de vídeo de um número desconhecido.

Ao atender, o rosto de Gustavo preencheu a tela. Ele parecia transtornado, os olhos febr de alguém que ultrapassou todos os limites da razão. “Gustavo, onde está minha filha?”, exigiu Eduardo, sinalizando discretamente para o policial ao seu lado que registrasse a chamada. “Sua filha está segura”. “Por enquanto”, respondeu Gustavo, movendo a câmera para mostrar Bruna sentada em um sofá com expressão assustada, mas aparentemente ilesa. “Mas isso pode mudar rapidamente se você não fizer exatamente o que eu mandar.

” “O que você quer?”, perguntou Eduardo, tentando manter a voz firme, apesar do pânico que ameaçava dominá-lo. “Quero o que é meu por direito”, respondeu Gustavo. “Quero que você assine a transferência de 40% das suas ações da usina para mim imediatamente e que retire todas as acusações e cancele a auditoria.” Gustavo, você perdeu a cabeça. Sequestro é crime grave.

Solte minha filha e talvez possamos negociar uma saída menos desastrosa para você. O riso de Gustavo foi quase histérico. Negociar? Acabou o tempo de negociação, Eduardo. Você tirou tudo de mim. Minha posição, minha reputação, meu futuro. Agora estou pegando de volta o que me pertence. Aquelas ações nunca foram suas, Gustavo. E Bruna é minha filha, não uma moeda de troca.

Você tem duas horas”, declarou Gustavo, ignorando as palavras de Eduardo. “Vou enviar as instruções para a transferência das ações. Se não receber a confirmação em duas horas, nunca mais verá sua preciosa filha novamente.” A chamada foi encerrada abruptamente, deixando Eduardo paralisado de horror. O policial, ao seu lado, imediatamente começou a acionar reforços e especialistas em rastreamento.

Mas Eduardo sabia que o tempo estava contra eles. Gustavo estava desesperado, irracional, e isso o tornava extremamente perigoso. As próximas duas horas foram as mais longas da vida de Eduardo. A polícia montou uma operação de emergência em sua casa, transformando a sala de estar em um centro de comando temporário. Técnicos tentavam rastrear a localização do celular de Gustavo.

enquanto agentes especializados em negociações de reféns o orientavam sobre como proceder. “Precisamos ganhar tempo, Sr. Albuquerque”, explicou a delegada Roberta Mendes, responsável pela operação. “Finja que está considerando as exigências dele. Peça garantias, detalhes, qualquer coisa que o mantenha falando enquanto tentamos localizar sua filha”. “E se não conseguirmos localizá-los a tempo?”, perguntou Eduardo, a voz tensa.

A delegada hesitou, temos que considerar todas as possibilidades, inclusive a de ceder temporariamente às exigências dele, se isso garantir a segurança da menina. Nunca, protestou Ricardo, que havia chegado minutos após ser informado do sequestro. Seria admitir culpa, dar legitimidade às ações criminosas dele.

Daria minha empresa inteira pela segurança da minha filha”, afirmou Eduardo com convicção. “Mas conheço Gustavo. Se eu ceder agora, não há garantia de que ele liberte Bruna. Ele está desesperado, acuado. Pessoas nesse estado são imprevisíveis.” O telefone tocou pontualmente duas horas após a chamada anterior. Eduardo atendeu, colocando no viviais pudessem ouvir. Tempo esgotado, Eduardo! Anunciou Gustavo.

Você tomou sua decisão. Preciso de garantias, Gustavo. Quero falar com Bruna, confirmar que ela está bem. Você não está em posição de fazer exigências. Nem você, respondeu Eduardo, seguindo as orientações dos negociadores. Se algo acontecer a Bruna, você perde sua única moeda de troca. Deixe-me falar com ela. Houve um momento de silêncio.

