O tilintar delicado dos talheres de prata e o murmúrio contido das conversas preenchiam o elegante pátio do Le Jardin, o restaurante mais prestigiado da cidade. As taças de cristal cintilavam sob a luz suave da noite, e o ar estava impregnado com os aromas de cordeiro assado e manteiga trufada.
Sentado sozinho numa mesa de canto, estava Thomas Reed — um homem de seus trinta e poucos anos, vestindo um terno impecável e um olhar vazio, típico de quem já se cansou do luxo.
Diante dele, pratos intocados: vieiras grelhadas, pães recém-assados e uma taça de chardonnay refletindo a chama trêmula das velas. Ele tinha tudo — dinheiro, poder, influência — mas, naquela noite, nada daquilo fazia sentido. Mexia no celular, sem emoção.
Do lado de fora, por trás das grades de ferro do restaurante, Layla tremia.
A menina, com não mais de sete anos, usava um vestido largo, rasgado, e os pés descalços estavam cobertos de poeira. Seu estômago roncava de fome, mas ela ignorava. Observava os clientes há mais de uma hora, na esperança de conseguir algum resto.
Ninguém a olhava. Quando um garçom se aproximou da lixeira com um prato de sobras, ela se aproximou timidamente.
— Sai daqui, moleca! — gritou ele. — Lugar de criança suja não é aqui.
Assustada, Layla correu e se escondeu atrás de uma coluna. Chorava, mas a fome era mais forte. Foi então que, pela porta aberta da varanda, viu o homem de terno azul-marinho, sozinho, com pratos ainda cheios.
Reuniu toda a coragem que tinha e atravessou descalça o chão de pedra da varanda. Um murmúrio de surpresa percorreu o restaurante.
— De onde veio essa criança? — cochichou uma mulher.
— A segurança não vê isso? — resmungou um homem.
O maître se apressou até ela.
— Você não pode estar aqui. Saia agora.
Mas antes que ele a afastasse, Layla deu um passo à frente, com os olhos fixos em Thomas.
— Senhor… — disse ela, com a voz trêmula. Thomas levantou os olhos do celular, surpreso. A frágil figura parecia deslocada entre os lustres e as toalhas de linho.
— Posso… comer com o senhor?
O garçom congelou. O restaurante ficou em silêncio. Thomas a encarou. Por um momento, viu nela a criança que um dia ele fora — faminto, invisível, com frio na alma.
— Senhor… quer que eu a tire daqui? — insistiu o garçom.
Thomas demorou a responder. Olhava aquelas bochechas fundas, os olhos de desespero.
— Não. — respondeu, mais alto do que pretendia.
— Como é? — disse o garçom.
— Você ouviu. Traga outro prato. Agora.
Os olhos de Layla brilharam.
— Sério? — sussurrou ela.
— Sim. Qual é o seu nome, querida?
— Layla.
Thomas se ajoelhou para ficar na altura dela.
— Venha, Layla. Sente-se comigo.
Murmúrios de incredulidade se espalharam.
— Isso é sério? — disse uma mulher, ofendida.
— Um milionário jantando com uma mendiga? Que absurdo.
Thomas ignorou todos. Puxou a cadeira ao lado e deu um tapinha no assento.
— Pode sentar. Esta noite, você é minha convidada.
O garçom hesitou, depois recuou, visivelmente desconfortável. Thomas olhou ao redor.
— Vocês estão todos olhando… Talvez devêssemos nos perguntar por que uma criança precisa pedir comida.
O restaurante mergulhou num silêncio constrangedor.
Layla pegou um pão ainda quente assim que chegou à mesa. Lágrimas escorriam pelo seu rosto sujo.
— Obrigada, senhor… achei que ninguém se importava.
A garganta de Thomas apertou. Pela primeira vez em anos, sentia algo real: compaixão.
— Vá devagar. — disse ele, oferecendo um copo de água. — Tem o suficiente, não precisa correr.
Mais cochichos.
— Ele vai mesmo deixá-la comer com ele?
— Isso é ridículo.
Mas algo no olhar de Thomas fez muitos se calarem.
O garçom voltou com um prato de frango assado, purê e legumes. Colocou diante de Layla e se afastou em silêncio. A menina o olhou, depois Thomas, e então começou a comer devagar, com os olhos ainda molhados.
A noite continuou, mas o restaurante nunca mais foi o mesmo. Thomas não apenas alimentou uma criança — ele lembrou a todos que humanidade não se serve apenas em pratos caros.