
A primeira coisa que Jake Hollister viu foi algo escuro deitado no meio da relva. De início, pensou que fosse um veado morto, mas quando o seu cavalo se aproximou, ele congelou na sela. Era uma mulher, uma jovem freira num hábito preto, estendida sob o sol escaldante do Kansas.
Jake saltou do cavalo tão depressa que a poeira subiu como fumo. Caiu de joelhos ao lado dela. Os pés dela estavam descalços. Estavam cortados e empoeirados. Cada dedo manchado com sangue seco. O seu hábito cheirava a suor e pano cozido pelo sol. A mistura aguda de medo e calor que dizia a Jake que ela tinha estado a correr durante muito tempo sob aquele céu cruel. Jake tocou no pulso dela para verificar o pulso.
A pele estava quente, a queimar, como se ela tivesse caminhado quilómetros através do calor sem descanso nenhum. Os lábios dela moveram-se apenas um pouco. Um sussurro tão fraco que ele pensou que fosse o vento. “Isso é proibido.” Ele inclinou-se. Ela sussurrou novamente. Desta vez a sua voz tremeu como se tivesse medo até das palavras que lhe saíam da boca.
Jake tinha visto muito nos seus 52 anos. Desde secas a tiroteios e invernos rigorosos, mas nunca tinha visto uma freira desmaiada e sozinha na pradaria com o medo estampado em todo o seu rosto. Os olhos dela abriram-se a meio, azuis e desfocados. Estavam assustados e perdidos. Mas por baixo do medo estava uma mágoa antiga que tinha sido carregada durante muito tempo. Jake levantou a cabeça dela gentilmente e sentiu o calor a sair da sua pele. Calor como febre.
Quando ele tocou no ombro dela para procurar ferimentos, ela sussurrou novamente. “Isso é proibido.” Não como um aviso, mais como uma súplica. E Jake entendeu. Ela não tinha medo dele. Tinha medo de regras, de julgamento, de qualquer punição que uma jovem freira pudesse enfrentar por deixar um rancheiro pôr-lhe a mão em cima, mesmo que ele estivesse a tentar salvar a vida dela.
Jake tirou a sua bandana, mergulhou-a no seu odre de água e colocou-a na testa dela. Ela estremeceu de início, depois relaxou, quase derretendo ao toque de algo fresco pela primeira vez em quem sabe quanto tempo. Ao longe, ele ouviu cascos. Se alguém da cidade a encontrasse assim, deitada nos braços dele, não acabaria bem para ela, ou talvez até para ele.
Jake deslizou um braço sob os joelhos dela e um atrás das suas costas. Levantou-a cuidadosamente, e ela encostou-se ao peito dele como se não tivesse força restante para lutar contra nada. Ele conseguia sentir quão leve ela era nos seus braços, e sabia que havia uma história por trás disso. O que quer que tivesse levado uma freira para o meio da pradaria do Kansas, não era algo pequeno, mas enquanto a carregava em direção ao seu cavalo, uma pergunta continuava a incomodá-lo.
O que poderia ser tão proibido que levou uma jovem freira para o meio da pradaria do Kansas? Jake cavalgou devagar, mantendo um braço firme à volta da jovem freira para que ela não escorregasse do cavalo. Ela ficou quieta a viagem toda, respirando superficialmente, a cabeça descansando levemente contra o peito dele. Quando chegaram ao pequeno riacho perto do Rancho Hollister, Jake percebeu algo estranho.
Ela não tinha lutado contra ele, nem mesmo quando acordou a meio e viu que estava a ser carregada por um homem que nunca tinha conhecido. Os dedos dela tinham apertado a camisa dele como se estivesse a segurar-se à última coisa segura no mundo. Ele desceu do cavalo e carregou-a para dentro da sua cabana. Era um lugar simples, paredes de madeira, uma panela no fogão e uma Bíblia na mesa que ele não tinha lido tantas vezes quanto prometera a si mesmo.
Deitou-a gentilmente na sua cama. Jake ensopou um pano e colocou-o na testa dela. Ela mexeu-se, os olhos a abrir o suficiente para ver onde estava. Alívio. Um tipo lento de alívio que dizia que ela não se sentia segura há muito tempo. Ele deu-lhe água. Ela tomou um pequeno gole, depois outro. A voz dela era suave quando finalmente falou. “Onde estou?” Jake puxou uma cadeira para o lado dela.
“Rancho Hollister, a alguns quilómetros a oeste de Dodge City. Desmaiou na relva.” Ela assentiu como se esperasse essa resposta e soubesse que se tinha esforçado para além dos seus limites. “O meu nome é Jake”, disse ele. “Qual é o seu?” Foi como se até o seu próprio nome fosse algo que ela tinha de guardar. Depois sussurrou: “Irmã Elise.” Jake assentiu lentamente.
