Se um dia você descobrisse que não lhe resta muito tempo de vida, o que faria? Uma mulher, ao receber a notícia de que estava prestes a encontrar seus ancestrais, reformulou toda a dinâmica de sua casa.
Eis Alice. No início daquela manhã, ela estava na banheira, fingindo um afogamento.
Seu filho, Adam, de 16 anos, foi assustado pelo som da queda. Ele correu escada abaixo, atordoado, pegando o telefone para pedir socorro.
Mas, ao se virar, encontrou a mãe parada bem atrás dele. Alice só queria pregar uma peça no filho que tanto gostava de maldades inofensivas.
Não foi um bom começo de dia, mas Alice já havia tomado sua decisão.

Seu marido, Marcelo, vinha sujando o sofá da sala há anos, mas ela nunca tivera coragem de trocá-lo. Agora, ela estava determinada a mudar.
Com uma garrafa de vinho tinto caro na mão, ela derramou o líquido sobre o estofado. Sem hesitação.
Antes, Alice engolia todos os incômodos da rotina; agora, ela só queria sentir prazer em suas ações.
O motivo? Pouco tempo atrás, ela recebeu uma sentença de morte: câncer em estágio terminal.
Ela aceitou a notícia, mas resolveu escondê-la da família. O tempo que lhe restava seria usado para viver por si mesma. Para fazer o que quisesse.
Mas era difícil quebrar velhos hábitos.
O filho, Adam, continuava a atirar roupas sujas pelo chão do quarto. Alice pegou o monte, foi até a lareira e, sem pestanejar, jogou tudo nas chamas, junto com o sofá manchado.
Adam ficou paralisado. “Mãe, você enlouqueceu?”
Em seguida, foi a vez do marido. Marcelo foi expulso de casa. Ele voltou, confuso, perguntando o motivo.
Alice apontou para o armário de cozinha. Ele havia pego um copo e esquecido de fechar a porta. “É por isso,” ela declarou.
Assim como as roupas espalhadas de Adam, ela precisava lidar com a desordem dele de forma radical. Ela não desperdiçaria mais seu tempo como zeladora gratuita dos dois. Havia coisas mais significativas para fazer.
Alice precisava se aprimorar.
Seu irmão, Guilherme, passara a viver como um sem-teto para chamar a atenção para causas ambientais. Alice lhe entregou um cheque gordo, implorando para que ele vivesse com dignidade.
Ele recusou sua boa intenção.
Na escola, ela flagrou uma de suas alunas, Júlia, fumando. Em vez de punir, ela propôs um negócio.
Alice ofereceu US$ 100 por quilo perdido semanalmente, sob a condição de nunca mais sentir cheiro de fumaça. Júlia aceitou imediatamente a inusitada troca.
Nos 15 anos de casamento, Alice nunca havia comido a cebola crua que tanto amava. Naquele dia, ela queria se deliciar com o que sempre quisera.
Adam chegou da escola e foi picar legumes para a mãe, mas fingiu ter cortado o dedo. “Ai, meu Deus! Meu dedo foi decepado!”
“Pegue isto para amarrar, e vamos para o hospital agora,” ela disse, séria.
“Sim, Mãe!”
“Não tem graça alguma!”
“Tem sim, e muita!” ela respondeu, não conseguindo mais segurar o riso.
À noite, Alice encenou sua própria farsa de suicídio como vingança pela pegadinha cruel do filho.
Ela agarrou a gola da camisa de Adam. “Um dia, seu pai e eu vamos morrer. E não quero deixar neste mundo um filho que tem preguiça até de dar descarga.”
“Me solta!” ele reagiu.
“Escute bem, Adam. A razão de seu pai não estar aqui agora é a minha paciência. A partir de agora, as regras e a disciplina vão te fazer girar a cabeça.”
Ela o arrastou para o banheiro e jogou um balde de água suja no vaso sanitário, trancando Adam lá dentro. Ele só sairia quando aprendesse a usar a descarga.
Alice tinha um sonho: construir uma piscina no quintal para realizar seu desejo de juventude.
Mal as obras começaram, sua vizinha, Dona Lúcia, a denunciou às autoridades. O fiscal chegou, paralisando a construção por três meses.
Para Alice, o tempo era tudo.
