
A neve caía em suaves flocos preguiçosos cobrindo o banco do parque onde Victoria Sterling se sentava durante sua pausa para o almoço.
Com 35 anos, ela era a CEO mais jovem da história de sua empresa. Depois de assumir o comando do Sterling Media Group há 3 anos, após a aposentadoria de seu pai, usava um elegante casaco creme perfeitamente ajustado, com um cachecol cor de camelo enrolado no pescoço.
Seus cabelos loiros estavam em suaves ondas, a maquiagem impecável apesar do frio. Ela conferia seu celular, respondendo ao fluxo interminável de e-mails que parecia nunca parar, quando ouviu uma vozinha:
“Com licença, senhora.”
Victoria levantou os olhos e encontrou uma menininha em pé à sua frente, talvez com quatro ou cinco anos. Ela tinha cabelos loiros claros presos em um rabo de cavalo bagunçado e vestia um casaco marrom com capuz que parecia um pouco grande demais.
Em sua pequena mão, ela segurava um ursinho de pelúcia gasto.
“Sim”, disse Victoria, suavizando automaticamente seu tom. Algo na expressão solene da criança a tocou.
“Você está triste?” perguntou a menininha.
Victoria piscou, surpresa. “O que te faz pensar que estou triste?”
“Você se parece com meu papai às vezes, quando ele acha que não estou olhando, como se estivesse carregando algo pesado.” A menina inclinou a cabeça.
“Você está sozinha?” Victoria sentiu algo prender em sua garganta. Como aquela criança havia percebido isso tão facilmente?
“Às vezes”, admitiu ela. “Você está aqui com seus pais?”
“Apenas meu papai. Ele está ali.” A menina apontou para um homem em um banco próximo falando ao telefone. Ele parecia estressado, passando a mão livre pelos cabelos escuros.
“Ele está sempre no telefone por causa do trabalho. Ele diz que é importante.”
“Eu entendo isso”, disse Victoria suavemente. Ela entendia muito bem.
“Meu nome é Sophie”, disse a menininha. Ela levantou o ursinho. “Este é o Sr. Urso. Qual é o seu nome?”
“Victoria.”
Sophie a estudou com olhos sérios. Então, em uma voz baixa que quase partiu o coração de Victoria, disse:
“Eu não tenho mamãe. Ela está no céu.
Papai diz que ela está me olhando, mas às vezes eu realmente gostaria de poder vê-la, conversar com ela, ter alguém para fazer coisas de meninas comigo, sabe?”
O peito de Victoria se apertou.
“Sinto muito, querida. Deve ser muito difícil. Papai tenta. Ele realmente tenta. Mas ele está sempre trabalhando e não sabe fazer tranças. E às vezes eu só quero…” Sophie parou, depois olhou para Victoria com olhos esperançosos.
“Senhora, posso passar um dia com você? Só um dia. Você poderia ser minha mamãe por um dia. Poderíamos fazer coisas de meninas. Prometo que vou me comportar.”
Victoria sentiu lágrimas se formarem em seus olhos.
“Sophie, eu…”
“Por favor.” A voz de Sophie era tão pequena, tão esperançosa. “Papai está sempre ocupado e eu não tenho ninguém para fazer coisas de mamãe comigo.
Podemos tomar sorvete ou olhar coisas bonitas, ou você poderia me ensinar coisas que mamães ensinam suas filhas. Por favor.”
Victoria olhou para aquela pequena criança, para a solidão em seus olhos que refletia a própria solidão de Victoria, e sentiu algo mudar em seu peito. Ela olhou para o homem no banco, ainda absorto em sua ligação, claramente estressado e sobrecarregado.
“Deixe-me falar com seu papai primeiro.”
“Ok, precisamos ter certeza de que ele concorda.” O rosto de Sophie se iluminou como na manhã de Natal.
“Sério? Você vai perguntar a ele?”
“Vou perguntar.” Sophie agarrou a mão de Victoria e a puxou em direção ao homem no banco. À medida que se aproximavam, Victoria pôde ouvir a conversa dele.
“Eu entendo o prazo, mas sou pai solteiro. Não posso mais trabalhar 16 horas por dia. Tem que haver alguma flexibilidade. Sim, eu sei que o projeto é importante. Estou fazendo o meu melhor.”