“Elise.” Depois ela olhou em volta da pequena cabana, os dedos a enroscarem-se no cobertor. Ele viu claramente que esta mulher estava a fugir de algo mais pesado do que o calor que a tinha derrubado. Ela tentou sentar-se. Jake segurou gentilmente o ombro dela. “Tenha calma. Ninguém vem atrás de si aqui.”
O medo cintilou ali, rápido e agudo. Não medo dele. Medo de ser encontrada. Ela engoliu em seco. “Jake, se perguntarem por mim, tem de dizer que nunca me viu.” Jake recostou-se, sobrancelhas levantadas. “Eles? Quem exatamente vem atrás de uma freira no meio de um verão no Kansas?” Elise olhou para a porta como se alguém pudesse entrar a qualquer segundo.
Depois sussurrou as palavras que fizeram o corpo todo de Jake ficar tenso. “Jake, eu não fugi de Deus. Fugi das pessoas dentro da igreja.” O que no mundo poderia uma freira ter visto que fosse tão perigoso que tivesse de fugir para salvar a vida? Jake recostou-se na cadeira, estudando a jovem mulher na sua cama como se ela lhe tivesse acabado de dizer que o mundo era plano.
Fugir de Deus era uma coisa. Fugir da própria igreja era uma tempestade completamente diferente. Elise puxou o cobertor mais apertado à volta dos ombros e olhou para as mãos. Estavam a tremer. Jake manteve a voz firme e calma, a mesma voz que usava com cavalos assustadiços. “Pode contar-me. Ninguém mais está aqui.” Ela respirou fundo, a tremer.
“Lá na missão em Dodge City, as coisas já não eram sagradas.” Jake sentiu algo frio instalar-se no estômago. Ele sabia que aquela missão era suposto ser um lugar em que as pessoas confiavam. Elise olhou para cima com olhos que continham mais verdade do que ela queria carregar. “Há um homem lá, um homem que todos respeitam, mas ele não é quem pensam que é.” Ele deixou-a falar ao seu próprio ritmo.
Ela engoliu em seco. “Ele está a usar a missão para dinheiro, para coisas que ninguém deveria esconder atrás de uma cruz.” Jake sentiu o calor subir no peito. O tipo quieto de raiva que os homens mais velhos conhecem bem. A queima lenta que vem de ver alguém usar a fé como escudo para a sua própria sujidade. “Encontrei cartas, livros com números que não fazem sentido. Contei a uma das irmãs mais velhas.”
“E na manhã seguinte, ela tinha desaparecido.” Jake inclinou-se para a frente. “Desaparecido para onde?” Elise abanou a cabeça. “Disseram-me que ela saiu por vontade própria. Mas eu vi o xerife a falar com o Padre Whitlock nessa mesma noite. E depois disso, ele começou a vigiar-me, a seguir-me, a perguntar onde eu dormia, onde eu rezava.” Jake passou a mão pelo maxilar.
Xerife Collins, um homem em quem Jake nunca confiou. Um homem que cheirava a problemas mesmo quando tentava parecer santo. “Eu sabia que se ficasse, desapareceria também. Então entrei numa carroça de carga a sair da cidade e andei nela até ao rio. Depois caminhei até as minhas pernas cederem.” “E foi assim que me encontrou.” A voz dela falhou nessa última frase e, pela primeira vez desde que a encontrou, Elise começou a chorar.
aquelas lágrimas silenciosas e cansadas que vêm quando uma pessoa guardou tudo dentro de si durante demasiado tempo. Jake ficou na sua cadeira, mãos entrelaçadas, deixando-a chorar sem desviar o olhar. “Sabe, uma vez mantive a boca fechada quando devia ter falado. A minha mulher precisava de um médico e o homem na cidade mandou-nos embora porque não podíamos pagar o suficiente.”
“Saí daquele consultório sem dizer uma palavra. Ela morreu 2 dias depois. Tive de viver com esse silêncio todos os dias desde então. Por isso, acredite em mim quando lhe digo isto. Se é corajosa o suficiente para falar, não a vou deixar ficar ali sozinha.” Jake levantou-se e foi até à janela, olhando para a terra silenciosa.
Ele tinha passado anos a cuidar da sua própria vida, mas ouvir o que esta rapariga tinha passado trouxe de volta algo que pensava ter enterrado com a sua mulher. Uma necessidade de proteger e de fazer as coisas certas. “Elise, se o que está a dizer é verdade, então isto é maior do que nós os dois pensávamos.” “Eu sei, mas não posso voltar sozinha.” Jake aproximou-se, olhos firmes.
