
O tiro ecoou pelas planícies onduladas do território de Montana, 1882, quando Margaret Blackwood disparou o revólver de seu falecido marido contra a cascavel enrolada muito perto da varanda de sua casa. Ela errou, suas mãos tremendo enquanto a serpente se afastava pela grama alta, deixando-a sozinha mais uma vez com nada além do vento e de seu fracasso.
Thaddius Crane tinha construído sua vida em torno do silêncio, do ritmo previsível do gado e do vento. Mas quando ele saiu para a varanda naquela manhã com seu café, a visão na cerca destruiu 12 anos de solidão como vidro quebrado.
Ela estava nua, pressionada contra os postes de madeira, seu corpo tremendo com soluços que ecoavam pelo pasto vazio. A sujeira manchava sua pele e seu cabelo escuro pendia em nós ao redor do rosto. Sangue manchava seus joelhos e palmas das mãos onde ela havia caído. Thaddius congelou, a caneca de café tremendo em suas mãos envelhecidas. Seu primeiro instinto foi recuar. Pessoas significavam problemas.
Pessoas traziam complicações das quais ele havia jurado se afastar depois que Martha morreu, e a cidade o virou as costas. Mas aquela mulher, ela não estava parada em seu portão exigindo algo. Ela se agarrava à sua cerca como se fosse a única coisa que a impedia de se afogar. Ele largou o café e caminhou lentamente pelo quintal, suas botas rangendo na grama coberta de geada.
A mulher não percebeu sua presença a princípio, perdida demais em seu terror para ouvir sua aproximação. Quando finalmente levantou os olhos, seus olhos verdes estavam selvagens de medo e exaustão. “Por favor,” ela sussurrou, sua voz áspera. “Não os deixe me encontrar.”
As palavras o atingiram como um soco no peito. “Eles”: alguém havia feito isso com ela. Alguém a havia despojado de tudo, incluindo sua dignidade, e a enviou correndo para o deserto.
Thaddius olhou para o horizonte, meio esperando ver cavaleiros atrás dela. “Quem está atrás de você?” ele perguntou, mantendo a voz gentil apesar da raiva crescendo em seu interior.
Ela balançou a cabeça freneticamente. “Não posso. Eles vão me matar se me encontrarem. Vão nos matar, os dois.”
Ele estudou seu rosto, procurando mentiras ou manipulação. Tudo o que viu foi terror genuíno. Depois de 12 anos evitando contato humano, todo instinto dizia para mandá-la embora, para proteger a paz que ele havia construído das cinzas de sua vida antiga. Mas olhando para ela agora, quebrada e implorando, ele não podia simplesmente ir embora.
“Qual é o seu nome?” ele perguntou.
“Magnolia,” ela sussurrou.
Ele assentiu uma vez. “Sou Thaddius. Entre. Vamos descobrir isso.”
Enquanto a ajudava a se levantar, envolvendo seu casaco ao redor de seus ombros trêmulos, Thaddius percebeu nuvens de poeira no cume distante. Três cavaleiros se movendo rapidamente em sua direção. Seu sangue gelou ao perceber que a escolha que acabara de fazer poderia custar a vida de ambos.
Os cavaleiros se aproximavam e o passado de Magnolia estava prestes a alcançá-los.
Ele bateu a porta atrás deles e imediatamente se moveu para a janela, espiando através da fresta da cortina. Os cavaleiros ainda estavam a uma milha de distância, mas se aproximavam rapidamente. Magnolia estava no centro de sua pequena cabana, segurando o casaco ao redor de si, os olhos percorrendo as paredes como um animal encurralado.
“Eles estão vindo, não é?” ela sussurrou.
“Três deles,” Thaddius confirmou, sua mente correndo.
“Quem são eles?”
O rosto de Magnolia se contraiu. “Os homens de Colt Develin. Ele é dono do saloon em Copper Ridge. Dono de metade da cidade.”
“De verdade?” Sua voz quebrou.
“Ele me comprou por causa das dívidas do meu marido. Disse que eu agora pertencia a ele.”
A palavra enviou uma fúria fria pelas veias de Thaddius. Ele ouvira histórias sobre homens como Devlin, predadores que usam dívidas e desespero para prender mulheres em situações piores que a escravidão.
