(1852, Salvador) O Caso Profano dos Trigêmeos da Senzala que a Igreja Tentou Esconder

Imagine três crianças nascidas sob um eclipse, capazes de sentir a dor das outras, com símbolos misteriosos surgindo em suas peles. Em 1852, no Engenho São Bartolomeu, próximo a Salvador, os trêmeos Adílio, Aíra e Amaru desafiam tudo que a igreja e os senhores acreditam sobre o mundo. Quando tentam separá-los, descobrem que mexer com eles é mexer com forças que nem a fé consegue explicar.
Antes de começar essa história que vai te arrepiar, se inscreve no canal, ativa o sininho e me conta nos comentários de onde você está assistindo. Quero saber se você acredita em milagres ou maldições. O sol estava se pondo sobre o engenho São Bartolomeu quando o primeiro grito ecoou pela cenzala. Era 1852 e ninguém imaginava que aquela noite mudaria tudo para sempre. O eclipse começou às 7 da noite e Emanjá, a parteira mais respeitada da Senzala, nunca tinha visto nada igual.


Três bebês nascendo ao mesmo tempo de mães diferentes, enquanto a lua devorava o sol como se o mundo fosse acabar. “Meu Deus do céu!”, sussurrou, limpando o suor da testa com as costas da mão. O primeiro bebê saiu em silêncio absoluto, nenhum chorinho. Adílio olhou direto para ela, com olhos que pareciam velhos demais para um recém-nascido.
“Esse menino não é normal”, murmurou Benedita, a mãe segurando o filho contra o peito. “Olha como ele me encara!” E Emanjá não teve tempo de responder. Do outro lado da censala, Jurema gritava: “O segundo bebê estava chegando. Aira nasceu com os punhos cerrados, como se já viesse brigando com o mundo, mas o estranho era outro”.
No exato momento que ela saiu, Adílio começou a chorar, como se sentisse a dor da irmã que nem conhecia. Que coisa mais esquisita”, disse Jurema ofegante. “Por que aquele menino ali tá chorando junto com minha filha?” E Emanjá olhou de um bebê para o outro, distância de 5 m, mães diferentes, mas os dois choravam no mesmo ritmo, como se fossem um só.
O terceiro nascimento foi o mais estranho de todos. Amaru veio ao mundo quando o eclipse estava no auge. Escuridão total. As velas tremularam como se um vento gelado tivesse entrado na cenzala, mas não havia brisa nenhuma. Conceição, a terceira mãe segurou o filho e arrepiou toda. “Esse menino tá gelado que nem gelo”, disse a voz trêmula. E Emanjá tocou a criança.
A pele estava fria, mas o coração batia forte. Aconteceu algo que ela levaria para o túmulo. Os três bebês pararam de chorar ao mesmo tempo. Silêncio absoluto, como se tivessem combinado. “Eles se conhecem”, sussurrou Emanjá. “Não sei como, mas eles se conhecem”. Benedita balançou a cabeça. “Parteira, a senhora tá falando besteira.
Como três bebês de mães diferentes vão se conhecer?” Mas Imanjá tinha razão. Nos dias seguintes, ficou claro que os trigmeos compartilhavam algo inexplicável. Quando Adílio chorava de fome, Aira e Amaru ficavam inquietos. Quando a Ira adoecia, os outros dois perdiam o apetite. E quando Amaru dormia, os irmãos caíam no sono na mesma hora. Isso não é coisa de Deus”, murmurou Sinália, a esposa do senhor do engenho, observando as crianças pela janela da casa grande.
Três crianças nascendo juntas sob epse. Isso é coisa do demônio. Seu marido, coronel Bartolomeu, deu de ombros: “Mulher, deixa de superstição. São só crianças”. Mas ele mudou de opinião três meses depois. Foi numa manhã de dezembro. Adílio, que mal tinha três meses, estava no colo da mãe quando começou a chorar sem parar. Benedita tentou de tudo.
Leite, colo, cantiga, nada funcionava. Do outro lado da cenzala, Aira também chorava e Amaru, no colo de Conceição, berrava como se estivesse sendo machucado. “Que inferno é esse?”, Gritou João Batista, o feitor, saindo da casa dele irritado. Não dá para trabalhar com essa choradeira.
Ele se aproximou de Benedita com a cara fechada. Cala essa criança ou eu calo. Benedita abraçou o filho mais forte. Senor João, ele tá doente. Não consigo fazer parar. O feitor perdeu a paciência, levantou a mão para dar um tapa no bebê. E foi aí que aconteceu. A mão de João Batista travou no ar. literalmente travou, como se uma força invisível tivesse segurado seu braço.
“Que diabos?”, murmurou tentando mover o braço. “Nada.” Os três bebês pararam de chorar na mesma hora. Silêncio total. E todos os olharam para o feitor com uma expressão que gelou o sangue dele. Não eram olhares de bebês, eram olhares de quem sabia exatamente o que estava acontecendo.
João Batista conseguiu baixar o braço depois de alguns segundos, mas as mãos tremiam descontroladamente. “Vocês viram isso?”, perguntou para as mulheres da Senzala a voz rouca. Todas tinham visto, mas ninguém respondeu. E Emanjá se aproximou devagar. Senhor João, talvez seja melhor deixar as crianças em paz. O feitor olhou para os trêmeos mais uma vez. Os três o encaravam em silêncio, como se estivessem esperando ele tentar de novo.
“Isso aqui não é normal”, sussurrou. “Isso aqui não é coisa de Deus.” Ele saiu da cenzala pisando duro, mas todos perceberam. João Batista estava com medo. Naquela noite, Coronel Bartolomeu recebeu a visita do feitor na Casa Grande. Coronel, precisamos conversar sobre aquelas três crianças.
Que crianças? Os trêmeos que nasceram no eclipse têm algo errado com eles. Bartolomeu serviu uma dose de cachaça para o feitor. João, você tá bebendo demais. São só bebês. Coronel. Eu tentei disciplinar um deles hoje. Minha mão travou no ar, na frente de todo mundo. O coronel parou com o copo na metade do caminho para a boca. Como assim? Travou. Travou como se uma força tivesse segurado meu braço.
E os três me olharam. Coronel, não eram olhares de criança. Era como se eles soubessem o que estavam fazendo. Bartolomeu bebeu a cachaça de uma vez. Você tá me dizendo que três bebês de três meses fizeram você parar de bater neles? É exatamente isso que eu tô dizendo. O coronel ficou em silêncio por um longo tempo, olhando pela janela em direção à cenzala.
E as mães, o que elas dizem? As mães estão com medo. Dizem que as crianças fazem coisas estranhas, que elas se comunicam sem falar, que quando uma se machuca, as outras choram. Bartolomeu se levantou e caminhou até a janela. Lá embaixo, a cenzala estava em silêncio, mas ele podia sentir que algo tinha mudado. O ar estava diferente, pesado.
“João, você acha que isso é coisa do demônio?” O feitor engoliu seco. Coronel, eu não sei o que é, mas sei que não é normal e sei que tá deixando todo mundo na cenzala nervoso. E o que você sugere? Acho que devemos chamar um padre. Alguém que entenda dessas coisas. Bartolomeu assentiu devagar. Vou mandar uma carta para Salvador amanhã.
Padre Antônio sempre soube lidar com situações delicadas. Naquela mesma noite, na cenzala, as três mães se reuniram em segredo. Benedita, você percebeu como seu menino ficou quieto depois que o feitor tentou bater nele? Sussurrou Jurema. Percebi e percebi que a mão do homem travou no ar. Conceição balançou a Maru no colo. Minhas avós contavam histórias sobre crianças especiais.
Crianças que nasciam com proteção dos antepassados. “Você acha que nossos filhos são protegidos?”, perguntou Benedita. Eu acho que nossos filhos são muito mais do que aparentam”, respondeu Conceição. “E acho que isso vai trazer problema pra gente.” Ejá, que escutava a conversa de longe, se aproximou. Meninas, vocês precisam ter cuidado.
O coronel vai chamar um padre e quando o padre se mete em assunto de criança diferente, a coisa fica feia. “O que a senhora acha que devemos fazer?”, perguntou Jurema, “proteger essas crianças. Custe o que custar, mas nenhuma delas imaginava o que estava por vir. Três dias depois, Padre Antônio chegou ao engenho São Bartolomeu, alto, magro, com olhos que pareciam enxergar a alma das pessoas. Ele tinha fama de limpar lugares onde o demônio tinha posto o pé.


Coronel Bartolomeu disse descendo da carruagem. Recebi sua carta. Vim assim que pude. Padre Antônio, obrigado por vir. Temos uma situação delicada. O padre olhou em direção à Senzala. Posso sentir? Há algo diferente no ar deste lugar. São três crianças. Nasceram no mesmo dia sob epse. Desde então, coisas estranhas têm acontecido.
Que tipo de coisas? Bartolomeu contou sobre o incidente com o feitor, sobre o comportamento sincronizado dos bebês, sobre o medo que tinha se espalhado pela cenzala. Padre Antônio escutou tudo em silêncio, as mãos cruzadas atrás das costas. Coronel, preciso ver essas crianças imediatamente. Eles caminharam em direção à Senzala. As mulheres se afastaram quando viram o padre se aproximando, mas as três mães ficaram onde estavam, protegendo os filhos.
“Essas são as crianças?”, perguntou o padre, parando a alguns metros de distância. São, respondeu Bartolomeu. Padre Antônio observou os trêmeos em silêncio. Adílio, Aira e Amaru o encaravam de volta, sem piscar, sem fazer barulho. Interessante, murmurou o padre. Eles não têm medo de mim. Isso é ruim? Perguntou o coronel. Crianças sempre sentem a presença de Deus através de seus servos.
Elas ficam calmas, sorridentes. Essas crianças estão me avaliando. O padre deu um passo à frente. Os três bebês continuaram o encarando. Posso pegar um deles? Benedita abraçou Adílio mais forte. Padre, ele é só um bebê. Exatamente por isso, preciso examiná-lo. Padre Antônio estendeu as mãos para Adílio. O bebê o olhou nos olhos por um longo momento.
