“O dia do sim que virou o dia do não”
Tudo estava preparado para ser o dia mais feliz da vida deles. As flores estavam perfeitamente alinhadas nos arranjos, a música suave tocava ao fundo, os convidados usavam seus melhores trajes e os fotógrafos se posicionavam para capturar cada detalhe do que deveria ser uma celebração de amor.
A noiva descia as escadas com um sorriso impecável, coberta por um vestido branco cintilante. O noivo, elegante e sereno, esperava com olhos brilhando de expectativa. Ao lado dele, sentado calmamente, estava Roy – seu cão fiel, de olhar atento e postura impecável. Para muitos, apenas um animal. Para ele, família.
Roy era um cão gentil. Nunca havia rosnado para ninguém. Era o tipo de cachorro que sabia quando alguém precisava de conforto e quando era hora de dar espaço. O noivo o havia treinado desde filhote e, desde então, eram inseparáveis.
Mas a noiva… a noiva nunca gostou de Roy.
Na primeira vez que ele se aproximou durante os preparativos, ela franziu o nariz com desdém. “Ele cheira a cachorro”, reclamou, como se isso fosse uma falha de caráter. Depois exigiu que ele fosse preso longe da festa. O noivo tentou mediar, garantindo que Roy ficaria ao lado dele, sem causar incômodo. Mas a antipatia dela era evidente — fria, impaciente e constantemente irritada com a presença do cão.
Durante a festa, as coisas pioraram.
A noiva começou a se comportar de forma imprudente. Gritou com a sogra por um detalhe da maquiagem. Riu de forma debochada de um presente simples dado por uma tia do noivo. E o que começou com um brinde virou uma sequência descontrolada de taças de champanhe vazias.
O noivo, constrangido, tentava manter a calma. Repetia para si mesmo: é só o estresse, é o nervosismo do casamento. Mas algo nele começava a mudar. Ele observava. Anotava cada gesto dela em silêncio.
Foi então que aconteceu.
Roy estava deitado ao lado do noivo, em paz, como sempre. A noiva, cambaleando levemente, se aproximou dele com olhar duro. Sem aviso, sem hesitação, pisou com força no rabo do cachorro.
O grito de dor de Roy rasgou o ambiente. Num reflexo, o cão girou e mordeu a mão da noiva. Não foi um ataque. Foi autodefesa. Mas o salão inteiro congelou.
A noiva soltou um grito agudo, segurou a mão ensanguentada e, em um acesso de fúria, agarrou uma garrafa da mesa. Levantou-a, como se fosse acertar o animal.
— Não ouse tocar no meu cachorro! Você mesma o provocou! — gritou o noivo, com firmeza e desprezo na voz.
— Eu pisei na cauda dele sem querer! — respondeu ela, com o rosto distorcido de raiva.
— Sem querer? — O noivo deu um passo à frente e a encarou nos olhos. — Eu vi tudo. E ia bater com a garrafa também por acidente?
A sala estava muda.
Ela hesitou. Tentou se justificar: “Eu estava em choque… a dor no braço… foi instinto…”
Mas o noivo não se comoveu.
Ele se ajoelhou ao lado de Roy, que tremia, com as orelhas abaixadas e os olhos cheios de medo.
— Que choque? — perguntou em tom gélido. — Você sempre reage assim quando é contrariada? Sempre desconta nos que não podem se defender?
A noiva permaneceu parada, apertando a mão ferida, mas sem conseguir responder. Nenhuma palavra saía. Não havia desculpa plausível. Não havia máscara que sustentasse.
O noivo se levantou. Respirou fundo. E então, com a voz baixa e firme, disse:
— Não haverá casamento.
Foi como se o mundo tivesse parado. As flores deixaram de importar. Os convidados apenas se entreolharam, incrédulos. A música cessou. O encanto do momento se quebrou, revelando uma verdade dura e necessária.
Ele se abaixou, abraçou Roy com força. O cão, ainda trêmulo, lambeu sua mão com ternura — um gesto silencioso de gratidão. Um obrigado vindo do coração.
E então, sem alarde, o noivo e seu melhor amigo saíram, deixando para trás um altar, um vestido, uma mentira.