Mas ouvir isso de Magnolia, ver a vergonha em seus olhos, tornou real de uma forma que queimava.
“Você escapou,” ele disse.
Ela assentiu. “Na noite passada, Colt ia me ‘compartilhar’ com seus parceiros de negócios para fechar um acordo. As palavras saíram como veneno que ela precisava expelir. Quebrei uma janela e fugi. Estive correndo a noite toda.”
Thaddius pegou seu rifle acima da lareira e conferiu o carregador. Seis tiros contra três pistoleiros profissionais. Talvez não fosse suficiente, mas teria que servir. Ele não sobreviveu 12 anos de isolamento fugindo de uma briga.
“Há um porão sob a cozinha,” disse ele, apontando para uma porta oculta sob um tapete. “Desça e não saia, não importa o que ouvir.”
Magnolia agarrou seu braço. “Eles vão te matar. Colt não deixa testemunhas.”
“Talvez,” Thaddius disse, surpreso com a calma que sentia. “Mas eles não vão te levar de volta.”
O som de cascos cresceu, trovejando por sua propriedade como uma tempestade. Thaddius posicionou-se junto à janela, rifle pronto. Pensou em Martha, na promessa feita em seu túmulo de nunca mais se envolver nos problemas dos outros. Mas vendo Magnolia desaparecer no porão, percebeu que algumas promessas foram feitas para serem quebradas.
Os homens chegaram abruptamente em frente à sua cabana, seus cavalos bufando e pisoteando. O homem à frente vestia colete preto e olhos frios que pareciam catalogar tudo que viam. Thaddius reconheceu o tipo: o capanga de Develin, aquele que gostava de causar dor.
“Bom dia,” chamou o capanga. “Meu nome é Pike. Estamos procurando algo que pertence ao nosso empregador. Você viu uma mulher passar por aqui?”
Thaddius avançou para a varanda, rifle segurado casualmente, mas pronto. “Muitas mulheres por estas bandas. Você terá que ser mais específico.”
O sorriso de Pike era afiado como lâmina. “Uma coisinha bonita. Cabelo escuro. Pode não estar vestindo muita coisa.” Seus olhos vasculharam a cabana, notando a segunda xícara de café no corrimão da varanda.
“O engraçado é que os rastros dela levam direto à sua porta.”
O silêncio se esticou entre eles como um fio tenso, pronto para se romper. Thaddius sabia que as próximas palavras determinariam se sairiam vivos dali.
“Rastros podem enganar,” disse Thaddius, o dedo no gatilho do rifle, especialmente depois de uma forte chuva na noite anterior.
Os olhos de Pike se estreitaram. Ele sabia que não havia chovido. Todos sabiam, mas o jogo precisava ser jogado, pelo menos por enquanto.
“Posso dar uma olhada ao redor? Só para ser minucioso.”
“Me incomoda,” Thaddius respondeu. “Esta é propriedade privada.”
Os dois homens ao lado de Pike se mexeram em seus cavalos, mãos próximas às armas. Thaddius reconheceu a manobra. Eles já fizeram isso antes. Pike continuaria falando enquanto seus homens se posicionavam. Então tomariam o que queriam e não deixariam testemunhas.
“Agora, vejam, é aí que vocês estão errados,” disse Pike, desmontando lentamente. “Colt Develin tem um acordo com o xerife. Torna isso oficial.”
Ele puxou um papel amassado do colete. Mandado para procurar propriedade roubada. Thaddius não precisava ler para saber que era falso. Em cidades como Copper Ridge, homens como Develin escreviam suas próprias leis.
Mas o papel dava a Pike e seus homens a desculpa para sacar as armas.
“Propriedade roubada?” Thaddius perguntou, ganhando tempo. “O que exatamente vocês estão alegando que foi roubado?”
“Alguns milhares em serviços,” Pike sorriu. “Além disso, ela agrediu o Sr. Develin quando quebrou a janela. Isso é destruição de propriedade e agressão.”
A raiva que fervia no peito de Thaddius finalmente explodiu. Esses homens falavam de Magnolia como se fosse gado, como se seu sofrimento fosse apenas uma transação comercial. Ele pensou no terror em seus olhos, no sangue em seus joelhos de sua fuga desesperada.
“Serviços,” repetiu secamente. O sorriso de Pike se alargou. “Agora você está entendendo. Então, por que não saem do caminho e nos deixam recolher o que é nosso? Facilite para todos.”