Então, algo extraordinário aconteceu. Uma marca apareceu na testa de Adílio, um símbolo que parecia ter sido desenhado com tinta invisível, que de repente se tornou visível. Não era cristão. Era algo muito mais antigo. “Meu Deus”, sussurrou o padre. No mesmo instante marcas idênticas apareceram nas testas de Aira e Amaru.
As três mães gritaram, o coronel ficou branco que nem cal e Padre Antônio fez o sinal da cruz com as mãos tremendo. Coronel, disse a voz rouca, temos um problema muito maior do que eu imaginava. As marcas desapareceram tão rápido quanto apareceram. Padre Antônio piscou várias vezes, como se não acreditasse no que tinha visto.
“Vocês viram isso? Todo mundo viu, padre”, respondeu coronel Bartolomeu, a voz trêmula. “O que eram aqueles símbolos?” O padre não respondeu imediatamente. Caminhou em círculos ao redor das três mães, observando os bebês com olhos de quem estava tentando decifrar um mistério perigoso. Benedita, disse finalmente, você ou praticam algum tipo de ritual? Que tipo de ritual, padre? macumba, candomblé, qualquer coisa que não seja a palavra de Cristo. Benedita balançou a cabeça vigorosamente.
Não, senhor, sou cristã, sempre fui. O padre se virou para Jurema. E você? Também não, padre. Só rezo o terço que assim me ensinou. Conceição. A terceira mãe hesitou apenas por um segundo, mas o suficiente para o padre perceber. Conceição repetiu a voz mais firme. Responda à pergunta.
Padre, eu minha avó me contava histórias sobre os antepassados, sobre proteção, mas nunca pratiquei nada. Que tipo de histórias? Conceição olhou para o filho no colo. Amaru dormia tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Histórias sobre crianças especiais, crianças que nasciam com dons, com proteção dos que vieram antes.
Padre Antônio fechou os olhos e respirou fundo. Coronel, preciso falar com o senhor em particular. Eles se afastaram alguns metros. As mulheres da cenzala se aproximaram das três mães, formando um círculo protetor ao redor dos bebês. Padre, o que o senhor viu? Perguntou Bartolomeu.
Símbolos africanos muito antigos, mais antigos que o cristianismo nesta terra. O que isso significa? Significa que essas crianças não são apenas diferentes, elas são conectadas a algo que não deveria existir aqui. O coronel engoliu seco. O senhor está dizendo que elas são possuídas? Não. Exatamente. Possessão é quando algo ruim entra em uma pessoa. Isso é diferente.
É como se elas tivessem nascido já conectadas a outras forças. Que tipo de forças? Padre Antônio olhou de volta para os trigêmeos. Forças que a igreja tem tentado erradicar há séculos. Naquela noite, o padre se instalou na casa grande para observar a situação mais de perto, mas na verdade ele estava com medo de ir embora e deixar as crianças sem supervisão. “Sim a Eu lá”, disse durante o jantar.
“A senhora já notou algo estranho desde que essas crianças nasceram? A esposa do coronel parou de comer. Padre, agora que o senhor pergunta, sim, várias coisas. Que tipo de coisas? Os animais ficaram estranhos. Os cavalos não querem passar perto da cenzala. As galinhas param de botar quando as crianças choram. E tem mais. Continue.
As plantas ao redor da cenzala cresceram mais rápido que o normal, como se a terra tivesse ficado mais fértil. Padre Antônio e Coronel Bartolomeu se entreolharam. Isso é bom ou ruim? Perguntou o coronel. Depende, respondeu o padre. Pode ser bênção ou pode ser algo tentando se fortalecer. Enquanto isso, na cenzala, as três mães não conseguiam dormir.
Benedita, sussurrou Jurema, você viu como o padre ficou quando apareceram aquelas marcas? Vi, ele ficou com medo. E se ele tentar fazer alguma coisa com nossos filhos? Conceição se aproximou das duas. Meninas, preciso contar uma coisa para vocês. O quê? Minha avó me disse que quando crianças especiais nascem, elas sempre são perseguidas pelos que têm medo do poder delas. Que poder? Perguntou Benedita.
O poder de mudar as coisas, de proteger quem elas amam. de fazer justiça. Jurema balançou a ira no colo. Você acha que nossos filhos têm esse poder? Eu acho que nossos filhos são muito mais fortes do que qualquer um imagina. Na manhã seguinte, Padre Antônio decidiu fazer um teste. Coronel, quero tentar algo.
Preciso ver como essas crianças reagem à palavra de Deus. Eles foram até a cenzala com uma bíblia e um crucifixo. As três mães estavam amamentando os bebês quando eles chegaram. “Bom dia”, disse o padre. “Vim fazer uma oração pelas crianças”. Benedita olhou desconfiada: “Que tipo de oração, padre?” “Uma oração de proteção para afastar qualquer influência maligna”. O padre abriu a Bíblia e começou a ler em latim.
Os trêmeos, que estavam calmos começaram a ficar inquietos. “Padre”, disse Jurema, “leses não gostam disso.” “Exatamente o que eu esperava”, murmurou o padre, continuando a leitura. Adílio começou a chorar, depois a Ira, depois a Maru, mas não era um choro normal de bebê, era um som que fazia todo mundo na cenzala se arrepiar.
“Pare com isso!”, gritou Conceição. “O senhor tá machucando eles”. Padre Antônio levantou o crucifixo em direção às crianças. Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que qualquer espírito impuro se afaste dessas crianças. Foi aí que aconteceu algo que ninguém esperava. O crucifixo começou a esquentar na mão do padre, tanto que ele teve que soltar.
“Ai, meu Deus!”, gritou, olhando para a palma da mão vermelha. Os bebês pararam de chorar na mesma hora. Silêncio total. E então, pela primeira vez, eles sorriram, os três ao mesmo tempo. “Padre”, disse Coronel Bartolomeu, a voz trêmula. “O que acabou de acontecer?” O padre olhou para o crucifixo no chão, depois para as crianças, depois para sua mão queimada.
“Elas rejeitaram a bênção”, sussurrou. “Elas rejeitaram Cristo. Isso é possível?” “Não deveria ser. Bebês são puros. Eles não têm capacidade de rejeitar Deus. Conceição se levantou, segurando Maru contra o peito. Talvez eles não estejam rejeitando Deus, padre. Talvez eles só não gostem do Senhor. O padre a encarou com olhos furiosos.
Mulher, você está questionando um servo de Deus? Estou questionando alguém que tá tentando machucar meu filho. A tensão no ar era palpável. Todas as mulheres da cenzala se posicionaram atrás das três mães, formando uma barreira humana entre o padre e as crianças. Emanjá deu um passo à frente. Padre, com todo respeito, talvez seja melhor o senhor deixar as crianças em paz.
Essas crianças são uma ameaça à ordem cristã deste engenho”, respondeu o padre. Elas precisam ser corrigidas. Corrigidas como? Perguntou Benedita. O padre não respondeu, mas o olhar dele disse tudo. Naquela tarde, Padre Antônio escreveu uma carta urgente para o bispo de Salvador. Excelência, encontrei uma situação que requer intervenção imediata.
Três crianças nascidas sob e apresentam sinais claros de influência demoníaca, rejeitam bênçãos, manifestam símbolos pagãos e demonstram poderes que desafiam as leis de Deus. Solicito permissão para proceder com exorcismo ou se necessário, separação permanente das crianças de suas mães para evitar contaminação espiritual do restante da população escrava. A situação é grave e não pode esperar.
Ele selou a carta e entregou para um mensageiro. Leve isso para Salvador o mais rápido possível. É urgente. Enquanto isso, na cenzala as mulheres se organizavam. Meninas”, disse Emanjá, reunindo todas em círculo, “Vocês viram o que aconteceu hoje? Esse padre não veio aqui para ajudar. Ele veio para fazer mal às crianças.


” “O que podemos fazer?”, perguntou uma das mulheres. “Ele é padre, tem poder.” “Nós também temos poder,”, respondeu Conceição. “O poder de proteger nossos filhos”. Como Conceição olhou ao redor, certificando-se de que nenhum homem estava ouvindo. Minha avó me ensinou coisas, coisas que podem proteger crianças especiais. Que tipo de coisas? Sussurrou Benedita.
rituais de proteção, orações aos antepassados, maneiras de esconder o poder das crianças até elas ficarem mais velhas. Jurema balançou a cabeça. Conceição, isso é perigoso. Se o padre descobrir, se o padre descobrir o quê? Que estamos protegendo nossos filhos, ele já quer fazer mal a eles mesmo. E a manjá a sentiu devagar. A menina tem razão.
Às vezes, para proteger quem a gente ama, a gente precisa usar todos os recursos que tem. Então vocês topam? Perguntou Conceição. As três mães se olharam. Benedita foi a primeira a falar. Eu topo qualquer coisa para proteger meu filho. Eu também, disse Jurema. Conceição sorriu.
Então, hoje à noite, quando todo mundo estiver dormindo, vamos fazer um ritual de proteção. Mas elas não sabiam que João Batista, o feitor, estava escondido atrás de uma das casas, ouvindo cada palavra. Naquela noite, ele foi direto para a casa grande. Padre Antônio, preciso falar com o senhor. O que foi, João? As mães das crianças estão planejando alguma coisa.
Ouvi elas falando sobre rituais de proteção. O padre se levantou da cadeira como se tivesse levado um choque. Rituais? Que tipo de rituais? Não sei direito, mas falaram em orações aos antepassados e em esconder o poder das crianças. Padre Antônio começou a andar de um lado para o outro. Isso confirma minhas suspeitas. Essas mulheres estão envolvidas em práticas pagãs.
O que o senhor vai fazer? Vou impedir esse ritual e vou separar essas crianças de suas mães antes que seja tarde demais. Coronel Bartolomeu, que tinha ouvido a conversa, se aproximou. Padre, separar as crianças das mães não é um pouco extremo? Coronel? Essas crianças são uma ameaça e suas mães estão alimentando essa ameaça com práticas demoníacas.
