Lisboa, 1992: Quando o Horror Começou a Respirar
A brisa quente do verão varria os becos de Lisboa, mas em 31 de julho, ela trouxe consigo algo que congelaria a alma da cidade. Em um casebre abandonado na Póvoa de Santo Adrião, a polícia encontrou o corpo de uma jovem mulher. A cena era digna de um pesadelo: estrangulada, com os membros cuidadosamente separados do tronco, e os órgãos internos… ausentes.
Seu nome era Maria Valentina. “Tina” para os poucos que a conheciam. Apenas 22 anos. A brutalidade chocou até os inspetores mais experientes da Polícia Judiciária. Não se tratava de um crime comum. Havia precisão, método. Havia… uma mensagem.
Seis meses depois, outra Maria. Maria Fernanda, 24 anos, encontrada morta em Entrecampos. As mesmas marcas. As mesmas ausências.
Em março de 1993, uma terceira. Maria João, 27 anos. Nos arredores de Santo António dos Cavaleiros, sua morte selou a confirmação: Lisboa estava sob a sombra de um monstro em série.
As três vítimas tinham em comum a juventude, cabelos castanhos, histórico de vulnerabilidade social e dependência química. Mas foi outro detalhe que fez os investigadores estremecerem: todas se chamavam Maria.
Não havia sinais de violência sexual. Mas havia algo mais aterrador — os corpos, mesmo dilacerados, pareciam ter sido dispostos com cuidado, como se alguém os preparasse para uma audiência invisível.
Foi quando surgiram os sussurros.
Um nome começou a ecoar nos bastidores da polícia, nos jornais não publicados e nas conversas sussurradas entre agentes: Lisboa tinha seu próprio Jack. Nascia o temido pseudônimo: O Estripador de Lisboa.
O modus operandi era clínico. As vítimas eram mortas por estrangulamento enquanto ainda vivas e depois mutiladas com precisão cirúrgica, utilizando lâminas que poderiam ser bisturis. Especialistas cogitaram que o assassino teria conhecimento em anatomia. Talvez um médico. Talvez algo pior: um coletor de órgãos.
Teorias surgiram como fumaça. Alguns falavam em rituais. Outros, em crimes de ódio. E houve até quem suspeitasse de tráfico internacional de órgãos, ligando os assassinatos a casos semelhantes na Alemanha, Bélgica e Dinamarca.
Mas nada foi provado.
A Polícia Judiciária montou uma força-tarefa. Centenas de interrogatórios, buscas incansáveis, noites em claro. E mesmo assim… nenhum suspeito concreto.
E então, o silêncio.
Em 1993, como se cansado da sua própria violência, o Estripador desapareceu. Não mais cadáveres. Não mais pistas.
Mas o medo, esse não partiu.
Os anos passaram, e o caso, não resolvido, caiu sob o peso da burocracia. O estatuto de limitações impediu que a investigação formal fosse reaberta. O assassino, se ainda vive, permanece livre. Anônimo. Impune.
Mesmo assim, o nome assombra. Em 2010, a RTP produziu a série “Cidade Despida”, inspirada nos bastidores do caso. Blogues e documentários voltaram a recontar os detalhes, tentando — em vão — preencher o vazio deixado pela ausência de justiça.
Hoje, Lisboa caminha sobre memórias cobertas por asfalto e esquecimento. Mas para os que lembram, o caso do Estripador é mais do que um mistério: é uma ferida aberta. Um lembrete de que, às vezes, o verdadeiro terror não usa máscara. Ele apenas… desaparece.