Maria do Rosário Incendeia Debate sobre Segurança Pública: Um Duelo de Verdades e Omissões com Tarcísio e Caiado

Brasília, DF – O Congresso Nacional viveu ontem um daqueles momentos raros em que a política transcende o discurso e se torna um confronto direto de visões de mundo. Em uma sessão que prometia ser mais um debate técnico sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) transformou o plenário em um tribunal de consciência. Com a voz firme de quem carrega décadas de militância, ela não apenas defendeu a iniciativa do governo federal, mas desferiu um ataque frontal e devastador contra os governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo Caiado (GO), expondo as fragilidades e omissões de suas políticas de segurança.
O Palco da Discórdia: Segurança Pública ou Palanque Eleitoral?
A sessão começou tensa, com os governadores convidados criticando duramente a proposta de integração nacional da segurança pública proposta pelo presidente Lula. Caiado, em particular, não poupou ataques, sugerindo que a iniciativa federal era uma interferência indevida. Mas foi quando Maria do Rosário tomou a palavra que a temperatura subiu drasticamente.
“A segurança pública precisa sair do palanque”, disparou ela, olhando diretamente para os governadores. “É muito triste quando a gente vê que a dor das pessoas se transforma no discurso de alguns políticos.” A deputada argumentou que a PEC não visa subordinar os estados, mas criar uma parceria estratégica para enfrentar um crime que não respeita fronteiras estaduais. “O crime não atua estado por estado. Ele se espalha a partir de São Paulo, a partir do Rio. Precisamos de uma coordenação nacional.”
O Golpe Fatal: Feminicídio e a Omissão dos Números
O ponto alto do discurso, no entanto, foi quando Maria do Rosário trouxe à tona uma realidade que muitos preferem ignorar: a violência contra a mulher. Com dados em mãos, ela confrontou Tarcísio de Freitas sobre o aumento alarmante dos casos de feminicídio em São Paulo.

“O discurso dos governadores omitiu aqui os números referentes ao feminicídio, que no estado de São Paulo cresceram na ordem de 30%. Só na cidade de São Paulo são 53%”, revelou, enquanto o plenário mergulhava em um silêncio desconfortável. Ela lembrou a recente e brutal cena de uma mulher sendo arrastada, contrastando-a com a precariedade das delegacias da mulher. “Só 13% das delegacias da mulher funcionam em turno integral em São Paulo. O feminicídio tem sido tratado como questão de menor relevância pelos senhores.”
Foi um momento de “destruição” retórica, onde a deputada usou fatos concretos para desmontar a narrativa de eficiência pregada pelos governadores. Ela questionou: “Está tudo bem? Não, não está.”
A Defesa dos Agentes e o Ataque ao Bolsonarismo
Maria do Rosário não parou por aí. Ela habilmente conectou a defesa dos direitos humanos com a proteção dos próprios agentes de segurança, lembrando que foi autora de leis que qualificam crimes contra policiais. Ela acusou os governadores de, ao apoiarem o governo anterior (de Jair Bolsonaro), terem contribuído para a perda de direitos previdenciários e trabalhistas desses servidores.
“Eu vejo aqui viúvas e familiares com 40% do salário. Vejo gente que perdeu a aposentadoria especial no governo que vossas excelências apoiaram”, acusou. A deputada foi além, ligando a postura dos governadores à defesa de um projeto político que culminou na tentativa de golpe de estado e na prisão de figuras proeminentes do bolsonarismo. “Esse Brasil agora tem banqueiro preso, general preso, ex-presidente que tentou golpe preso. Vossas excelências, quando estão contra essa PEC, estão de que lado?”

Inteligência vs. Força Bruta
A deputada defendeu que a nova segurança pública não pode ser feita apenas com “prendo e arrebento”, mas com inteligência, integração de dados e combate à lavagem de dinheiro. Ela criticou a “descapitalização” da Polícia Federal e a resistência dos governadores em aceitar a modernização proposta pela União.
“É preciso secar a fonte e a lavanderia de dinheiro que está muitas vezes nos bancos autorizados, nas fintechs da Faria Lima”, afirmou, apontando para o coração financeiro do país como parte do problema da criminalidade organizada.
Conclusão: Um Chamado à Responsabilidade
O discurso de Maria do Rosário foi mais do que uma defesa partidária; foi um chamado à responsabilidade. Ela expôs a hipocrisia de tratar a segurança pública como uma ilha isolada nos estados, enquanto o crime organizado opera como uma multinacional. Ao confrontar Tarcísio e Caiado, ela colocou em cheque a eficácia de suas gestões e a sinceridade de suas críticas ao governo federal.
A sessão terminou com a certeza de que o debate sobre segurança no Brasil está longe de ser resolvido, mas que, pelo menos naquela tarde, a voz das vítimas – especialmente das mulheres – ecoou mais alto do que os discursos políticos ensaiados.