Se não agirmos agora, pode ser que não tenhamos outra chance. E se as crianças reagirem mal à separação? O padre sorriu friamente. Por isso vou usar métodos especiais, métodos que a igreja desenvolveu especificamente para lidar com casos como este. Naquela mesma noite, enquanto as três mães se preparavam para o ritual de proteção, Padre Antônio se preparava para algo muito diferente. Ele abriu uma mala que tinha trazido de Salvador.
Dentro havia cordas benta, água benta, sal consagrado e algemas pequenas feitas especialmente para crianças. Coronel, disse, organizando os objetos. Amanhã de manhã vamos resolver essa situação de uma vez por todas. Como vamos separar os trêmeos? Cada um vai para um lugar diferente, longe um do outro, longe de suas mães e longe de qualquer influência pagã. Bartolomeu engoliu seco.
E se eles resistirem? Padre Antônio segurou uma das algemas pequenas. Eles são bebês, coronel. Como vão resistir? Mas na cenzala, os trêmeos não estavam dormindo. Estavam acordados, olhando para o teto, como se soubessem que algo estava vindo. E pela primeira vez desde que nasceram, eles não pareciam crianças indefesas, pareciam estar se preparando para uma guerra.
Meiaoite na cenzala. Conceição se levantou devagar, tomando cuidado para não acordar as outras mulheres. Benedita e Jurema já estavam esperando do lado de fora cada uma com seu bebê no colo. “Vocês trouxeram o que eu pedi?”, sussurrou Conceição. Benedita mostrou um punhado de terra que tinha pego do local onde os trêmeos nasceram.
Jurema tinha três pequenos pedaços de tecido das roupas que eles usavam no dia do nascimento. E você? Perguntou Jurema. Conceição abriu a mão. Três pequenas sementes que brilhavam fracamente na luz da lua. Sementes de dendê que minha avó me deixou. Ela disse que eram especiais.
Elas caminharam em silêncio até uma clareira nos fundos da cenzala, longe dos olhos curiosos. E a Emanjas esperava lá junto com duas outras mulheres mais velhas. Meninas, dissejá baixinho. Vocês têm certeza disso? Uma vez que começarmos, não tem volta. Tenho certeza, respondeu Conceição. Meu filho não vai ser machucado por ninguém.
Nem o meu, disse Benedita, nem o meu, completou Jurema. E Emanjá assentiu. Então vamos começar. Elas formaram um círculo. Os três bebês foram colocados no centro, cada um em uma pequena manta. Estranhamente, nenhum deles chorava. Era como se entendessem a importância do momento. Primeiro, disse Conceição, vamos plantar as sementes.
Ela fez três pequenos buracos na terra e colocou uma semente em cada um. Essas sementes vão crescer junto com nossos filhos, vão proteger eles. Benedita espalhou a terra do nascimento ao redor das sementes. Terra onde eles vieram ao mundo, terra que conhece eles desde o primeiro respiro.
Jurema colocou os pedaços de tecido sobre cada semente, roupas que tocaram a pele deles, que guardam a essência deles. E a Emanjá começou a cantar baixinho. Não era uma música cristã, era algo muito mais antigo, passado de geração em geração pelas mulheres da cenzala. Antepassados, protejam essas crianças, guardem elas do mal que vem. Façam elas fortes como a terra, sábias como o vento, unidas como as águas do mar. As outras mulheres se juntaram ao canto.
Suas vozes se misturaram na noite, criando uma harmonia que parecia fazer a própria terra vibrar. E então aconteceu algo extraordinário. As sementes começaram a brotar ali mesmo na frente delas. Em questão de minutos, pequenas mudas verdes emergiram da terra. “Meu Deus!”, sussurrou Benedita, “Isso é normal?” “Nada sobre nossos filhos é normal”, respondeu Conceição. “E isso é uma coisa boa”.
Os trêmeos, que até então estavam quietos, começaram a balbucear. Não eram sons de bebês normais, eram sons que pareciam responder ao canto das mulheres. Adílio estendeu a mãozinha em direção à muda mais próxima. Quando seus dedos tocaram a planta, ela cresceu mais alguns centímetros. “Vocês viram isso?”, perguntou Jurema arrepiada. A ira fez a mesma coisa.
Sua muda também cresceu. Amaru foi o último. Quando ele tocou sua planta, ela não apenas cresceu, floresceu. Pequenas flores brancas se abriram na escuridão da noite. “Eles são especiais mesmo”, murmurou Iemanjá. “Muito especiais! O ritual continuou por mais uma hora. As mulheres cantaram, oraram e pediram proteção aos antepassados.
E a cada momento, os trêmeos pareciam ficar mais conectados, não apenas uns com os outros, mas com algo maior. Quando terminaram, as três mudas tinham se transformado em pequenas árvores e os bebês dormiam tranquilos, como se uma grande paz tivesse descido sobre eles. Pronto, disse Conceição.
Agora eles estão protegidos. Protegidos de quê? Perguntou Benedita. de qualquer um que tentar separá-los ou machucá-los. Mas elas não sabiam que João Batista tinha visto tudo de longe. Na manhã seguinte, o feitor correu para a casa grande. Padre Coronel, vocês precisam ouvir isso. Padre Antônio e Coronel Bartolomeu estavam tomando café quando João Batista irrompeu na sala.
João, que desespero é esse? Perguntou o coronel. Eu vi, eu vi o ritual delas. O padre se levantou imediatamente. Que ritual? As mães dos trigêmeos. Elas fizeram um ritual na madrugada com cantos estranhos, sementes que brotaram na hora e as crianças fizeram as plantas crescerem só de tocar nelas.
Padre Antônio ficou branco. Você tem certeza do que viu? Absoluta, padre. Aquelas crianças não são normais. e suas mães estão usando magia negra para proteger elas. O padre começou a andar de um lado para o outro, as mãos tremendo. Isso é pior do que eu imaginava, muito pior. O que vamos fazer? Perguntou Bartolomeu.
Vamos agir imediatamente antes que elas façam outro ritual, antes que essas crianças fiquem ainda mais poderosas. O padre se dirigiu ao quarto onde tinha deixado seus materiais. João, reúna alguns homens de confiança. Vamos precisar de ajuda. Quantos homens? Todos que conseguir. E traga correntes, correntes fortes.
Uma hora depois, Padre Antônio, Coronel Bartolomeu, João Batista e seis homens armados marcharam em direção à Senzala. As mulheres perceberam que algo estava errado assim que viram o grupo se aproximando. “E manjá!”, sussurrou uma delas. Eles vêm com correntes. Protejam as crianças, disse manjá. Formem um círculo. Todas as mulheres da cenzala se posicionaram ao redor das três mães e dos trêmeos, mas elas sabiam que não seria suficiente contra homens armados.


“Mulheres!”, gritou padre Antônio quando chegou perto. Afastem-se das crianças imediatamente. Não respondeu Conceição, abraçando a Maru contra o peito. Não vamos deixar vocês machucarem nossos filhos. Essas crianças são uma ameaça à ordem cristã. Elas precisam ser separadas e purificadas. Elas são bebês! Gritou Benedita.
Que mal podem fazer? O padre apontou para as três pequenas árvores que tinham crescido durante a noite. Expliquem isso, então. Expliquem como plantas cresceram do nada em uma noite. As mulheres se entreolharam. Não tinham como negar o que era óbvio. João, disse o padre, peguem as crianças. Os homens deram um passo à frente.
As mulheres se fecharam ainda mais ao redor das mães. Não vamos deixar, dissejá. Então vocês vão ser castigadas junto com elas”, respondeu o padre. Foi aí que aconteceu. Os trêmeos, que até então estavam quietos, começaram a chorar. Mas não era um choro normal. Era um som que fazia a terra tremer, literalmente tremer.
“Que diabos?”, murmurou João Batista, tentando manter o equilíbrio. O choro dos bebês ficou mais alto e a terra tremeu mais forte. Padre”, disse um dos homens, a voz trêmula. “Talvez devêsemos reconsiderar”. “Não!”, gritou o padre. “Isso só prova que elas são perigosas. Peguem as crianças agora”. Os homens tentaram se aproximar, mas a cada passo que davam, o tremor ficava mais forte.
E então as três pequenas árvores começaram a crescer rapidamente. Em questão de segundos, elas se transformaram em árvores enormes, com galhos que se estendiam como braços protetores sobre as mulheres e as crianças. “Meu Deus do céu”, sussurrou o coronel Bartolomeu.
“O que está acontecendo? Um dos galhos se moveu, se moveu mesmo como se fosse um braço e bloqueou o caminho dos homens. Isso é obra do demônio”, gritou o padre. “Ataquem, não deixem que elas escapem!” Mas quando os homens tentaram passar pelos galhos, algo ainda mais extraordinário aconteceu. Os trêmeos pararam de chorar ao mesmo tempo. Olharam diretamente para os homens e pela primeira vez falaram: “Não palavras de bebês”. Palavras claras em uma voz que parecia vir de muito longe. Não toquem em nós.
O silêncio que se seguiu foi absoluto. Padre Antônio ficou paralisado. Isso. Isso é impossível. Bebês de três meses não falam. Esses falam, disse Conceição, a voz firme. E vocês ouviram o que eles disseram. Um dos homens deixou cair a corrente que estava segurando. Padre, eu não vou mexer com isso. Isso não é coisa de Deus.
Nem eu, disse outro. Crianças que fazem árvores crescerem e falam com três meses. Isso é coisa do outro mundo. Um por um, os homens começaram a recuar. Covardes! Gritou o padre. Vocês vão deixar o demônio vencer. Mas até João Batista estava com medo. Padre, talvez devêsemos pensar melhor sobre isso.
Não há nada para pensar. Essas crianças são uma abominação. Padre Antônio pegou o crucifixo e avançou sozinho em direção aos trêmeos. Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que vocês se submetam à vontade de Deus. Os bebês o olharam e sorriram. Não sorrisos de bebês, sorrisos de quem sabia exatamente o que estava fazendo.
O crucifixo na mão do padre começou a esquentar novamente. Desta vez tão quente que ele teve que largá-lo. “Vocês não têm poder sobre nós”, disseram os trigêmeos em uníssono, suas vozes ecoando de forma sobrenatural. O padre recuou, as mãos queimadas, o rosto pálido de terror. Isso, isso não pode estar acontecendo.