Thaddius levantou o rifle. “Isto é o que vai acontecer. Vocês vão subir em seus cavalos e sair daqui. Não voltem.”
Os dois homens montados sacaram suas armas simultaneamente, mas Thaddius já estava em movimento. Seu primeiro tiro derrubou o homem à esquerda antes que ele pudesse se proteger.
O segundo tiro quebrou o ombro do outro, girando-o e fazendo sua pistola voar. Pike mergulhou atrás de seu cavalo, puxando sua própria arma.
“Você acabou de cometer o maior erro da sua vida, velho.”
Balas estilhaçaram os postes da varanda enquanto Thaddius rolava atrás de um tanque de água. Quatro tiros restantes no rifle. Pike ainda estava móvel e furioso, sem saber se teria reforços.
Mas ao ouvir o choro abafado de Magnolia do porão, Thaddius soube que tinha feito a escolha certa. A guerra pela liberdade de Magnolia havia começado, e de um jeito ou de outro, terminaria naquele dia.
O cavaleiro de Pike se levantou e fugiu, deixando o capanga exposto. Thaddius perseguiu com tiros de rifle. O homem ferido gemia no chão, segurando o ombro quebrado enquanto seu companheiro morto encarava o céu matinal.
“Isso não acabou!” Pike gritou. “Develin tem 20 homens. Você não pode enfrentá-los todos.”
Thaddius sabia que Pike estava certo. Mesmo vencendo o tiroteio, mais homens viriam. Develin não deixaria o insulto passar, especialmente sobre uma mulher que ele considerava sua propriedade.
Mas olhando para a porta do porão que escondia Magnolia, ele percebeu que já estava além de recuar.
Thaddius ouviu a porta do porão ranger atrás dele.
“Não,” ele avisou, sem se virar. “Fique escondida.”
Mas a voz de Magnolia estava firme agora, mais forte do que antes.
“O ferido… eu conheço ele. É Ezra Cain.”
Thaddius arriscou um olhar para trás. Magnolia segurava uma de suas camisas, e seu rosto havia endurecido com algo além do medo, reconhecimento e ódio.
“Ele estava lá na noite em que… Colt primeiro…” Ela não terminou a frase, mas não precisava. “Ele me segurou enquanto Colt explicava o que eu devia.”
O homem ferido, Ezra, tentava rastejar em direção à pistola caída. Sangue escorria entre os dedos, mas ele ainda era perigoso. Thaddius não podia vigiar ambos ao mesmo tempo.
“Se você fosse Thaddius, o que faria? Confiaria em Magnolia para lidar com Ezra enquanto você enfrenta Pike, ou arriscaria tudo para protegê-la e lutar contra os dois homens sozinho?”
Thaddius fez sua escolha. Ele deslizou seu revólver reserva pelo chão para Magnolia.
“Você sabe usar isso?”
As mãos dela tremiam, mas sua voz estava gelada.
“Colt me ensinou. Uma mulher deve saber como proteger seu investimento.”
Pike escolheu aquele momento para avançar, correndo do vagão em direção à cabana. Thaddius girou seu rifle, mas Pike era rápido e desesperado. O tiro do capanga errou, mas foi suficiente para Thaddius se abaixar. Atrás dele, ouviu o disparo da pistola e a voz apavorada de Ezra.
“Espere, Magnolia, por favor.”
O tiro foi ensurdecedor no pequeno espaço. Quando Thaddius olhou para trás, Ezra estava imóvel, e Magnolia permanecia sobre ele, lágrimas escorrendo pelo rosto.
“Isso é por Sarah,” ela sussurrou para o homem morto, “e por Mary e todas as outras.”
A voz de Pike quebrou de raiva. “Você matou Ezra!”
Mas algo havia mudado no ar. O desespero havia ido, substituído pela determinação fria. Magnolia não era mais apenas uma vítima. Ela era uma sobrevivente que aprendera a lutar.
A imprudência de Pike o tornou descuidado. Ele correu para a cabana, disparando loucamente enquanto avançava. Thaddius o derrubou com um único tiro no peito, mas não antes da última bala de Pike rasgar seu braço esquerdo.
