“Meu pai me divide com os amigos” — A menina de 15 anos matou todos eles, e o fazendeiro arriscou tudo para escondê-la.

“Meu pai me divide com os amigos” — A menina de 15 anos matou todos eles, e o fazendeiro arriscou tudo para escondê-la.

A carroça estava parada na orla da propriedade de Thomas Crane há três dias antes que ele decidisse descer e ver que negócio um homem tinha estacionando tão perto da cerca de outro sem pedir.

Não era a carroça em si que o incomodava. Era o silêncio ao redor dela. Nenhuma fumaça de fogueira, nenhuma voz, nenhum movimento, exceto o girar lento de uma roda quando o vento a pegava do jeito certo.

Thomas tinha 52 anos e aprendera há muito tempo que o silêncio no Oeste não era paz. Era um aviso.

Ele selou sua égua ruana e cavalgou oitocentos metros até o bosque de choupos onde a carroça estava, seu rifle descansando no colo, os olhos vasculhando as árvores.

A carroça era velha, remendada com madeira incompatível, sua cobertura de lona rasgada e manchada. Duas mulas estavam amarradas por perto, as costelas à mostra, as cabeças baixas. Elas nem sequer olharam para cima quando Thomas se aproximou.

Ele desmontou devagar, mantendo a mão perto do rifle.

— Tem alguém aqui?

Nenhuma resposta.

Ele deu um passo mais perto. A aba traseira da carroça estava aberta, balançando levemente. Dentro, ele podia ver cobertores empilhados, alguns pratos de estanho, um barril de água tombado de lado. O cheiro o atingiu então: suor, podridão, algo azedo e humano.

— Estou armado — gritou Thomas mais alto desta vez. — Se você está ferido, diga. Se está procurando problemas, escolheu a cerca errada.

Ainda nada.

Ele circulou a carroça, verificando o chão. Pegadas de botas, vários conjuntos indo em direção ao riacho, frescas o suficiente. Ele as seguiu, rifle levantado agora, seu batimento cardíaco constante, mas alerta.

Foi quando ele a viu.

Ela estava sentada em uma pedra chata perto da água, de costas para ele, os joelhos puxados contra o peito. Vestia um vestido rasgado que poderia ter sido azul um dia, mas agora tinha a cor de poeira e sangue. Seu cabelo pendia em emaranhados escuros sobre os ombros. Ela não se virou quando ele se aproximou, não se encolheu com o som de suas botas nas pedras.

— Senhorita.

Ela não se moveu. Thomas parou a alguns metros de distância, baixando o rifle ligeiramente.

— Senhorita, você está ferida?

A voz dela saiu quieta, plana.

— Eles estão mortos.

Thomas sentiu as palavras se assentarem em seu peito como uma pedra. Ele olhou ao redor da clareira, não viu nada além de árvores e água.

— Quem está morto?

— Todos eles.

Ele deu um passo mais perto agora. Podia ver as mãos dela esfoladas em carne viva, sujeira sob as unhas. Algo mais escuro em seus pulsos. Hematomas, velhos e novos. Seus pés estavam descalços, cortados de tanto andar.

— Quantos anos você tem? — perguntou Thomas, sua voz mais suave agora.

Ela não respondeu imediatamente. Quando o fez, sua voz era tão pequena que ele quase perdeu.

— Quinze.

Thomas exalou lentamente. Olhou de volta para a carroça, depois para a menina novamente. Ela ainda não tinha se virado para encará-lo.

— Onde estão os homens que estavam com você? — perguntou ele cuidadosamente.

— No riacho.

O aperto de Thomas no rifle aumentou. Ele passou por ela, movendo-se rio acima, suas botas espirrando na água rasa.

Não demorou muito para encontrá-los. Três homens deitados de bruços na água, seus corpos presos contra as rochas. O sangue tornara o riacho cor de ferrugem em alguns lugares, já desbotando rio abaixo. Dois deles haviam levado tiros nas costas. O terceiro tinha a garganta cortada, limpa e profunda.

Thomas ficou lá por um longo momento, a água movendo-se ao redor de suas botas, o sol pressionando seu pescoço. Então ele se virou e caminhou de volta para a menina.