Está acontecendo, disse Conceição, e vai continuar acontecendo toda vez que alguém tentar machucar nossos filhos. Coronel Bartolomeu se aproximou do padre. Antônio, acho melhor irmos embora. Não, não podemos deixar essas essas coisas soltas. Mas os outros homens já estavam se afastando e as árvores continuavam crescendo, criando uma barreira cada vez maior entre eles e as crianças.
“Padre”, disse Bartolomeu, puxando-o pelo braço. “Vamos, precisamos pensar em outra estratégia.” Relutante, Padre Antônio se deixou levar, mas antes de sair, ele se virou para as mulheres. “Isso não acabou”, gritou. Vou escrever para o bispo. Vou trazer mais padres. Vou trazer o exército, se for preciso.
Traga quem quiser respondeu Conceição. Nossos filhos estarão protegidos. Quando os homens se afastaram, as mulheres finalmente respiraram aliviadas. Conceição, disse Benedita, ainda tremendo. O que acabou de acontecer? Nossos filhos se defenderam, mas eles falaram. Bebês de trs meses não falam.
Nossos bebês não são normais”, disse Conceição, olhando para Amaru com orgulho. “E isso é uma bênção.” E Emanjá se aproximou das três árvores gigantes que agora dominavam a paisagem da cenzala. Meninas, vocês percebem o que isso significa? O que significa que a partir de agora não há mais como esconder o que essas crianças são. Todo mundo vai saber. E isso é ruim.
Emanjá olhou em direção à casa grande, onde podia ver padre Antônio gesticulando furiosamente enquanto falava com o coronel. Pode ser, porque homens como aquele padre não desistem fácil e agora eles sabem que estão lidando com algo muito além do que imaginavam. Conceição abraçou a Maru mais forte. Então vamos ter que ficar ainda mais fortes. Como? Não sei ainda, mas vamos descobrir.
Naquela noite, Padre Antônio escreveu uma segunda carta para o bispo. Desta vez, muito mais urgente, excelência, a situação saiu completamente do controle. As crianças demonstraram poderes que desafiam as leis da natureza e da fé. Elas falam, controlam plantas e rejeitam símbolos sagrados.
Solicito intervenção imediata da Inquisição. Isso não é mais um caso de possessão simples, é algo muito mais perigoso. Temo que, se não agirmos rapidamente, essas crianças se tornem uma ameaça, não apenas para este engenho, mas para toda a região. O ele selou a carta com cera vermelha e entregou para o mensageiro mais rápido que conseguiu encontrar.
Leve isso para Salvador. Voe, se for preciso, e diga ao bispo que é questão de vida ou morte. Enquanto isso, na cenzala, as três mães se reuniram novamente. Meninas, disse Conceição, vocês percebem que nossa vida mudou para sempre hoje? Percebi, respondeu Benedita. Não há mais como fingir que nossos filhos são normais.
E não há mais como proteger eles só com rituais, disse Jurema. Eles vão precisar aprender a se proteger sozinhos. Eles já estão aprendendo disse Conceição, olhando para os trêmeos que dormiam tranquilos sob a proteção das árvores gigantes. A pergunta é: estamos preparadas para o que vem pela frente? Nenhuma delas tinha resposta para essa pergunta, mas todas sabiam que o pior ainda estava por vir. Três dias depois, a resposta do bispo chegou.
Padre Antônio abriu a carta com mãos trêmulas. Coronel Bartolomeu observava ansioso. O que ele diz? O padre leu em silêncio, o rosto ficando cada vez mais pálido. Ele está enviando o padre inquisidor Sebastião e uma escolta armada. Padre Inquisidor, o homem mais temido da igreja em toda a Bahia. Ele ele tem métodos especiais para lidar com casos extremos. Bartolomeu engoliu seco.
Que tipo de métodos? Métodos que não falham. Naquela mesma manhã na cenzala, algo extraordinário estava acontecendo. Os trêmeos tinham começado a se comunicar entre si sem fazer som algum. Eles se olhavam e pareciam entender perfeitamente o que o outro estava pensando. “Benedita,” disse Jurema, observando os bebês. Olha só isso.
Adílio estava brincando com um pequeno galho que tinha caído de uma das árvores protetoras. Ele o segurou e de repente o galho começou a brotar folhas verdes. Do outro lado da manta, Aira pegou uma pedrinha. Quando ela a tocou, a pedra começou a brilhar com uma luz suave.
Amaru, não querendo ficar para trás, tocou a terra ao lado dele. Imediatamente, pequenas flores começaram a crescer, onde seus dedos tocaram. “Meu Deus”, sussurrou Conceição. “Eles estão ficando mais fortes.” E Emanjá se aproximou. Não é só isso. Eles estão aprendendo a controlar os poderes deles. Isso é bom ou ruim? Depende, respondeu Yemanjá.
Se eles aprenderem a se controlar antes que os inquisidores cheguem, pode ser nossa salvação. Senão, ela não precisou terminar a frase. Conceição se ajoelhou ao lado dos trêmeos. Meus filhos disse baixinho, vocês entendem o que está acontecendo? Para a surpresa de todas, os três bebês pararam o que estavam fazendo e olharam diretamente para ela.
Seus olhos, que deveriam ser inocentes, como os de qualquer criança de 3 meses, mostravam uma compreensão profunda e antiga. “Eles entendem”, murmurou Benedita. Meu Deus, eles entendem tudo. Adílio estendeu a mãozinha para a mãe. Quando Conceição a tocou, ela sentiu algo que nunca tinha sentido antes. Era como se uma voz falasse diretamente em sua mente: “Não tenham medo, estamos protegidos.” Conceição arfou e soltou a mão do filho.
“Vocês ouviram isso?” “Ouvimos o quê?”, perguntou Jurema. Ele ele falou comigo na minha cabeça. Benedita tocou a mão de Adílio. Imediatamente a mesma voz ecoou em sua mente. O homem mau vem, mas não pode nos machucar. Jesus Cristo! Sussurrou Benedita. Eles sabem que o inquisidor está vindo. Jurema tocou Aira.
A voz que ouviu foi ligeiramente diferente, mais suave, mas igualmente determinada. Vamos proteger vocês também, mamãe. As três mães se entreolharam, uma mistura de medo e admiração nos olhos. “Nossos filhos não são apenas especiais”, disse Conceição. Eles são são algo que nunca existiu antes. Enquanto isso, na Casa Grande chegavam notícias preocupantes.
“Coronel”, disse um dos trabalhadores ofegante. “tem uma comitiva vindo pela estrada principal. Muitos homens, todos armados. Padre Antônio se levantou imediatamente. É o padre Sebastião. Chegou mais cedo do que esperava. Bartolomeu olhou pela janela. Uma nuvem de poeira se aproximava rapidamente. Quantos homens? Pelo menos 20, talvez mais.
20 homens armados para lidar com três bebês. Coronel, disse o padre, a voz sombria. O padre Sebastião não vem apenas para lidar com as crianças, ele vem para limpar todo o engenho de qualquer influência demoníaca. O que isso significa? Significa que qualquer pessoa que tenha tido contato com essas crianças está em perigo.
Na cenzala, as árvores protetoras começaram a balançar, mesmo sem vento. “Elas sentem”, disse Emanjá. As árvores sentem que algo ruim está vindo. As mulheres se reuniram ao redor das três mães e dos trêmeos. Todas sabiam que algo estava prestes a acontecer. Meninas, disse Conceição, se alguma coisa acontecer comigo, prometam que vão cuidar do Amaru. Não fala assim, disse Benedita.
Nada vai acontecer. Benedita, olha ao redor. Olha o que nossos filhos são capazes de fazer. Você acha que homens como aquele padre vão simplesmente desistir? Jurema abraçou a ira mais forte. Então, o que fazemos? Confiamos em nossos filhos”, respondeu Conceição, “E preparamos para lutar”. A comitiva chegou ao engenho ao meio-dia.
Padre Sebastião desceu de sua carruagem como um general descendo para a batalha. Alto, magro, com olhos que pareciam enxergar através das pessoas, ele irradiava uma autoridade que fazia todos ao redor se curvarem instintivamente. “Padre Antônio”, disse, sua voz ecoando como um trovão. “Mostre-me essas crianças, padre Sebastião.
Elas estão na cenzala, mas preciso avisá-lo, elas não são crianças normais. Não existem crianças que não possam ser corrigidas pela palavra de Deus”, respondeu o inquisidor. “Onde estão?” Eles caminharam em direção à censala, seguidos pelos 20 homens armados. Quando chegaram perto, todos pararam.
As três árvores gigantes dominavam a paisagem, seus galhos se estendendo como uma catedral natural sobre a área onde as mulheres e crianças se reuniam. Interessante”, murmurou o padre Sebastião. “Essas árvores não estavam aqui há uma semana. Não, senhor. Elas cresceram em uma noite e as crianças fizeram isso? Sim, senhor. O inquisidor estudou a cena por um longo momento. Tragam machados”, ordenou para seus homens.
Vamos derrubar essas árvores primeiro, padre”, disse Bartolomeu. “Talvez isso não seja uma boa ideia, coronel, essas árvores são manifestações demoníacas. Elas precisam ser destruídas.” Três homens se aproximaram árvores com machados. Quando levantaram as ferramentas para o primeiro golpe, algo extraordinário aconteceu.
Os trêmeos, que estavam quietos no colo de suas mães, abriram os olhos ao mesmo tempo. E pela primeira vez, desde que nasceram, eles se levantaram sozinhos. Bebês de 3 meses não conseguem ficar em pé, mas Adílio, Aira e Amaru se levantaram como se fosse a coisa mais natural do mundo. Meu Deus! sussurrou Benedita.
Como eles estão fazendo isso? Os três caminharam, caminharam mesmo até ficarem lado a lado sob as árvores. Então olharam diretamente para padre Sebastião. Não toquem em nossas árvores disseram em unísono. Suas vozes ecoando com uma autoridade que fez todos os homens armados recuarem. Padre Sebastião ficou imóvel por um momento, então sorriu friamente. Finalmente disse: “Vocês se revelam”.