Ele olhou para cima quando se aproximaram e rapidamente encerrou a ligação. Perto, Victoria percebeu que ele provavelmente estava no final dos 30 anos, com olhos gentis, mas cansados. Vestia jeans e jaqueta escura e parecia não ter dormido bem há dias.
“Sophie, querida, eu te disse para não incomodar as pessoas.” Sua voz era gentil, mas cansada.
“Eu não a incomodei. Papai, eu perguntei algo importante a ela.”
Sophie olhou para Victoria encorajando-a. Victoria estendeu a mão:
“Sou Victoria Sterling. Sua filha fez um pedido muito doce e eu queria discutir isso com você devidamente.”
O homem apertou sua mão, expressão cautelosa.
“Sou James Wilson. Que tipo de pedido?”
“Ela perguntou se poderia passar um dia comigo para fazer coisas de meninas e ter alguém para ser sua mamãe por um dia.”
A voz de Victoria era suave. “Ela me disse que sua mãe faleceu.”
O rosto de James se contraiu ligeiramente. “Sophie, querida, você não pode simplesmente pedir isso a estranhos.”
“Mas ela não é mais uma estranha, papai.”
“Papai, o nome dela é Victoria e ela é muito legal e parece solitária como a gente, e talvez todos nós possamos ser menos solitários juntos.”
As palavras de Sophie saíram em um fluxo. James olhou entre sua filha e Victoria, claramente dividido entre proteger a criança e reconhecer sua necessidade.
“Senhorita Sterling, aprecio sua bondade, mas não poderíamos nos impor.”
“Você não está se impondo”, Sophie perguntou. E, honestamente, Victoria fez uma pausa, surpresa com sua própria honestidade.
“Eu acho que preciso disso tanto quanto ela.”
Algo na voz de Victoria deve ter convencido James, porque sua expressão suavizou.
“Podemos sentar e conversar sobre isso devidamente?”
Eles se sentaram no banco juntos, Sophie entre eles, enquanto Victoria explicava. Ela contou que era CEO de uma empresa de mídia, que nunca havia se casado, nunca teve filhos, que dedicara tudo à carreira, que naquela manhã, seu 35º aniversário, percebeu que estava completamente sozinha. Sem família, sem amigos próximos, apenas trabalho e mais trabalho.
“Vim a este parque para pensar”, disse Victoria suavemente.
“Para descobrir se esta é realmente a vida que quero.”
“E então Sophie apareceu e viu através de mim. Ela é uma menina muito perceptiva.”
“Ela é”, concordou James, olhando para sua filha com tanto amor que apertou o peito de Victoria. A mãe dela era assim. “Ela faleceu há 2 anos. Câncer. Desde então, somos apenas nós.
Estou tentando ser os dois pais, mas estou falhando. Sou engenheiro de software e minha empresa exige mais horas, e Sophie precisa de atenção que nem sempre consigo dar. Ela precisa de influência feminina, alguém para ensiná-la coisas que não sei ensinar.”
“E se”, disse Victoria lentamente, “fizéssemos disso algo regular? Não apenas um dia, mas talvez um dia por semana.
Eu poderia levar Sophie durante o dia, fazer atividades com ela, te dar algum tempo para trabalhar ou descansar, e isso me daria…”
Ela olhou para Sophie, que a observava com olhos esperançosos.
“Isso me daria algo que eu não sabia que estava faltando.”
James a estudou cuidadosamente.
“Senhorita Sterling. Victoria, por favor. Por que você faria isso? Você não nos conhece.”
“Porque sua filha me perguntou se eu estava sozinha, e percebi que estou. Passei 15 anos construindo uma carreira e esqueci de construir uma vida. E porque ela me olha como se eu pudesse ser importante para alguém. Você sabe o quão raro é isso?”
James ficou em silêncio por um longo momento. “Posso pensar sobre isso? Talvez possamos trocar informações. Você poderia fornecer referências. Podemos fazer isso de forma segura e adequada.”
“Claro.”
“Inteligente?” Victoria puxou um cartão de visita, com seu número do trabalho, e escreveu seu celular pessoal no verso. “Me ligue se decidir que se sente confortável com isso. Sem pressão.”