Então a voz assustada de Bruna so pelo telefone. Pai, estou bem. Não se preocupe comigo. Bruna querida, vamos te tirar daí. Confie em mim. Chega de conversa”, interrompeu Gustavo retomando o telefone. “Você assinou os documentos?” “El estão prontos”, mentiu Eduardo. “Mas quero fazer a troca pessoalmente. Você, eu e Bruna.

Acha que sou idiota para você aparecer com a polícia?” “Sem polícia”, garantiu Eduardo, ignorando os gestos negativos dos policiais ao seu redor. Apenas nós três. Você escolhe o local. Eu levo os documentos, você leva a Bruna. Fazemos a troca e cada um segue seu caminho. Houve outro longo silêncio, como se Gustavo estivesse considerando a proposta.

O antigo galpão da usina, disse ele finalmente. Aquele que seu pai usava para guardar equipamentos. Em uma hora. Venha sozinho, Eduardo. Qualquer sinal de polícia e a menina sofre as consequências. A ligação foi encerrada e imediatamente a delegada se manifestou. Senr. Albuquerque, é muito arriscado. Não podemos permitir que vá sozinho. Não pretendo ir sozinho, respondeu Eduardo.

Mas Gustavo não precisa saber disso. O plano foi elaborado rapidamente. A polícia cercaria o galpão abandonado à distância, utilizando equipamentos térmicos para monitorar o interior sem serem detectados. Eduardo entraria sozinho, aparentemente desarmado, e carregando uma pasta com os documentos falsificados que Ricardo preparou as pressas.

Assim que confirmasse que Bruna estava segura, daria um sinal para que a equipe tática invadisse o local. “Mes arriscado demais”, insistiu Bianca, agarrando o braço do pai enquanto ele se preparava para sair. “E se o tio Gustavo fizer algo ruim com você e a Bruna?” Ele não vai, garantiu Eduardo, abraçando a filha.

Gustavo está desesperado, mas ainda é racional o suficiente para saber que machucar qualquer um de nós só pioraria sua situação. Promete, quem vai trazer a Bruna de volta? Pediu Beatriz, os olhos vermelhos de tanto chorar. Promete que vocês dois vão voltar? Prometo, assegurou Eduardo, abraçando as duas filhas com força. Antes de dormir, estaremos todos juntos novamente. Enquanto Eduardo se dirigia ao local do encontro, seguido discretamente por viaturas policiais sem identificação, Bruna enfrentava seu próprio pesadelo.

estava sentada em um sofá empoeirado dentro do galpão abandonado, observando nervosamente enquanto Gustavo andava de um lado para outro, consultando o relógio a cada poucos minutos. “Por que está fazendo isso?”, perguntou ela, reunindo coragem. “O que ganha me mantendo aqui.” Gustavo a encarou com olhos febr entenderia, garota. “É sobre justiça. Seu pai me traiu, me humilhou, destruiu tudo que construí.

Meu pai não fez nada disso. Rebateu Bruna. Foi você quem me separou da minha família. Foi você quem roubou o dinheiro que era meu por direito. Dinheiro que eu multipliquei exclamou Gustavo. Transformei aquele fundo medíocre em uma fortuna. Se não fosse por mim, a Usina Albuquer que teria falido há anos. Eduardo nunca teve visão para os negócios.

Sempre foi um administrador medíocre, vivendo a sombra do pai. Então, por que não conseguiu essas coisas? honestamente, por que precisou roubar uma criança da própria família? A pergunta pareceu atingir Gustavo como um golpe físico. Ele parou de andar e fixou o olhar em Bruna, como se a visse de verdade pela primeira vez.

“Você se parece tanto com ela”, murmurou quase para si mesmo com Cláudia. os mesmos olhos, o mesmo jeito de inclinar a cabeça quando está questionando algo. Bruna sentiu um arrepio. Você conheceu minha mãe? Conheci. Eu a amava, revelou Gustavo, sua voz embargada por uma emoção inesperada. Antes de Eduardo, éramos Cláudia e eu. Crescemos juntos. Fomos o primeiro amor um do outro.