Ele fez um sinal para seus homens. Cerquem a área, não deixem ninguém escapar. Os soldados se espalharam, formando um círculo ao redor da cenzala inteira. As mulheres se apertaram umas contra as outras com medo. “Crianças!”, disse o inquisidor, se dirigindo aos trêmeos. Vocês sabem quem eu sou? Sabemos, responderam eles.
Você é o homem que machuca crianças em nome de Deus. Eu purifico almas corrompidas e vocês claramente precisam de purificação. Adílio deu um passo à frente. Nós não precisamos de nada de você. Ah, mas precisam sim. Vocês foram corrompidos desde o nascimento, mas não se preocupem, eu sei como lidar com casos como o de vocês.
O padre fez outro sinal. Seus homens trouxeram uma série de objetos que fizeram todas as mulheres da cenzala arfarem de horror. Grilhões pequenos, correntes benta e uma gaiola de ferro com símbolos cristãos gravados em toda sua superfície. Vocês vão ser separados”, disse padre Sebastião.
“Cada um vai para um mosteiro diferente, longe um do outro, onde poderão ser adequadamente educados?” “Não”, disse Aira, sua voz pequena, mas firme. “Nós ficamos juntos. Vocês ficam onde eu disser que ficam.” Amaru se juntou aos irmãos. Você não entende. Nós não podemos ser separados. “Claro que podem e vão ser.” O inquisidor fez um gesto para seus homens. Peguem-nos.
Os soldados avançaram, as mulheres gritaram e os trêmeos se olharam. Foi então que aconteceu algo que ninguém, nem mesmo eles, esperava. Uma luz começou a emanar dos três. Não uma luz. Uma luz que parecia vir de dentro deles, crescendo em intensidade a cada segundo. Recuem! gritou o padre Sebastião. Recuem agora. Mas era tarde demais. A luz se expandiu, envolvendo toda a cenzala.
E quando ela finalmente diminuiu, algo tinha mudado fundamentalmente. Os trigêmeos não eram mais bebês. Eles tinham crescido, não fisicamente. Ainda tinham corpos de crianças de 3 meses. Mas seus olhos, sua postura, a maneira como se moviam era como se tivessem envelhecido anos em segundo. O que vocês fizeram? Perguntou o inquisidor. A voz trêmula.
Pela primeira vez. Nós crescemos, respondeu Adílio, sua voz agora mais madura. Crescemos o suficiente para nos protegermos e para proteger quem amamos, acrescentou a ira. E para mostrar a você, disse Amaru, que existem forças neste mundo que nem a igreja consegue controlar. Padre Sebastião recuou, mas tentou manter a compostura.
Vocês são abominações, demônios disfarçados de crianças. Não”, disse Adílio. “Nós somos o que vocês tentaram destruir durante séculos. Nós somos a memória dos antepassados, a força da terra, a conexão entre os mundos.” “E”, disse ara, “Vocês vão descobrir o que acontece quando tentam machucar quem não deve ser machucado.” As árvores ao redor deles começaram a se mover.
Não balançar, se mover. Como se fossem criaturas vivas, os galhos se estenderam, criando uma barreira impenetrável entre os soldados e as mulheres da cenzala. “Impossível”, murmurou o padre Sebastião. “Isso é impossível para vocês, talvez”, disse Amaru, “mas nós não somos como vocês.
” O inquisidor tentou uma última cartada, pegou um crucifixo grande e o levantou em direção às crianças. Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que vocês se submetam. Os trêmeos olharam para o crucifixo, então sorriram. Seu Deus não tem poder sobre nós, disseram em uníssono. Porque nós não somos seus inimigos. Nós somos algo que ele nunca conseguiu entender. O crucifixo na mão do padre começou a rachar.
Pequenas fissuras apareceram na madeira, se espalhando até que toda a peça se desfez em pó. Não”, sussurrou o inquisidor. “Isso não pode estar acontecendo.” “Está acontecendo”, disse Conceição, se aproximando dos filhos com orgulho. “E vai continuar acontecendo.” Padre Sebastião olhou ao redor. Seus homens estavam claramente aterrorizados.
As árvores continuavam crescendo e os trêmeos o encaravam com olhos que pareciam ver através de sua alma. Isso não acabou”, disse, tentando suar ameaçador. “Vou voltar com mais homens, com mais poder.” “Pode voltar”, respondeu Adílio. “Mas lembre-se de uma coisa. O quê? Nós não somos mais bebês indefesos.
E da próxima vez que alguém tentar nos machucar, nós vamos revidar, completou a vocês não vão gostar do resultado. Finalizou Amaru. O inquisidor recuou mais alguns passos. Então fez um sinal para seus homens. Vamos embora. Mas isso não acabou. Enquanto a comitiva se afastava, as mulheres da cenzala se reuniram ao redor dos trigêmeos. Meus filhos”, disse Benedita ainda em choque.
“O que vocês se tornaram? Nós nos tornamos o que sempre fomos”, respondeu Adílio. “Só que agora não estamos mais escondendo. Isso é bom ou ruim?”, perguntou Jurema. Os três se olharam. Por um momento, voltaram a aparecer as crianças que eram. “Não sabemos”, admitiu Aira, “mas sabemos que não vamos deixar ninguém machucar vocês, nem uns aos outros. disse a Maru.
Nunca, completou Adílio. Naquela noite, enquanto as mulheres da Cenzala tentavam processar o que tinha acontecido, padre Sebastião escrevia uma carta urgente para o Vaticano. Santidade encontrei algo que desafia tudo que sabemos sobre o bem e o mal. Três crianças que possuem poderes que rivalizam com os milagres de Cristo. Elas não são possuídas.
Elas são algo completamente diferente, algo que pode representar uma ameaça, não apenas para a igreja no Brasil, mas para toda a cristandade. Solicito orientação imediata sobre como proceder. Ele selou a carta e a entregou para seu mensageiro mais confiável. Leve isso para Roma. Voe, se for preciso, e diga ao Papa que é uma questão de fé ou morte.
Enquanto isso, na cenzala, os trigmeos dormiam tranquilos sob suas árvores protetoras, mas todos sabiam que aquela tinha sido apenas a primeira batalha e que a guerra estava apenas começando. Duas semanas se passaram em silêncio tenso. O engenho São Bartolomeu parecia suspenso no tempo.
Os trabalhadores faziam suas tarefas em silêncio, evitando o olhar para a cenzala, onde as árvores gigantes continuavam crescendo. Coronel Bartolomeu bebia mais que o normal e Padre Antônio rezava compulsivamente, como se as orações pudessem desfazer o que tinha visto. Na cenzala, a vida tinha encontrado um novo ritmo. Os trigmeos, que agora se moviam e falavam como crianças muito mais velhas, apesar de ainda terem corpos de bebês, passavam os dias explorando seus poderes crescentes.
Adílio conseguia fazer qualquer planta crescer apenas tocando-a. Aira podia fazer pedras brilharem e metais se dobrarem com a mente. Maru tinha desenvolvido a habilidade de curar pequenos ferimentos, apenas passando as mãos sobre eles. “Meus filhos”, disse Conceição numa manhã, observando Amaru curar um corte no dedo de uma das mulheres.
“Vocês percebem que estão ficando mais poderosos a cada dia? Percebemos, mamãe?”, respondeu Amaru. Sua voz ainda pequena, mas carregada de uma sabedoria antiga. Mas não conseguimos controlar. É como se algo dentro de nós estivesse acordando”, explicou Aira. “Algo que sempre esteve lá, mas que agora quer sair.
” Adílio, que estava fazendo uma pequena árvore crescer em suas mãos, parou e olhou para a mãe. “Mamãe, você tem medo de nós?” A pergunta pegou Conceição de surpresa. Ela olhou para os três filhos, seus bebês, que não eram mais bebês, suas crianças, que faziam milagres como se fosse brincadeira. Não” disse finalmente. “Eu não tenho medo de vocês. Eu tenho medo pelo que o mundo vai fazer com vocês.
” Foi nesse momento que chegaram as notícias. João Batista apareceu correndo na cenzala, o rosto pálido de terror. “Conceição, Benedita, Jurema, vocês precisam ouvir isso. O que foi, João?”, perguntou Yemanjá. Chegou uma carta de Salvador. O governador, o governador declarou as crianças como ameaça à ordem pública.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. O que isso significa? Perguntou Benedita, a voz trêmula. João engoliu seco. Significa que qualquer pessoa pode pode matá-las sem consequências legais. As mulheres da cenzala arfaram. Algumas começaram a chorar. E tem mais, continuou João.
Estão oferecendo uma recompensa, 100 moedas de ouro para quem trouxera as cabeças das crianças. Conceição sentiu o mundo girar ao seu redor. 100 moedas de ouro é dinheiro suficiente para comprar uma fazenda inteira, murmurou Yemanjá. Vai ter gente vindo de todo o Brasil atrás delas. Os trêmeos, que tinham ouvido tudo, se entreolharam.
Pela primeira vez, desde que seus poderes se manifestaram, eles pareciam assustados. “Mamãe”, disse Adílio, sua voz pequena e vulnerável, “eles querem nos matar?” Conceição se ajoelhou e abraçou os três filhos. Não vou deixar ninguém machucar vocês nunca. “Mas como vamos nos proteger de todo mundo?”, perguntou Aira.
Antes que alguém pudesse responder, gritos ecoaram do lado de fora da cenzala. Fogo, fogo na casa grande. Todos correram para ver. A casa grande estava em chamas, chamas enormes, vermelhas e amarelas, que pareciam dançar contra o céu da tarde. “Meu Deus!”, sussurrou Benedita, “Como isso aconteceu?” Coronel Bartolomeu apareceu correndo, o rosto coberto de fuligem. A casa pegou fogo do nada, do nada.
Não havia nenhuma vela acesa, nenhum fogo na lareira. Ele parou quando viu os trêmeos. Seus olhos se encheram de uma fúria desesperada. Foram vocês! Gritou, apontando para as crianças. Vocês fizeram isso? Não fizemos, disse Amaru, mas sua voz não soava convincente. Mentirosos, demônios, vocês estão destruindo tudo coronel se virou para os trabalhadores que tinham se reunido para ver o incêndio. Vocês viram? Essas crianças são uma maldição.
