O Vexame Institucional de Hugo Motta: A Truculência que Desnudou a Fraqueza na Presidência da Câmara

A política, para muitos, é encarada como uma forma sofisticada de entretenimento, um grande espetáculo de articulação e estratégia, onde movimentos complexos definem o futuro da nação. No entanto, o que se assistiu recentemente na Câmara dos Deputados, sob a presidência em exercício do deputado Hugo Motta, transcendeu a esfera do jogo político aceitável, mergulhando o Parlamento em um episódio classificado por observadores como deplorável e vergonhoso. Longe de ser um balé estratégico, a atuação de Motta culminou em uma demonstração de força que, na verdade, expôs uma fraqueza política profunda e irrecuperável.

O epicentro do escândalo foi a retirada forçada do deputado Glauber Braga da cadeira presidencial da Casa, onde ele se sentara para protestar. O ato, carregado de truculência, envolveu a Polícia Legislativa e teve como pano de fundo uma articulação política questionável que prometia mexer nas estruturas do Centrão e da oposição. Motta, ao ordenar a ação enérgica contra um protesto legítimo – ainda que simbolicamente transgressor – de um parlamentar, procurou sinalizar controle. Contudo, o resultado foi o oposto: uma clara evidência de que a liderança da Câmara, naquele momento, estava desesperada e à beira da desmoralização.

É crucial contextualizar o momento político da presidência interina de Hugo Motta. Após os episódios em que parlamentares alinhados ao ex-presidente se amotinaram no plenário, Motta optou pela inação, uma omissão que, à época, foi lida como uma falha na defesa da autoridade institucional. A tentativa de, agora, demonstrar firmeza ao expulsar Glauber Braga surge não como um resgate da autoridade perdida, mas como uma compensação tardia e mal executada, que apenas intensificou a percepção de debilidade política. A truculência empregada não apenas atingiu o deputado protestante, mas, lamentavelmente, estendeu-se a repórteres e jornalistas presentes, que foram forçados a se retirar, culminando no corte da transmissão da TV Câmara, em uma tentativa patética de esconder o que estava ocorrendo. Este movimento, digno de regimes que temem a luz da informação, apenas serviu para amplificar o vexame nas redes sociais e na opinião pública.

Deputado Glauber Braga ocupa Mesa Diretora da Câmara e é retirado à força  pela Polícia Legislativa - BBC News Brasil

O protesto de Glauber Braga não foi aleatório; ele era a reação indignada à forma como Hugo Motta e seus articuladores conduziram o projeto de “dosimetria” das penas aplicadas a parlamentares. Esta articulação, costurada junto a lideranças do Progressistas e de setores do Centrão, tinha um objetivo claro, segundo a análise política predominante: a tentativa de sanar uma “dívida” política e acomodar interesses.

A manobra central envolvia a cassação de deputados bolsonaristas, notadamente Eduardo Bolsonaro, Alexandre Ramagem e Carla Zambelli. No entanto, a forma como a cassação de Eduardo Bolsonaro foi proposta – por faltas regimentais – garantia que o parlamentar não ficaria inelegível, mantendo-o apto para disputar as eleições de 2026. Em outras palavras, um aceno à família Bolsonaro, que recebia uma punição protocolar, mas que preservava o capital político do clã.

Em contrapartida, para equilibrar a balança política e evitar o desgaste de proteger excessivamente a oposição, a mesma articulação pautou a cassação de Glauber Braga. O motivo formal: o ataque físico que ele desferiu contra um militante do MBL. Contudo, a punição proposta para Glauber o tornaria inelegível por oito anos, um peso institucional infinitamente maior do que o reservado ao deputado Bolsonaro. Este desequilíbrio é a essência da “sacanagem” (como foi categorizado no meio político) e o motivo da revolta que levou Glauber ao protesto na cadeira presidencial. A indignidade reside na disparidade das penas: uma mera medida regimental para um, mantendo a elegibilidade; a pena máxima da inelegibilidade por quase uma década para o outro.

A cassação de Glauber Braga, sob estas circunstâncias, configura um dos absurdos institucionais mais notórios da história recente. O Parlamento, ao equiparar uma agressão física a um militante (que, inegavelmente, é um erro passível de suspensão de mandato, mas não necessariamente de cassação com inelegibilidade), a falhas regimentais de outro, demonstra uma inversão de valores e prioridades políticas. O ponto mais chocante reside na comparação com o caso do deputado Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante da execução da vereadora Marielle Franco. Brazão, após ampla discussão e pressão pública, foi cassado apenas por estourar o limite de faltas regimentais, tal qual a punição branda de Eduardo Bolsonaro.

Colocar o ataque de Glauber a um militante como algo institucionalmente pior do que manter no cargo um parlamentar implicado em um crime hediondo, como no caso Marielle Franco, é uma afronta à lógica e à moralidade pública. Este é o legado político que Hugo Motta está construindo: um cenário onde a conveniência política dita a gravidade das punições.

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Toda a turbulência e truculência, em última análise, servem para revelar a fragilidade da posição de Hugo Motta. Longe de ser um líder autônomo, ele é percebido como um presidente sob a tutela de figuras políticas poderosas, notadamente o senador Ciro Nogueira e seu padrinho, Arthur Lira. E é deste último que emana o maior perigo para o seu futuro. Lira, com sua notória ambição política, está constantemente “mordendo os calcanhares” de Motta, visando a disputa de 2027.

O aceno público de Arthur Lira ao Palácio do Planalto, evidenciado em cerimônias recentes, demonstra um movimento estratégico de distanciamento e uma busca por novos apoios, possivelmente pavimentando seu próprio retorno à presidência da Câmara, caso a disputa pelo Senado se complique. A percepção de que Motta é “politicamente estúpido” e que comete “bobagens” políticas consecutivas, elevando-o à comparação com o nefasto ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti – um dos piores na história da Casa – só reforça a tese de que seu ciclo de liderança está perto do fim.

Na tentativa desesperada de reverter a imagem de fraqueza após ser publicamente ofuscado por Lira, Motta teria promovido um “saldão de fim de ano” legislativo, pautando projetos que estavam engavetados. O movimento, que visava demonstrar produtividade e controle, resultou, ironicamente, na confusão com Glauber Braga, expondo ainda mais a sua vulnerabilidade. Tudo o que Motta faz, em termos de articulação, parece ser um erro político atrás do outro.

O sentimento que a atuação de Hugo Motta evoca naqueles que acompanham a política é de profunda irritação e constrangimento. Seu estilo de liderança, visto como ineficaz e excessivamente truculento quando lhe convém, não apenas desmoraliza a si mesmo, mas também o cargo que ocupa, arrastando o Parlamento para um dos seus momentos mais baixos.

O futuro político de Hugo Motta é incerto e, sob a sombra ameaçadora de Arthur Lira, parece fadado ao declínio. O que a Câmara dos Deputados presenciou foi mais do que um incidente isolado; foi a metástase de um jogo político viciado, onde a demonstração de poder é inversamente proporcional à real força e liderança, e onde a truculência institucional serve apenas para desvelar a fragilidade de um presidente politicamente inepto. O que fica é a vergonha e a urgência de uma reavaliação dos critérios de liderança no Congresso Nacional.

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