Pela primeira vez em cinco anos de vizinhança silenciosa, ela invadiu a casa de Dona Lúcia, iniciando uma briga estrondosa.
“A senhora é tão ranzinza quanto um punhado de marimbondos! E seu cheiro é de fezes podres! Saia da minha frente!”
“A senhora nunca me deu um bom dia, nunca sorriu! A senhora só fica aí, sentada e rabugenta, olhando para quem passa pela sua casa fedorenta e feia!”
“E eu? Eu só queria construir uma piscina! Uma coisinha de nada! E a senhora me esfaqueia pelas costas! Eu só quero ensinar meu filho a pular de tucked jump! Porque não me resta muito tempo, Dona Lúcia!”
“O verão aqui é tão curto, eu mal o vejo e ele já acaba! Só de pensar nisso, eu já fico louca!”
Ouvindo os insultos de Alice, a vizinha, em vez de se ofender, achou a mulher divertida.
Do lado de fora, Marcelo estava parado, segurando uma cebola crua. Ele deu uma mordida, tentando provar a Alice o quanto a amava.
O gesto a tocou profundamente. Quando os dois estavam prestes a fazer as pazes, o telefone tocou.
Era o médico, querendo discutir as opções de tratamento. O marido ouviu e entendeu mal, mas Alice não explicou a verdade. Ela já estava decidida a manter o segredo da doença.
Chegando as férias de verão, Alice cancelou o acampamento de Adam. Ela queria passar férias sozinha com ele, mas o filho resistiu.
Para salvar o casamento, Marcelo levou Adam escondido para o ônibus da escola. Ele queria um tempo a sós com Alice.
Mas ela não queria se afastar do filho.
Alice pegou o carro e foi atrás da aluna, Júlia. Juntas, elas perseguiram o ônibus da escola em seu carro.
Com uma pistola de paintball em mãos, Alice atirou contra o ônibus, forçando-o a parar. Ela invadiu o veículo e tirou Adam de lá.
Adam ficou desapontado, mas Alice se sentiu realizada.
Naquela noite, ela riscou a anotação “Adam fora de casa” e escreveu “Adam em casa”.
Em seguida, foi para o quarto e dormiu no chão, ao lado do filho.
No dia seguinte, ela tirou uma bicicleta dupla do armário, pedindo para passear com Adam. Ele recusou.
Alice então foi atrás do irmão, Guilherme, mas descobriu que ele estava namorando. Ele não tinha mais cabeça para se preocupar com a irmã.
Seguindo o conselho do médico, Alice foi a um grupo de apoio a pacientes com câncer, esperando encontrar algum conforto.
Lá, ela disse que não havia contado à família sobre a doença. Ninguém entendeu sua decisão. Alice achou que o grupo não era o lugar certo para ela e saiu em silêncio.
Para sua surpresa, na manhã seguinte, membros do grupo apareceram em sua casa com um panelão cheio de comida. Alice não tinha como dar conta de tudo e convidou o irmão, Guilherme, e a aluna, Júlia, para se juntarem a ela no banquete.
A festa estava animada. Todos conversavam e riam, ignorando Alice. Ela se serviu de vinho e bebeu sozinha.
Recentemente, o cachorro da família andava grudado em Alice. Ela não sabia por quê.
Um dia, ao dar ré no carro, ela o atropelou acidentalmente. Alice o levou para o veterinário.
Uma senhora idosa veio, furiosa. Alice pediu sinceras desculpas. A senhora então perguntou: “Onde está o câncer?”
“O quê? Não, ele não está com câncer. Ele só quebrou a pata,” Alice respondeu.
“Eu estou perguntando a você! Onde está o câncer?”
Assim, a senhora se tornou a primeira pessoa a saber da doença de Alice. Elas conversaram sobre a vida e o futuro. Ter alguém para desabafar fez Alice se sentir mais otimista.
As atitudes de Alice ficaram mais insanas.
Adam estava trancado no quarto assistindo a filmes adultos quando Alice invadiu. Os dois ficaram envergonhados e sem jeito.
Três segundos depois, Alice sentou-se ao lado dele. “Este é só o efeito do filme. A vida real é bem diferente.”
“Sabe, filho, as mulheres gostam de dizer ‘não’ quando querem dizer ‘sim’,” ela explicou.
Por que ela fez isso? Ela queria que Adam amadurecesse logo, pois seu tempo para criar memórias com ele estava acabando.