Elas vão destruir tudo que tocam. Murmúrios começaram a se espalhar entre os trabalhadores. Olhares de medo e raiva se voltaram para os trigmeos. Talvez o coronel tenha razão”, disse um dos homens. “Desde que essas crianças nasceram, só coisa ruim tem acontecido. O feitor adoeceu”, disse outro. “Os equipamentos quebram sem motivo. E agora a Casa Grande pegou fogo sozinha.
” Completou um terceiro. A multidão começou a se agitar. Conceição percebeu o perigo e abraçou os filhos mais forte. “Gente, por favor”, disse manjá, tentando acalmar os ânimos. São só crianças. Crianças que fazem árvores crescerem do nada”, gritou alguém da multidão. Crianças que falam com 3 meses de idade. Crianças que queimam casas com a mente.
A situação estava saindo de controle rapidamente. Mais e mais pessoas se juntavam à multidão e o humor estava ficando cada vez mais perigoso. Foi então que padre Antônio apareceu. “Meus filhos”, gritou subindo em uma caixa para ficar mais alto. Vocês viram o que aconteceu? A casa grande foi consumida pelo fogo do inferno. A multidão se virou para ele ansiosa por respostas.
Essas crianças não são apenas diferentes, continuou o padre. Elas são instrumentos do demônio. E enquanto elas estiverem vivas, nossa comunidade nunca terá paz. O que devemos fazer, padre? Gritou alguém. O que Deus nos ordena a fazer com demônios disfarçados de crianças? A multidão rugiu em aprovação.
Conceição, Benedita e Jurema se entreolharam, o terror estampado em seus rostos. Corram! Sussurrou Emanjá, peguem as crianças e corram. Mas para onde? A multidão estava se aproximando e não havia lugar para se esconder. Foi então que os trigmeos fizeram algo que surpreendeu a todos. Eles se levantaram e caminharam em direção à multidão.
Não! Gritou Conceição, voltem aqui. Mas eles continuaram andando. Quando chegaram perto da multidão, pararam e olharam para todas aquelas pessoas furiosas. “Vocês têm medo de nós”, disse Adílio, sua voz pequena, mas clara. “A multidão hesitou. Vocês acham que somos maus”, continuou a ira. Vocês querem nos machucar, completou Amaru. Padre Antônio deu um passo à frente.
Porque vocês são maus, vocês são demônios. Os trigêmeos se olharam. Então, algo extraordinário aconteceu. Eles começaram a chorar. Não o choro sobrenatural que faziam quando estavam com raiva. Choro de crianças, choro de bebês assustados e confusos. Nós não queremos ser maus”, soluçou Adílio. “Nós só queremos ficar com nossas mamães”, chorou Aira.
“Por que todo mundo quer nos machucar?”, perguntou Amaru entre lágrimas. A multidão ficou em silêncio. Pela primeira vez, eles estavam vendo os trigêmeos não como monstros, mas como crianças assustadas. Algumas pessoas começaram a baixar as armas improvisadas que tinham pego. “Eles são só bebês”, murmurou uma mulher. “Bebês que fazem milagres”, disse outra.
Mas padre Antônio não ia deixar a situação escapar de suas mãos. “Não se deixem enganar”, gritou. “Demônios são mestres da manipulação. Eles estão fingindo ser inocentes para nos confundir.” Ele pegou uma tocha e a levantou. Eu vou mostrar a vocês a verdadeira natureza dessas criaturas. O padre avançou em direção aos trigêmeos com a tocha. As crianças recuaram claramente com medo.
Padre, não! Gritou Conceição, correndo em direção aos filhos, mas ela não chegou a tempo. Padre Antônio encostou a tocha em Adílio. O que aconteceu a seguir foi algo que ninguém jamais esqueceria. Adílio não se queimou. Em vez disso, a chama da tocha se transferiu para ele, não o machucando, mas envolvendo-o como se fosse parte dele. “Meu Deus”, sussurrou alguém da multidão.
Aí tocou o irmão. A chama se espalhou para ela também. Amaru completou a conexão. Agora os três estavam envolvidos em chamas que não os queimavam. “Vocês viram?”, gritou o padre Antônio triunfante. “Eles são demônios. Demônios do fogo. Mas a multidão não estava mais ouvindo o padre.
Eles estavam hipnotizados pela visão das três crianças envolvidas em chamas douradas que pareciam mais divinas que demoníacas. “Eles são anjos”, sussurrou uma velha. Anjos disfarçados. “Não!”, gritou o padre. “São demônios! Matem-nos! Matem-nos agora!” Mas ninguém se moveu. Os trêmeos, ainda envolvidos em chamas, olharam para a multidão.
“Nós não somos demônios”, disse Adílio, sua voz ecoando de forma sobrenatural. “E não somos anjos”, disse Aira. “Nós somos algo que vocês não entendem”, disse Amaru. “Algo que sempre existiu, mas que vocês esqueceram. As chamas ao redor deles começaram a se intensificar. Nós somos a memória da terra”, continuaram em unísono.
A força dos antepassados, a conexão entre o que foi e o que será. A multidão recuou, mas não de medo, de reverência. “E agora?” Disseram os trêmeos, “Vocês vão decidir, vão nos aceitar pelo que somos ou vão tentar nos destruir?” O silêncio que se seguiu foi absoluto. Padre Antônio olhou ao redor, percebendo que tinha perdido o controle da situação.
“Vocês são todos tolos”, gritou. “Estão sendo enfeitiçados!” Ele se virou e correu em direção à casa grande em chamas. Vou buscar ajuda. Vou trazer o exército, se for preciso. Mas quando ele chegou perto da casa em chamas, algo terrível aconteceu. As chamas se voltaram contra ele. Não as chamas normais do incêndio, chamas vermelhas e negras que pareciam ter vida própria.
“Não!”, gritou o padre, tentando recuar. “Eu sou um servo de Deus”. Mas as chamas o envolveram. E quando elas finalmente se dissiparam, Padre Antônio tinha desaparecido completamente. A multidão ficou em choque absoluto. “Onde? Onde ele foi?”, perguntou alguém. Os trêmeos, ainda envolvidos em suas chamas douradas, olharam para onde o padre tinha estado.
“Ele escolheu seu caminho”, disse Adílio, e as chamas escolheram o dele, disse a ira. Nós não o machucamos”, disse Amaru. Ele se machucou sozinho. As chamas ao redor das crianças começaram a diminuir até desaparecerem completamente. Eles voltaram a parecer bebês normais, exceto pelos olhos que continuavam carregados de uma sabedoria antiga.
Conceição correu e abraçou os três filhos. “Meus bebês, vocês estão bem?” Estamos, mamãe”, respondeu Adílio. “Mas agora todo mundo sabe o que somos. E isso é bom ou ruim?”, perguntou Benedita. Os trêmeos olharam para a multidão que ainda os observava em silêncio. “Não sabemos”, admitiu Aira. “Mas sabemos que não há mais como voltar atrás”. Coronel Bartolomeu se aproximou devagar.
Sua casa tinha sido destruída. Seu padre tinha desaparecido e agora ele estava face a face com três crianças que claramente possuíam poderes além de sua compreensão. “O que o que vocês querem?”, perguntou a voz trêmula. “Queremos paz”, respondeu Amaru. “Queremos ficar com nossas famílias.
Queremos que parem de tentar nos machucar. E se não pararmos?” Os três se entreolharam. Por um momento, as chamas douradas voltaram a dançar ao redor deles. Então, vocês vão descobrir, disseram em uníssono, que existem consequências para machucar quem não deve ser machucado. Naquela noite, enquanto o engenho tentava processar os eventos do dia, uma nova realidade se estabeleceu.
Os trêmeos não eram mais um segredo. Eles eram uma força que tinha se revelado ao mundo. e o mundo nunca mais seria o mesmo. A notícia se espalhou como fogo. Em três dias, todo Salvador sabia sobre as crianças demoníacas do engenho São Bartolomeu. Em uma semana, a história tinha chegado ao Rio de Janeiro.
Em duas semanas, cartas urgentes estavam sendo enviadas para Lisboa e Roma. Mas não eram apenas autoridades religiosas que estavam interessadas. Caçadores de recompensa começaram a chegar de toda a Bahia. Homens desesperados, atraídos pelas 100 moedas de ouro prometidas. Aventureiros que acreditavam que três bebês, por mais especiais que fossem, não poderiam ser pário para homens adultos armados. Eles estavam errados.
O primeiro grupo chegou numa manhã de terça-feira. Cinco homens a cavalo, armados até os dentes, liderados por um sujeito chamado Capitão Rodriguez, um ex-militar que tinha se tornado mercenário depois de ser expulso do exército por brutalidade excessiva. Coronel Bartolomeu! Gritou Rodriguez, descendo do cavalo na frente da casa grande reconstruída.
Vim buscar minha recompensa! Bartolomeu saiu para recebê-lo, claramente nervoso. Capitão, talvez devêsemos conversar antes. Conversar sobre o quê? Três bebês. Coronel, eu já matei homens crescidos. Três crianças não vão ser problema, capitão. Essas crianças não são normais. Rodrigues, Rio Alto, Coronel, criança é criança, não importa que truques elas saibam, ele fez um sinal para seus homens. Vamos acabar com isso rapidamente.
Na cenzala, os trêmeos sentiram a presença dos homens armados antes mesmo de vê-los. “Mamãe!”, disse Adílio, olhando em direção à casa grande. Homens maus estão vindo. “Quantos?”, perguntou Conceição. “Cinco, respondeu a ira. E eles querem nos machucar muito.
” Amaru se levantou e caminhou até a borda da área protegida pelas árvores. Eles acham que somos fracos. Vamos mostrar que não somos?”, perguntou Adílio. “Não”, disse Conceição firmemente. “Vocês vão ficar aqui protegidos pelas árvores.” “Mamãe, disse Ara suavemente, “as árvores não vão conseguir proteger a gente desta vez.” “Por que não?” Porque esses homens trouxeram fogo”, explicou Amaru.
“Muito fogo, como se tivesse ouvido, Capitão Rodrigues apareceu na entrada da cenzala com seus homens. Cada um carregava tochas e galões de óleo.” “Então, essas são as crianças milagrosas”, disse Rodrigues, observando os trigêmeos. “Não parecem muito assustadoras, capitão”, disse Emanjando na frente das crianças. Elas são só bebês.