Ela ainda estava sentada na pedra, braços enrolados nos joelhos, olhando para o nada.

— Você fez isso? — perguntou Thomas.

Ela assentiu uma vez.

— Todos os três?

Outro aceno.

Thomas agachou-se a alguns metros dela, descansando o rifle sobre os joelhos.

— Você tem um nome?

— Ellie.

— Ellie o quê?

Ela não respondeu.

— Tudo bem — disse Thomas calmamente. — Ellie é o suficiente.

Ele estudou o rosto dela: pálido, olhos fundos, um hematoma ao longo do maxilar que já estava ficando amarelo nas bordas. Ela parecia não dormir há semanas. Ou talvez tivesse estado dormindo o tempo todo, e este fosse o primeiro momento em que acordava.

— Esses homens eram seus parentes? — perguntou Thomas.

O maxilar de Ellie se contraiu.

— Um deles era meu pai.

Thomas deixou aquilo assentar entre eles por um momento. Então perguntou:

— E os outros?

A voz dela falhou, apenas um pouco.

— Amigos dele.

Thomas fechou os olhos brevemente, um enjoo revirando seu estômago. Quando os abriu novamente, Ellie estava olhando para ele pela primeira vez. Seus olhos eram escuros, planos, vazios de qualquer coisa exceto exaustão.

— Você vai me entregar? — perguntou ela.

Thomas levantou-se lentamente, jogando o rifle sobre o ombro. Olhou para a menina, depois para o riacho onde os corpos jaziam.

— Não — disse ele. — Não vou.

Ellie piscou, confusa.

— Por que não?

Thomas caminhou até sua égua, desamarrou um cantil da sela e o trouxe de volta para ela. Ele o estendeu.

— Porque alguns homens não merecem um enterro — disse ele. — E algumas dívidas não precisam da lei para serem pagas.

Ellie encarou o cantil como se não soubesse o que fazer com ele. Finalmente, ela o pegou, desrosqueou a tampa e bebeu. A água derramou pelo queixo. Ela não limpou.

Thomas virou-se e começou a caminhar de volta para a carroça.

— Venha — disse ele por cima do ombro. — Vamos limpar você, depois descobriremos o que vem a seguir.

Ellie não se moveu a princípio. Ficou sentada na pedra, o cantil no colo, observando-o se afastar. Então, lentamente, levantou-se e o seguiu. O sol estava alto agora, queimando através das folhas de choupo, lançando sombras quebradas pelo chão.

Atrás deles, o riacho continuava se movendo, levando o sangue rio abaixo, lavando-o como se nunca tivesse estado lá.


Thomas a levou para o celeiro. Era mais fresco lá dentro, mais quieto. Ele a guiou até um banco de madeira perto da sala de arreios e disse para ela sentar. Ela o fez, sem uma palavra, as mãos dobradas no colo como uma criança esperando punição.

Thomas buscou um balde de água, um pano limpo e uma barra de sabão.

— Lave-se — disse ele. — Vou encontrar algo para você vestir.

Dentro de casa, Thomas pegou uma camisa e um par de calças velhas de um baú, roupas que pertenceram ao seu filho anos atrás, antes que a febre o levasse. Ele as dobrou cuidadosamente e as levou de volta ao celeiro.

Ellie ainda estava sentada no banco, o pano nas mãos, mas não havia tocado na água. Estava olhando para o chão, o rosto inexpressivo.

Thomas agachou-se na frente dela, a voz baixa.

— Ellie, você me ouve?

Ela assentiu minimamente.

— Preciso que entenda uma coisa — disse Thomas. — Você está segura aqui. Ninguém vai te machucar. Mas se alguém vier procurar, se a lei vier, preciso saber o que aconteceu. Tudo.

As mãos de Ellie apertaram o pano. Sua voz saiu rouca, como se não a usasse há muito tempo.

— Eles me venderam.

Thomas sentiu as palavras baterem nele como um soco. Ele permaneceu imóvel, esperando.

— Meu pai… — continuou Ellie, a voz tremendo agora. — Ele trazia os amigos dele. Dizia que era o que eu devia a ele por me alimentar. Por me manter. — Ela engoliu em seco. — Quando fiz quinze anos, ele começou a cobrar deles.