Naquela noite, James ligou. Conversaram por mais de uma hora. Ele fez perguntas cuidadosas sobre seu passado, suas intenções, sua vida. Ela respondeu honestamente. No final da conversa, concordaram em tentar. Um sábado por mês, para começar. Ver como seria.
No primeiro sábado, Victoria buscou Sophie às 9 da manhã. Mal havia dormido na noite anterior, nervosa e animada ao mesmo tempo. Planejara um dia inteiro: café da manhã em um café, depois o museu infantil, almoço e talvez algumas compras.
Sophie apareceu na porta com seu casaco marrom, segurando o Sr. Urso, o rosto iluminado de empolgação.
“Você veio?”
“Claro que vim. Eu prometi, não é?”
Passaram o dia fazendo todas as coisas que Victoria planejou e várias que não planejara. Sophie queria ver tudo, tocar em tudo, perguntar sobre tudo. Segurava a mão de Victoria enquanto caminhavam, tagarelava sobre seus sonhos, medos e coisas favoritas.
No almoço, Sophie disse:
“Victoria, posso te contar uma coisa?”
“Sempre.”
“Minha mamãe costumava me levar para chocolate quente antes de ficar doente. Eu senti falta disso.”
Victoria sentiu lágrimas nos olhos.
“Quer tomar chocolate quente depois do almoço?”
“Sim, por favor.”
Sentaram-se no café bebendo chocolate quente com chantilly, e Sophie contou sobre a mãe, como cantava canções de ninar, fazia panquecas engraçadas e sempre sabia quando Sophie precisava de um abraço.
“Não estou tentando substituí-la”, disse Victoria gentilmente.
“Sua mamãe parecia maravilhosa.”
“Ela era. Mas papai diz que é ok amar outras pessoas também. Que mamãe gostaria que eu tivesse pessoas que se importassem comigo.”
“Você se importa comigo, Victoria?”
“Sim”, disse Victoria, percebendo que era verdade. “Eu me importo.”
Um sábado por mês virou dois. Depois, todos os finais de semana, Victoria se viu reorganizando sua agenda, delegando mais no trabalho, saindo mais cedo do escritório — coisas que nunca havia feito, inimagináveis há seis meses.
Ela ensinou Sophie a fazer tranças, assaram biscoitos, visitaram zoológico, aquário e museus de arte. Victoria comprava livros, roupas e brinquedos para Sophie, depois parava, preocupada em exagerar. Mas James garantiu que estava tudo bem.
“Você está dando a ela algo que eu não consigo”, disse James numa noite, quando buscou Sophie.
“Você está dando atenção e orientação feminina.”
“Honestamente, você também me dá algo. Tempo para respirar. Tempo para ser um pai melhor porque não estou tão sobrecarregado. Ela me dá mais do que eu dou a ela”, admitiu Victoria.
“Eu estava tão sozinha, James. Não percebi o quanto até Sophie me perguntar se eu estava sozinha.”
Seis meses depois, Sophie pediu que Victoria fosse à festa do chá de mães e filhas da escola.
“Eu sei que você não é minha mamãe de verdade”, disse Sophie cuidadosamente.
“Mas você é a pessoa mais próxima que tenho. Você poderia ir, por favor?”
Victoria participou da festa do chá, sentando-se com Sophie numa mesinha, bebendo chá de mentirinha em xícaras pequenas. Conheceu a professora, que supôs que Victoria era a mãe de Sophie e não corrigiu. Observou Sophie apresentá-la aos amigos com orgulho.
“Esta é Victoria. Ela é minha pessoa especial.”
Depois da festa, enquanto caminhavam até o carro, Sophie segurou a mão de Victoria.
“Obrigada por ter vindo. Eu era a única criança que não sabia se teria alguém lá, mas você veio.”
“Sempre vou vir quando você precisar, querida. Sempre.”
Naquela noite, James convidou Victoria para jantar. Tornou-se rotina ela ficar depois de trazer Sophie para casa. Comiam juntos, conversavam sobre as semanas, sobre Sophie, sobre a vida.
“Posso te perguntar uma coisa?” disse James, depois que Sophie foi para o quarto.
“Claro.”
