Damien Lefèvre tinha apenas 23 anos quando, de repente, viu sua vida desmoronar. A morte inesperada de seu pai lhe roubou não apenas o pilar central de sua existência, mas também o que ele considerava ser o seu futuro. De um dia para o outro, ele se viu imerso em um mar de dívidas, com credores rondando a casa, e uma pilha de contas impossíveis de pagar se acumulando a cada dia. Seu mundo antes estável se transformou em um pesadelo que parecia não ter fim. A pressão de manter tudo de pé recaía sobre seus ombros frágeis, e ele, com 23 anos, não sabia mais onde se apoiar.
Mas Damien não estava sozinho. Sua mãe, Marianne, lutava contra um câncer terminal, e sua irmã, Clémence, com apenas 14 anos, ainda sonhava em se tornar veterinária. Damien, por sua vez, mal conseguia equilibrar sua vida entre o curso de direito que estudava durante o dia e os trabalhos esporádicos de advogado que fazia à noite, tentando manter a família à tona. O sono, que deveria ser um refúgio, se tornava uma luta diária contra a exaustão e a preocupação.
Em meio a esse caos, um evento apareceu como um lampejo de luz, mas que, como ele logo descobriria, mudaria toda a sua vida de formas que ele jamais poderia imaginar.
Era uma sexta-feira, depois de um longo dia de trabalho, quando seu supervisor o procurou. O tom era diferente, mais pessoal, quase insistente: “Você precisa vir a essa reunião privada”, disse ele. “Não é nada formal, só pessoas influentes em um ambiente descontraído. Você precisa de um respiro.”
Damien quase recusou. Ele estava cansado, mentalmente exausto, e sentia que mal conseguia respirar, quanto mais participar de um evento social. Mas algo dentro dele, talvez a curiosidade ou o desejo de escapar um pouco daquela rotina esmagadora, fez com que ele aceitasse.
Naquela noite, ele se viu em uma villa luxuosa, cercada por candelabros cintilantes e champanhe. Os convidados pareciam distantes, alienados, em um mundo onde ele não se encaixava. Mas, naquele mar de rostos vazios, ela apareceu.
Élise Montel.
Ela não se destacava por sua idade — tinha 71 anos — mas pela presença imponente que emanava. Era como se o ambiente inteiro mudasse assim que ela entrava na sala. Elegante, magnética e com uma serenidade que assustava, ela era uma mulher que não apenas ocupava o espaço, mas o dominava. Não havia como ignorá-la.
Damien e Élise conversaram brevemente. As palavras dela foram precisas, quase afiadas, e sua expressão era enigmática. Mas, ao sair, algo nela permaneceu com Damien. Algo que ele não conseguia identificar, mas que o incomodava e, ao mesmo tempo, o fascinava.
Três dias depois, ela ligou.
“Damien”, sua voz era suave, quase cristalina. “Você se lembra de mim?”
Ele, claro, lembrava. Mas não fazia ideia do motivo pelo qual ela o procurava novamente.
“Eu gostaria de te ver novamente”, ela continuou. “Tenho algo que quero te oferecer.”
Quando se encontraram, Élise não perdeu tempo. Era como se estivesse fazendo uma proposta de negócios, sem rodeios.
“Quero me casar com você”, disse ela, olhando-o diretamente nos olhos.
Damien ficou sem palavras. Ela não estava brincando. Não havia flerte, nem hesitação. A proposta estava lá, fria e clara como a taça de vinho em suas mãos.
“Eu não estou interessada em amor”, ela disse, sem adornos. “Não se trata disso.”
O que ela oferecia não era um conto de fadas, mas uma transação direta: ela pagaria todas as dívidas da família dele, cobriria os tratamentos de sua mãe, financiaría a educação de sua irmã. Em troca, Damien se casaria com ela. Ficaria ao seu lado quando necessário, mantendo um acordo discreto e digno.
“Por que eu?” Damien perguntou, sentindo-se como se estivesse em um pesadelo surreal.
“Porque”, ela respondeu com firmeza, “eu te observei. E vejo quem você realmente é.”
Damien assinou os papéis. O “sim, quero” foi dado em uma cerimônia civil sem convidados. Os jornais logo o apelidaram de “estranho”, “caçador de fortunas” e “escandaloso”. Mas para Damien, nada disso importava. Ele não fez aquilo por dinheiro.
Ele fez porque precisava sobreviver.
Uma semana depois do casamento, Élise colocou um envelope creme sobre a mesa do café da manhã. Dentro, havia uma carta manuscrita e um diagnóstico.
Ela estava morrendo. Uma doença terminal. Nenhum tratamento poderia salvá-la.
Mas não era uma confissão de fraqueza. Era um legado. Um passo de antorcha.
Com a carta, Élise lhe entregava não apenas o conhecimento de sua condição, mas também a herança de uma vida inteira de escolhas feitas com precisão. Ela não tinha tempo a perder. E queria, de alguma forma, garantir que Damien pudesse continuar. Continuar vivendo, continuar lutando, mesmo quando ela não estivesse mais lá.
A carta não era um adeus, mas um convite à ação. Para que ele pudesse pegar sua vida de volta, um pedaço por vez. Para que ele pudesse, finalmente, ver que o futuro dele não estava perdido, mesmo que, para ela, o tempo estivesse se esgotando.