O maxilar de Thomas se contraiu tanto que seus dentes doeram.

— Tentei fugir uma vez — sussurrou Ellie. — Ele me pegou, quebrou meu braço, disse que da próxima vez quebraria os dois. — Ela olhou para ele então, os olhos úmidos, mas o rosto duro. — Então parei de tentar fugir e comecei a planejar.

Thomas assentiu lentamente.

— O rifle na carroça… era seu?

— Do meu pai. Ele o mantinha embaixo do banco do condutor. Esperei até que estivessem bêbados… até estarem longe demais para notar que eu me movia. — A voz dela ficou plana novamente. — Atirei no primeiro enquanto dormia. Meu pai acordou, tentou me agarrar. Atirei nele também. O terceiro correu. Eu o peguei no riacho. — Ela pausou, a respiração falhando. — Cortei a garganta dele com a faca do meu pai.

Thomas exalou lentamente.

— Você fez o que tinha que fazer.

Ellie balançou a cabeça.

— A lei não verá dessa forma.

— Talvez não — disse Thomas. — Mas eu vejo.

Ele se levantou.

— Agora limpe-se. Você não está mais carregando a sujeira deles.

Ellie finalmente se moveu, mergulhando o pano na água e esfregando as mãos com força, como se tentasse apagar algo mais profundo que o sangue.

Quando ele voltou, Ellie estava vestida com as roupas grandes demais. Parecia menor, de alguma forma mais jovem.

Eles foram para a casa. Thomas aqueceu um ensopado. Ela comeu devagar, como se não tivesse certeza se era real.

— O que você quer fazer agora? — perguntou ele. — Tem família em algum lugar?

Ela balançou a cabeça.

— Ninguém.

Thomas recostou-se na cadeira.

— Então você ficará aqui. Trabalhe no rancho, se estiver disposta. Eu pagarei justo.

— Por quê? — perguntou Ellie, como se ele falasse uma língua estranha.

— Porque você merece uma chance — disse Thomas simplesmente. — E porque tenho mais terra do que sei o que fazer, e mãos insuficientes para trabalhá-la.

Os olhos de Ellie se encheram de lágrimas, mas ela não as deixou cair. Apenas assentiu uma vez, com força.

— Mais uma coisa — disse ele. — Se alguém vier perguntar sobre aqueles homens, deixe-me falar. Entendido?

— Sim, senhor.


Levou cinco dias. Thomas sabia que não demoraria muito. Ele enterrara os corpos em uma cova rasa e queimara a carroça. Ellie trabalhara ao lado dele, silenciosa e forte.

No quinto dia, os cavaleiros vieram.

Thomas os viu da varanda. Três homens. Ele reconheceu o Xerife Harding imediatamente. Os outros dois eram estranhos, homens de aparência rude com armas nos quadris.

— Ellie — chamou ele. — Vá para o quarto dos fundos. Não saia até eu dizer.

Ela desapareceu.

Harding desmontou primeiro.

— Thomas.

— Xerife.

— Tenho uma pergunta para você. Viu uma carroça passar por aqui recentemente? Lona velha, duas mulas.

Thomas manteve o rosto neutro.

— Não posso dizer que vi. Por quê?

Um dos outros homens falou, um sujeito magro e marcado por cicatrizes.

— Porque os homens dirigindo aquela carroça estão desaparecidos. Um deles era meu irmão.

— Sinto muito ouvir isso — disse Thomas secamente.

— Você se importa se dermos uma olhada ao redor? — perguntou o homem marcado, desmontando.

A mão de Thomas moveu-se para mais perto do rifle encostado na varanda.

— Na verdade, me importo.

O terceiro homem falou, voz fria:

— Encontramos a carroça queimada a duas milhas a leste daqui. Encontramos a cova também.

O homem marcado deu um passo à frente.

— Então vou perguntar de novo. Onde está a garota?

— Que garota? — perguntou Thomas.

— A filha do meu irmão. Quinze anos. Você a viu ou não?

Thomas o encarou. Filha. Aquele homem achava que Ellie era sua sobrinha, que ela havia sido levada.