“Quando Sophie pediu para passar um dia com você, por que você realmente disse sim?”
A verdade, Victoria ficou quieta por um momento.
“Porque passei meu aniversário inteira sozinha. Porque percebi que construí uma carreira impressionante, mas não tinha ninguém para compartilhar. Porque eu estava sentada naquele banco, me perguntando se era isso tudo na vida. E então essa menina apareceu e viu através de toda minha armadura e perguntou se eu estava sozinha. E eu não pude mentir para ela.”
A voz de Victoria suavizou.
“Ela me salvou, James. Tanto quanto gosto de pensar que estou ajudando, ela me salvou de uma vida de conquistas sem sentido.”
James atravessou a mesa e segurou sua mão.
“Você também nos salvou. A nós dois. Sophie está mais feliz do que esteve desde que a mãe morreu. E eu…” Pausou. “Estou me apaixonando por você, Victoria. Não planejei. Não esperava. Mas vendo você com minha filha, vendo como você se importa com ela, conhecendo você nesses meses, estou apaixonado por você.”
Victoria sentiu lágrimas escorrerem pelo rosto.
“Eu também te amo, a vocês dois. Esta família que você me deixou fazer parte. Eu amo mais do que tudo que já construí ou conquistei.”
Casaram-se um ano depois. Sophie foi a daminha de honra, carregando o Sr. Urso e um buquê de flores, radiante de orgulho. No recepção, ela fez um discurso que fez todos chorar.
“Eu pedi para Victoria ser minha mamãe por um dia”, disse Sophie seriamente.
“E ela disse sim. E então ela ficou. Todos os dias.
Ela não é minha primeira mamãe, mas é minha mamãe para sempre, e estou muito feliz.”
Três anos depois, Victoria sentou-se no mesmo banco do parque onde conheceu Sophie.
Ela empurrava o carrinho com seu filho de seis meses, dela e de James, dormindo pacificamente. Sophie, agora com oito anos, estava ao lado lendo um livro.
“Com o que você está pensando?” perguntou Sophie, olhando para ela.
“Sobre o dia em que nos conhecemos. Sobre como você me perguntou se eu estava sozinha.”
“Você estava?”
“Muito. Não percebi até você perguntar. E você ainda está sozinha?”
Victoria olhou para a enteada, depois para o bebê no carrinho, e pensou em James esperando em casa.
“Não, querida. Não estou mais sozinha, graças a você.”
“Eu também não estou sozinha.”
Sophie se encostou no ombro de Victoria.
“Sabe de uma coisa?”
“O quê?”
“Acho que às vezes anjos vêm como meninas pequenas com ursinhos, e às vezes eles vêm como senhoras tristes em bancos de parques, e às vezes eles se encontram exatamente quando devem.”
Victoria beijou o topo da cabeça de Sophie.
“Acho que você está absolutamente certa.”
Mais tarde, Victoria pensaria sobre como uma pergunta de uma criança mudou toda sua vida.
“Como posso passar um dia com você?” tornou-se para sempre.
O momento mais solitário de sua vida foi o início do maior presente que já recebeu.
Ela estava sentada naquele banco, bem-sucedida e realizada, e completamente vazia, quando uma pequena menina com um ursinho apareceu e lhe ofereceu algo mais precioso do que qualquer conquista: um lugar para pertencer, uma família, amor.
Victoria passou anos construindo um império, mas Sophie a ensinou que a coisa mais importante que se pode construir é conexão, família, lar.
A carreira ainda existia. Victoria ainda comandava sua empresa, ainda tomava decisões importantes, ainda conquistava coisas impressionantes. Mas agora havia equilíbrio com jogos de futebol, histórias para dormir e jantares em família com uma enteada que a escolheu, um marido que a amava e um filho que completou a família.
Tudo porque uma pequena menina viu através de sua armadura e perguntou uma simples pergunta:
“Posso passar um dia com você?”
Um dia tornou-se para sempre. E Victoria Sterling, que passou a vida construindo sucesso, finalmente aprendeu o que significa construir algo que realmente importa: uma família, um lar, uma vida cheia não de conquistas, mas de amor.
Tudo porque disse sim a uma menininha solitária em um parque.
E aquela menininha a salvou de volta.