O cenário político de Brasília, que já vinha operando sob intensa pressão, acaba de ser sacudido por uma nova e poderosa onda de investigações. O epicentro deste novo tremor está inegavelmente localizado no coração do centrão, o bloco de partidos que detém a chave da governabilidade no Congresso Nacional. Uma nova e significativa operação da Polícia Federal foi deflagrada, mirando instituições financeiras e o estratégico setor de combustíveis, um segmento que já está sob meticuloso escrutínio em inquéritos de grande repercussão.
e a tensão já era alta devido ao temor crescente de potenciais delações premiadas nos casos que envolvem o Banco Máter e as conexões suspeitas investigadas na operação carbono oculto que tangenciam o crime organizado. Agora, o nível de alarme entre os principais líderes do Congresso atingiu um ponto crítico e quase insustentável.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/N/V/pwgR5fQ6CKHnry4X78Rg/108979990-pa-brasilia-df-29-10-2024-entrevista-exclusiva-senador-ciro-nogueira.-fotografia-brenn.jpg)
A operação mais recente conduzida pela Polícia Federal em uma ação coordenada com a Receita Federal na manhã de hoje tem como alvo declarado o que o próprio governo federal, através de seus ministros, convencionou chamar de o andar de cima, as grandes figuras empresariais e financeiras que tradicionalmente operam acima das penalidades comuns.
O foco primordial da investigação é um sofisticado e complexo esquema de sonegação fiscal praticado por empresas que utilizam a fraude tributária, não apenas como uma forma de diminuir custos operacionais, mas de maneira mais nefasta como um modelo de negócio fundamental para sua sobrevivência e expansão. Estes são os chamados devedores comumazes que se valem do não pagamento sistemático e fraudulento de impostos para obter vantagens competitivas, desleais e injustas contra concorrentes honestos.
Ao não recolher tributos devidos ao Estado, conseguem oferecer produtos a preços artificialmente mais baixos, deturpando profundamente a concorrência e o equilíbrio do mercado. Um dos alvos centrais desta nova e robusta ofensiva policial que envolve o grupo Heffit, antiga refinaria Manguinhos, é o empresário Ricardo Magro, uma figura com alta circulação nos círculos políticos e sociais de Brasília.
Magro, segundo as informações detalhadas nas ordens judiciais e em relatórios investigativos, mantém uma relação de profunda e comprovada proximidade com Antônio Rueda, o atual presidente do União Brasil, um dos partidos mais influentes do Centrão e o mesmo partido do presidente do Senado, Davi Alcol Columbre.
Esta proximidade não se restringe apenas a encontros políticos. O empresário Ricardo Magro foi mencionado e investigado na complexa operação carbono oculto, que expôs possíveis elos entre grandes empresários, fundos de investimento, o segmento de combustíveis e, o mais grave, o crime organizado. A sua presença como alvo nesta nova operação intensifica de maneira inevitável a pressão sobre o União Brasil e sobre toda a estrutura do centrão.

é esta sucessão ininterrupta de eventos investigativos de alto impacto que permite uma nova e mais clara leitura sobre a recente irritação e as manifestações de descontentamento de líderes do centrão, como Hugo Mota, presidente da Câmara, e Davi Alcol Columbre, presidente do Senado, para com o governo federal. A raiva que eles demonstram publicamente pode não ter origem primária em questões puramente políticas ou de indicações ministeriais, como a disputa em torno da escolha de Jorge Messias para o STF, mas sim em uma profunda e crescente preocupação com o avanço incessante e
descontrolado da Polícia Federal. Nos últimos meses, o centrão vivenciou três grandes reveses investigativos que citam ou tangenciam seus principais líderes. A operação Carbono oculto, com citações a Ciro Nogueira e Antônio Rueda em contextos de negociações questionáveis. O escândalo do banco Master, que também tem envolvimento notório de figuras do centrão, incluindo Ciro Nogueira, e agora a operação do grupo Raffit, que atinge diretamente um amigo íntimo e empresário ligado à Rueda. A soma destes fatos cria um
ambiente de pânico generalizado e justificado. Esta situação força a opinião pública a ligar os pontos e a correlacionar os eventos, as intensas e repetidas tentativas do centrão de aprovar leis que visavam reduzir drasticamente os poderes de investigação da Polícia Federal. Movimentações como a tentativa de aprovação da PEC, da blindagem e o apoio irrestrito ao PL antifacção, que chegou a ser relatado com o objetivo explícito de enfraquecer a autonomia da PF, demonstram a urgência e o desespero do centrão em construir uma barreira
legal intransponível contra as investigações. Todas essas tentativas de autoproteção foram barradas em grande parte pela oposição firme do governo e pela mobilização da opinião pública que compreendeu a manobra. A irritação do centrão com o presidente Lula, portanto, decorre do fato de o governo não ter permitido o enfraquecimento da instituição que agora, de maneira implacável, mira diretamente o financiamento ilícito e as operações fraudulentas de seus aliados mais próximos.
O contraste de posturas e de prioridades dentro do Congresso Nacional é evidente e precisa ser destacado. Enquanto membros do centrão e de partidos mais à direita defendem com veemência a repressão, o rigor e a força policial em comunidades de baixa renda, eles demonstram uma surpreendente complacência, omissão e até proteção aos bilionários, grandes empresários e sonadores envolvidos em crimes financeiros.
Essa dualidade moral e política se manifestou claramente durante a votação do regime de urgência de um projeto que buscava punir os devedores com Tumases, os sonegadores que usam a fraude como modelo de negócio. Apesar da pauta ser de interesse público e buscar a justiça fiscal, dezenas de votos contrários ao regime de urgência vieram de integrantes do PL e do próprio centrão.
Essa atitude demonstra uma proteção explícita e coordenada aos grandes criminosos financeiros, os mesmos que frequentemente são os grandes financiadores de campanhas eleitorais e operam nos bastidores do poder. O fator mais explosivo, o verdadeiro catalisador da crise e que deixa Brasília em estado de alerta máximo é o risco iminente e a expectativa de delações premiadas nos casos em andamento.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/W/d/7edwF7R5aVSC98X7FQcA/ppuniao.png)
Há informações, embora por vezes conflitantes, sobre se empresários chave, como o pivô da carbono oculto, já estariam negociando acordos de colaboração com a justiça. Se delações forem confirmadas nos casos carbono oculto ou banco master, a cascata de informações e provas pode levar a derrocada de grandes nomes do centrão, como Ciro Nogueira e Antônio Rueda, devido aos elos financeiros e políticos revelados pelas investigações.
O medo real que está tirando o sono dos líderes do Congresso é que esses empresários, pressionados pelas investigações e pela perspectiva de longas penas de prisão, revelem os bastidores da proteção política, do lobby e do financiamento ilegal que sustentam a cúpula do centrão. O governo federal, ao contrário de gestões anteriores que focavam em investigações de baixo impacto, optou por uma estratégia de combater o crime organizado a partir do rastreamento de seu financiamento e da investigação do andar de cima. Uma abordagem que, de
forma inevitável, colide frontalmente com os interesses de grupos políticos poderosos e arraigados. Essa é a verdadeira razão do conflito.