“Não vai. Não enquanto eu estiver a respirar.” Agora, a verdadeira luta estava a chegar. O tipo que abala uma cidade inteira. Se ainda está comigo, amigo, espero que clique no botão de subscrever para não perder o que acontece a seguir. Pegue numa chávena de chá ou café, instale-se e diga-me nos comentários que horas são para si agora e de onde está a ouvir.
Duas manhãs depois, Jake acordou antes do nascer do sol. Era uma daquelas manhãs silenciosas do Kansas em que até o vento parecia suster a respiração. Ele saiu, botas a afundar levemente na terra fresca e examinou o horizonte. Dentro da cabana, Elise estava acordada também. Estava sentada à mesa, mãos enroladas numa chávena de água morna.
Jake sentou-se em frente a ela. “Muito bem”, disse ele. “Precisamos de respostas.” Ela assentiu. “Se o Padre Whitlock souber que escapei, enviará outros. Ele não vai desistir.” “Vamos à cidade.” Os olhos dela arregalaram-se. “A Dodge City?” Jake assentiu. “Se o homem é sujo, as pessoas precisam de ver a verdade com os seus próprios olhos.”
Elise respirou fundo, a tremer. “E se me virem?” Jake sorriu um pouco. O tipo de sorriso que só um rancheiro teimoso mais velho consegue gerir. “Então deixe-os olhar. Não tem nada de que se envergonhar.” Cavalgaram juntos. Jake entregou-lhe um chapéu de trilho velho do cabide junto à porta antes de partirem. Estava desbotado pelo sol e um pouco grande demais.
Mas quando ela puxou a aba para baixo sobre a testa, escondeu metade do rosto e deu-lhe coragem suficiente para continuar. A pradaria estendia-se larga e dourada, o calor já a subir, embora a manhã ainda fosse jovem. E quando os telhados de Dodge City apareceram, Elise estava a agarrar a sela com mais força do que pretendia, cowboys a amarrar cavalos.
E mesmo no centro, a casa da missão erguia-se alta e silenciosa como se nunca tivesse conhecido um dia de pecado. Jake desmontou primeiro. Elise seguiu, as mãos a tremer. Ele colocou uma mão gentil perto do cotovelo dela. “Estou mesmo aqui.” Quando chegaram à beira da cidade, Elise quase parou de andar. As pernas pareciam como naquele campo, fracas e a tremer.
Só que desta vez, não era o sol que a estava a deitar abaixo. “Não sei se consigo fazer isto”, sussurrou ela. Jake ofereceu a mão, áspera e firme. “Não tem de gritar”, disse ele. “Só tem de dizer a verdade uma vez e eu estarei mesmo ao seu lado enquanto o faz.” Pela primeira vez em muito tempo, ela estava assustada mas não sozinha.
Enquanto caminhavam em direção às portas da igreja, as pessoas começaram a olhar com reconhecimento. Uma freira desaparecida nunca fica em segredo por muito tempo. Perto da entrada estava o Xerife Collins. Ele deu um passo em frente com aquele sorriso lento e oleoso que usava quando pensava que tinha a vantagem. “Bom dia, Jake. Trazendo-a de volta para onde ela pertence?” Jake não pestanejou. “Isso depende.”
“Planeia dizer a verdade hoje?” O sorriso do xerife desapareceu o suficiente para mostrar o homem por baixo. Então as portas da missão abriram-se e o próprio Padre Whitlock saiu, rosto calmo, olhos frios como um lago de janeiro. O seu olhar pousou em Elise. “Aí estás, criança. Vem agora. Vamos resolver tudo isto lá dentro.” Elise recuou.
Jake deu um passo em frente e ali mesmo no meio de Dodge City, o ar estalou com tensão, tão aguda que parecia um raio à espera de cair. A mão do xerife deslizou em direção ao coldre. Os olhos de Whitlock estreitaram-se, e Jake percebeu algo. Eles não estavam ali para conversar. Agora, a única questão era esta.
Quem faria o primeiro movimento? O Xerife Collins tinha uma mão a pairar na anca, e mesmo no meio de tudo, Elise deu um passo em frente. Elise abriu a boca, mas de início, nenhum som saiu. Os joelhos dela cederam apenas um pouco. A mão de Jake apertou no cotovelo dela, segurando-a mais do que ela se segurava a si mesma. “Não vou entrar consigo. Não hoje.”
“Nunca mais.” A multidão à volta deles ficou quieta, mas nem todos se inclinaram da mesma maneira. Outro homem perto do fundo murmurou. “O padre nunca faria tal coisa.” Whitlock levantou o queixo. “As crianças dizem coisas selvagens quando estão assustadas”, disse ele suavemente. “Vem agora, irmã. Vamos conversar em privado.”