O silêncio súbito foi ensurdecedor. Três homens jaziam mortos em seu quintal, o sangue deles encharcando a terra que ele manteve pacífica por 12 anos. Thaddius pressionou a mão contra o ferimento, sentindo a umidade quente escorrer entre os dedos.
“Você está ferido,” disse Magnolia, correndo para seu lado.
“É nada,” Thaddius mentiu, embora sua visão começasse a turvar. “Precisamos sair daqui.”
Pike não mentiu sobre os homens de Develin. Magnolia rasgou tiras de sua camisa, amarrando o ferimento com habilidade.
“Já fiz isso antes,” disse ela calmamente. “As garotas de Colt se ajudavam quando podiam.”
Enquanto ela trabalhava, Thaddius estudou seu rosto. A mulher aterrorizada que se agarrou à cerca agora havia sumido, substituída por alguém endurecido, que sobreviveu ao inferno e aprendeu a lutar.
“Deveria me preocupar?” pensou. Mas, em vez disso, sentiu algo que não experimentava há anos: respeito por outro ser humano.
“Algo mais,” disse Magnolia, sua mão parando no curativo.
“Pike mencionou 20 homens. Mas isso não é o pior. Develin não é dono apenas do saloon. Ele tem um acordo com a companhia de ferrovia. Estão comprando toda a terra neste vale para uma nova linha.”
As palavras atingiram Thaddius como um golpe físico.
“Esta terra?” ele perguntou.
Ela assentiu. “Sua fazenda fica bem no meio do trajeto planejado. Estão tentando forçar as pessoas a vender por meses, mas ninguém cedeu. Então Develin começou a pressionar. Os outros fazendeiros morreram ou foram expulsos. Você é o último.”
Seus olhos verdes encontraram os dele. “Eu apenas lhes dei uma desculpa para agir hoje.”
A imagem completa se cristalizou na mente de Thaddius. Não se tratava apenas de recuperar propriedade roubada. Develin planejava tomar suas terras, e a fuga de Magnolia deu-lhe o pretexto perfeito para a violência.
“Quanto tempo antes de Develin chegar com o resto dos homens?” ele perguntou.
Magnolia olhou para o sol, calculando. “Duas horas, talvez três. Pike deveria sinalizar quando me encontrasse.”
Thaddius olhou ao redor da cabana, contemplando a vida que construiu a partir do nada. Cada tábua, cada prego, cada cerca representava anos de trabalho árduo. Esta terra era tudo o que restava de Martha, a única coisa que dava sentido à sua existência.
Mas agora ele tinha uma escolha: fugir e perder tudo que construiu, ou enfrentar 20 assassinos profissionais com o braço ferido e uma mulher que já sofreu demais.
O som de cascos distantes ecoou pelo vale, e Thaddius percebeu que a decisão poderia já estar tomada para eles.
Os cascos não vinham da direção de Copper Ridge. Thaddius estreitou os olhos através da luneta do rifle, sentindo o coração afundar. Oito cavaleiros se aproximavam do leste, rápidos e decididos. Mas esses não eram homens de Develin. Cavalaria.
Ele respirou fundo. O rosto de Magnolia ficou branco.
“Oh Deus. Colt deve ter avisado o Forte Henderson. Disse que eu era uma fugitiva ou simpatizante dos índios ou algo assim.”
Ele baixou o rifle. Lutar contra empresários corruptos era uma coisa, mas atirar em soldados federais era traição. Mesmo que esses homens operassem com informações falsas, vestiam o uniforme do Exército dos Estados Unidos.
“O que fazemos?” sussurrou Magnolia.
Os soldados se espalharam em semicírculo ao redor da propriedade. O líder, um jovem tenente de olhar duro, avançou sozinho. Sua mão descansava casualmente sobre o sabre, mas Thaddius notou os carabinas que os outros carregavam.
“Sou o Tenente Morrison,” o oficial chamou. “Recebemos informações sobre uma fugitiva federal escondida aqui. Procurada por roubo e agressão.”
“Qual é o nome da fugitiva?” Thaddius perguntou, saindo para a varanda.
“Magnolia Hayes, também conhecida como Magnolia Develin,” respondeu Morrison.
O engano foi tão bem feito que Thaddius quase acreditou nele. Agora Magnolia não estava apenas fugindo de criminosos. Ela estava fugindo da própria lei.