No dia seguinte, Alice convidou Adam para uma competição. Adam chamou o pai, Marcelo. Os três, juntos, venceram facilmente a prova.
Na festa de comemoração, todos estavam felizes, mas ninguém sabia sobre o câncer de Alice, que piorava a cada dia.
O médico lhe disse que as células cancerosas haviam se espalhado. Alice não se assustou. Achou que a doença estava afetando sua beleza e decidiu fazer a cirurgia para removê-la.
O médico perguntou quem a buscaria. Alice não respondeu e chamou a vizinha, Dona Lúcia.
Coincidentemente, Dona Lúcia estava com a memória fraca devido à idade. Ela olhou para um chinelo na geladeira, confusa. Como ela se lembraria de buscar Alice?
Um dia, Alice convidou o irmão, Guilherme, para ir com ela visitar o pai. O pai estava absorto assistindo a um jogo na TV.
Alice disse ao pai que aquela poderia ser a última vez que se veriam.
“Não diga isso, filha! Eu não sou velho,” ele respondeu.
“Pai, nem tudo gira em torno de você!”
Os dois se despediram em meio a essa pequena discussão.
Alice foi então jogar as cinzas da mãe no mar. Ela disse que não aceitaria ser cremada após a morte.
O irmão brincou: “Você não vai morrer agora.”
Alice aproveitou a oportunidade e revelou a doença. Guilherme, devastado, chorou copiosamente.
Alice, sentindo pena do irmão, começou a rir. “Eu estava brincando! Por que você está assim?”
Ela não sabia se estaria viva no dia seguinte, mas queria ser feliz naquele momento.
Com o dinheiro da aposentadoria, ela levou o médico para jantar. Em agradecimento.
No restaurante, Alice viu um lagosta no aquário e, com pena, comprou o animal, soltando-o no mar.
O médico estava procurando uma casa e pediu a Alice para ir junto. Rapidamente, ela fingiu ser esposa dele na frente da corretora. Alice encenou uma cena embaraçosa, fazendo a corretora fugir de vergonha.
No quintal da casa, ela viu a piscina e ficou maravilhada. Era o que ela sempre sonhou.
Alice foi para o quintal, soltou a lagosta e mergulhou. Ela queria sentir a felicidade da liberdade.
Mas ela sabia que seu tempo, assim como a piscina, era limitado. Não duraria para sempre.
Em um dia ensolarado, ela levou seu carro vermelho para a garagem que havia alugado. Era o presente de aniversário que daria a Adam quando ele fizesse 18 anos.
Ao sair, ela voltou e mudou o cartão de 18 para 30. Ela ainda tinha esperanças de presenciar esse dia.
Era o último aniversário de Alice. Ela comprou um bolo de casamento e convidou Dona Lúcia para comer. Para Alice, o dia do casamento foi o mais feliz.
Ela disse que queria ter rugas como as de Dona Lúcia, mas sabia que isso não seria possível.
Adam chegou em casa, perguntando por que eles estavam comendo bolo ali. Ele havia esquecido o aniversário da mãe.
Naquela noite, ao voltar para casa, Marcelo e os amigos pularam na frente dela. Eles vieram comemorar o aniversário de Alice.
Ela cantou, dançou e assoprou as velas de seus 43 anos.
Ao ver o bolo em forma de lápide, ela riu e chorou. Mas agradeceu ao marido e a todos por se lembrarem.
No final da festa, Dona Lúcia, confusa, não conseguia voltar para casa. Adam se ofereceu para levá-la.
Ao ver a atitude do filho, Alice sentiu o coração aquecer. Adam estava aprendendo.
No dia seguinte, Alice quis ensinar Adam a dirigir. Ela queria testemunhar esse momento, mas sabia que não seria possível.
Marcelo, furioso, assistia à cena.
Na noite seguinte, Marcelo, bêbado, implorou para Adam dirigir. Adam recusou, mas o pai insistiu.
Adam dirigiu por um tempo, mas acabou batendo em uma árvore.
Alice correu para o hospital. Adam só levou sete pontos. Os dois brigaram novamente.
Nesse momento, Marcelo pediu o divórcio.
Alice ficou pálida. Que outros revezes a aguardavam? Ela conseguiria realizar todos os seus desejos?