O Dossier Laís: Uma Vida Comum Sob Ameaça Sombria
O Brasil, um país calejado pela crônica de crimes bizarros, parou subitamente no dia 4 de novembro de 2025. Não foi apenas mais um ato de violência, mas uma execução a sangue frio, um crime covarde orquestrado por uma patologia tão mesquinha que desafia a própria razão. O alvo: Laís de Oliveira Gomes Pereira, 24 ou 26 anos, técnica em enfermagem, e, acima de tudo, uma mãe dedicada. Sua vida, marcada pela rotina tranquila de quem ama, foi brutalmente interrompida não por um assalto ou uma briga casual, mas por uma sombra que cresceu em silêncio, alimentada pela mais visceral e doentia das invejas.
A narrativa que se desenrola aqui é a de um thriller psicológico real, onde a vilã não apenas desejava a morte da vítima, mas almejava a total substituição de sua identidade. A história de Laís, residente em Cetiba, Rio de Janeiro, era a de milhões de brasileiras: duas crianças, Alice, de 4 anos, fruto de um relacionamento anterior com Lucas, e o pequeno Kauan, um bebê de pouco mais de um ano, filho de seu atual companheiro, Felipe. O crime que a chocou seria o capítulo final de uma disputa que, para a mente distorcida da algoz, era uma guerra pela existência.

A Semente da Maldade: Mamãe Gabi e a Obsessão Patológica
O primeiro elo dessa corrente criminal terrível surge com a entrada de Gabriele Cristine Pinheiro Rosário, a nova companheira de Lucas, ex-parceiro de Laís e pai de Alice. A princípio, a movimentação de Gabriele parecia louvável. Lucas, antes ausente, passa a ser incentivado a participar ativamente da vida da filha. A fachada de madrasta dedicada rapidamente desmorona, revelando um ciúme doentio e uma inveja visceral.
Testemunhas próximas ao círculo familiar pintam um quadro sombrio. Gabriele, segundo relatos, exigia ser chamada pela menina de “Mamãe Gabi”. Mais do que um carinho, era uma imposição, um movimento para dividir e, eventualmente, usurpar o lugar materno. A sanidade se esvaía em detalhes mórbidos:
A Competição Doentia: Se Laís organizava uma festa de aniversário para Alice, Gabriele fazia questão de organizar outra, que tinha que ser melhor, buscando direcionar o olhar e a afeição da criança apenas para si.
A Disputa Material: Um presente de Laís era imediatamente eclipsado por algo “melhor” dado por Gabriele. A relação se transformava em um campo de batalha onde a criança era o prêmio.
As Ameaças de Usurpação: A obsessão escalou para ameaças diretas de tirar a guarda de Alice de Laís.
Quando as tentativas legais falharam, Gabriele, como uma manipuladora consumada, recorreu à criação de um universo paralelo. Ela forjou acusações gravíssimas contra Laís — maus tratos, negligência —, todas desmentidas pela realidade de uma mãe que todos atestavam ser excelente. O nível de crueldade era extremo: a inveja da vida alheia era tão vasta que a levou a inventar calúnias hediondas.
A Trama Macabra: R$ 20 Mil e a Forja das Provas
A situação era insustentável, mas o contato era necessário, pois Laís precisava manter os olhos abertos, atenta ao que acontecia na vida do pai de sua filha. Ela estava no olho do furacão, lidando com uma pessoa que não queria ser amiga ou madrasta, mas sim, a substituta completa de Laís.
A solução encontrada por Gabriele foi a mais curta e brutal. Ela encomendou a morte.
No dia do crime, Laís realizava tarefas banais: buscava um tênis novo para Alice, conversava com familiares. Tranquila, empurrava o carrinho de Kauan. Em uma esquina, ela parou para ajeitar o bebê, um gesto de carinho materno que seria o último. Poucos metros à frente, a espreita, estava a execução.
Um homem de camiseta vermelha desceu da garupa de uma moto. Em um ato de covardia extrema e frieza doentia, ele disparou na nuca de Laís. Ela caiu sem vida, ao lado do seu bebê, que presenciou o terror. A investigação policial começou imediatamente, após a cena de execução ser confirmada.
O Desvendamento: A Mãe, o Pistoleiro e a Estelionatária
As câmeras de segurança mostraram a dupla de moto já rodeando o alvo. A polícia não demorou a identificar os executores.
Eric Santos Maria, o piloto da moto, teve a prisão preventiva decretada e se entregou em 7 de novembro.
Davi de Souza Malto, o atirador, foi identificado em um dos momentos mais chocantes e nobres do caso: ele foi denunciado pela própria mãe.
A mãe de Davi, Kelly Silva de Souza, ao ver as imagens divulgadas, tomou a atitude exemplar, apesar de devastadora, de entregar o próprio filho às autoridades. Em um depoimento comovente, ela pedia perdão à família da vítima por “ter colocado um monstro no mundo”. Davi se entregou pouco depois.
A confissão dos executores fechou o círculo sombrio: eles aceitaram o “serviço do capeta” por R$ 20.000, R$ 10.000 para cada um. Mas o mais perturbador foi a narrativa usada por Gabriele para manipulá-los. Ela não apenas ofereceu o dinheiro, mas mentiu com requintes de crueldade, alegando que Laís era uma péssima e abusiva mãe, e que a filha era vítima de violência sexual. Ela chegou a forjar fotos desse suposto abuso para inflamar a raiva e a determinação dos assassinos, jogando gasolina em um fogo que já queimava pela ganância.
O Rosto do Mal: A Lógica da Psicopatia e a Fuga
A cadeia de evidências apontava, sem sombra de dúvidas, para a mandante do crime: Gabriele Cristina Pinheiro Rosário.
A investigação revelou então a verdadeira natureza de Gabriele, o que corrobora a sua capacidade de manipulação e mentira: ela se apresentava como bancária, mas na verdade era uma estelionatária, vivendo de dar golpes, inclusive tendo Laís como suposta vítima em algum momento. Este perfil de golpista reforça o diagnóstico de um pé na psicopatia, a ausência de empatia necessária para cometer crimes e enganar sem remorso.
O motivo, portanto, ia além do “amor” pela criança. Era a personificação doentia da inveja. Gabriele não queria apenas Alice; ela queria roubar a vida e a identidade de Laís, ser a Laís. A fragilidade de não poder ter filhos biológicos (segundo fontes), aliada ao seu caráter narcisista e diabólico, a fez buscar a substituição completa. Entre evoluir como ser humano ou mandar matar, o caminho escolhido foi o mais curto e covarde.
Até o fechamento deste artigo, Gabriele permanecia foragida. O trauma deixado no pequeno Kauan, que presenciou a execução, e o luto da família e amigos são a prova do vazio na alma da arquiteta do mal. O caso serve como um grito de alerta sobre o mal que pode brotar no convívio mais íntimo, mostrando que a maldade, quando cultivada, não mede esforços para arrancar a vida e o futuro de quem tem a infelicidade de cruzar seu caminho.
A justiça segue o seu curso, mas a sombra de “Mamãe Gabi” paira sobre a tranquilidade de milhões.