“Não vi ninguém com esse nome,” disse Thaddius.
“Sr. Crane?” Tenente Morrison varreu os três corpos no quintal com os olhos. “Parece que vocês tiveram alguns problemas aqui.”
“Três contra um. Impressionante pontaria, Sr. Crane,” Morrison comentou.
Morrison desmontou, a mão agora segurando firmemente o sabre.
“Podemos revistar a propriedade?”
“Claro,” Thaddius respondeu. “Mas devo avisar, vivo sozinho.”
Morrison acenou para seus homens. Quatro soldados desmontaram e começaram a vasculhar o celeiro e os anexos. Levaria apenas minutos antes que encontrassem a entrada do porão.
Dentro da cabana, Magnolia se pressionou contra a parede próxima à porta, segurando a pistola. Thaddius podia vê-la através da janela, presa como um animal. Se os soldados a encontrassem armada, atirariam primeiro e fariam perguntas depois.
“Conte-me sobre esses homens,” Morrison disse, cutucando o corpo de Pike com o pé. “Você os reconhece?”
“Vagabundos,” Thaddius mentiu. “Disseram que procuravam trabalho, mas estavam estudando minha propriedade para um possível roubo.”
“Engraçado,” Morrison disse casualmente. “Recebemos informações de Copper Ridge que três homens de Colt Develin saíram por aqui esta manhã. Não voltaram.”
A armadilha se fechava. Morrison sabia exatamente quem eram os mortos, portanto, sabia exatamente o motivo de terem vindo. O mandado federal era apenas uma ficção conveniente para dar à vingança de Develin uma aparência legal.
Um grito veio de dentro da cabana.
“Tenente, encontrei algo!”
Morrison sorriu friamente. “Parece que sua história desmoronou, Sr. Crane.”
O soldado emergiu da cabana segurando uma das camisas de Thaddius, aquela que Magnolia havia usado. Sangue manchava o tecido onde ela havia amarrado o ferimento dele.
Ele examinou cuidadosamente, satisfeito como alguém que ganhou uma mão difícil no pôquer.
“O sangue ainda está fresco. E há uma entrada no porão na cozinha. Parece que alguém esteve escondido aqui recentemente.”
Os olhos de Morrison não deixaram o rosto de Thaddius.
“Então, onde está ela agora, Sr. Crane?”
A mente de Thaddius correu. O celeiro estava vazio, o que significava que Magnolia havia escapado durante a busca. Mas para onde poderia ir? A menos que fosse para a antiga mina. Martha havia mostrado a ele anos atrás uma antiga concessão de prata escondida na rocha atrás do celeiro. Era perigosa, parcialmente desabada e infestada de cobras, mas oferecia cobertura.
“Já disse, eu moro sozinho,” Thaddius disse.
Morrison o acertou com um tapa no rosto, rápido e inesperado.
“Não complique mais do que precisa. Ajudar um fugitivo federal é crime de morte.”
O sangue escorria do lábio rachado de Thaddius, mas ele manteve o olhar firme no tenente.
“Então é melhor que você encontre seu fugitivo primeiro,” disse ele.
Nesse instante, começaram os tiros.
O estalo de um rifle ecoou da rocha atrás do celeiro. Um dos soldados girou e caiu, segurando a perna. Os outros mergulharam atrás de proteção, procurando o atirador.
“Ela está nas pedras!” alguém gritou.
Morrison sacou o sabre e pressionou-o contra o pescoço de Thaddius.
“Chame-a para sair, ou abrirei você aqui mesmo!”
Mas Thaddius estava sorrindo, apesar da lâmina. Magnolia não apenas sobrevivia, ela lutava com inteligência. Da mina, ela tinha excelente cobertura e campo de visão claro. Os soldados precisariam se expor para tentar retirá-la de lá.
“Quantos homens estão dispostos a perder por causa do dinheiro de Colt Develin?” Thaddius perguntou calmamente.
O rosto de Morrison corou. “Isso é sobre lei e ordem. É sobre a rota da ferrovia e um empresário corrupto que te possui,” respondeu Thaddius.
“Quanto Develin está pagando para você usar esse uniforme e fazer seu trabalho sujo?”
A fachada cuidadosamente construída começou a ruir, revelando o mercenário por trás da autoridade federal.
Da rocha, a voz de Magnolia chamou com clareza.