Então, meu querido primo chegou com seu charme e sua herança garantida e a levou de mim. Bruna observaita, enquanto Gustavo revelava camadas de ressentimento enterradas há décadas. “Ela deveria ter sido minha esposa. Aquelas crianças deveriam ser minhas filhas”, continuou ele. “Quando você nasceu, a terceira inesperada. Vi uma oportunidade. Se não podia ter Cláudia, teria ao menos uma parte do que deveria ter sido meu.

Então foi por vingança, não por dinheiro. Gustavo riu amargamente. O dinheiro foi um bônus. A verdadeira satisfação foi saber que tinha algo que pertencia a Eduardo, algo que ele nem sabia que existia. Mas eu não sou uma coisa”, disse Bruna, a voz firme, apesar do medo. “Sou uma pessoa e você roubou minha chance de crescer com minhas irmãs, de conhecer meu pai.

Você teve uma boa vida com Zulmira”, defendeu-se Gustavo. “Ela cuidou bem de você”. Vovó fez o melhor que pôde, mas vivíamos com dificuldades enquanto você gastava o dinheiro que deveria ser meu. O som de um carro se aproximando interrompeu a conversa. Gustavo correu até a janela coberta de poeira, observando através de uma fresta.

“Ele chegou”, murmurou, puxando uma arma do bolso interno do palitó. “E parece que está sozinho, como ordenei.” O coração de Bruna acelerou ao ver a arma. A situação era ainda mais perigosa do que imaginara. “Não faça isso”, implorou. “Ainda dá tempo de resolver tudo sem piorar as coisas.” Calada”, ordenou Gustavo, apontando a arma em sua direção. “Fique exatamente onde está e não diga uma palavra a menos que eu autorize.

” Eduardo entrou no galpão lentamente, carregando uma pasta executiva e com as mãos visivelmente vazias. “Gustavo,” cumprimentou com voz calma. “Vim como prometido sozinho.” “Deixe a pasta no chão e afaste-se”, comandou Gustavo, mantendo a arma apontada para Bruna. Lentamente, Eduardo obedeceu, colocando a pasta no chão empoeirado e dando três passos para trás.

Seus olhos encontraram os de Bruna, transmitindo uma mensagem silenciosa de conforto. “Agora chute a pasta na minha direção”, ordenou Gustavo. Novamente, Eduardo obedeceu. A pasta deslizou pelo chão até parar próxima aos pés de Gustavo, que se abaixou para pegá-la, sem desviar a arma de Bruna. “Está tudo aí?”, perguntou, mantendo os olhos fixos em Eduardo, enquanto abria a pasta com uma das mãos.

Tudo como você pediu, confirmou Eduardo, a transferência de 40% das minhas ações, minha renúncia da presidência do conselho e uma declaração retirando todas as acusações contra você. Gustavo examinou rapidamente os documentos, um sorriso de triunfo se espalhando por seu rosto. “Finalmente, justiça”, murmurou.

Depois de todos esses anos, agora solte minha filha”, exigiu Eduardo. “Você tem o que queria”. Gustavo hesitou, seu olhar alternando entre Eduardo e Bruna. Não sei. Talvez eu devesse manter esta aqui comigo. Afinal, cuidei dela à distância por 12 anos. Tenho certo apego. Isso não fazia parte do acordo protestou Eduardo, dando um passo à frente.

Fique onde está, gritou Gustavo, apontando a arma para Eduardo. Eu dito as regras aqui. Foi nesse momento que Bruna, percebendo a distração momentânea de Gustavo, agiu por instinto. Com um movimento rápido, empurrou com força o braço que segurava a arma, desestabilizando-o. A arma disparou, a bala atingindo o teto do galpão e provocando uma chuva de poeira.