Deixe-las em paz. Bebês que valem 100 moedas de ouro cada uma, respondeu Rodrigues. Saiam da frente. Não, Rodriguez suspirou. Então vocês vão morrer junto com elas. Ele fez um sinal para seus homens. Queimem tudo. As árvores, a cenzala, as crianças, tudo. Os mercenários começaram a derramar óleo nas árvores protetoras.
As mulheres da cenzala gritaram e se apertaram ao redor dos trigmeos. Meus filhos sussurrou Conceição. O que vamos fazer? Os trigmeos se olharam. Por um momento, eles voltaram a aparecer as crianças assustadas que eram. “Não sabemos, mamãe”, admitiu Adílio. “Nunca enfrentamos tantos homens maus ao mesmo tempo. “Es têm muito fogo”, disse Aira. “Mais fogo do que conseguimos controlar. completou Amaru.
Rodrigues acendeu sua tocha. Última chance, crianças. Venham comigo voluntariamente e faço a morte de vocês ser rápida. Não disse Adílio, tentando soar corajoso. Então que seja do jeito difícil. Rodrigues jogou a tocha na primeira árvore em bebida em óleo. As chamas se espalharam rapidamente, subindo pelos galhos com uma velocidade assustadora.
As mulheres gritaram. Os trigêmeos recuaram claramente assustados. “Vejam só”, riu Rodriguez. “As crianças milagrosas têm medo de fogo. Ele jogou outra tocha, depois outra. Em poucos minutos, todas as árvores protetoras estavam em chamas. Agora”, disse Rodrigues, avançando com seus homens. “Venham aqui, criancinhas.
” Foi então que aconteceu algo que ninguém esperava. Uma voz ecoou pela senzala. Não a voz dos trigêmeos, uma voz muito mais velha, muito mais poderosa. Quem ousa machucar nossos descendentes? Todos pararam. A voz parecia vir de todos os lugares ao mesmo tempo. “Que diabos foi isso?”, murmurou um dos mercenários.
“Somos os que vieram antes, os que nunca partiram, os que protegem os nossos.” O ar ao redor da cenzala começou a ficar pesado, como se uma tempestade estivesse se aproximando, mas não havia nuvens no céu. “É truque”, gritou Rodriguez. “Algum tipo de ventriloquismo, continuem”. Mas seus homens estavam hesitando. O ar estava ficando cada vez mais pesado e agora eles podiam ver figuras translúcidas se formando ao redor da cenzala.
Figuras de homens e mulheres africanos, dezenas deles, todos olhando diretamente para os mercenários. Capitão! Sussurrou um dos homens. Talvez devêsemos ir embora. São só ilusões! Gritou Rodriguez. Peguem as crianças! Ele avançou em direção aos trigêmeos, mas quando chegou perto, uma das figuras translúcidas se materializou na frente dele. Era uma mulher idosa, com olhos que pareciam conter toda a sabedoria do mundo.
“Você não vai tocar neles”, disse ela, sua voz ecoando como trovão. Rodrigues tentou passar através dela, mas descobriu que não conseguia. A figura era sólida como uma parede. “Iso é impossível”, murmurou para você, “Talvez, mas nós conhecemos segredos que sua mente pequena não consegue compreender.” Mais figuras começaram a se materializar.
Homens fortes, mulheres sábias, crianças que tinham morrido muito jovens, todos se posicionando entre os mercenários e os trigmeos. Fantasmas”, sussurrou um dos homens de Rodrigues. “São fantasmas de verdade. Não somos fantasmas”, disse uma das figuras. “Somos antepassados, somos memória, somos a força que nunca morre”. Rodrigues tentou atirar em uma das figuras. A bala passou direto através dela, mas a figura não desapareceu.
“Armas de ferro não podem nos machucar”, riu a figura. Mas nós podemos machucar vocês. A figura estendeu a mão e tocou Rodriguez. O capitão gritou e caiu no chão, convulsionando. Capitão! Gritaram seus homens. Quando as convulsões pararam, Rodrigues se levantou, mas algo tinha mudado. Seus olhos estavam diferentes, vazios.
Eu eu não lembro porque vim aqui disse confuso. Nós apagamos sua memória da ganância, explicou a figura. Agora você só se lembra do que é importante, proteger os inocentes. Os outros mercenários olharam para seu líder em choque. Capitão, as crianças, a recompensa.
Rodrigues olhou para os trêmeos, mas em vez de ganância, seus olhos mostraram apenas compaixão. Que recompensa! Essas são apenas crianças. Por que alguém quereria machucá-las? Seus homens ainda se lembram da ganância”, disse outra figura ancestral. “Devemos apagar a memória deles também?” “Não”, gritou um dos mercenários. “Nós vamos embora! Vamos embora agora!” Eles correram para seus cavalos, deixando Rodrigues para trás. O ex-capitão olhou ao redor confuso.
“Onde estou? O que estou fazendo aqui? Você veio proteger essas crianças”, disse gentilmente uma das figuras ancestrais. “E agora vai continuar protegendo elas?”. “Sim”, disse Rodrigues assentindo. “Vou protegê-las”. Ele se aproximou dos trigêmeos e se ajoelhou. Crianças, eu vou cuidar para que ninguém machuque vocês. Os trigêmeos olharam para ele com curiosidade.
“Você não é mais mal?”, perguntou Adílio. “Eu era mau?”, perguntou Rodriguez genuinamente confuso. “Não me lembro de ter sido mal. Agora ele não é mais”, explicou Aira. “Os antepassados tiraram a maldade dele,” completou Amaru. As figuras ancestrais começaram a se desvanecer, mas antes de desaparecerem completamente, a mulher idosa se dirigiu aos trigêmeos.
Nossos descendentes, vocês estão crescendo em poder, mas lembrem-se, poder sem sabedoria é perigoso. Vamos lembrar, vovó, disse Adílio. E lembrem-se também, vocês não estão sozinhos. Nós sempre estaremos aqui quando precisarem. Obrigado! Disseram os três em uníssono. Agora descansem.
Mais desafios virão, mas vocês estão prontos. As figuras desapareceram completamente. O ar voltou ao normal. As árvores em chamas se apagaram sozinhas e novas mudas começaram a brotar imediatamente. Conceição correu e abraçou os filhos. Meus bebês, vocês estão bem? Estamos, mamãe! Respondeu Adílio. E agora temos um protetor. Eles olharam para Rodrigues, que estava plantando flores onde antes havia cinzas.
Ele não lembra de ter sido mal, explicou a ira. Agora ele só quer ajudar. Os antepassados são poderosos disse Amaru. Mais poderosos do que imaginávamos. E Emanjá se aproximou ainda em choque. Meninas, vocês viram o que aconteceu? Os antepassados vieram. Eles realmente vieram. Vieram para proteger as crianças”, disse Benedita, “Para nos mostrar que não estamos sozinhas,” completou Jurema.
Naquela noite, enquanto Rodrigues montava guarda ao redor da cenzala, convencido de que sempre tinha sido sua função, os trêmeos conversavam com suas mães. “Mamãe”, disse Adílio, “agora entendemos”. “Entendem o quê?” “Por nascemos?”, explicou Aira. “Porque somos diferentes? Não é só para nos protegermos, disse Amaru, é para proteger todos vocês também.
E para mostrar que existem forças no mundo que são mais antigas e mais poderosas que qualquer igreja ou governo, completou Adílio. Conceição olhou para os três filhos com orgulho e preocupação. E isso é uma responsabilidade muito grande para crianças tão pequenas. Não somos mais pequenas, mamãe”, disse Aira suavemente.
“Talvez nunca tenhamos sido, mas ainda somos seus filhos”, disse Amaru. “E ainda precisamos de vocês. Sempre vão ter a gente”, prometeu Conceição. Mas todos sabiam que a situação tinha mudado fundamentalmente. Os trêmeos não eram mais apenas crianças especiais escondidas em uma cenzala. Eles eram uma força que tinha se revelado ao mundo, uma força protegida pelos antepassados e capaz de mudar a mente de seus inimigos.
E isso significava que desafios ainda maiores estavam por vir. Seis meses depois, o engenho São Bartolomeu tinha se transformado em algo completamente diferente. Onde antes havia apenas uma cenzala, agora existia uma pequena comunidade próspera. As árvores protetoras tinham crescido tanto que formavam uma verdadeira floresta ao redor da área onde os trigmeos viviam.
E pessoas vinham de longe para vê-los, não para machucá-los, para pedir ajuda. Adílio disse uma mulher que tinha viajado três dias para chegar ali. Meu filho está muito doente. Os médicos dizem que não há cura. Adílio, que agora tinha quase um ano, mas falava e se movia como uma criança muito mais velha, olhou para a mulher com compaixão. “Traga ele aqui”, disse suavemente.
A mulher trouxe um menino de 5 anos, claramente muito fraco e doente. Adílio colocou as mãos sobre a criança e fechou os olhos. Uma luz suave emanou de suas mãos. Quando ela se dissipou, o menino abriu os olhos e sorriu. “Mamãe, não dói mais”, disse ele se levantando. A mulher caiu de joelhos, chorando de gratitude. “Como posso agradecer?” “Não precisa agradecer”, respondeu Adílio. “Só cuide bem dele.
” Cenas como essa aconteciam todos os dias. Ara ajudava pessoas a encontrarem água em terras secas, fazendo pedras brilharem para indicar onde cavar. Amaru curava ferimentos e doenças que os médicos não conseguiam tratar. E Rodrigues, o ex-mercenário, que agora era seu protetor mais dedicado, organizava as filas de pessoas que vinham pedir ajuda. Próximo! Gritou ele.
E lembrem-se, as crianças ficam cansadas. Sejam pacientes. Conceição observava tudo de longe, uma mistura de orgulho e preocupação no coração. E Emanjá, disse ela, você acha que isso é bom para eles? O quê? ajudar as pessoas ser tratados como como deuses.