“Ainda tenho seis tiros e o dia todo para usá-los. O quanto você me quer, Tenente?”
A mão de Morrison tremia no sabre. Ao redor, seus homens se agachavam atrás do que podiam, presos pelo fogo da atiradora invisível. A operação militar cuidadosamente planejada havia se tornado um cerco, e eles estavam perdendo.
“Depoem!” Morrison gritou em direção às pedras. “Vocês só estão piorando a situação!”
O riso de Magnolia ecoou pelas paredes de pedra.
“Pior? Quer dizer que existe algo pior do que ser propriedade de Colt Develin?”
Outro tiro estourou, próximo o suficiente para assustar os soldados. Magnolia não estava tentando matá-los. Estava fazendo um ponto.
“Ela está brincando conosco,” comentou um soldado.
Morrison pressionou o sabre mais fundo contra o pescoço de Thaddius.
“Chame-a para sair, ou eu juro…”
Uma voz chamou atrás deles. Era um homem mais velho, em uniforme de coronel, cavalgando rapidamente em direção à fazenda.
O rosto de Morrison ficou pálido ao reconhecer seu comandante. Coronel Hartwell.
O rosto de Hartwell escureceu a cada detalhe que observava: civis mortos, soldados encurralados por fogo de sniper, e um tenente segurando um sabre no pescoço de um fazendeiro desarmado.
“O que diabos está acontecendo aqui, Tenente?”
“Senhor, estamos perseguindo uma fugitiva federal. Recebemos informações de Copper Ridge…” Morrison começou.
“Informações de Colt Develin, quer dizer?!” a voz de Hartwell era fria como gelo. “Achou que eu não descobriria seu pequeno acordo com aquele canalha?”
A boca de Morrison abriu e fechou, sem palavras.
“Senhor, eu… não sei do que está falando.”
“Estou falando sobre os 2.000 dólares em dinheiro da ferrovia encontrados em seus aposentos na noite passada. Sobre os mandados federais falsificados. Sobre o uso sistemático da autoridade militar para lucro corporativo.”
Hartwell se aproximou.
“Vocês realmente acharam que poderiam usar meus soldados como mercenários privados sem consequências?”
Da rocha, Magnolia chamou:
“Coronel, você também está aqui para me prender?”
Hartwell olhou para o rochedo.
“Não, senhorita. Estou aqui para prender os homens que usaram distintivos federais para cometer crimes em seu território.”
O alívio que tomou Thaddius quase o sobrecarregou, mas foi nada comparado ao som vindo da mina. Algo entre soluço e riso.
O som de uma mulher que correu tanto tempo que esqueceu como se sentia segura.
Morrison fez uma última tentativa desesperada, avançando para pegar sua pistola caída. Thaddius a chutou para longe e desferiu um soco no tenente, derrubando-o. Doze anos de isolamento e raiva se canalizaram naquele golpe.
“Isso é por Martha,” rosnou ele, “e por cada mulher que Develin feriu.”
Vinte minutos depois, Magnolia emergiu das rochas, o rifle pendurado no ombro, lágrimas escorrendo pelo rosto. Ela caminhou direto para Thaddius e desabou em seus braços, finalmente permitindo-se acreditar que estava livre.
“Acabou,” ele sussurrou em seus cabelos.
“Agora estou segura,” respondeu ela.
O Coronel Hartwell prendeu Morrison e seus três homens por corrupção e abuso de autoridade. Os outros soldados, que acreditavam estar seguindo ordens legítimas, foram realocados. Develin foi levado sob custódia quando os marechais federais invadiram Copper Ridge no dia seguinte.
Seis meses depois, Thaddius e Magnolia estavam na varanda de sua cabana reconstruída, assistindo o pôr do sol pintar o vale de ouro.
Ela vestia um simples vestido branco, ele sua melhor camisa.
O padre do condado vizinho acabara de pronunciá-los marido e mulher.
“Chega de correr,” disse ela, segurando sua mão.
“Chega de se esconder,” concordou ele.
A ferrovia nunca cortou o vale. Descobriu-se que os relatórios do topógrafo haviam sido falsificados para inflar o valor da terra.
Mas Thaddius e Magnolia não se importaram. Haviam encontrado algo mais valioso que todo o dinheiro do mundo: haviam se encontrado um ao outro.