Eduardo aproveitou a confusão para avançar, atingindo Gustavo com um golpe que o fez cambalear para trás. A arma caiu no chão, deslizando para longe. “Corre, Bruna!”, gritou Eduardo enquanto lutava para conter Gustavo. Mas Bruna não correu. Em vez disso, aproveitou sua experiência nas ruas de Cravinhos, onde aprendera a se defender de valentões para ajudar o pai.

Com um movimento preciso, chutou a parte de trás do joelho de Gustavo, fazendo-o perder o equilíbrio completamente. Nesse exato momento, as portas do galpão foram arrombadas e policiais invadiram o local com armas em punho. “Polícia! Parados!”, gritou a delegada Roberta, liderando a equipe tática. Gustavo, caído no chão e vendo-se cercado, finalmente desistiu.

Seu rosto, antes contorcido de raiva, agora exibia apenas derrota e resignação. Acabou, Gustavo! Disse Eduardo, abraçando Bruna protetoramente. Acabou. Enquanto os policiais algemavam Gustavo e o conduziam para fora do galpão, Eduardo se ajoelhou diante da filha, examinando-a ansiosamente. Você está bem? Ele te machucou. Bruna balançou a cabeça negativamente. Estou bem, pai.

Só quero ir para casa. Vamos para casa”, concordou Eduardo, abraçando-a novamente. Suas irmãs estão esperando. No trajeto de volta, Eduardo manteve Bruna abraçada no banco traseiro da viatura policial, como se temesse que ela pudesse desaparecer novamente. A menina, por sua vez, parecia mais forte e determinada do que nunca.

Ele contou por fez isso”, disse ela suavemente. “Foi por causa da minha mãe. Ele a amava e tinha ciúmes de você”. Eduardo suspirou profundamente. Gustavo sempre foi obsecado por Cláudia, mesmo depois que nos casamos, mas nunca imaginei que ele pudesse chegar a esse ponto. Ele disse que eu me pareço com ela.

Você se parece, confirmou Eduardo com um sorriso triste. Você e suas irmãs tm os olhos dela, o sorriso, até mesmo certos gestos. Às vezes, observando vocês três juntas, é como vê-la novamente. Quando finalmente chegaram à mansão, Beatriz e Bianca aguardavam ansiosamente no hall de entrada, abraçando Bruna simultaneamente, assim que ela cruzou a porta.

“Nunca mais faça isso”, exclamou Bianca entre lágrimas. Quase morremos de preocupação, como se eu tivesse escolhido ser sequestrada”, rebateu Bruna com um sorriso fraco, mas correspondendo ao abraço com igual intensidade. “Você está realmente bem?”, perguntou Beatriz, sempre a mais observadora.

“Tem certeza que ele não te machucou?” “Estou ótima,”, garantiu Bruna. Na verdade, eu ajudei o pai a derrubar ele. As gêmeas olharam para ela com admiração renovada e Eduardo não pôde deixar de sorrir, apesar do cansaço e da tensão que ainda sentia. “É verdade”, confirmou ele. “Sua irmã é bastante corajosa.” Magda apareceu nesse momento, os olhos vermelhos de choro carregando uma bandeja com chocolate quente e biscoitos.

Achei que vocês precisariam de algo reconfortante depois de todo esse susto”, explicou, colocando a bandeja sobre a mesa de centro. “Graças a Deus, está tudo bem agora. Nas semanas que se seguiram, a vida da família Albuquerque passou por profundas transformações. Gustavo foi formalmente acusado de múltiplos crimes, incluindo sequestro, falsificação de documentos, fraude financeira e conspiração.

As investigações sobre o falecimento de Zulmira Oliveira continuavam, mas as evidências preliminares sugeriam que Gustavo havia de fato manipulado seus medicamentos, provocando a reação alérgica fatal. A história das trigmeas separadas, ao nascer e reunidas 12 anos depois, capturou a imaginação do público, tornando-se tema de reportagens e programas de televisão.

Eduardo, inicialmente relutante em expor a família, eventualmente concordou com uma única entrevista exclusiva na qual as meninas também participaram. O objetivo era encerrar as especulações e, mais importante, servir de alerta para outras famílias sobre a importância da vigilância durante o nascimento de seus filhos.