E Emanjá olhou para os trigêmeos que trabalhavam incansavelmente para ajudar todos que vinham até eles. Eles não se comportam como deuses disse finalmente. Eles se comportam como crianças que querem ajudar. Mas e quando crescerem? E quando perceberem o poder que têm? Aí vamos torcer para que as lições que estamos ensinando tenham funcionado. Naquela tarde chegou uma visita inesperada.
Uma carruagem elegante parou na entrada do engenho. Dela desceu um homem bem vestido, claramente de posição social elevada. Sou Dom Fernando de Almeida”, anunciou ele, representante direto do vice-rei do Brasil, Coronel Bartolomeu, que agora vivia em uma casa muito mais modesta, já que a maior parte de suas terras tinha sido doada para a comunidade dos trigêmeos, correu para recebê-lo.
“Dom Fernando, que honra recebê-lo em meu humilde engenho, coronel, vim aqui por ordem direta de sua majestade. Preciso falar com essas crianças especiais. Bartolomeu engoliu seco. Senhor, elas são apenas crianças. Crianças que curam doenças incuráveis, fazem plantas crescerem em terra seca e convertem mercenários em protetores. Interrompeu Dom Fernando.
O vice-rei está muito interessado em conhecê-las. Eles caminharam em direção à comunidade dos trigêmeos. Rodrigues os interceptou na entrada. Alto aí, disse o ex-mercenário. Quem são vocês e o que querem com as crianças? Sou o representante da coroa, respondeu Dom Fernando com arrogância. Saiam do meu caminho.
Não me importa se você é o próprio rei disse Rodrigues firmemente. Ninguém vê as crianças sem permissão delas. Dom Fernando ficou indignado. Como ousa me desafiar? Facilmente”, respondeu Rodrigues. “Agora quer falar com elas ou não?” Conceição se aproximou. “O que o senhor quer com meus filhos? Senhora, vim fazer uma proposta. O vice-rei gostaria de levar as crianças para Salvador.
Elas receberiam a melhor educação, viveriam no palácio, teriam tudo que desejassem”. “Em troca de quê?” Dom Fernando sorriu? Em troca de usarem seus talentos para o bem do Brasil, imagine o que poderiam fazer: curar o vice-rei quando ele adoecesse, fazer as plantações crescerem, resolver problemas que afligem nossa colônia. E se elas não quiserem? O sorriso de Dom Fernando ficou mais frio.
Senhora, não é uma pergunta, é uma ordem real. Foi então que os trêmeos apareceram. Eles tinham ouvido toda a conversa e caminharam até onde os adultos estavam discutindo. “O Senhor quer nos levar embora de nossas famílias?”, perguntou Adílio. Dom Fernando olhou para as três crianças.
Mesmo sabendo de seus poderes, ele ficou surpreso ao ver como pareciam normais. Crianças, vocês teriam uma vida muito melhor em Salvador. Educação, roupas finas, comida boa. Nós já temos tudo que precisamos, respondeu a temos nossas famílias, disse Amaru, e temos pessoas que precisam de nossa ajuda, completou Adílio. Crianças, vocês não entendem.
Esta é uma ordem do vice-rei. Vocês não têm escolha. Os trêmeos se olharam. Então sorriram. Senhor, disse Aira suavemente, o senhor já viu o que acontece com pessoas que tentam nos forçar a fazer coisas que não queremos? Dom Fernando hesitou. Ele tinha ouvido as histórias sobre o padre que desapareceu e os mercenários que perderam a memória.
“Vocês não ousariam desafiar a coroa?”, disse, tentando soar confiante. “Não estamos desafiando ninguém”, respondeu Amaru. “Estamos apenas dizendo que não vamos e se insistirmos?” Adílio deu um passo à frente. Então o senhor vai descobrir que existem forças neste mundo que são mais antigas e mais poderosas que qualquer coroa.
Como se tivesse sido invocado por suas palavras, o ar ao redor começou a ficar pesado. As figuras ancestrais começaram a se materializar novamente. Dom Fernando empalideceu quando viu dezenas de espíritos africanos se formando ao redor dele. Quem ousa ameaçar nossos descendentes? perguntou a voz familiar da mulher idosa.
“Eu eu sou representante do vice-rei”, gaguejou Dom Fernando. “Seu vice-rei não tem poder sobre nós, nem sobre eles. Isso, isso é impossível para você, talvez. Mas nós conhecemos verdades que sua mente limitada não consegue aceitar”. Uma das figuras ancestrais se aproximou de Dom Fernando. Você tem duas escolhas.
Pode ir embora em paz e dizer ao seu vice-rei que as crianças estão protegidas. Ou pode insistir em sua missão e descobrir o que acontece com quem ameaça a nossa família. Dom Fernando olhou ao redor, estava cercado por espíritos, protegido apenas por um coronel nervoso e enfrentando três crianças que claramente possuíam poderes além de sua compreensão.
Eu eu vou relatar ao vice-rei que as crianças estão indisponíveis. Sábio disse a figura ancestral. Agora vá e não volte. Dom Fernando praticamente correu de volta para sua carruagem. Antes de partir, ele se virou para os trigêmeos. Isso não acabou, gritou. O vice-rei não vai desistir. Então ele vai aprender a mesma lição que todos os outros aprenderam, respondeu Adílio calmamente.
Quando a carruagem desapareceu na estrada, as figuras ancestrais se desvaneceram novamente. Conceição abraçou os filhos. Meus bebês, vocês não têm medo de desafiar pessoas tão poderosas? Mamãe, disse Aira, nós aprendemos que o verdadeiro poder não vem de títulos ou posições. Vem de saber quem você é, disse Amaru, e de ter pessoas que te amam e te protegem, completou Adílio.
Naquela noite, a comunidade se reuniu para uma celebração, não porque tinham vencido mais um desafio, mas porque finalmente entendiam o que os trigmeos representavam. Meninas”, disse Yemanjá, se dirigindo às três mães, “Vocês percebem o que seus filhos se tornaram?” “O quê?”, perguntou Benedita. Eles se tornaram a prova de que nossa cultura, nossa espiritualidade, nossa força nunca foram destruídas, apenas escondidas. “E agora?”, perguntou Jurema.
Agora elas estão livres novamente. Os trêmeos, que brincavam perto das árvores protetoras pareciam crianças normais, mas todos sabiam que eram muito mais que isso. Eles eram a ponte entre o mundo antigo e o novo, entre a sabedoria dos antepassados e as possibilidades do futuro.
E eram a prova de que algumas forças são poderosas demais para serem destruídas por qualquer igreja. governo ou exército. Um ano depois, o engenho São Bartolomeu tinha se tornado um lugar de peregrinação. Pessoas vinham de todo o Brasil e até de outros países para ver os trigêmeos milagrosos. Mas eles não eram mais bebês.
Adílio, Aira e Amaru tinham crescido fisicamente para a idade que aparentavam mentalmente. Agora pareciam crianças de cou 6 anos, embora tivessem apenas 2 anos de idade. “Mamãe!”, disse Adílio numa manhã ensolarada. “Tivemos um sonho.” “Que tipo de sonho?”, perguntou Conceição. “Sonhamos que havia outras crianças como nós”, explicou Aira em outros lugares. Outras crianças especiais que precisam de proteção.
“E sonhamos que nossa missão não é apenas ficar aqui”, disse Amaru, “É encontrar essas outras crianças e ajudá-las”. Conceição sentiu o coração apertar. “Vocês querem ir embora?” Não queremos deixar vocês, disse Adílio rapidamente, mas sentimos que temos uma responsabilidade maior, uma responsabilidade com todas as crianças especiais do mundo, explicou Ara.
E com todos os antepassados que ainda precisam de vóz, completou Amaru. Benedita e Jurema se aproximaram. Nossos filhos também tiveram o mesmo sonho disse Benedita. Então é real”, murmurou Conceição. “É real, mamãe”, confirmou Adílio. “E sabemos que é assustador, mas também sabemos que é o que devemos fazer.
” E Emanj, que agora tinha mais de 80 anos, mas ainda era a matriarca da comunidade, se aproximou. “Crianças”, disse ela, “vo vocês sabem que sempre terão um lar aqui.” “Sabemos, vovó manjá”, disse Aira. E vamos voltar. Sempre vamos voltar. Mas primeiro temos trabalho a fazer, disse Amaru. Trabalho importante completou Adílio.
Rodriguez, que tinha se tornado não apenas protetor, mas também uma espécie de pai adotivo para os trigêmeos, se aproximou. “Se vocês vão, eu vou junto”, disse firmemente. Rodrigues, disse Conceição. “Você não precisa. Preciso sim. Essas crianças são minha responsabilidade. Onde elas forem, eu vou. Os trêmeos sorriram. Obrigado, tio Rodrigues, disseram em uníssono.
E assim, numa manhã de primavera de 1854, os trêmeos do engenho São Bartolomeu partiram em sua primeira missão. Eles levavam consigo as bênçãos de suas mães, a proteção dos antepassados e a certeza de que tinham um propósito maior no mundo.
também levavam algo mais importante, a lembrança de que não importa quão poderosos se tornassem, sempre seriam os bebês que nasceram sob um eclipse numa cenzala em Salvador e que o amor de suas famílias seria sempre sua maior força. 5 anos depois, as histórias se espalharam por todo o mundo. histórias sobre três crianças misteriosas que apareciam onde quer que houvesse injustiça, que protegiam os fracos, curvam os doentes e desafiavam os poderosos.
Alguns as chamavam de anjos, outros de demônios, mas todos concordavam em uma coisa: Elas eram uma força que mudava tudo por onde passavam. E no Engenho São Bartolomeu, agora uma próspera comunidade livre, três mulheres esperavam pacientemente pelo retorno de seus filhos, porque sabiam que não importa quão longe eles fossem ou quão poderosos se tornassem, sempre voltariam para casa, sempre voltariam para onde tudo começou, para onde três bebês nasceram sob um eclipse e mudaram o mundo para sempre.
E se você chegou até aqui, se inscreve no canal, compartilha essa história com seus amigos e me conta nos comentários. Você acredita que existem forças no mundo que são mais poderosas que qualquer governo ou igreja? Porque depois de conhecer a história dos trêmeos de Salvador, eu tenho certeza de que sim. Yeah.

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