— Não vi ninguém — mentiu Thomas.

— Você está mentindo — disse o homem, a mão indo para a arma.

— Já chega — interveio Harding. — Thomas, se há uma menina aqui, preciso saber se ela está em perigo.

— Ela não está — disse Thomas calmamente.

As palavras pairaram no ar. O rosto de Harding mudou.

— Então há uma menina. Traga-a para fora.

— Não — disse Thomas. O terceiro homem sacou a arma. Thomas levantou seu rifle, apontando para o peito dele. — Você pode tentar.

O impasse se formou.

— A menina que vocês procuram — disse Thomas, a voz fria — não é a filha do irmão dele. É a vítima dele. Eles a venderam. A usaram. Ela os matou. E eu não a culpo.

O homem marcado, Elias, rosnou:

— Isso é mentira. Ela é uma assassina.

— Ela é uma sobrevivente — disse Thomas. — E ela fica aqui.

O xerife Harding olhou entre os homens. Finalmente, falou:

— Elias, suba no seu cavalo. Vão embora agora.

Elias encarou Thomas com ódio, mas obedeceu.

— Isso não acabou — disse Harding a Thomas antes de partir.

— Eu sei — respondeu Thomas.

Naquela noite, Thomas ficou de vigília com o rifle no colo. Ellie apareceu na porta, enrolada em um cobertor.

— Você devia ter deixado eles me levarem — disse ela. — Não valho a pena morrer por mim.

Thomas olhou para ela.

— Tive um filho uma vez. Daniel. Febre o levou quando tinha doze anos. Eu não estava lá quando aconteceu. Passei muito tempo me culpando. Então, quando vejo alguém que foi ferido, que não tem ninguém… eu sei como é perder tudo. E sei como é ser salvo.

Ellie chorou silenciosamente, e Thomas colocou a mão no ombro dela.

— Você não está mais sozinha, Ellie.

Eles vieram ao amanhecer. Seis homens, liderados por Elias e o xerife Harding, que parecia sombrio.

— Fique atrás de mim — disse Thomas a Ellie na varanda.

Elias sorriu feio.

— Última chance, Crane. Entregue-a.

— Por cima do meu cadáver — disse Thomas, erguendo o rifle.

— Isso pode ser arranjado — disse Elias.

— Já chega! — gritou Harding. — Elias, recue. Isso acabou.

Elias virou-se para o xerife, furioso.

— Você vai prendê-lo? Ele está abrigando uma assassina!

Harding desmontou lentamente.

— Conversei com algumas pessoas na cidade. Descobri sobre seu irmão. Descobri que tipo de homem ele realmente era. — Ele olhou para Ellie. — E eu acredito na história dela.

— Você não tem provas — rosnou Elias.

— Tenho o suficiente — disse Harding. — Agora saia desta terra antes que eu te prenda por invasão.

Os homens contratados por Elias, vendo a mudança na maré, viraram seus cavalos e partiram. Elias ficou sozinho, fervendo de ódio, mas impotente. Ele praguejou e partiu a galope.

Harding olhou para Thomas.

— Você sabe que ele não vai deixar isso passar.

— Eu sei — disse Thomas.

— Se precisar de algo, me avise.

Harding partiu.

Ellie soltou um suspiro que não sabia que estava segurando.

— Acabou mesmo?

Thomas baixou o rifle.

— Acabou mesmo.

Ela olhou para ele, lágrimas correndo pelo rosto, e pela primeira vez em anos, sorriu.


Dois anos depois, um estranho cavalgando pelo vale poderia ter visto uma garota trabalhando na cerca do rancho Crane. Forte, estável, o rosto virado para o sol. Poderiam ter visto um homem mais velho ao lado dela, ensinando-a a consertar os postes, a ler a terra.

Poderiam ter ouvido risadas levadas pelo vento, o som de uma vida reconstruída a partir de cinzas, sangue e misericórdia.

Na cidade, alguns diziam que ela era filha de Thomas Crane. Outros diziam que era uma errante que ele acolhera. Mas a verdade era mais simples do que isso.

Ela era uma sobrevivente. E ela estava em casa.

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