A usina Albuquerque, após a tempestade emergiu mais forte e com um propósito renovado. Eduardo estabeleceu a Fundação Zumira Oliveira, dedicada a apoiar crianças em situação de vulnerabilidade e reunir famílias separadas por circunstâncias adversas. Foi através dessa fundação que Eduardo conheceu Rafael e Júlia, irmãos de 8 e se anos que viviam em um abrigo negligente em Cravinhos.

O mesmo onde Bruna teria sido enviada se Eduardo não a tivesse encontrado naquele fatídico dia no posto de gasolina. As crianças haviam sofrido maus tratos no abrigo que agora estava sob investigação por desvio de verbas e negligência. Tocado pela situação dos irmãos e inspirado pela própria jornada de reunificação familiar, Eduardo iniciou o processo de adoção de Rafael e Júlia com o apoio entusiástico das trêmeas. que se encantaram com a ideia de ter irmãos mais novos.

Em uma tarde ensolarada de domingo, seis meses após o dramático resgate de Bruna, a família Albuquerque, agora expandida, reuniu-se no Jardim da Mansão para um churrasco. Rafael e Júlia, oficialmente adotados na semana anterior, corriam pelo gramado com os cachorros recém adotados do abrigo municipal, enquanto as três gêmeas, sentadas à beira da piscina, conversavam animadamente sobre os planos para as férias de verão. Eduardo observa a cena com o coração cheio.

Ao seu lado, Magda servia limonada fresca, um sorriso satisfeito em seu rosto enrugado. “Quem diria, seu Eduardo”, comentou a governanta. “De três para cinco, em menos de um ano, a casa finalmente tem a alegria que merece”. E pensar que tudo começou com uma parada para abastecer, refletiu Eduardo. Se tivéssemos escolhido outro posto naquele dia.

O destino tem seus caminhos filosofou Magda, ou como minha avó dizia, o que é seu vem, mesmo que demore, mesmo que doa. Sabe a sua voz? Sorriu Eduardo. Naquele momento, Bruna se aproximou, sentando-se ao lado do pai. Dentre as trêmeas, era ela quem mais buscava a companhia. de Eduardo, como se tentasse compensar os anos perdidos.

“No que está pensando, pai?”, e perguntou ela, apoiando a cabeça em seu ombro. Um gesto que Eduardo notou com ternura era idêntico ao que Cláudia costumava fazer. “Em como somos abençoados”, respondeu ele, abraçando-a. “Em como, apesar de tudo que aconteceu, acabamos encontrando o caminho de volta uns para os outros”. Bruna sorriu, observando suas irmãs à distância.

Acho que sempre soubemos de alguma forma. Vovó dizia que eu sonhava com duas meninas iguais a mim quando era pequena. Achava que era imaginação, mas talvez fossem memórias, ou algum tipo de conexão que nem a distância pôde quebrar. Talvez, concordou Eduardo, algumas ligações são fortes demais para serem cortadas, não importa o que façam para separá-las.

Naquele final de tarde, enquanto o sol se punha sobre os jardins da mansão Albuquerque, Eduardo contemplou sua família reunida, as três filhas que compartilhavam não apenas o DNA, mas agora também memórias e sonhos, os dois filhos adotivos que trouxeram novas cores e perspectivas para suas vidas. A fiel Magda, que sempre fora mais família que empregada.

A jornada havia sido longa e dolorosa, marcada por separação, engano e traição. Mas o resultado final era este: uma família ampliada pelo amor, fortalecida pelas adversidades, unida não apenas pelo sangue, mas pela escolha deliberada de permanecerem juntos contra todas as probabilidades. E enquanto as estrelas começavam a pontilhar o céu de Ribeirão Preto, Eduardo fez uma promessa silenciosa.

A história deles, a história das trigêmeas separadas e reunidas.

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News