Ele deu um passo em direção a ela. Elise congelou. Jake moveu-se para a frente dela antes que o padre pudesse aproximar-se mais. “Se a quer, tem de passar por mim.” Collins soltou uma risada curta, mas a sua mão caiu mais baixo em direção à arma. Algumas pessoas recuaram enquanto outras mantiveram a sua posição, olhos a saltar entre o xerife e o rancheiro como se estivessem a ver um fusível a queimar.
Jake manteve os olhos fixos no xerife, calmo e firme. Mas por dentro, sabia que um movimento errado poderia transformar aquela praça num cemitério. Então Elise falou novamente, mais alto desta vez. “Eu vi os livros. Eu vi as mentiras. E eu vi o que aconteceu àqueles que tentaram falar antes de mim.” Um homem gritou: “Cuidado com a língua, menina.” “Aquele padre enterrou a minha mãe.”
“Ele nunca faria mal a ninguém. Mas ao lado dele…” O lojista deu um passo em frente, maxilar tenso. “O Padre Whitlock deve-me 3 meses de contas por pagar”, disse ele. “E cada vez que pergunto, ele diz-me que Deus proverá. Talvez isto seja Deus a prover.” Uma mãe perto da frente puxou a filha para mais perto. “A minha mais velha foi trabalhar na cozinha da missão.”
Ela sussurrou: “Um dia ela simplesmente parou de vir a casa. Nenhuma carta, nenhum adeus. Disse-me que ela fugiu. Mas padre, estava a mentir-me a mim também? Estava?” Jake olhou em redor para os rostos. Alguns zangados, alguns confusos, alguns apenas cansados de se sentirem pequenos. “Todos confiaram neste lugar”, disse ele. “Mas a confiança só funciona se um homem a ganhar.” Collins praguejou baixinho e puxou a arma. “Chega disto.”
Ele levantou o cano em direção a Jake. Algumas pessoas gritaram e baixaram-se. Enquanto ele disparava, dois ajudantes de rancho chocaram contra o braço dele e o tiro saiu desviado, batendo inofensivamente no tijolo acima da porta da missão. No caos, Whitlock girou e tentou correr de volta para dentro. Deu três passos antes que o lojista e outro homem o derrubassem na entrada.
A luta empurrou a porta da missão completamente aberta. Papéis caíram de um armário entreaberto. Uma caixa de metal caiu no chão e rebentou, espalhando livros de registo e notas enroladas pela entrada como entranhas derramadas. Uma velha mulher baixou-se e apanhou uma página, a mão a tremer enquanto lia. “Dinheiro para crianças órfãs”, disse ela. “Enviado para o Saloon da Sally em Dodge City.”
As pessoas correram para a soleira e olharam para a confusão. Página após página de números, nomes e pagamentos que nunca chegaram às pessoas a quem se destinavam. Ninguém que viu tudo exposto precisou de um juiz para explicar o que estava a ver, embora alguns ainda parecessem desejar não acreditar.
Whitlock tentou falar, mas ninguém ouviu. O xerife tentou libertar-se à força, mas três homens da cidade agarraram-lhe os braços antes que pudesse magoar mais alguém. Jake não teve de dar um soco. A própria verdade fez a luta. Ao pôr do sol, Collins estava a ferros na sua própria cadeia, vigiado por homens que costumavam temê-lo. Whitlock foi levado para interrogatório por homens que já não tinham medo dele.
E Elise estava na porta da missão, não como uma freira fugitiva, mas como a mulher que finalmente trouxe luz a um lugar que tinha estado escuro por demasiado tempo. Em vez disso, Elise ficou e trabalhou ao lado das outras irmãs, limpando a casa de mais maneiras do que uma. Registos foram organizados e bocas famintas foram finalmente alimentadas com o dinheiro que lhes tinha sido negado por tanto tempo.
Todos os sábados à noite, quando o trabalho estava feito e a luz se tornava suave sobre a pradaria, Jake cavalgava até lá e esperava junto à cerca. Ela ainda usava o seu hábito e ainda não tinha decidido o que fazer com os seus votos. Mas ambos sabiam que algo tinha começado naquele dia na relva quando um rancheiro desgastado apanhou uma freira desgastada e se recusou a deixá-la desaparecer.
Por vezes, o tipo mais corajoso de amor não grita dos telhados. Apenas cavalga todos os sábados à noite, amarra o cavalo ao mesmo poste da cerca e espera calmamente na luz dourada até ao dia em que ela esteja finalmente pronta para sair e encontrá-lo.